Entrevista com António Borges

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Jorge Pereira

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Entrevista com António Borges
« em: Setembro 15, 2005, 01:08:54 pm »
Citação de: "Visão"

Entrevista com António Borges



«Os partidos transformaram-se em máquinas de assalto ao poder»

Cada vez mais activo no PSD, não exclui a hipótese de vir a candidatar-se à liderança dos sociais-democratas.

Sem esconder críticas à actual situação, mantém o discurso optimista sobre o futuro de Portugal. Mas mostra-se preocupado com «o regresso das cliques políticas ao interior das empresas» e ataca ferozmente os aparelhos partidários.

«Hoje aceitamos gente que nunca devera estar num cargo público, gente que deveria estar na cadeia e que continua aí com a mania de que ganha eleições», alerta.

Na área económica, classifica de «contra-producente» a vontade de o Governo pôr a Galp a concorrer com a EDP na área energética. «Continuamos preocupados com esta lógica de rectângulo, de concorrência interna, com empresas pequeninas a matarem-se umas às outras, em lugar de criarmos uma empresa forte e de abrirmos o mercado», defende.

Diz ainda que discorda frontalmente do primeiro-ministro José Sócrates quando este afirma que a prioridade externa é «Espanha, Espanha, Espanha» e recorda que «os erros económicos pagam-se com a perda de independência»





Sem querer entrar em discursos de Messias, este homem representa para mim uma das últimas oportunidades para colocar este país nos eixos.

Arrisco mesmo a apostar que será o próximo primeiro-ministro.

Se isso acontecer, e partindo do princípio que o Prof. Cavaco Silva ganha as eleições presidenciais, estaremos perante uma dupla de homens com conhecimentos e capacidade ímpares para transformar este país e coloca-lo na linha do crescimento e da prosperidade, sem estarem atados a ideias retrógradas e obsoletas como acontece com a maioria dos governantes actuais.

Diria mesmo que é uma oportunidade histórica que dificilmente se repetirá.

Fixem esse rosto.
« Última modificação: Março 06, 2008, 11:14:47 pm por Jorge Pereira »
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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komet

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« Responder #1 em: Setembro 15, 2005, 01:18:17 pm »
Agrada-me.

Esperemos que não seja mais um mero bom falador.
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NVF

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« Responder #2 em: Setembro 15, 2005, 01:22:04 pm »
Jorge, pela sua descricao ate' parece que o homem e' o D. Sebastiao  :)

Por razoes profissionais ja' ouco falar deste tipo ha' uns 7 ou 8 anos — ate' ja' tive a oportunidade de estar com ele e dar um bate-papo — e devo dizer que e' um excelente estrategista e professor e dara' concerteza um bom PM. Mas nao e' 1 pessoa (ou 2) que vao salvar Portugal.

Sem duvida que Portugal precisa de ser bem dirigido, mas so' pode melhorar quando houver uma consciencia nacional de caracteristicas horizontais, que abarque todos os sectores da sociedade. Doutrinar as pessoas nisto e' talvez mais importante que sanear as financas publicas.

Com este tipo de discurso AB talvez consiga o primeiro passo nessa caminhada que e' combater o pessimismo (em grande parte injustificado) do povo portugues.

cpts.
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Luso

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« Responder #3 em: Setembro 15, 2005, 02:25:36 pm »
Respeitosamente, permitam-me que diga que não tenho grande esperança nesse cavalheiro. As suas prestações demonstram um cuidado excessivo que entendo que ser incompatível com um líder a sério para momentos sérios. Além disso, suspeito de sebastianismos vindos de jornais que nos vendem milagreiros. Aliás, agora recomendo que não se compre publicidade (jornais).
Desconfiem dos gregos que nos dão presentes.

Básicamente, considero-o um bem falante, que se dirige a uma cota de mercado específica. E até pode ser boa pessoa, mas não me convence.
E se fosse líder não se escudava atrás de... Ferreira Leite  :roll: .

Agora também quero confessar que me sinto mais tentado a seguir alguém com a postura e a frontalidade de Medina Carreira que comentários melíferos, estudados, banais e políticamente correctos.
Antes guerra aberta que paz podre.
Mas isto sou eu, claro.
E sebastianista, cada vez mais!
« Última modificação: Setembro 15, 2005, 02:30:32 pm por Luso »
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Jorge Pereira

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« Responder #4 em: Setembro 15, 2005, 02:29:14 pm »
Citação de: "NVF"
Jorge, pela sua descricao ate' parece que o homem e' o D. Sebastiao :D

Não se trata disso NVF, trata-se das capacidades, inteligência e principalmente das ideais claras que este homem tem. Eu também já o “vigio” à uns anos e até hoje nunca o ouvi dizer nada com o qual eu não concordasse.

Citação de: "NVF"
Mas nao e' 1 pessoa (ou 2) que vao salvar Portugal.

Sem duvida que Portugal precisa de ser bem dirigido, mas so' pode melhorar quando houver uma consciencia nacional de caracteristicas horizontais, que abarque todos os sectores da sociedade. Doutrinar as pessoas nisto e' talvez mais importante que sanear as financas publicas.


Estou de acordo consigo, mas tem de haver alguém que aponte o caminho a seguir, que transmita confiança, AMOR pelo país, alguém que diga aos que perderam a esperança que vale a pena lutar, que não está tudo perdido.

Agora quando de cima vem precisamente o contrário, já se sabe, é um salve-se quem puder e assim não vamos lá.

Citação de: "NVF"
Com este tipo de discurso AB talvez consiga o primeiro passo nessa caminhada que e' combater o pessimismo (em grande parte injustificado) do povo portugues.



Completamente de acordo.
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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Jorge Pereira

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« Responder #5 em: Setembro 15, 2005, 02:42:12 pm »
Citação de: "Luso"
Básicamente, considero-o um bem falante, que se dirige a uma cota de mercado específica. E até pode ser boa pessoa, mas não me convence.
E se fosse líder não se escudava atrás de... Ferreira Leite  :roll:  .


Luso, ele precisa de “entrar” plenamente no partido pela mão de alguém que controla, é respeitada e que transmite uma imagem de seriedade e rigor. Essa pessoa é Manuela Ferreira Leite.

Marques Mendes foi “incumbido” de pôr em ordem o PSD, resolver dossiers polémicos, etc., aquilo que eu chamo “partir pedra”. Quando este trabalho estiver terminado o António Borges avançará e para isso é necessário o apoio de Ferreira Leite, tanto dentro como fora do partido.

É a minha leitura da situação.
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

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NVF

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« Responder #6 em: Setembro 15, 2005, 04:30:20 pm »
Alias essa estrategia nao e' nova. A seguir a uma derrota eleitoral, aparece sempre um lider de transicao que prepara o caminho para o seu sucessor.

Foi o que aconteceu com Cavaco; avancou Mota Pinto que teve que se coligar com Soares, num dos momentos financeiramente e politicamente mais dificeis — senao o mais dificil — dos ultimos 30 anos. E depois da casa mais ou menos remedeada, apareceu Cavaco, o D. Sebastiao dos anos 90. A situacao de Socrates e' alias analoga.
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Luso

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« Responder #7 em: Setembro 15, 2005, 08:02:15 pm »
Jorge, acredite que eu quero que você tenha razão e eu esteja errado!
Eu também já tive fé no senhor mas quando dele só ouvi "politicamente correctos", o meu "Detector de Balelas Mark I" entrou em acção.
Quantos "génios" já nos foram vendidos pela imprensa?
Vitorino, Rebelo de Sousa, Pina Moura, António Mexia, etc, etc...


Agora Ferreira Leite "imagem de rigor"?
Já chega de "imagem"...

O "rigor" de que tanto se fala é absolutamente risível, acredite Jorge.
Ah, se as pessoas soubessem o que se passa!

Alternativas, perguntam-me vocês...
Mas eu não faço a mínima ideia.

Se António Borges falar com a frontalidade de Medina Carreira tem aqui um apoiante dos rijos.
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komet

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« Responder #8 em: Setembro 15, 2005, 08:14:16 pm »
Citar
«Hoje aceitamos gente que nunca devera estar num cargo público, gente que deveria estar na cadeia e que continua aí com a mania de que ganha eleições»


Citar
Diz ainda que discorda frontalmente do primeiro-ministro José Sócrates quando este afirma que a prioridade externa é «Espanha, Espanha, Espanha» e recorda que «os erros económicos pagam-se com a perda de independência»


Politicamente correcto e banal? Não tenho visto afirmações destas sem ser do rapazinho da Madeira  :wink:
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Luso

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« Responder #9 em: Setembro 15, 2005, 09:02:09 pm »
"Mas sim, não passam de afirmações, muitas vezes a sensação de lufada de ar fresco pode muito bem ser um peido afinal."

Exacto. Era aí que eu queria chegar e o próprio Fernando Rocha era incapaz de dizer melhor. :wink:

A prestação de AB em dois "prós e contras", o congresso do PSD etc, não me entusiasmaram particularmente. Até me causaram indignação face às espectactivas criadas em torno do Salvador.
O PSD acena o perigo espanhol, não pelo que representa mas apenas como argumento, porque quando cheira a € tendem todos a serem iguaizinhos.
Provavelmente certas clientelas estarão a ser prejudicadas.
Lembram-se do patriota da Somague?
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Tiger22

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« Responder #10 em: Setembro 17, 2005, 02:35:51 pm »
Também penso que será o próximo primeiro-ministro. Esperemos que já para o próximo ano :twisted:
"you're either with us, or you're with the terrorists."
 
-George W. Bush-
 

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typhonman

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« Responder #11 em: Setembro 17, 2005, 03:02:44 pm »
Inspira-me confiança.
 

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Luso

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« Responder #12 em: Setembro 29, 2005, 08:14:45 pm »
Citação de: "Typhonman"
Inspira-me confiança.


Se confiares em ti dá-te por feliz.
Pelo menos comigo é assim.
E agora lê isto:

http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/

"Quem convidou formalmente o grupo Carlyle a tomar posição na Galp Energia, afinal foi a consultora internacional Goldman Sachs através de um proeminente economista português, com aspirações políticas - António Borges.

A Caixa Geral de Depósitos afinal tinha como missão assessorar a operação, financiar parte da aquisição e ser accionista do veículo que se propunha tomar a posição na Galp Energia, garantindo para isso um lugar na administração.
A Carlyle venderia a sua posição num prazo de 4 anos.

N.A. Não haverá por aí uma alminha caridosa que nos elucide, e ao país, dos fees cobrados pela Goldman Sachs enquanto adviser do Estado português em toda esta embrulhada ?"


E é sabido que a "Loja" é tudo menos PS...
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Luso

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« Responder #13 em: Junho 19, 2006, 11:55:28 pm »
Do Letras com Garfos, e que subscrevo inteiramente.

Citar
António Borges, Phd, Phd, Phd, Phd e Phd
Publicado em Política por Orlando // 19 - Junho - 2006 Notas.

Com todo o respeito pelo Galo Verde e admirando-lhe a veneração cavaquista desde a primeira hora (já eu não disponho da sublime qualidade da persistência), defender a Ministra de Educação (elogiada por Cavaco Silva) por ter fechado escolas de forma indiscriminada (principalmente no interior do país) devido à “insuficiência de alunos” é o mesmo que defender o encerramento da maternidade de Elvas e pôr portugueses a nascer em Espanha. Por isso, cada vez “pesco” menos deste PSD, que por um lado diz que a ministra da educação é uma sumidade e por outro critica, titubeante, o ministro da saúde.

Quanto aos PHD’s do Borges, anda por aí muito burro que é doutor, doutorado, pós-doutorado, pós-graduado, etc. Basta fazer umas férias em Londres ou em Nova Iorque, para sair de lá com mais um alvará de inteligente (o Paulo Portas que o diga). Deveria existir uma lei que obrigasse os políticos a trabalhar uma temporada nos distritos de Bragança ou Castelo Branco, para deixarem de dizer bacoradas: pelo que ouço de alguns, ou são estúpidos ou insensíveis, o que é ainda pior.
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JoseMFernandes

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« Responder #14 em: Junho 20, 2006, 06:49:03 pm »
Citar
António Borges, Phd, Phd, Phd, Phd e Phd
Publicado em Política por Orlando // 19 - Junho - 2006 Notas.

Com todo o respeito pelo Galo Verde e admirando-lhe a veneração cavaquista desde a primeira hora (já eu não disponho da sublime qualidade da persistência), defender a Ministra de Educação (elogiada por Cavaco Silva) por ter fechado escolas de forma indiscriminada (principalmente no interior do país) devido à “insuficiência de alunos” é o mesmo que defender o encerramento da maternidade de Elvas e pôr portugueses a nascer em Espanha. Por isso, cada vez “pesco” menos deste PSD, que por um lado diz que a ministra da educação é uma sumidade e por outro critica, titubeante, o ministro da saúde.


Agradecendo ao LUSO o pretexto para o trazer  aqui :) , segue o artigo de António Borges, para se ter uma ideia mais concreta do assunto,  

Público de 18/6/2006-
Citar
EDUCAÇÃO, PROFESSORES E AVALIAÇÃO
antónio borges



Todos os governos têm bons e maus ministros. O actual Governo não é excepção: alguns ministros são excelentes, outros desastrosos. A mais agradável surpresa entre os actuais governantes é provavelmente a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.
A actuação da ministra da Educação tem sido, desde o primeiro dia, extremamente certeira. Começou pela decisão, muito impopular mas não menos importante, de mandar encerrar escolas com um número insuficiente de alunos. Não é sério discutir-se constantemente os problemas de uma evolução demográfica muito preocupante, com muito baixa natalidade e o envelhecimento dramático da população, e esquecer que essa realidade implica necessariamente reduzir a oferta de serviços públicos dirigidos às crianças.
Mais recentemente a ministra começou a atacar o problema do insucesso escolar. Todos reconhecem que este é um dos problemas mais graves com que o país se defronta. Apesar de Portugal ser um dos países do mundo que mais gasta em Educação, os resultados são muitíssimo insatisfatórios. Estamos num dos últimos lugares na Europa no que respeita ao nível educacional da nossa população. Arriscamo-nos mesmo a ser ultrapassados pela Turquia, país bem mais pobre e atrasado do que Portugal. É impossível pensar-se numa economia desenvolvida e moderna - com ambições de acompanhar o desenvolvimento baseado no conhecimento e de pôr em prática um ambicioso plano tecnológico - e manter um nível de insucesso escolar comparável ao dos países do Terceiro Mundo. Os nossos jovens deixam a escola com muito poucos conhecimentos; pior ainda, saem com o sentimento de que a exigência não interessa, que os exames são uma aberração, que a escola não os ajuda na sua vida e na sua realização profissional.
A grande controvérsia que hoje impera no mundo da educação resulta de a ministra ter afirmado que os professores também são responsáveis pelo insucesso escolar. E, no entanto, nada é mais natural: os professores têm uma missão bem definida, muitíssimo importante e insubstituível - educar. Se a educação não está bem, se o insucesso escolar se tornou num problema gravíssimo, os professores não podem em caso algum dizer que não têm nada a ver com assunto, que a responsabilidade não é sua, que outros são os culpados. São eles quem dia a dia recebe as crianças, com a extraordinária missão de lhes transmitir conhecimentos, de os formar, de os preparar para a vida profissional e para o papel que cada um deve desempenhar na sociedade. O seu trabalho é dos mais nobres e dos mais importantes em qualquer sociedade. Por isso mesmo, tem de ser concretizado com grande seriedade e profissionalismo, respondendo a níveis de exigência muito altos.
Há evidentemente muitos bons professores em Portugal; há também muitos outros que encaram o seu trabalho como uma rotina que tem de ser cumprida, sem qualquer preocupação com os resultados. Daí que, de facto, a primeira prioridade na melhoria da acção educativa tenha de ser uma séria avaliação dos professores, com grande capacidade de discriminação entre bons e maus, com recompensas tangíveis para os bons e sanções pesadas para os maus. Depois de muitos anos em que todos os professores são classificados como muito bons e em que todos sem excepção sobem automaticamente ao topo da carreira, é imperativo que se reintroduza alguma seriedade na avaliação e que se restabeleça a meritocracia como critério único de progresso na carreira.
Toda a administração pública portuguesa é avessa à avaliação. Muitos professores e, sobretudo, os seus sindicatos consideram a avaliação insultuosa, com o argumento falacioso que se destina apenas a poupar dinheiro. A realidade é bem diferente: a pedra-de-toque de qualquer grande organização é a sua disponibilidade para aceitar uma avaliação séria, exigente e, sobretudo, independente. Ao recusarem a avaliação, os professores - ou alguns deles - estão a prestar um péssimo serviço aos seus alunos: eles vão ser avaliados sempre, pela vida fora. Bem ou mal, essa avaliação determinará o sucesso ou insucesso que terão nas suas vidas. E quase sempre a avaliação será exercida de forma exigente e decisiva, pelo mercado, pela profissão, pelos destinatários da sua actividade. Os professores não podem argumentar que o que se aplicará aos seus alunos não é válido para eles próprios.
A essência de qualquer processo de avaliação é o seu carácter discriminatório. Os professores, como quaisquer outros profissionais, têm de aceitar que há muito bons, bons, medíocres e maus. Daí que as quotas sejam absolutamente essenciais em qualquer processo sério de avaliação. Se, como até aqui, a avaliação classifica todos como bons ou muito bons, estamos perante uma enorme farsa, que justamente corresponde à negação do conceito de avaliação.
Por último, a participação dos pais no processo de avaliação dos professores é fundamental. Os pais são os principais interessados na boa educação dos seus filhos. Melhor do que ninguém, eles sabem o que é melhor para as crianças. É aberrante que, reconhecendo a todos sem excepção a capacidade e competência para avaliar e escolher quem nos governa, não aceitemos aos pais a capacidade e competência de avaliar quem educa os seus filhos. Em todas as melhores universidades do mundo os professores são avaliados pelos alunos. Não é, evidentemente, a única avaliação, nem talvez a mais importante; mas tem a vantagem de reflectir o ponto de vista daqueles a quem a acção educativa se destina. Nas escolas primárias e secundárias têm naturalmente de ser os pais a desempenhar esse papel.
Convém aliás recordar que os pais já hoje avaliam os professores em todas as escolas do ensino particular. E essa avaliação é a mais radical e definitiva: quando não estão satisfeitos, os pais retiram os filhos da escola e mudam para outra. Se o princípio da participação dos pais na avaliação não se aplicar nas escolas do Estado, estamos apenas a retirar aos pais que optem por essas escolas um direito fundamental: o de terem uma palavra a dizer sobre a educação dos seus filhos.
As frentes de batalha que, provavelmente contra a vontade da ministra, se vêm abrindo na educação são das mais decisivas para o futuro do país. O problema da educação não é o da falta de recursos - antes pelo contrário, é o do esbanjamento de recursos. É indispensável repor uma grande seriedade na acção educativa, o que implica o empenhamento dos professores, os únicos que podem de facto fazer a diferença. A avaliação é uma peça fundamental da renovação que se exige na educação. E a participação dos interessados, a quem a educação se destina, é uma garantia de seriedade e de independência.
Maria de Lurdes Rodrigues trouxe ao Ministério da Educação uma extraordinária lufada de ar fresco. Pela primeira vez, desde há muitos anos, se estão a atacar os verdadeiros problemas de um sector fundamental da acção do Estado. Se for bem sucedida, ficaremos com outra esperança quanto à viabilidade da reforma do Estado em Portugal. Se ceder ou diluir as suas reformas face às posições retrógradas e corporativistas de quem se sente atingido no seu conforto e nos seus privilégios, então continuaremos com boas razões a duvidar do futuro do país. Ex-Dean do INSEAD, em Fontainebleau, França; membro do Conselho de Governadores do Wellington College, em Inglaterra e membro do Conselho de Administração da Universidade Bocconi, em Itália



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