O que o homem diz não é nada de novo e já aqui foi discutido várias vezes.
Uma linha de pensamento estratégico americana, depois do colapso da Rússia comunista, considerou que do ponto de vista estratégico, para os Estados Unidos da America, o melhor era dissolver a própria federação russa.
O homem fala no entanto numa espécie de realinhamento da União Europeia com a Russia.
Ora não ocorreu realinhamento nenhum. O que aconteceu foi que a UE, com a Alemanha de Schroeder à frente, pura e simplesmente não aceitou a dissolução da Russia.
Os europeus, e muito bem, consideram que um vazio de poder na Federação Russa, acabaria por levar à pulverização de estados, mesmo à criação de cidades-estado que a médio e longo prazo acabariam como satélites da China.
Desde há 2000 anos que na Eurasia, há dois grandes polos, o polo chinês e o polo que resultou da implosão do Império Romano.
A Russia está no meio e para os europeus que pensam em estratégias, a Russia é uma almofada que separa os dois blocos.
Depois há um side-show no sub continente indiano, que fica para lá das montanhas dos himalaias e o sudoeste asiático é outra história e outra realidade.
Para os americanos, que normalmente aprendem que o mundo começou em 1492 e que os continentes se formaram em 1776, ver a Alemanha e a União Europeia a considerar a necessidade da existência de uma Russia com capacidade militar suficiente para servir de tampão, é um realinhamento dos europeus contra os americanos.
Mas isso é pensamento típico de «cóboi», e também por isso tem que ser pegado com pinças.
Quanto à questão ucraniana propriamente dita ela é de uma complexidade que é dificil de explicar ou mesmo de discutir.
Há divisões entre leste e oeste, entre noroeste e sudeste, entre uma Ucrânia que já foi polaca e outra que se considera russa. A isto tudo há uma tremenda divisão nas faixas etárias, com os mais velhos a apoiar os antigos dirigentes e os mais novos a pensar numa Ucrânia mais europeia.
Eu costumo dizer que a Ucrânia é uma Russia sem petróleo.
Os russos ainda não conseguiram modernizar, converter, alterar, nada nas suas industrias. Eles estão parados, tentando manter a funcionar velhíssimas fábricas que ainda vão tentando produzir produtos para o mercado interno, mas esses produtos não teriam qualquer viabilidade num mercado aberto em competição com os produtos ocidentais.
A Ucrânia oriental é onde está a parte mais considerável da estrutura industrial da era soviética (o ocidente é mais agricola) e é o leste da Ucrânia que mais sofrerá a longo prazo com a concorrência dos países da União Europeia, porque é aí que estão as fábricas que ainda produzem e que em muitos casos nem conseguem reconverter-se.
Pensem que em Portugal, ainda mantinhamos a Siderurgia Nacional e estavamos a produzir aço de qualidade inferior a preços três vezes mais caros que os do mercado.
A Russia compra parte dos produtos que a Ucrânia ainda produz, porque as suas necessidades são complementares.
Quando Vladimir fala aos ucranianos e critica os acordos com a União Europeia ele está a falar para os milhões de ucranianos que trabalham nas tais siderurgias ultrapassadas e que vão ficar velhos antes que a Ucrânia possa reconverter a economia.
A Ucrânia está parada há anos por causa desse imobilismo. Eles não têm como mudar mas à medida que o tempo passa o problema da obsolescência agrava-se. A Russia tem o mesmo problema, mas a Russia consegue disfarçar tudo isso, porque é um produtor de petróleo como a Arábia Saudita.
Os russos deitam dinheiro do petróleo na economia e isso amortece os problemas.
Mas mesmo na Russia, mais tarde ou mais cedo o problema virá ao de cima.
É por isso que digo que os russos estão obcecados com o ocidente, e não olham para a História passada. Eles são um mero vizinho do império celeste. Um vizinho que no extremo oriente existe na proporção de um russo para cada 25 chineses.
Cumprimentos