Vamos para São Tomé ?

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Rui Elias

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Vamos para São Tomé ?
« em: Abril 19, 2004, 12:46:55 pm »
Não se pode enviar rapidamente em força, como dizia o outro, duas fragatas e 4 corvetas, com uns meios aéreos de apoio para lá intervir “a pedido” do governo são-tomense, ou "à francesa", impor um governo pró-português que defenda os interesses geo-estratégicos de Portugal, no seu espaço atlântico, e no seio da CPLP?

Que inclusive passe pelo estabelecimento de uma força militar permanente (uma pequena base naval) que ajude esse país a garantir a sua segurança perante o gigante nigeriano?

Afinal, para quem andou a apoiar a invasão do Iraque, parece que agora se está nas retrancas?

É que se não formos lá nós, irão os nigerianos, para ver se caçam o petróleo, e repare-se que os nigerianos foram há poucos meses visitados pelo presidente Bush.

Se tal fosse necessário, tentar congregar esforços junto de Angola para colaborar nessa intervenção, que se processaria no quadro da CPLP, e tiraria argumentos aos que logo clamariam contra o "neo-colonialismo".

Claro que em teoria não se deve defender intervenções em assuntos internos de estados soberanos, e por isso condeno a actual intervenção no Iraque.

Mas em São Tomé é diferente.

Na Guiné em 98, a acção de Portugal foi meritória no sentido de manter uma presença vigilante e de congregar esforços entre as partes no sentido de colocar as pessoas a falar umas com as outras.

Mas essa pressão só se consegue com uma força militar credível que permita que São Tomé mantenha a capacidade de soberania.

Ora se não fizermos nada, o mais provável é que a Nigéria tome conta do território, com o pretexto de impôr a "democracia", tal como a Indonésia fez com Timor em 75, quando a presença portuguesa desapareceu e os timorenses da UDT e da FRETILIN se guerreavam entre si.

Por isso, defendo que a intervenção portuguesa no quadro de concertação com os outros estados mais próximos, histórica e culturalmente de São Tomé (Angola e Brasil) pudessem participar numa força conjunta de protecção do território e assim permitisse a Portugal e à CPLP mostrar ao mundo que somos poucos e pobres, mas não somos parvos.

Relembro que no início de 2003 o primeiro-ministro de São Tomé em visita a Lisboa quase convidou o governo português a colocar lá uma força militar permanente para garantir a defesa do território perante as ameaças veladas vindas do vizinho gigante, que é a Nigéria.

E deu a entender que poderia estender esse convite aos EUA.

Simplesmente os EUA nunca tiveram grande propensão para intervir em assuntos africanos e se agora se verifica uma viragem é no sentido da África anglófona de que a Nigéria, com o seu petróleo e a sua numerosa população será um aliado preferencial.

E esta seria no fim de contas uma forma de Portugal demonstrar alguma política externa coerente com o discurso, e também coerente com o seu património histórico e cultural, em vez de se andar a dispersar pelos iraques e bósnias deste mundo.

Julgo que uma presença permanente de 1 fragata e duas corvetas (que seriam rendidas mensalmente e um destacamento da FAP através de um C-130 para rotação de forças e transporte de equipamentos) poderia marcar essa presença, sendo essa base poder ser potenciada com o concurso de meios navais brasileiros.

Desse modo, o espaço lusófono ficaria com uma presença mais marcante no Atlântico Sul, e seria uma forma de dar algum corpo à CPLP.
 

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papatango

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(sem assunto)
« Responder #1 em: Abril 19, 2004, 07:21:03 pm »
“...Julgo que uma presença permanente de 1 fragata e duas corvetas (que seriam rendidas mensalmente...”

Será que nos podería dar uma ideia dos custos da manutenção de uma fragata com rotação mensal, e mais duas corvetas?

Sería interessante juntar os discursos do “devía ser” com os discursos do “pode ser”

Desse modo, o espaço lusófono ficaria com uma presença mais marcante no Atlântico Sul, e seria uma forma de dar algum corpo à CPLP.

Temos que colocar na cabeça, que a CPLP é uma organização de vários estados, com interesses distintos, mas acima de tudo, temos que assumir que somos apenas um dos oito países que dela fazem parte. Se os outros países não se mostrarem interessados, não podemos fazer a CPLP sozinhos.

Já passou o tempo das quimeras.

A presença no Iraque tem as suas razões tácticas e estratégicas. A presença na antiga Jogoslávia também. A presença em Timor também se justifica. Mas nenhuma destas operações tem o que quer que seja a ver com  a  CPLP.

O problema é sempre, quem paga...

De qualquer forma, em São Tomé, para manter alguma estabilidade, e se fosse necessário, chegaria uma força com as características da que está no Iraque, e provavelmente sería demais. Não nos podemos esquecer de que as F.A.’s de S. Tomé são constituidas por  cerca de 200 homens, apenas armados de armas ligeiras. Mandar fragatas que não chegam para manter a soberania nas nossas aguas é caro, e mandar corvetas não serve de nada (qualquer barquito equipado com misseis as pode afundar). Claro que se tivessemos que mandar uma fragata as corvetas também seriam inuteis.

Não sei se a Nigeria ainda tem operacionais os Fokker F-27 Maritime, que estavam equipados com torpedos.

No caso de mandarmos uma fragata, não há no golfo da Guiné, nada que possa desafiar uma fragata MEKO. (excepção feita aos Franceses, claro) ... :D :D pelo que o envio de Corvetas de pouco aumentaría as capacidades de tal força. Além do mais, não temos fragatas que cheguem.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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JQT

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Realismo meus senhores
« Responder #2 em: Abril 28, 2004, 07:57:26 pm »
Essas intervenções ficam muito bem na TV, dá-nos muita nostalgia mas no fim acabamos por não ganhar nada com isso. Para já porque se no passado os EUA, Rússia, China, Inglaterra, Suécia, Noruega, Holanda e quejandos fizeram o possível para correr conosco de lá não vejo porque hoje não fariam o mesmo. À primeira veleidade de vontade própria, aumentavam-nos o preços dos sobressalentes do nosso material em 500% e lançavam uma campanha na imprensa internacional contra nós (se com o Euro 2004 já é o que é, como aquela capa simpática da revista TIME...).

Segundo, por nós próprios não iríamos a lado nenhum, só nos aliando aos EUA e mesmo assim ficaríamos com as migalhas.

Terceiro, porque a Suécia e a Noruega são dos países mais presentes em África e nunca mandaram para lá tropas a não ser em missões de paz. Não precisam de bases navais nem forças aéreas para fazerem muito bons negócios no petróleo, madeiras, minério de ferro e nas matérias-primas estratégicas. Fazem-no com corrupção, dando dinheiro às pessoas certas através das suas ONGs de "ajuda internacional".

Quarto, porque quando aquilo era português era aceitável que morressem soldados portugueses por lá. Agora, já não. São independentes, agora amanhem-se que nós temos mais que fazer.

JQT
 

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Rui Elias

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« Responder #3 em: Junho 17, 2004, 03:15:08 pm »
Já repararam que o governo de S. Tomé cumpriu a promessa de "convidar" os EUA a assegurar a sua defesa, através da construção de um porto de águas profundas e da ampliação da pista, para que lá possam estabelecer uma pequena base naval?

Depois do governo de S. Tomé nos ter convidado há 2 anos a fazer isso, e de nós, paroquialmente e com vistas curtas termos assobiado para o ar, eis que outros avançam.

Claro que Portugal não se pode comparar com os EUA.

Mas não será verdade que o que é bom para os EUA também pode ser bom para nós?

Mas será que fizemos tudo ao nosso alcance?

Já nem falo no que preconizei acima, que seria uma visão maximalista, mas mais prosaicamete porque não fazíamos lá aportar em permanência uma corveta e de vez em quando visitar a ilha com uma Vasco da Gama, para além de termos uma presença, ainda que simbólica de tropas aero-transportadas mesmo que para isso se tivessem que construir alojamentos junto do aeroporto?

Não temos C-130 capazes de fazer viagens regulares para lá para rotação da tropa e envio de víveres e equipamentos?

É nisto que dá termos vistas curtas.
 

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J.Ricardo

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« Responder #4 em: Setembro 21, 2004, 12:56:58 pm »
Concordo parcialmente com vocês, ao Brasil pelo menos, seria interessante uma presença maior em São Tomé, pelo menos a Petrobras poderia explorar sua jazidas de petróleo : 8) . Mas neste governo (já estava na hora) o Brasil vem olhando com mais interesse para países lusófilos, basta ver as constantes viagens que o presidente Lula tem feito a África, só espero que estas viagens tenham resultados positivos a médio prazo, pois ao longo prazo tenho dúvidas se esta política de reaproximação com a África vai continuar, pelo menos é o que nos dá a entender as críticas que tem feito a oposição a esta política do presidente Lula!
 

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Pedro Monteiro

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« Responder #5 em: Outubro 05, 2004, 09:24:24 am »
Citação de: "papatango"
“...Julgo que uma presença permanente de 1 fragata e duas corvetas (que seriam rendidas mensalmente...”

Será que nos podería dar uma ideia dos custos da manutenção de uma fragata com rotação mensal, e mais duas corvetas?


Para se ter uma ideia, aquando da missão em Timor-Leste, fontes da imprensa apontavam para cerca de 5.000 euros o custo diário da manutenção da Vasco da Gama na região. Suponho que, contudo, isso talvez incluísse os custos de operação dos helis a bordo, bastante requisitados, refira-se.
Cumprimentos,
Pedro Monteiro
 

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Ricardo Nunes

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« Responder #6 em: Outubro 05, 2004, 12:19:10 pm »
Citação de: "Pedro Monteiro"
Citação de: "papatango"
“...Julgo que uma presença permanente de 1 fragata e duas corvetas (que seriam rendidas mensalmente...”

Será que nos podería dar uma ideia dos custos da manutenção de uma fragata com rotação mensal, e mais duas corvetas?

Para se ter uma ideia, aquando da missão em Timor-Leste, fontes da imprensa apontavam para cerca de 5.000 euros o custo diário da manutenção da Vasco da Gama na região. Suponho que, contudo, isso talvez incluísse os custos de operação dos helis a bordo, bastante requisitados, refira-se.
Cumprimentos,
Pedro Monteiro


É possível que tenha sido mais. Bastante mais.
O custo de operação dos 3 F-16s da Esq. 201 em Aviano, 1999, era de cerca de 2100 contos ( 10500 € ) por dia.
Ricardo Nunes
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pedro

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« Responder #7 em: Dezembro 27, 2006, 01:34:52 pm »
So uma pergunta talvez fora de tempo mas nos poderiamos combater com a Nigeria?
Cumprimentos
 

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Rui Elias

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« Responder #8 em: Dezembro 28, 2006, 04:18:07 pm »
Citar
So uma pergunta talvez fora de tempo mas nos poderiamos combater com a Nigeria?
Cumprimentos


Não, Pedro.

A razão do tópico já muito datado, desde 2004 prende-se em oferecer a S. Tomé uma base de maior garantia de soberania, entrando Portugal como aliado preferencial.

Mas nada de manter uma guerra com a Nigéria.
 

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papatango

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« Responder #9 em: Dezembro 28, 2006, 08:00:47 pm »
Entretanto com a instalação de radares americanos em São Tomé, creio que não temos que nos preocupar com os destinos desse país.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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pedro

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« Responder #10 em: Dezembro 29, 2006, 01:16:41 pm »
Tem graca a uns dias no jornal de Sao tome eles escreviam um artigo com este titulo: Um porta-avioes chamado Sao tome.
Cumprimentos
 

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Rui Elias

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« Responder #11 em: Dezembro 29, 2006, 01:30:32 pm »
E nós deixámos escapar essa oportunidade de nos afirmarmos um pouco mais.

Dentro da nossa pequenês paroquial, e de chapéu na mão.