As vantagens mundiais do petróleo mais barato na estratégia geopolítica dos EUA.
Gerald F. Seib
Até Barack Obama provavelmente concordaria que 2014 tem sido um ano duro para ele — e, sem dúvida, veria com bons olhos qualquer sinal de melhora em 2015.
Bem, aqui está um: os preços do petróleo parecem que continuarão mais baixos pelo menos durante boa parte do próximo ano, o que deve ser vantajoso para o presidente dos Estados Unidos em mais de um aspecto. É difícil imaginar outro evento individual que traga tantos benefícios e tão poucas desvantagens. Os benefícios para a economia americana são óbvios; mais intrigantes, e menos óbvias, são as maneiras com que o petróleo barato beneficiam a estratégia dos EUA ao redor do mundo.
Isso porque os países mais prejudicados pelo recuo nos preços do petróleo se encontram atualmente na lista negra americana, desde o Irã e a Síria até a Rússia e a Venezuela. Por outro lado, vários dos países que têm a ganhar do ponto de vista estratégico e econômico — como Jordânia, Egito, Israel e Japão — estão no rol dos amigos dos EUA. A queda do petróleo mudou o jogo geopolítico.
Os efeitos só serão realmente significativos se o petróleo continuar mais barato por algum tempo, mas a maioria dos analistas acredita que será assim. A oferta global supera a demanda em cerca de 1 milhão de barris por dia atualmente, e o mais poderoso produtor do mundo, a Arábia Saudita, vem indicando que não pretende cortar a produção para absorver esse excesso.
Essa situação empurrou a cotação do barril para perto de US$ 65, comparado com mais de US$ 100 meros cinco meses atrás.
“Vemos o atual excesso de oferta de petróleo como sendo de longo prazo, sem que preços acima de US$ 100 voltem até o fim da década”, escreveu Doug Handler, economista-chefe da consultoria IHS, numa análise semana passada. Nos EUA, isso significa preços da gasolina “bem abaixo” de US$ 0,70 o litro no início de 2015, o que pode gerar uma economia média de US$ 750 para cada lar americano no decorrer do ano, acrescentou ele.
O movimento pode ser traduzido como um impulso na confiança e nos gastos do consumidor, numa economia que já mostra novos sinais de progresso. É verdade que os benefícios macroeconômicos serão um pouco contrabalançados por uma atividade menor no setor de petróleo, que está em franco crescimento, mas muitos analistas estimam que a queda nos preços do petróleo terá um saldo positivo para os EUA.
Os efeitos internacionais são até mais tentadores para o governo Obama. Para começar, o petróleo mais barato pode ajudar a estimular o crescimento na Europa, num momento em que a letargia da região está virando uma preocupação séria.
O recuo dos preços também prejudica a Rússia e o Irã, ambos profundamente dependentes da receita do petróleo. Os dois já estão sob a pressão econômica das sanções internacionais orquestradas pelos EUA — a Rússia por conta de suas incursões na Ucrânia e o Irã por causa de seu programa nuclear. Preços do petróleo em queda têm o poder de amplificar os efeitos das sanções.
O efeito combinado na Rússia será “muito profundo”, diz um membro do alto escalão do governo americano, “e estamos vendo que eles [os russos] já estão reduzindo projeções de crescimento e podem estar caminhando para uma recessão”. O presidente russo, Vladimir Putin, está encurralado, às voltas com custos substanciais para consolidar a tomada da Península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia. A Rússia também está arcando com a maior parte das despesas geradas pelas forças separatistas na Ucrânia e está prometendo mais investimentos em defesa. “Terá de haver permutas”, prevê a autoridade americana.
As dificuldades do Irã são parecidas e, do ponto de vista americano, vêm em boa hora. O governo Obama talvez tenha três meses para pressionar o Irã a chegar a um acordo de longo prazo para restringir seu programa nuclear. A pressão econômica foi o que colocou esse acordo na pauta e, agora, a ausência das receitas do petróleo iraniano vão elevar essa pressão no momento certo.
Outro bônus para a Casa Branca é que o aperto econômico adicional talvez convença o Congresso de que não será necessário impor novas sanções econômicas ao Irã, algo que, o governo receia, poderia interromper as negociações sobre o programa nuclear.
Os aliados do Irã no Oriente Médio também sentiram o golpe. A Síria depende tanto de suas modestas exportações de petróleo como da generosidade iraniana. Os petrodólares iranianos também financiam o Hezbollah. Todos agora têm sua dose de novas preocupações.
Da mesma forma, o exército radical do Estado Islâmico tem se financiado com o petróleo roubado das refinarias sírias e vendido no mercado negro. O valor desse petróleo, que já sofre um desconto severo, está caindo ainda mais.
Enquanto isso, os países do Oriente Médio que os EUA gostariam que se estabilizassem — Egito, Jordânia e Líbano — estão sendo beneficiados. A única preocupação é o efeito sobre a receita do Iraque com o petróleo.
No lado ocidental, ninguém foi mais afetado que a Venezuela, o epicentro regional da agitação antiamericana. Os beneficiários do país também estão sofrendo, principalmente Cuba. “Os venezuelanos”, diz o membro do governo americano, “estão com um problema grave”.
Grande parte da queda nos preços do petróleo é atribuída à decisão da Arábia Saudita de não cortar a produção. O país árabe tem suas próprias razões para agir assim, mas não deixa de ser bom para Obama que os líderes sauditas, com quem ele recentemente teve alguns conflitos, concordem com ele sobre as vantagens mundiais do petróleo mais barato.
Fonte: Wall Street Journal