Violação usada como arma contra as mulheres na Síria
As mulheres na Síria são violadas quando estão detidas ou durante operações militares, usadas como escudos humanos e raptadas, abusos que constituem uma tática deliberada, segundo um relatório divulgado hoje. «Os abusos contra as mulheres (têm sido usados como) uma tática deliberada para derrotar a outra parte, numa perspetiva simbólica e psicológica, o que faz das mulheres alvos preferenciais», lê-se no relatório da Rede Euro-Mediterrânea de Direitos Humanos.
Divulgado hoje para coincidir com o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, o documento conclui que a violenta guerra na Síria «criou um contexto propício à violência contra as mulheres, incluindo a violência sexual».
Casos de violações de de mulheres, sobretudo «durante ataques governamentais, em postos de controlo e dentro de instalações de detenção», foram documentados em sete províncias, incluindo a de Damasco.
O relatório cita o caso de uma jovem de 19 anos, natural da cidade costeira de Tartus, cuja família é apoiante da Irmandade Muçulmana. Aida esteve detida entre outubro de 2012 e janeiro de 2013 e, durante esse tempo, violada duas vezes, a última das quais por três soldados na véspera de uma audiência em tribunal.
«O interrogador deixou-me na sala e voltou com três guardas que me violaram à vez. Resisti ferozmente ao primeiro, mas quando o segundo começou, fiquei mais assustada e não consegui resistir mais», relatou.
«Quando o terceiro começou, fui-me completamente abaixo, estava a sangrar continuamente. Quando acabou, caí no chão. Dez minutos depois, o médico da prisão apareceu e levou-me para a casa de banho, onde me deu uma injeção para eu poder estar de pé frente ao juiz», prosseguiu.
O relatório cita um outro caso, ilustrativo de como as forças do regime recorrem a violações durante operações militares, de uma rapariga de nove anos violada em frente da família por soldados das forças governamentais, em março de 2012, em Homs (centro).
O documento sublinha por outro lado a dificuldade em documentar casos de violação devido ao estigma associado à violência sexual.
«Muitas vítimas de violência sexual - se não a maior parte - escolheram ou foram obrigadas a deixar a sua terra natal, levando com elas para os países de asilo essas marcas físicas e psicológicas», segundo a organização.
O relatório conclui por outro lado haver um «fenómeno crescente» da utilização de mulheres como escudos humanos, tanto pelas forças do regime como da oposição.
As mulheres sírias são também frequentemente raptadas para serem trocadas por prisioneiros ou para «pressionar homens das suas famílias a entregar-se», segundo o documento, que cita números da Rede Síria de Direitos Humanos segundo os quais 125 mulheres e duas crianças foram sequestradas com estes fins entre dezembro de 2011 e maio de 2012.
O conflito na Síria, iniciado há 32 meses, já matou mais de 120.000 pessoas e fez milhões de refugiados. Segundo as Nações Unidas, três quartos dos refugiados sírios são mulheres e crianças.
Lusa