Boa tarde.
Não sou novo no fórum, mas venho aqui muito mais na qualidade de visitante do que na qualidade de interveniente. Para mim, este é um dos tópicos mais pertinentes que poderiam ser levantados, e felicito quem teve a ideia de trazer esta questão à discussão.
Vejo por aqui muitas acesas trocas de argumentos a propósito da pertinência de algumas compras de equipamentos, mas não vi até à data uma discussão de fundo sobre as reais possibilidades de fazer uma boa parte do reequipamento das Forças Armadas com compras de ocasião. E parecem existir por aí umas boas oportunidades de negócio, que a serem bem pensadas e bem aproveitadas poderiam de facto mudar muita coisa nas Forças Armadas.
Creio que é um problema mais geral, de mentalidade de um todo, e de algum complexo de pequenez, que muitas vezes nos impede de tomar decisões acertadas e de aproveitar oportunidades que poderiam fazer toda a diferença. Gostamos tanto do “cheiro a novo” que não paramos para ver o que outros, muito mais ricos do que nós, fazem neste particular. E as oportunidades vão passando ao lado.
Dou como exemplo a oportunidade que estamos a deixar passar ao lado de obter equipamentos como contrapartida da diminuição do efectivo americano das Lages. Não creio que devam existir ilusões de que os norte-americanos vão pagar o que quer que seja por diminuírem a sua presença militar nas Lages. Mas outra coisa é “aproveitar a onda” e tentar obter um conjunto de equipamentos de que temos necessidade, e que, nas actuais circunstâncias, seguramente nos poderiam ser cedidos quase a custo zero, até tendo em conta que a saída dos teatros do Iraque e Afeganistão faz com que os EUA tenham actualmente um excesso de determinados equipamentos.
Julgo que o caso dos M-ATV que os norte-americanos querem deixar para trás no Afeganistão ou destruir é uma dessas oportunidades que não se deveria deixar passar. Tanto quanto percebo das discussões aqui no fórum, é o tipo de viatura que encaixa no perfeitamente dentro daquilo que se pretendia adquirir no âmbito do programa do blindado 4x4. Se fosse possível ir buscar umas 200 viaturas, usar umas dezenas para sobresselentes, e ir colocando ao serviço, espaçadamente, ao longo dos próximos 4 ou 5 anos, as cento e tal que se consideram necessárias, após reacondicionamento / adaptação / alteração, poderia conseguir-se cumprir com um programa importante a uma fracção do custo de comprar novo.
Da mesma forma, a compra do Siroco é uma oportunidade imperdível. E pelo que vejo, ou nos comprometemos rapidamente, ou daqui a uns dias vemos o navio rumar à América do Sul. É claro que gostaria muito mais de que pudéssemos encomendar a um estaleiro a construção de um navio polivalente de 200 metros, com capacidades de reabastecimento oceânico, de transporte e desembarque de tropas e equipamentos, com hospital a bordo e hangar para meia dúzia de helicópteros. Mas quanto custa novo? 350 Milhões? 400 Milhões? Nem nos próximos 20 anos teremos dinheiro para isso.
Os meus parabéns pela ideia do tópico. Julgo que vai ser uma boa oportunidade para ver boas ideias discutidas ao longo dos próximos tempos.