Pergunto humildemente: e qual é a surpresa de ver verbas alocadas a um determinado programa serem transferidas para outro? Mas afinal de contas, em que País é que estamos? Até parece que, de repente, deixámos de ser o Pais mais ocidental da Europa e emigrámos para a Escandinávia….

Vamos lá fazer um rápido “teatrinho”, e colocarmo-nos na pele do CEMFA… (ou, já agora, de qualquer um dos 3 chefes de cada um dos ramos das FA’s)….
No caso da FAP, o homem tem no inventário:
28 F-16, que já necessitam de mais uma modernização, para se poderem manter com “estamina” suficiente para aguentar a sua missão durante por mais 12 ou 15 anos (não esquecer que os primeiros chegaram cá em 1994, ou seja, há já 23 anos)…
5 C-130, que chegaram ao “rectângulo” a partir de 1977, e que estão a “cair da tripeça” (e que, além do mais, têm sido uma importante parte do sustentáculo de todas as missões externas das Forças Armadas Portuguesas desde meados doa anos 90. Ou seja, passaram metade da sua vida operacional a voar sistemática e continuamente para vários locais (às vezes não tão próximos como isso) do planeta.
5 P-3 em 2ª. mão, (bem) modernizados, que vão aguentar até não haver mais sobresselentes no mercado (e que seja por mais 20 anos, porque no dia em que já não puderem voar, duvido que haja pasta para o P8).
12 C-295, que são as “coisinhas fofas” da FAP, novitas e com muitas horas de vôo para dar, e que, ainda por cima, só oferecem vantagens: são pau para toda a obra (transporte táctico, patrulha marítima, instrução, ISR, SAR, SIFICAP)…. E, acima de tudo, têm um custo por hora de vôo que é uma verdadeira pechincha!
6 Alpha Jet que vão baixar ao hangar em Janeiro de 2018.
14 EPSILON que já têm às costas 28 anos
6 CHIPMUNK remotorizados que são perfeitos para a sua função de instrução básica de pilotagem, mas que têm que entrar na equação da substituição do EPSILON.
2 DO’s que rebocam planadores (que também deverão entrar na equação da substituição do EPSILON, sobretudo por razões logísticas).
4 planadores
3 FALCON (que em 3 ou 4 anos também terão de ser substituídos).
12 EH-101, que, conjuntamente com os C-295, são as verdadeiras aeronaves multimissão da FAP (SAR, Transporte Aéreo Táctico, CSAR, Instrução, SIFICAP). E ainda por cima, “novas” para os padrões cá do burgo…
6 ALOUETTE III, que também deixam de voar para o ano, e que, até ao momento, ainda não se sabe ao certo quando, como, e em que proporção vão ser substituídos.
Ah, e mais meia dúzia de DRONES de brincar que andam às voltas ali pelas bandas da Ota…. (esses nem os contabilizo)…
Ou seja… apenas 23 % da frota da FAP é relativamente recente (C-295, EH-101), 27 % é passível de se aguentar por mais 12 a 15 anos com mais uns upgrades (F-16), 5 % vai ter forçosamente de se aguentar por mais 15 ou mais anos (P-3), 12 % desaparece até 2018 (Alouette III, Alpha JET), 3 % até 2020 / 21 (FALCON), e o resto (30%), até 2030 (e claro, nestas contas não está incluída a frota de PREDACTORS da FAP)

Junte-se à falta de meios, entre outros, a falta de efectivos, a manutenção de todo o espectro de missões que se faziam há 20 anos atrás (mas, proporcionalmente, com menos recursos), orçamentos cada vez mais apertados, e a feroz procura de especialistas pelo mercado civil, e temos uma enorme caldeirada. E agora que o Dr. António Costa veio dizer que, afinal, não há rectroactivos para ninguém…..

Alguém se surpreende que, neste cenário, quem manda ponha uma coisa no papel e depois “desloque” verbas de umas rúbricas para outras em função daquilo que entende serem as necessidades do momento?
Não estou com isto a dizer que tal está correcto e muito menos que tal é uma prática correcta de gestão. Mas parece ser o lugar comum, quer nas empresas públicas, quer nas empresas privadas, desde há cerca de uma década a esta parte…..