Mia Couto

  • 9 Respostas
  • 6057 Visualizações
*

hellraiser

  • Membro
  • *
  • 260
  • +0/-4
Mia Couto
« em: Fevereiro 07, 2007, 10:24:20 pm »
Vale a pena comprar o próximo expresso, trás a uma entrevista aquele que, no meu entender, é o melhor escritor de língua Portuguesa neste momento.
Acho fantástica a forma como este tipo trabalha e usa língua, simplificando-a sem perder objectividade, e sem se banalizar.
É sem duvida, uma leitura obrigatória para qualquer pessoa, que aspire a algo mais que uma alfabetização básica.

Citar
A África de Mia Couto
Reportagem de Manuela Goucha Soares e António Pedro Ferreira
 
Num conto inédito para o Expresso o escritor moçambicano Mia Couto recorda a cidade da Beira onde nasceu e cresceu, e a sua infatigável paixão por rios, cais, partidas e reencontros. Este ex-jornalista – que poderia ter sido médico – foi o cicerone do Expresso numa visita guiada à cidade de Maputo e arredores.
 
 
A África de Mia Couto

18:00 | quarta-feira, 07 FEV 07
   
Excerto do conto inédito de Mia Couto
Nasci e vive entre meandros de rios, preguiçosas águas que se apegavam às margens. A estação ferroviária obedecia a essa líquida paisagem. O comboio era um barco e eu entendia porque se chamava “cais” àquela plataforma onde as mães agitavam os lenços brancos.
Para mim, os modos lentos do comboio não resultavam de incapacidade motora. Eram, sim, gentileza. Uma afabilidade para com essas pequenas mortes, que são as despedidas.


http://expresso.clix.pt/Actualidade/Interior.aspx?content_id=377065
"Numa guerra não há Vencedores nem Derrotados. Há apenas, os que perdem mais, e os que perdem menos." Wellington
 

*

hellraiser

  • Membro
  • *
  • 260
  • +0/-4
(sem assunto)
« Responder #1 em: Fevereiro 08, 2007, 01:04:32 am »
Então? Ninguém diz nada? Esta gente anda a ler muito pouco... :!:
"Numa guerra não há Vencedores nem Derrotados. Há apenas, os que perdem mais, e os que perdem menos." Wellington
 

*

Cabeça de Martelo

  • Investigador
  • *****
  • 22993
  • Recebeu: 4131 vez(es)
  • Enviou: 2903 vez(es)
  • +2765/-4503
(sem assunto)
« Responder #2 em: Fevereiro 08, 2007, 12:04:19 pm »
Eu leio outras coisas...que inclui muitas imagens... :bang:

PS2: leio fundamentalmente romances históricos, do Mia Couto nunca li nada.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

*

Doctor Z

  • Analista
  • ***
  • 825
  • +1/-0
    • http://www.oliven
(sem assunto)
« Responder #3 em: Fevereiro 08, 2007, 12:37:09 pm »
Boas,

Apesar de ter lá em casa um desse autor, confesso que ainda não o li, estou
ocupado com o "Mistério Colombo revelado".
Blog Olivença é Portugal
"Se és Alentejano, Deus te abençoe...se não
és, Deus te perdoe" (Frase escrita num azulejo
patente ao público no museu do castelo de
Olivença).

:XpõFERENS./
 

*

hellraiser

  • Membro
  • *
  • 260
  • +0/-4
(sem assunto)
« Responder #4 em: Fevereiro 08, 2007, 01:48:26 pm »
Pois, pois...

é o que eu digo...

não andam a ler nepias...
"Numa guerra não há Vencedores nem Derrotados. Há apenas, os que perdem mais, e os que perdem menos." Wellington
 

*

Luso

  • Investigador
  • *****
  • 8711
  • Recebeu: 1858 vez(es)
  • Enviou: 816 vez(es)
  • +1078/-10469
(sem assunto)
« Responder #5 em: Fevereiro 08, 2007, 05:31:53 pm »
Pessoalmente, evito romances, contos e ficção em geral. Prefiro temas mais terra-a-terra.
Um dia destes trago-vos umas linhas de Hayek (não da Salma que por sinal também as têm - oh se tem).
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

*

hellraiser

  • Membro
  • *
  • 260
  • +0/-4
(sem assunto)
« Responder #6 em: Fevereiro 08, 2007, 07:38:48 pm »
Citação de: "Luso"
Pessoalmente, evito romances, contos e ficção em geral. Prefiro temas mais terra-a-terra.
Um dia destes trago-vos umas linhas de Hayek (não da Salma que por sinal também as têm - oh se tem).


Bem pode dizer que evita 98% da boa literatura.

Embora os livros mais técnicos seja sem duvida muito importantes e úteis, os romances, contos e ficções não deixam de ser tão ou mais importantes.
"Numa guerra não há Vencedores nem Derrotados. Há apenas, os que perdem mais, e os que perdem menos." Wellington
 

*

dremanu

  • Investigador
  • *****
  • 1254
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +7/-18
(sem assunto)
« Responder #7 em: Fevereiro 08, 2007, 11:19:12 pm »
Não foi este gajo que se recusou a receber o prémio Camões?

Eu ando a ler "A Odisseia" de Homero....e acabei de ler "A conquista da Gália" por Júlio César.

Em seguida vou ler mais umas escritas de Aristóteles.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

*

Luso

  • Investigador
  • *****
  • 8711
  • Recebeu: 1858 vez(es)
  • Enviou: 816 vez(es)
  • +1078/-10469
(sem assunto)
« Responder #8 em: Fevereiro 09, 2007, 12:07:59 am »
Citação de: "dremanu"
Não foi este gajo que se recusou a receber o prémio Camões?

Eu ando a ler "A Odisseia" de Homero....e acabei de ler "A conquista da Gália" por Júlio César.

Em seguida vou ler mais umas escritas de Aristóteles.


Excelentes recomendações. Ainda por cima que os clássicos estão disponíveis em *pdf.
Surpreende-me que estas obras não mereçam mais divulgação - por mais absurda que esta afirmação possa soar.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

*

JoseMFernandes

  • Perito
  • **
  • 394
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #9 em: Fevereiro 09, 2007, 09:44:48 am »
dremanu
Citar
Não foi este gajo que se recusou a receber o prémio Camões?

Foi o angolano José Luandino Vieira que recusou o prémio (e os 100 mil euros respectivos :wink: citou)

Citar
Sou de um tempo e lugar em que os comboios eram lentos, tão vagarosos que pareciam arrependidos da viagem. Na estação, não havia despedida. Nada de separação traumática, o golpe definitivo da partida. Tudo era tão lento e esfumado que se convertia em irrealidade. A despedida como repentina ruptura eu aprendi mais tarde, no meu primeiro aeroporto. Voar é o sonho da própria poesia. Mas o voo tem despesas de afecto muito pouco poéticas.

Nasci e vivi entre meandros de rios, preguiçosas águas que se apegavam às margens. A estação ferroviária obedecia a essa líquida paisagem. O comboio era um barco e eu entendia porque se chamava «cais» àquela plataforma onde as mães agitavam os lenços brancos. Para mim, os modos lentos do comboio não resultavam de incapacidade motora. Eram, sim, gentileza. Uma afabilidade para com essas pequenas mortes, que são as despedidas.

Muitas vezes me desloquei para a estação dos caminhos-de-ferro com o fim de não me deslocar para lado nenhum. Ficava no banco de madeira a olhar a gente transitando. E me abandonava naquele assento durante horas, sem que o tempo me pesasse. Talvez eu viajasse mais que os próprios passageiros que chegavam e partiam. A minha cidade era pequena, tão pequena que os domingos, com seu tédio antecipado, não eram notados. Eu inventava os meus tempos fora do Tempo, ali na arrastada azáfama da estação ferroviária.

Não tive propriamente uma educação religiosa. Apenas de quando em quando eu entrava em recinto de igreja. Fazia-o porque havia ali um sossego que me refrescava a alma. Qualquer coisa parecida com o que eu encontrava na gare ferroviária. Com a diferença de que a estação me facultava um recolhimento do lado de dentro da Vida, um resguardo entre as pessoas e as almas que eu nelas inventava. Os fantasmas da igreja moravam na sombra fria. Os da estação eram solarentos, riam alto e falavam línguas que eu desconhecia.

Algo me ficou desse estacionamento de alma, como se eu ganhasse residência perene nas velhas estações de todo o mundo. Afinal, essa contemplação me trouxe como que um irreparável vício: ter um banco de madeira onde eu possa ver desfilar pessoas em flagrante viagem.
Mia Couto


Cumprimentos