E agora ?
Helena Ferro de Gouveia
1. Os assassinatos selectivos em Beirute e Teerão podem ser lidos como dissuasão. Porquê? Em primeiro lugar porque mostram que Israel continua a ter um dos dos senão o melhor serviço de intelligence do mundo, em segundo porque tem a capacidade de efectuar este tipo de ataques com precisão.
2. O Irão sabe agora que não há lugar seguro. Demore o que demorar, seja onde for.
3. Haverá uma resposta iraniana até porque Teerão foi humilhado em casa logo após a tomada de posse do presidente “moderado” ( não o é de todo, mas isso é assunto para outro post). Todavia Teerão sabe que Israel tem aliados externos e sobretudo sabe que Israel tem aliados internos no Irão: aqueles que querem acabar com a teocracia ( os iranianos seculares são amigos de Israel, conheço imensos ). Tenho dúvidas que uma grande “escalada” aconteça, importa lembrar os distraídos que quem escalou foi o Irão e os seus proxys a 7.10. Nunca o esquecer.
4. É um asneira sobejamente repetida que o “negociador” tenha sido morto. Quem conhece a biografia de Hanyieh sabe que ele é tudo menos um moderado ou um negociador. Quisesse o Hamas negociar ou estivesse preocupado com Gaza e o sofrimento dos palestinianos há muito que o teria feito. O lema do Hamas é “quanto pior para Israel ( com a ajuda dos idiotas úteis ocidentais ) melhor para o Hamas”. A prazo veremos a neutralização de Sinwar, que não haja dúvidas.
5. Os ataques eram do conhecimento de Washington. Reitero o que aqui tenho dito: até se pode sentar o rato Mickey na Casa Branca que Israel será sempre um dos principais aliados dos EUA.
6. Internamente esta dupla neutralização coloca Israel numa posição mais confortável para aceitar algumas das posições negociais do Hamas ( nomeadamente no que toca à troca de prisioneiros) o que poderá incrementar as hipóteses de se chegar a um acordo de cessar fogo ( apesar das palavras, para fora , do PM do Qatar).
7. A Realpolitik e a força é a linguagem que o terrorismo entende. Só quando se demonstra que não se tem medo dele, se pode vence-lo.
( esta é a minha leitura não teórico-académica, mas político-pragmática , admito que posso estar errada).