Poder Aéreo Russo na Invasão da Ucrânia – Factos e Mitos (Parte 3)
As patrulhas de caças foram outra área de comparativo sucesso para as VKS nos dias iniciais da invasão. Enquanto os Sukhoi Su-34 executavam missões de ataque e interdição na retaguarda Ucraniana (com poucos efeitos físicos como vimos na parte anterior) caças polivalentes Su-30SM e Su-35S conduziam patrulhas aéreas (CAP –
Combat Air Patrol) independentes a grande altitude, a cerca de 8000 metros. Quando estas patrulhas entraram em combate com aviões Ucranianos os resultados foram desiguais. Conforme fontes independentes, como a
Oryx, a Força Aérea Ucraniana sofreu perdas significativas na primeira semana devido á acção destes caças russos mas também contra SAMs (mísseis anti-aéreos de longo alcance).
O Sukhoi Su-35S Flanker Russo, embora pouco mencionado, tem exercido um controlo efectivo dos céus nas áreas ocupadas. Equipado com um excelente radar longo alcance e mísseis de radar activo, os Su-35 abateram vários caças Ucranianos nas fases iniciais da invasão.
A
performance do radar e mísseis dos Su-35S e Su-30SM têm-se revelado digna de nota. Os radares N035
Irbis-E e N110M
Bars-M dos respectivos caças permitem-lhes uma enorme vantagem frente aos MiG-29 e Su-27 Ucranianos equipados com sistemas inferiores; cinco vezes o alcance efectivo, maior flexibilidade táctica da capacidade TWS (
track-while-scan) e maior habilidade de “queimar” através da interferência electrónica inimiga. Ambos os radares mostraram bons resultados em contactos “
look-down, shoot-down” contra aviões em voo a muito baixa altitude, helicópteros e UAVs que tentam se mascarar com os retornos de radar de terra (
ground clutter). Além dos Su-35S e Su-30SM, também o Su-34 têm sido visto com os pods de guerra electrónica L-175 “
Khibiny”, eficazes a perturbar comunicações e ondas de radar inimigas – embora também diminuam a performance de radar do avião transportador.
Além dos radares superiores, o míssil de médio alcance AA-12B “
Adder” (equipado com radar activo) permitiu aos pilotos Russos alvejarem os oponentes Ucranianos a uma distância muito superior e sem sacrificar a visão táctica geral (
situational awareness). Cabe aqui explicar brevemente a vantagem do modo de radar TWS - muito de vós sabem o que é, mas outros não, e todos aprendemos coisas novas todos os dias. Um radar dito “normal”, ou mais simples, procura alvos no modo “
search” mas quando um alvo é seleccionado ou adquirido (“
track” ou “
lock”) toda a energia do radar concentra-se nesse alvo e já não “vê” mais nada á frente. No modo TWS, conforme o nome sugere, o radar faz as duas coisas simultaneamente; mantém a capacidade de procurar alvos enquanto selecciona outros para atacar com mísseis. Isto é possível porque o radar está associado a um CPU que coloca na “memória” todos os alvos e alterna e actualiza a informação constantemente em milissegundos.
O míssil AA-12B “Adder” (R-77) é a arma principal dos Su-30SM e Su-35S. O longo alcance, fenomenal manobralidade, mesmo nos estágios finais de voo, junto com a navegação inercial e radar activo na fase final tornam esta arma letal e difícil de contrariar. Quando aliado com os modos TWS do radar Irbis-E (ou Bars-M), que exploram bem a vertente “stealth” do míssil, tornam-no ainda mais perigoso.
Em termos práticos esta capacidade também permite aos Russos disparar vários mísseis AA-12B (contra diferentes alvos) e quando o radar activo destes entra em funcionamento na fase terminal, o caça russo pode mudar totalmente de direcção, mantendo vantagem posicional, e defender-se melhor de qualquer ataque Ucraniano. Além disso, quando atacados em modo TWS, os aviões Ucranianos dificilmente se aperceberão se estão a ser apenas “rastreados” (modo “busca” ou “
search”) ou se um míssil Russo já vem a caminho (“
track”). Só quando o AA-12B entrar em modo activo os sistemas de ECM do avião Ucraniano detectarão a ameaça – geralmente demasiado tarde. Em contraste, além dos pilotos Ucranianos terem de se aproximar mais do alvo e iluminá-lo em modo “
single-track” para disparar um míssil semi-activo R-27, são obrigados a continuar a voar em direcção ao inimigo – para que o radar ilumine o alvo até ao momento do impacto. Pior ainda, a concentração de energia do radar em modo “
single-track” vai despertar os sensores de ECM dos aviões Russos, que irão manobrar violentamente e/ou disparar um AA-12B em retorno. Sim, os pilotos Ucranianos tiveram uma luta extremamente difícil nos primeiros dias.
Durante vários meses os Ucranianos não dispuseram de armas capazes de neutralizar com confiança os caças de longo alcance Russos. Em resultado, a presença da Força Aérea Ucraniana perto das linhas da frente, em missões de apoio próximo ou ataque, têm sido fortemente condicionada. Mas no sistema MIM-104 Patriot os Ucranianos encontraram uma arma com o alcance e tecnologia para contrariar a superioridade dos Su-35/Su-30 – vários abates foram confirmados, alguns ainda dentro de território Russo. Com a chegada dos F-16, ou outro caça moderno, a resposta Ucraniana será ainda mais consistente.
Dada a superioridade tecnológica dos caças Russos, junto com a ameaça de mísseis anti-aéreos de longo alcance, além da consistente inferioridade numérica no ar, os caças Ucranianos foram forçados a voar a altitudes muito baixas, usando o terreno para ocultar os movimentos e evitar a detecção inimiga. No entanto isto acarretou mais problemas para os defensores; mísseis disparados de baixa altitude (por exemplo, um Su-27 Ucraniano) contra um avião opositor (Su-30SM Russo) tem de superar o arrasto aerodinâmico do ar mais denso das altitudes baixas e lutar ainda contra a gravidade na subida. No extremo oposto, o caça Russo, da sua posição táctica privilegiada a grande altitude, ainda usufruiu da vantagem de disparar de “cima-para-baixo”, maximizando o alcance e a energia cinética dos seus mísseis.
Agora percebemos porque os Ucranianos, desde muito cedo na guerra, desesperam tanto por caças F-16 equipados com AMRAAM…