“Actualmente, quase todos os historiadores rejeitam a tese de um Viriato nascido e criado nas montanhas. Os traços da sua personalidade, recolhidos a partir das obras dos autores antigos, apresentam-no como um homem sóbrio, enérgico, justo e fiel à palavra dada, desprezando em absoluto o luxo e o conforto e, sobretudo, como um excelente estratega militar, levam-nos a concluir que se tratava de um verdadeiro político, o indiscutível chefe militar dos lusitanos e defensor da sua liberdade, e não de um rude pastor das montanhas. Apresentar Viriato como o defensor de uma certa unificação militar e política contra o poder de Roma e como possível criador de uma monarquia na Lusitânia – cujo território não formava uma unidade social ou política – é talvez exagerado. Mas, a verdade é que a acção de Viriato, tanto militar como diplomática, fez com que todos os povos vizinhos se mobilizassem contra Roma sob o seu comando e direcção. Viriato foi o primeiro lusitano no comando de um corpo de guerreiros composto por pessoas de diversas tribos e durante os oito anos que duraram as suas campanhas não houve nenhum caso de indisciplina entre as tropas. Facto surpreendente por se tratar de um «exército bárbaro», como diriam os romanos.” Mauricio Pastor Muñoz
In Introdução
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A minha intenção principal era procurar clarificar se realmente Viriato nasceu em Loriga em vez de Zamora. Mas vocês expandiram um pouco a questão, então vou procurar clarificar qual é a a presença que Viriato tem na consciência nacional de Portugal(pelo menos para alguns).
Vamos começar pela designação Hispania. Este nome foi dado pelos Romanos à península para identificar um espaço geográfico, NÃO UMA NAÇÃO. Cada nação/tribo na península tinha os seus próprios territórios, algumas nações eram mais próximas umas das outras devido a compartilharem culturas semelhantes, e devido ao facto de viverem em proximidade geográfica umas com as outras. Mas isto não significa que existia unidade política/social/étnica entre as diferentes nações/tribos da península. Não sei se vocês sabem, mas já naquela altura as tribos/nações da península tinham línguas distintas, usavam alfabetos diferentes, moedas diferentes, e tinham modos de vida distintos uns dos outros. Quem tinha modos de vida mais semelhantes uns com os outros, eram os Lusitanos e os Celtas, e os Celtibéros, porque os Iberos eram muito diferentes do resto. No entanto, e que é algo interessante, é que todos usavam armas semelhantes para lutar contra Roma.
A Lusitânia pré-Romana existia por completo dentro do que é hoje Portugal, portanto a Lusitânia é o Proto-Portugal, e os Lusitanos são a principal ascendência Portuguesa. Portugal e os Portuguêses são os herdeiros reaís da antiga Lusitânia.
Os Lusitanos lutaram em defesa do território que lhes pertencia, e não em defesa de uma pseudo nação Hispana, porque tal concepto não existia, e com certeza não devia existir nenhuma identificação com o termo hispano. O termo Hispano foi uma designação dada pelos Romanos aos povos que ocupavam a península, e que consequentemente foi adotado pelos povos da peninsúla depois da conquista romana ter terminado.
"Morte aos Romanos"
No ano 210 AC os Romanos ganham o controle dos territórios Ibéricos da peninsula. No ano 193 AC iniciam-se os confrontos com os Lusitanos, e é no ano 150 AC que aperece o Viriato, como consequência de os Lusitanos terem assinado um acordo com o general Romano Galba, que lhes prometeu paz, e que em seguida os atraiçou massacrando milhares de guerreiros Lusitanos que se apresentaram para entregar as armas. Isto são factos históricos, não são invenções pessoais.
Um mapa que dá um boa idea do que era a situação na península quando os Romanos iniciaram a guerra contra os Lusitanos.
Eis um bom mapa, que ilustra bem os movimentos dos Romanos, dos Lusitanos, e das campanhas de Viriato.
Sendo assim, Viriato pertence a Portugal, é o primeiro heroí da nossa nação, que representa para a consciência dos Portuguêses/Lusos, o espírito de luta e resistência a emular na defesa do território e cultura nacional, contra o invasor estrangeiro. Quando os Espanhoís usam o Viriato para justifcar uma qualquer unidade histórica peninsular Hispana, pré-Espanha, ou uma demonstração de um incipiente proto-Hispanismo, é uma distorção, visto que isso não corresponde à nenhuma realidade histórica. Além disso é um tanto ou quanto insultivo em relação a Portugal, porque dá uma interpretação genérica e peninsular, fazendo do facto histórico que foi a existência de Viriato e a luta dos Lusitanos, algo que se extende a todos os outras nações da península, e que é mais uma exemplo de uma suposta antiguidade hispana da Espanha moderna, que inclui todos os povos da península, inclusive a tal província rebelde, Portugal. Ora, há muita gente que sabe que isto não é a verdade. Se têm existido uma constante na nossa história, é o desejo dos Portuguêses de se distinguirem do resto dos povos da península, e de afirmarem a sua individualidade e independência perante o resto não só da península, mas também da Europa, e do mundo.
Estou de acordo que Viriato também têm o seu lugar histórico num contexto pan-hispânico, visto que as suas ações incentivaram outros povos da península a se revoltarem contra Roma, e a se unirem aos Lusitanos; No entanto, o unico objectivo de alguns textos de história vindos de Espanha, é procurar difundir na mente dos Espanhoís uma visão unitária da história para os vários povos da península, dando a impressão que continuamente, sempre existiu, desde a antiguidade, uma espécie de vontade colectiva, ou objectivos colectivos, nas ações históricas dos vários povos que habitam este espaço geográfico, que seriam sempre a favor de uma suposta unidade nacional, ISTO É ERRADO. As nações da península nunca agiram a favor de nenhuma unidade Hispana, mas sim quase sempre a favor dos seus interesses individuaís, e só em uníssono se esses interesses convergem aos das outras nações, e em geral são convergências de curto-prazo e não de caráter permanente.
É só a minha opinião....de qualquer forma, não deixa de ser interessante estudar sobre os povos da antiguidade. Só se torna irritante quando, e na minha prespetiva Portuguesa, certos elementos Espanholistas distorcem a história para justificar uma suposta unidade Espanhola, e nacionalismo Espanhol que nunca existiu, pelo menos até um periodo recente.