Fumadores intoxicados com nova leiAtrás de um agitado Gigante, Soledade vocifera
"Desculpe lá, mas isto é liberdade? Onde estão os meus direitos e os direitos dos fumadores? Que eu saiba, o tempo do Botas já se foi!". Sem papas na língua, Maria Soledade Alves, fumadora profissional há 30 anos, esplanada no Café Bom Dia, no Porto, tem uma teoria - a da cortina de fumo:
"A lei veio numa altura boa, não vê? Enquanto andamos todos entretidos a discutir o tabaco, ninguém vê a porcaria de 2008 que nos estão a preparar".Soledade é uma de muitos incontáveis fumadores que desde há 10 dias, com a entrada em vigor da nova lei do tabaco, estão a redefinir os seus hábitos de consumo, escolhendo novos trajectos de prazer fumífero "A partir de agora só frequento cafés onde possa fumar. Obviamente!".
Portugueses mais suaves, João Castro, 25 anos, e Vitor Sousa, 22, são concordantes "É a nossa forma de protesto; agora andamos à procura dos cafés de fumadores". Salteadores do raro dístico azul, foram ontem pela primeira vez ao Bom Dia, saídos de Leça da Palmeira, onde trabalham, levados pelo novo roteiro fumante que os blogs não param de actualizar na internet. Mas foram ao desengano: o café da Praça Velázquez só na próxima semana estará preparado para permitir o fumo interior.
"É uma exigência do cliente ele paga e exige fumar. Por isso, vamos adaptar-nos para os fumadores", esclarece Rito, dono das 63 mesas do Bom Dia desde 1971. A solução é envidraçada: vai fechar 30% do espaço e "gastar uma porrada na marquise e nos exaustores - talvez 12 mil euros".
300 quilómetros abaixo, no Café República, em Lisboa, muito frequentado por alunos do Instituto de Economia e Gestão, é proibido fumar. Mas a criatividade evitou perder negócio um estrado, um toldo, mesas e mantas de lã para os clientes asseguram casa cheia. E pode-se fumar nesta varanda que dá para a Avenida D. Carlos I. "Estou a investir em aquecimentos e mantas para garantir o bem-estar aos fumadores", disse a responsável.
Novamente para cima, o Gato Verde, na portuense rua da Constituição, é um pequeno oásis escassas 12 mesas, mas todas de fumar. Miragem? "Não. Está tudo legal", avisa Fernando Ferraz, o dono, fumador há três décadas, que se aconselhou com a Unihsnor - União dos Industriais de Hotelaria e Similares do Norte e consultou advogados. "O segredo? A zona de cozinha está totalmente separada da área dos clientes e tenho saídas de ar directas para a rua". Ferraz está nos minoritários 5% que permitem continuar a fumar. "Quer espantar-se? 80% dos meus clientes são fumadores e agora faço ainda mais negócio.". Atalha uma ironia: "Na situação maravilhosa em que está o país, nada se pode desperdiçar".
JN