Poder Aéreo Russo na Invasão da Ucrânia – Factos e Mitos (Parte 4)
O insucesso da campanha DEAD contra os sistemas anti-aéreos móveis Ucranianos resultou em pesadas baixas em aviões e helicópteros Russos a partir do terceiro dia da invasão e afastou as patrulhas de caças para longe das fronteiras - e para maiores altitudes. Mesmo assim, o alcance dos radares e mísseis dos Su-35S e Su-30SM continuaram a ameaçar seriamente qualquer avião, helicóptero ou UAV
Bayraktar Ucraniano perto das frentes de combate, mesmo quando estes se refugiavam em voos a baixa altitude. Em resposta às defesas anti-aéreas Ucranianas os Russos, a partir de Setembro de 2022, aumentaram significativamente o uso do míssil pesado de longo alcance R-37 (AA-13 “
Axehead”), lançado a partir de MiG-31BM e Su-35S modificados. Com o decorrer dos meses os Ucranianos notaram também uma melhor coordenação entre as patrulhas de caças Russas e os AWACS A-50U e aviões de vigilância electrónica Il-20. Desta forma, as VKS, apesar de não conseguirem alcançar superioridade aérea no território Ucraniano (longe disso) tem conseguido negar essa mesma liberdade de movimentos á Força Aérea Ucraniana – situação que se mantém até ao dia de hoje.
A combinação MiG-31BM “Foxhound” e o míssil de longo alcance R-37 tem obrigado os Ucranianos a manter os seus aviões no chão ou (bem) longe das linhas da frente. O alcance efectivo de mais de 200km, a alta velocidade e a capacidade de atingir alvos a baixa altitude tornam esta arma particularmente difícil de evadir – na NATO este míssil era conhecido como o “AWACS killer”. Segundo os Ucranianos, o R-37 não tem abatido muitos dos seus aviões mas forçam o abandono de missões (por vezes os pilotos são obrigados a ejectar todas as armas para executar manobras violentas de evasão) e impedem o apoio directo ás tropas da linha da frente.
Por outro lado, a área onde as VKS tem falhado redondamente desde o início da invasão, foi em prover apoio aéreo próximo dinâmico eficaz (
Close Air Support – CAS) ás unidades Russas no terreno. Assim que ficou claro que o plano inicial de decapitar a liderança política, militar e de segurança Ucranianas (e compelir a rápida rendição das maiores cidades através da ameaça de cercos) tinha falhado, as forças Russas foram forçadas a se adaptarem rapidamente á nova realidade – e isto debaixo de fogo da inesperada, e formidável, resistência Ucraniana. Em consequência, os regimentos de aviões de ataque e helicópteros de cada distrito das VKS foram incumbidos de apoiar as forças terrestres Russas nos vários eixos de penetração na Ucrânia a partir do início de Março de 2022. No entanto, por esta altura o sistema integrado de defesa anti-aérea Ucraniano já estava devidamente deslocalizado e operacional na maioria do território, o que tornou as missões aéreas diurnas Russas extremamente perigosas. Devido a essas baixas, os Russos alteraram o perfil das missões para muito baixa altitude, usando essencialmente bombas simples e foguetes, até ao final de Março. Estes ataques, no entanto, não produziram resultados significativos porque é extremamente difícil encontrar, identificar e atingir com precisão alvos pequenos e bem camuflados num terreno denso e a baixa altitude. A estas altitudes, os pilotos só dispõem de uns poucos segundos de visão directa para um determinado alvo e só conseguem executar uma passagem – a não ser que sejam suficientemente corajosos (ou loucos) para tentarem desbravar novamente as defesas anti-aéreas do mesmo alvo, agora totalmente alerta e repleto de, muito irritados, Ucranianos. Além do mais, fora da comunidade dos Sukhoi Su-25 “
Frogfoot”, poucos pilotos Russos tinham qualquer treino significativo em missões CAS a baixa altitude em espaço aéreo contestado, dado que nunca fez parte da instrução no período anterior á invasão.
Os MANPADS como o “Igla”, Stinger ou Starstreak devastaram as frotas de helicópteros Russas nas primeiras semanas da invasão. Menos dependentes de controlo central, extremamente móveis e usando tácticas de infiltração perto das linhas da frente, as equipas especializadas Ucranianas “semearam” o território com destroços de aeronaves Russas.
Em troco de danos muito limitados nas posições Ucranianas, estas missões CAS Russas sofreram pesadas baixas em aviões e helicópteros – 10 aviões e um numero similar de helicópteros foram abatidos só na primeira semana de Março, por exemplo. Voar abaixo dos 3000 metros e obrigados a orbitar em busca de alvos, deixou os pilotos destas missões muito vulneráveis aos MANPADS “
Igla” e
Stinger, transportados por equipas móveis Ucranianas. Sem surpresas, depois de uma semana, as VKS cessaram as penetrações diurnas a baixa altitude. Em vez disso, as missões CAS mudaram para bombardeamentos á distancia (“
loft” ou “
toss bombing”) com foguetes não-guiados S-13 de 130mm ou S-8 de 80mm (Su-25 ou helicópteros) ou com ataques de mísseis Kh-29 (Su-34 ou Su-30). Em acrescento, as aeronaves melhor equipadas e com os pilotos mais experientes foram encarregues de missões nocturnas a baixa altitude. Os Kamov Ka-52 usaram as tradicionais equipas “
hunter-killer” em ataques com mísseis ATGM e os Su-34 “
Fullback” largavam, quase exclusivamente, grandes quantidades de bombas simples em alvos cercados como as cidades de Chernihiv, Sumy, Kharkiv e Mariupol. Mas, assim que as equipas de MANPADS Ucranianas foram equipadas com óculos de visão nocturna eficazes, mesmo estas missões nocturnas tiveram de ser reduzidas drasticamente. Assim, a partir de Abril de 2022, os Russos praticamente desistiram de penetrar com aviões ou helicópteros o espaço aéreo em território inimigo.
Obrigados a voar extremamente baixo - neste vídeo vemos Su-34 “Fullback” em ataques a Kharkyv - as missões CAS Russas viram-se limitadas em eficácia e produtividade. As defesas de longo alcance forçavam os Russos a procurar altitudes mais baixas que, por sua vez, os deixaram vulneráveis aos letais MANPADS.