Boas
Acho que esta empresas já merce um tópico só para ela.
https://eco.sapo.pt/entrevista/a-tekever-nao-pode-ser-um-player-mundial-sem-presenca-significativa-nos-eua/Campeã europeia dos drones de reconhecimento tem olhos postos nos EUA, onde já abriu escritório, diz o CEO. Tekever está a duplicar faturação a cada ano e deve acabar 2025 com 1.200 trabalhadores.
Bastante, bastante mais”. Ricardo Mendes, CEO e co-fundador da Tekever recusa-se a revelar os números da faturação da Tekever, mas responde de forma clara à pergunta do ECO sobre se o crescimento anual supera em muito os 20%. “Estamos praticamente a duplicar”, diz.
Em entrevista ao podcast ‘À Prova de Futuro’, Mendes diz que a empresa – que ficou conhecida pelos seus drones terem sido utilizados na Ucrânia pelo exército britânico – quer consolidar a posição de “campeã na Europa” e ao mesmo tempo ter uma “presença pelo menos significativa” nos Estados Unidos, um país que representa mais de metade do orçamento global em Defesa. “Já começamos a produzir no Reino Unido também e é o mesmo que faremos nos Estados Unidos. Iremos desenvolver tecnologia nos Estados Unidos, produzir nos Estados Unidos, quer para os Estados Unidos, quer para o resto do mundo”, sublinha
Munida com um novo financiamento, de 70 milhões de euros angariados em novembro com investidores estratégicos como o fundo de inovação da NATO, a Tekever já tem mais de 800 trabalhadores, deve “ultrapassar claramente” os mil este ano, podendo finalizar 2025 com 1.200, espalhados entre os escritórios em Portugal, Reino Unido (onde inclusive já fabrica), França e EUA
Em 2001 a Tekever é fundada por colegas do Técnico, investigadores em inteligência artificial, machine learning, sistemas distribuídos, coisas muito atuais. Como é que isso aconteceu? Qual foi o plano na origem?Sim, a Tekever nasceu em 2001. Éramos na altura cinco colegas do Técnico, todos de engenharia informática, de várias áreas diferentes, uns de inteligência artificial como eu, outros de áreas mais ligadas às redes de comunicação e aos sistemas distribuídos. E, portanto, quando criámos a Tekever, o objetivo era trabalhar na intersecção desses dois mundos. Ou seja, acreditávamos que os sistemas iam ser cada vez mais distribuídos, que o software ia correr em dispositivos menos convencionais. Na altura não era comum haver aplicações nos telemóveis.
Não havia smartphones.Exatamente, era uma coisa quase difícil de conceber hoje e que todos os sistemas iriam ser feitos à base de uma grande rede de computação distribuída e que para tirar partido dessa capacidade era necessário utilizar a inteligência artificial e, desde logo, foi esse o nosso mote, começar a olhar para diferentes áreas, diferentes verticais, diferentes negócios, para perceber diferentes processos, para perceber como é que com esta visão poderíamos melhorá-los. Portanto a Tekever nasce assim. O nome da empresa nasce assim. Acreditávamos que esse conceito se iria chamar a Evernet, que seria a internet everywhere. Na verdade, chama-se internet [risos] e, portanto, o nome da empresa Tekever vem de Technologies for the Evernet.
Estamos a falar de projetos de software de redes para empresas na área civil e privada, temos banca, saúde, seguros, redes como a EDP.
Começámos a olhar para diferentes áreas de negócio e como é que este tipo de tecnologias poderiam ajudar a melhorar processos. Coisas que para nós hoje são muito óbvias, como por exemplo eu vou ao meu smartphone, tenho uma aplicação e faço a marcação de um ato médico, de uma consulta. É uma coisa completamente normal, linear, óbvia. Na altura não era, portanto um dos nossos primeiros projetos foi para uma pequena empresa em Lisboa chamada Cardiotestes. O Dr. Fernando Fernandes, que era na altura o responsável dessa empresa, acreditou que isto seria o futuro e portanto começámos a fazer um projeto para automatizar ou criar software que permitisse fazer isto, automatizar uma série de processos dentro da empresa para depois dar uma interface móvel aos clientes. Outro exemplo foram os primeiros projetos mobile da EDP na altura, para permitir gerir de forma muito mais eficiente uma rede de prestadores de serviços, de funcionários de manutenção, de instalação, leituras de contadores, etc. Na altura foi um projeto que rapidamente chegou às quase mil pessoas, porque a EDP tinha vários milhares de pessoas na rua. Houve muitos, incluindo os primeiros projetos de mobile banking do país.
Estiveram na app do estacionamento e na Gira?Isso já veio mais tarde, mas sim. Como é que olhando para diferentes setores da sociedade, este tipo de tecnologias podem tornar processos muito mais eficientes, muito mais confortáveis para as pessoas? Nunca lançámos um serviço nosso, portanto a marca Tekever não é conhecida das pessoas. Mas trabalhámos sempre em B2B para dentro. Portanto, vender sistemas e implementar sistemas para os nossos clientes, quer para dentro, portanto para os seus colaboradores, como é o caso da EDP, quer B2B2C, ou seja, no fundo, ajudar os nossos clientes a lançar serviços para os seus clientes, como é o caso da banca, por exemplo.
Depois, em 2009, fazem uma viragem para os Unmanned Aerial Vehicles (UAS), mais conhecidos por drones, para os setores de segurança e defesa, entre outros. Como é que surge essa decisão de uma empresa de software de redes de repente passar para software e hardware? É uma coisa bastante específica e num setor bastante sui generis.Bom, isto na verdade surge alguns anos antes. Nós começamos a olhar para outros setores, portanto, a empresa já estava bastante bem implementada em vários setores de atividade, tanto na área da saúde, como das telecomunicações, das utilities. E começamos a perceber que havia alguns setores que eram tradicionalmente abordados pela perspetiva do hardware mais conservador, se quisermos, mais ligada à componente até mecânica, e para nós era muito evidente que no futuro iriam ser primordialmente diferenciadoras as capacidades que nós tínhamos, nomeadamente na área de redes móveis, de inteligência artificial e de capacidade de computação distribuída. Olhámos para vários. Dois desses setores foram o setor espacial, onde era muito evidente que os satélites iam passar a ser cada vez mais pequenos e a trabalhar em rede, que hoje é uma coisa muito evidente. E outro setor era o setor dos sistemas aéreos não tripulados, como dizia, os drones, porque eram setores tradicionalmente dominados por players, por empresas que vinham produzir coisas muito grandes. Nomeadamente, na área dos drones, empresas que vinham de produzir aviões. E que olhavam para este setor como ‘são aviões mais pequenos’. Nós olhamos para este setor como computadores com asas, são computadores em rede com asas. Ora, se abordássemos o problema dessa perspetiva, leva-nos a conclusões, a produtos ou uma oferta radicalmente diferente daquilo que existia no mercado. No fundo, nós começámos a abordar esta área de dentro para fora. E ainda hoje é isso que fazemos, ou seja, com foco nos dados, depois no software que permite obter esses dados, nos sensores, que nos permitem recolher esses dados no terreno, na eletrónica, que permite fazer com que tudo isto funcione, no veículo, que é o drone, que permite fazer com que possamos levar esses sensores até onde é necessário eles estarem.
Os drones têm vários propósitos, desde militar ofensivo, a captação de imagens, até à entrega de produtos de emergência. Neste contexto, o caso é mesmo de reconhecimento.
Nós olhamos para esse mercado com três níveis diferentes. Um primeiro, que é a logística da informação, que é aquilo que nós fazemos, ou seja, nós trazemos a informação do ponto A ao ponto B. Tipicamente o ponto A é algo muito longe, muito complexo, e é aí que nós nos especializamos. A logística de coisas, ou seja, os sistemas de entrega da Amazon, por exemplo, levar uma coisa do ponto A ao ponto B e por último, o transporte ou a logística de pessoas, se quiser, ou seja, transportar pessoas do ponto A ao ponto B. Existem muitos projetos nessa área. A nosso ver, é um pouco cedo para esse mercado, por uma questão regulatória. Nós colocámo-nos no primeiro mercado e dentro desse mercado existem no fundo algumas grandes áreas. O consumo. Todos nós hoje em dia vamos a uma loja e podemos comprar um drone por poucas centenas de euros e brincar com ele. No fundo é consumo, entretenimento. Uma área industrial, comercial ou industrial, ou seja, onde haja uma empresa que tenha infraestrutura pode fazer a vigilância da sua infraestrutura. E nós fazemos isto, por exemplo, para grandes empresas na área de energia, um pouco por todo o mundo. A área da segurança, ou seja, não-militar, mas imagine uma guarda costeira ou uma polícia não militar, relacionado com temas muito próximo da defesa, mas é civil, tem preocupações distintas. E a área de defesa onde, no fundo, exércitos, forças aéreas, marinhas e por aí fora e com tipos de utilização mais próximos da defesa. Nós trabalhamos nestes três últimos. Não trabalhamos na área de consumo. Trabalhamos na área industrial, na área de segurança, na defesa.
Na área da defesa, ficaram conhecidos, houve muita atenção com o uso pelo exército britânico dos vossos drones na Ucrânia. Que impacto é que isto teve na perceção da empresa e em termos mesmo do vosso pensamento sobre estratégia?
Para o público em geral, esta área dos sistemas aéreos não tripulados, dos drones, com a guerra na Ucrânia, ficou sobejamente conhecida. Portanto, é neste momento uma área que está completamente evidente para as pessoas que estão fora deste mercado. Dentro deste mercado, já era muito evidente que esta tecnologia estava a avançar a uma velocidade enorme que está muito presa à capacidade de computação. E, portanto, a Lei de Moore dita que existe um aumento exponencial da capacidade de computação e é isso que, no fundo, limita a tecnologia que se consegue fazer. Nós já estávamos num caminho há vários anos de crescimento exponencial, muito ligado ao aumento da capacidade de computação. O que nós fizemos, por exemplo, a partir de 2019, os primeiros grandes projetos de vigilância à escala europeia, começámos a operar para a Agência de Segurança Marítima Europeia e começámos a operar para o governo britânico na vigilância do Canal da Mancha. Estes são os dois maiores projetos de drones da Europa
contra a pirataria, contra incidentes naturais?Tudo isso e ainda coisas como a migração ilegal, a pesca ilegal, porque no fundo, permite controlar e seguir tudo aquilo que se passa nestes territórios e ter ações muito rápidas, no caso, por exemplo, da busca e salvamento. Nós trabalhamos no Canal da Mancha diariamente, portanto temos vindo a ganhar recorrentemente vários concursos para estas várias entidades e cada vez mais a ganhar escala a nível mundial e portanto uma tarefa diária é observar embarcações que estão muitas vezes em situações de perigo.
Sobrelotadas.Sobrelotadas e por aí fora, e poder reagir em espaço de segundos, mais do que minutos. Salvar vidas e, portanto, é algo que fazemos com uma base diária e que estava a crescer muito. O que acontece com a guerra na Ucrânia é que o tipo de tecnologia que estávamos a desenvolver e a velocidade à qual estávamos a desenvolver na área civil – também já tínhamos alguns clientes militares – tornou-se muito necessária num cenário que é de guerra. Porquê? Porque o tipo de equipamentos fabricados na área militar são tipicamente, ou eram, tipicamente equipamentos que evoluíam a uma velocidade muito baixa. A velocidade de desenvolvimento na área militar, as pessoas têm noção que é algo estonteante, mas não é, é algo muito lento pela natureza dos processos de aquisição, dos processos de adoção, pelas forças. Ora, na área civil estava a acontecer uma velocidade muito, muito maior e portanto, uma empresa como nós, que já tinha muita escala, já éramos o líder europeu nessa altura, de repente, tornou-se evidente para as entidades que estavam a operar nesse cenário, nomeadamente as Forças Armadas, o Ministério da Defesa inglês e depois outros ministérios, que aquilo que a empresa faz poderia ser muito útil no cenário ucraniano. E portanto, foram buscar-nos e desafiaram-nos para olhar para esse cenário. E nós olhamos como olhamos para qualquer outro cenário.
Infelizmente estamos no mundo onde várias guerras continuam. Esta vai ser a vossa grande aposta, a área da defesa, com a mudança de paradigma de tecnologia que estava a explicar?Este é um dos três vetores de crescimento. Nós estamos a crescer nas várias áreas. Na área industrial, digamos assim, estamos a ganhar uma tração muito grande dentro da área da energia e das utilities, porque fizemos alguns dos casos mais complexos do mundo. Neste momento nós fazemos vigilância de pipelines na Nigéria, por exemplo, que é talvez o cenário mais complexo que existe a nível mundial. Já ganhámos contratos, por exemplo, no Canadá, que é outro dos cenários muito complexos, por causa das temperaturas. Na área da segurança, somos o maior operador a nível europeu e fazemos a operação, por exemplo, noutras das grandes áreas problemáticas do mundo, que é o Golfo da Guiné. Estamos a fazer a mesma coisa noutras partes do mundo e a crescer a uma velocidade exponencial. E na área da defesa, de facto o que acontece é que a nossa tecnologia provou-se capaz, naquele que é de muito longe, o cenário mais complexo das últimas décadas. Ora, isto faz com que estejamos validados, se quiser, para qualquer força mundial. E estes três mercados são mercados de grande crescimento que alicerçam um crescimento que nós esperamos que continue a ser exponencial ao longo dos próximos anos.
( cont)