Diário DigitalOs polícias estão com o pé atrás relativamente ao plano de acção anunciado esta segunda-feira pelo ministro da Administração Interna, António Costa. Um policiamento mais musculado vai «aumentar os processos-crime e os processos disciplinares», dizem os sindicatos. Além disso, sublinham que há militares que, desde o início da carreira, nunca mais treinaram o uso da arma.
Um policiamento mais reactivo e disparos mais rápidos são respostas da PSP e da GNR à crescente ameaça aos agentes das forças de segurança. O Modelo Integrado de Prevenção e Intervenção Policial foi apresentado ao ministro da Administração Interna um ano depois do assassinato de dois agentes na Amadora e dá instruções de reacção em caso de tiroteio.
Mas os sindicatos prevêem o pior. «Nós neste momento já temos processos disciplinares só por andarmos na rua com a mão na arma», explica Ernesto Rodrigues, da Associação Sindical Independente de Agentes da PSP. «Com a actual legislação não podemos usar armas de fogo de uma forma mais musculada», afirma. Se o fizerem, admite, isso «vai aumentar o número de processos
[crime e disciplinares] contra os elementos das forças de segurança».
A anunciada liberdade para disparar também não convence José Alho, dirigente sindical da GNR. «A lei só nos permite ripostar perante ameaça de morte - nossa ou de colegas - e perante igualdade de armas», esclarece. Ora, «se a lei não foi alterada», fica a dúvida: «podemos disparar em que aspecto?»
Em que aspecto e com que armas, acrescente-se. É que, de acordo com os sindicatos ouvidos pelo PortugalDiário, os elementos das forças de segurança não estão preparados para responder ao fogo com fogo. «Eu, por exemplo, não faço tiro há três anos», admite Ernesto Rodrigues. Três anos sem treinar. Um prazo demasiado longo que pode ser fatal em caso de tiroteio.
Mas há casos piores. «No grupo territorial da GNR de Beja há cinco anos que ninguém faz tiro com a arma que usa», garante José Alho, da Associação Socio-Profissional Independente da Guarda. O mesmo responsável acrescenta: «há pessoas que só fizeram [treino de tiro] no curso e depois nunca mais». O ideal, explica, «devia ser mensalmente». «Há pessoas que exercem funções burocráticas que se forem chamados a intervir numa situação de ordem pública não estão preparadas», sublinha Ernesto Rodrigues.
Optimista relativamente ao novo plano de acção, Paulo Rodrigues está, no entanto, céptico quanto à sua execução. O dirigente da ASPP (Associação Sindical dos Profissionais de Polícia) defende um «patrulhamento activo» e de «proximidade». Concorda com o aumento do número de polícias em cada patrulha e espera pela «execução prática» do plano teórico.
Este projecto prevê mais elementos nas patrulhas em bairros perigosos. Recurso frequente e articulado ao Grupo de Operações Especiais e ao Corpo de Intervenção. E um mapa digital com as pontos mais perigosos das grandes áreas metropolitanas.
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