Relativamente ao exército europeu, e à possibilidade de se criar um, quando acabou a guerra fria, a tese não tem nem pés nem cabeça.
Fatores internos
Quando terminou a guerra fria, o elefante na sala era a reunificação alemã.
Os franceses tinham muitas duvidas e mesmo os britânicos não gostaram especialmente da ideia.
Qualquer exército europeu, acabaria necessáriamente por ser controlado pelo país europeu com maior população e na altura a CEE não tinha os membros que tem hoje, a proporção de alemães seria por isso muito maior.
Há historiadores que afirmam que a solução, foi garantir que, a Alemanha seria reunificada, mas que com o desarmamento que se iria seguir, os franceses e os britânicos teriam uma clara primazia. A Alemanha teria uma força militar relativamente pequena, e um desarmamento auto-imposto.
Esta solução, tornava igualmente inviável a criação de um exército europeu.
Fatores externos
Desde que A URSS implodiu que o chanceler Kohl fez tudo para não hostilizar a Russia de Yeltsin, que estava afogada numa crise, resultado da absoluta estupidez dos lideres comunistas, que de um momento para o outro queriam ser capitalistas. As politicas economicas neo-liberais e a liberalização dos preços, num país em que um quilo de pão custava menos que um quilo de trigo, resultou num desastre.
Desarmar ou destruir a Federação Russa.
Em 1992, o país de Yeltsin, estava à beira do colapso económico. Em Janeiro a inflação desse mês foi de 245%. A inflação anual, ultrapassou os 2500% (dois mil e quinhentos) dependendo da métrica.
A possibilidade de a Russia começar a desagregar-se era enorme. Os sinais começavam a ser preocupantes, especialmente no Cáucaso, onde a Chechénia e o Dagestão mostravam sinais preocupantes.
Neste periodo, há investigadores que afirmam que chegou a haver em Washington pressões sobre a administração Bush, por parte dos militares e de setores mais radicais – conhecidos como falcões – que advogavam que não se devia ajudar a federação russa. Isto levaria a que a federação se dividisse, acabando assim com o problema russo.
O principal arauto desta tese seria o mais famoso líder dos Falcões, o então secretário da defesa Dick Cheney, que mais tarde viria a ser vice-presidente.
De qualquer forma, tanto os alemães quanto os franceses tudo fizeram para que esta ideia nunca fosse em frente. Se a implosão da União Soviética criou uma miriade de problemas, a implosão da própria Federação Russa poderia ser ainda pior.
Nesse ano de 1992 os europeus tiveram o apoio do então Secretário de Estado do governo Bush, o James Baker. O Conselheiro Nacional de Segurança também não apoiou a tese de deixar a Federação Russa cair.
O principal argumento para derrotar os “falcões” foi o argumento nuclear. Os europeus não queriam de maneira nenhuma uma miriade de republicas russas cada uma delas transformada em potência atómica.
O problema já era suficientemente complicado, com a capacidade nuclear das repúblicas saídas da URSS, quanto mais com as regiões dentro de própria Federação Russa. [1]
Ou seja: Com o fim da guerra fria, em que toda a gente pensava em criar um futuro pacífico livre até de armas nucleares, e em que a Alemanha se esforçava em absoluto em desarmar toda a gente, era o momento menos indicado para criar qualquer exército europeu.
A chegada de Bill Clinton à Casa Branca, tomando posse em 1993, acabou por tornar impossível qualquer alternativa que passasse pela implosão da Russia. Tanto os europeus quanto os americanos, vão despejar milhares de milhões de dólares, marcos, francos e libras para salvar Yeltsin e garantir que a Federação Russa sobrevivia ao que seria a sua inevitável implosão.
A tese de um exército europeu formado após o fim da guerra fria, para libertar a Europa da América, nestas circunstâncias não tem nem nunca teve pés nem cabeça e está diretamente relacionada com uma das ideias base que os russos e os seus agentes tentam espalhar desde há muitos anos pela Europa. É a idea de que todos vão atrás do malfadado mundo anglo-saxónico e que se comportam como carneiros.
A tese, é acima de tudo propaganda, já que o maior desafio alguma vez levado a cabo contra a predominância dos anglo-saxonicos especialmente na economia, está hoje nos bolsos de milhões de europeus (ainda que a maioria se queixe da quantidade) e chama-se Euro.
No entanto, os tempos mudam, e hoje a Europa está numa situação em que pode estar encostada à parede. E ou considera a necessidade urgente de uma organização militar europeia autónoma, ou pode ficar sozinha, perante uma América controlada por um destrambelhado, que concorda sempre com a última pessoa que lhe fez um elogio.
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[1] - Tendo isto em consideração, os alemães começam a pressionar a Ucrânia, para que abra mão do seu arsenal nuclear, que na altura era estimado em cerca de 4500 ogivas. Mais que o dobro de França, Reino Unido, India e China juntas.