Histórias da vida militar

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TOMKAT

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Histórias da vida militar
« em: Abril 11, 2005, 10:07:41 pm »
Verifico que muitos membros do fórum foram ou são militares.
Procurei no fórum histórias passadas pelos membros do forum na sua vida militar e por não ter encontrado nenhum tópico sobre este assunto decidi-me abrir um tópico abordando este tema.
Cada militar tem inúmeras histórias para contar, anedóticas ou não,
umas mais felizes que outras, mas todas contribuiriam para entender melhor o que é a vida militar nos seus vários aspectos, em especial a vida militar no exercicio das funções individuais ou de grupo a que cada um pertenceu (ou pertence).
Aguardo muitas e boas histórias dos membros do forum.
Tenho algumas para contar, umas mais felizes, outras nem tanto,
mas todas fazem parte da minha vida. Prometo "postá-las", mas não quero ser o primeiro (uma das coisas que a vida militar me ensinou é que é perigoso ser o primeiro  :twisted:
IMPROVISAR, LUSITANA PAIXÃO.....
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«O meu ideal político é a democracia, para que cada homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado»... Albert Einstein
 

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« Responder #1 em: Abril 12, 2005, 05:17:55 pm »
Olha pá, eu fui à inspeccção (no Porto) em 2001. Cheguei atrasado e levei uma pissada de uma chavala fardada que estava na "recepção" (ela tinha mesmo muito mau feitio, pensei que fosse SPM). Lembro-me que não foi uma manhã mal passada até pq encontrei uns conhecidos meus. Recordo-me tb de que na altura da inspecção médica estava lá um mancebo com cabelo à Eddie Vedder (comprido na altura) que tinha uns boxers brancos aos coraçõezinhos vermelhos, e que se recusava terminantemente a despi-los. De referir que enquanto estávamos em pelote nos balneários só circulavam por lá gajas-soldados a mandar postas de pescada a torto e a direito. Também me lembro de olhar em meu redor e pensar que Portugal estava bem fo.... se dependesse daqueles caramelos (eu incluído) para se defender em caso de guerra (80% do pessoal não tinha mais de 1.60 m e eram todos uns tísicos).
Certo é que fui dado como inapto para o serviço militar por força de ter uns senhores pés "incompatíveis com o uso de calçado militar", após a médica me perguntar se eu queria cumprir o SM e eu responder que não.
E, pronto, eis a minha experiência militar. Bem sei que não era a isto que o Tomkat se referia, mas...
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Yosy

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« Responder #2 em: Abril 13, 2005, 11:24:02 am »
^^^^^^

 :rir:
 

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TOMKAT

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« Responder #3 em: Abril 27, 2005, 03:24:43 am »
Do meu bau de recordações.

Desembarque anfibio agitado.

Manhã fria de Abril, meados dos anos 80.

Uma LDG, carregadinha com uma companhia de fuzileiros, saiu duma base da Marinha em Tróia, para participar numa operação militar, similar a muitas outras que os fuzos executam.
Objectivo da operação: desembarque da companhia na praia do Pinheiro da Cruz. O mar estava mexido o que não animava muito as hostes, pois ia ser banho certo. Chegados à zona de desembarque o mar ainda estava pior (estava o mar um cão), mar alteroso e rebentação forte junta à praia. O desembarque dos botes que foram fazer a defesa da testa de praia decorreu sem problemas. Para o desembarque da lancha ser perfeito esta tinha que encostar à praia. O comandante da lancha, homem experiente naquelas andanças, recusou-se a aproximar mais a lancha à praia apesar das insistêcias do comandante da companhia de fuzos que ia a bordo, pois com a rebentação que estava se encostasse à areia encalharia o navio pela certa. Quando a porta da lancha se abriu para o desembarque, a praia ainda se encontrava a uma boa dezena de metros.Dada a recusa do comandante da lancha em aproximar mais a lancha da praia, o comandante da companhia de fuzos, um 1º tenente austero, exemplar perfeito dum militar aprumado e rigoroso deu ordem ás hostes para desembarque. Ninguém se arriscou a desembarcar pois áquela distância da praia nem sequer haveria pé para ser possível o desembarque. O homem pragejou, ameaçou, mas não conseguiu convencer os primeiros da fila a saltar para a água. Vendo isso prontificou-se a ser ele a dar o exemplo. Posicionou-se na frente duma fila e um sub-tenente (comandante de pelotão) noutra, e gritou: É DESEMBARCAR, VAI, VAI, VAI,... e ele foi, ele e o sub-tenente. Assim que saltaram desapareceram nas águas. Mais ninguém saltou. Seguiram-se uns largos segundos de suspense. O primeiro a aparecer à superficie foi o sub-tenente logo seguido do nosso 1º. Puxados para a lancha o comandante proclamou, com o seu orgulho bastante ferido, pelo menos bastante molhado  :mrgreen:

Outras se seguiriam. :wink:
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Miguel

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« Responder #4 em: Abril 30, 2005, 12:56:54 pm »
Eu durante umas manobras, estava a dormir perto de uma habitação quando acordei vi uma linda rapariga nessa casa, eu disse "bonjour" e então ela convida-me a tomar um café!!!
 :wink:
 

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TOMKAT

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« Responder #5 em: Abril 30, 2005, 02:55:12 pm »
Outra do meu bau de recordações:

Vale de Zebro, Escola de Fuzileiros.

O meu poletão estava de serviço à Escola de Fuzileiros (segurança ás instalações), serviço distribuido por vários locais desde a porta de armas, aos vários postos de vigia (normalmente torres metálicas) distribuídas pelo perímetro da Escola.
Nesse dia um cadete recem-formado acompanhava o pelotão para ganhar rodagem (diga-se experiência) para assumir a curto prazo um comando de poletão, acompanhando por todo lado o nosso comandante de pelotão (um tenente em fim de carreira).
Dos vários postos de vigia havia um que ficava situado na margem do rio Coina. Havia vários anfibios estacionados perto desse posto. Era hábito de quem fazia aí serviço durante a noite, ligar o projector da torre e deixá-lo apontado para o caminho de acesso à torre ( que passava ao lado dos anfibios), e ir descansar a vista para dentro dos anfibios.
Nessa noite o nosso comandante lembrou-se de ir fazer uma ronda pelos postos fazendo-se acompanhar pelo cadete.
Chegados a posto junto aos anfibios, não vendo o fuzo que estava de vigia, subiram à torre e apagaram o projector.
O sexto sentido do vigia (um tripeiro meio passado da cabeça) acordou-o e vendo o projector apagado olhou para a torre e vendo dois vultos no seu interior, nem se lembrou de perguntar o santo e senha, gritou: "quem vem lá faz alto!" e como não fizeram alto, pelo contrário baixaram-se, não se fez rogado, puxou a culatra atrás e disparou por duas vezes para a torre. Uma das balas fez recochete no corpo (redondo) da vigia a outra furou o "chapéu" da torre.
Eu que estava de serviço na casa da guarda (cabo da guarda), ouvi os tiros. Ainda não sasbia bem o que fazer quando apareceu o nosso comandante e o cadete. O tenente trazia um surriso nervoso (a pender para o amarelo  :lol:  ). A história ficou por aqui devido ao nosso comandante estar a chegar ao fim do serviço militar e não querer complicar a vida ao vigia.
Resta dizer que a torre baleada era local de "peregrinação" obrigatório nos dias seguintes.
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TOMKAT

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« Responder #6 em: Maio 05, 2005, 06:30:38 am »
Mais uma do baú.

 :( ) comuniquei ao Sargento (na altura o comandante do poletão) o desaparecimento da arma e a minha suspeita de que a arma devia de ter ficado debaixo de algum bote e ter ido para a base na viatura.
O Sarg. comunicou logo para a base (Alfeite) para o cabo responsável pelas armas da companhia para este aguardar a chegada das viaturas e procurar a G3 logo que estas chegassem, o que sucedeu, encontrando-se a dita cuja no sítio que se previa.
Quando a informação chegou ao nosso Sarg. foi um descanso. Descanso apenas parcial pois ainda iriam decorrer outras operações nocturnas , com tiros pelo meio, e um fuzo de mãos vazias chama demasiado a atenção (dos comandos da companhia que iriam acompanhar o exercício).
O raio da ração de combate já não costumava saber muito bem, mas naquele dia soube ainda pior, a prever a noite que iria passar.
Bem, o que se passou, por ideia do Sarg., foi que para não chamar a atenção de quem não devia, enquanto o resto do poletão andava de G3 em punho, eu empunhava um pau (de noite todos os gatos são pardos  :) ).
Apesar de tudo passei incólune a essa noite e quando cheguei à base, a primeira coisa que fiz foi procurar a minha querida G3 e abracei-me a ela como um familiar que não via à muito.
Mais uma lição que tinha aprendido e saber o que era (ad factum) a marinha de pau  :lol: .
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Luso

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« Responder #7 em: Maio 05, 2005, 09:44:05 am »
Teve experiências coloridas, TOMKAT...
Que inveja!

E há tipos que quiseram acabar com o SMO... :roll:
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Yosy

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« Responder #8 em: Maio 05, 2005, 06:14:02 pm »
:lol:  Grandes histórias TOMKAT. Espero um dia ter histórias do género para contar.

Mas aquela da Escola de Fuzileiros  :shock:  Então um tipo dispara assim sem mais nem menos?! O que é que ele pensava? Que os espanhóis estavam a invadir ou quê?
 

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TOMKAT

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« Responder #9 em: Maio 06, 2005, 02:29:58 am »
Citação de: "Yosy"
:lol:  :shock:  Então um tipo dispara assim sem mais nem menos?! O que é que ele pensava? Que os espanhóis estavam a invadir ou quê?

Uns tempos antes tinhamos estado a fazer segurança ao comando da NATO em Oeiras com ordem para disparar primeiro e perguntar depois, caso acontecesse algo de suspeito, devido a ameaças de atentado pelas FP25 de Abril, muito activas nessa altura.
Talvez fosse influência disso  :G-bigun:


Luso escreveu
Citar
Teve experiências coloridas, TOMKAT...
Que inveja!

E há tipos que quiseram acabar com o SMO... :lol: .
Mas também há histórias menos agradáveis que se poderiam contar  :Soldado2:
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komet

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« Responder #10 em: Maio 06, 2005, 06:36:49 pm »
Citação de: "Yosy"
:lol:  :shock:  Então um tipo dispara assim sem mais nem menos?! O que é que ele pensava? Que os espanhóis estavam a invadir ou quê?


És obrigado a tal, sei de casos em que muita gente se lixou por não seguir esta ordem, e também de casos de gajos armados em valentões que acabaram com um tiro no coiro....
"History is always written by who wins the war..."
 

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NBSVieiraPT

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« Responder #11 em: Maio 10, 2005, 08:32:35 pm »
Olá!

Grandes histórias TOMKAT, mesmo de partir a moca a rir!  :P

Mas MUITO OBRIGADO por partilhar connosco essas histórias!   :D

Inté
BV
 

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TOMKAT

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« Responder #12 em: Maio 15, 2005, 02:06:06 am »
"Ó mar, ó mar, ó mar,...m**** tanta água!"

Final de uma tarde de Outubro ao largo da Arrábida.
O poletão, após diversos exercícios executados com os zebros (desembarques e reembarques na zona do Portinho da Arrábida)
dirigiu-se para uma fragata que se encontrava ao largo (já não me lembra o nome dela  :evil:
A fragata nessa noite, estacionada ao largo da Arrábida, tinha um aspecto curioso com o estendal de roupa feito no convés pelo pessoal do pelotão  :) .
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NBSVieiraPT

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« Responder #13 em: Maio 16, 2005, 02:06:35 pm »
:D  :D

 :toto:


Fiquem bem
BV
 

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TOMKAT

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« Responder #14 em: Dezembro 04, 2005, 12:08:22 am »
Citação de: "Jorge Sottomayor"
...
Se houver mais pessoal com "experiências" deste calibre, não seja tímido :G-beer2:


X2
Abri esse tópico com esse desafio, mas como poucos aceitaram o desafia o tópico parou.
Um dia destes volto a ele,...até com histórias menos...agradáveis. :wink:
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