DC : eu vou escrever, como é meu habito de uma forma direta e resumida, se leres muito depressa como é teu habito, não me vais perceber.
Tu tal como eu, sabemos fazer a diferença entre o bem e o mal. Estas questões que estamos aqui a falar não devem ser encaradas da mesma forma que um adepto encara o seu clube de futebol. Nem eu nem ninguém pode justificar as asneiras que foram cometidas no passado para justificar as asneiras que estão a ser feitas hoje. As invasões do Iraque e do Afeganistão, os bombardeamentos da Líbia e da Sérvia foram tão errados como o é a invasão da Ucrânia. O único critério verdadeiro é diabólico : o controlo dos recursos.
Nos casos do Iraque, da Líbia ou da Síria, o verdadeiro interesse é...sabes qual é, não é verdade ?
Não preciso de dizer que, para além de militar em vários TOE, também fui responsável de segurança numa empresa de petróleo na vida civil, num pais arabe. ...e não preciso de o dizer porque tu, DC, com o teu percurso, a tua capacidade de analise, o teu acesso à informação, não precisas de sair de casa para chegar à mesma conclusão que eu. Os regimes e a liberdade das pessoas não contam para esta gente ; o que conta é o lucro, é o petróleo, é o controlo das vias de aprovisionamento, são os mercados.
Para o bem e para o mal, penso que tu e eu estamos do mesmo lado ; o que é que te impede de assumir que por vezes a nossa equipa também comete erros grosseiros ?
Eu queria, acho que não consigo, falar sobre a China. A conversa derrapa sempre para a Ucrânia. Tentarei noutro dia 
Curioso que acusa de ter lido à pressa, mas o senhor é que aparentemente leu à pressa o que eu disse.

As invasões do Iraque e Afeganistão foram consideravelmente diferentes. Se a do Iraque foi pelos recursos, usando o ditador psicopata do Saddam como pretexto (que apesar da acusação não representar a verdade, ele era de facto um ditador que chacinava a própria população), a do Afeganistão assentou acima de tudo na vingança contra os ataques do 11 de Setembro. Convém esclarecer esta diferença.
Quanto à ex-Jugoslávia, quem começou a armar barraca foram os sérvios, que não aceitavam a independência dos restantes países. A partir daí, não adianta tentar atirar as culpas para todos, menos os próprios. Nesta mesma Sérvia, ainda vão surgindo tensões com o Kosovo.
Na guerra da Síria, podemos descortinar desde logo um culpado, o Bashar al-Assad, mais do que qualquer outra influência externa. Isto não refuta que não haja interesses externos na matéria, mas já chega de desculpabilizar ditadores loucos.
Na Líbia idem.
Os EUA já sabemos que dia sim, dia não, invadem um país por causa do petróleo. No entanto, têm ali pertinho um país bem mais fácil de invadir, a Venezuela, com petróleo. Se fossem os malucos invasores, tal é a fama que têm, já tinha invadido, mas porque não o fizeram? Temem as forças armadas daquele país?

Existe claramente um problema na atribuição de culpas: parece que para alguns, os ditadores psicopatas assassinos, saem sempre impunes, assim que um país estrangeiro (do Ocidente) larga uma bomba que seja nas suas forças militares.
Mais uma vez, há sempre cobiça por recursos naturais, mas isto não se resume aos culpados do costume. Praticamente todos os países do mundo, com um mínimo de história, tiveram/têm cobiças desse género. A grande diferença, é que nos dias de hoje, poucos têm capacidade de andar a invadir outros países, outros regem-se pelas alianças de que fazem parte, ou das consequências internacionais de uma invasão. Andar a achar que, num cenário hipotético, sem NATO, sem ONU, e se Portugal tivesse recursos naturais valiosos ao longo da costa, Espanha, com uma liderança mais ou menos maluca, não nos iria invadir, ou no mínimo manipular referendos para independência das regiões com grandes reservas de petróleo... é uma ilusão mesmo.
Voltando ao tema China, a conversa derrapa para a Ucrânia, porque tentam sempre pegar neste conflito, como argumento.
A realidade é bem diferente do que os pró-Rússia vêm debitar. Não, a UE não empurrou a Rússia para a China, é a Rússia que gosta de jogar nas duas ligas, querendo aproveitar-se da boa vontade da Europa, e ao mesmo tempo ter a China como contra-peso. Invadiram a Ucrânia a achar que devido à dependência europeia da sua energia, e à narrativa de que "a Europa não pode empurrar a Rússia para a China", não se ia fazer nada, e os russos iam poder fazer o que queriam da Ucrânia, e restantes vizinhos. Afinal, o plano do Putin não correu como planeado, e agora teve de se virar para a China. De notar que o plano do Putin era ter a Europa dependente da sua energia, ao mesmo tempo que andava de mão dada com a China. Para eles não havia intenção de se tornarem exclusivos a um dos lados.