Olá Rui,
Desculpa a demora.
De facto em Portugal as forças e serviços de segurança estão organizados e estruturados de uma maneira muito diferente e mais complexa. Não sei se é melhor se pior, o importante no fim de contas é que funcione. Mas pessoalmente penso que a simplificação pode ser amiga da eficiência.
Em Portugal, e simplificadamente explicando, temos uma organização dual de forças, à semelhança de muitos outros países do sul e centro da Europa. Uma é civil, a PSP, e outra é militar, a GNR (de tradição gendarmica – não pertence às forças armadas). Ambas actuam em todo o espaço nacional mas para efeitos de patrulhamento, segurança do território, ordem e tranquilidade pública, estamos separados, cada força tem a sua área de actuação: a PSP nas cidades e a GNR no resto, genericamente.
Mas como somos forças policiais de competências genéricas, as nossas atribuições são vastas, temos outras funções que estão entregues a uma ou outra força e que desenvolvemos em todo o território. Por exemplo a PSP (à qual pertenço) tem a segurança pessoal (VIPs, testemunhas, etc…) em todo o país, somos quem licenciamos as armas e os seguranças privados também em todo o pais… etc…
A GNR, e também a titulo de exemplo, tem à sua responsabilidade o controlo da costa e uma unidade de socorro para atender a calamidades e incêndios… e muito mais.
Ambas as forças possuem unidades de operações especiais, de intervenção (forças anti-motim, reserva), e de investigação criminal.
Na domínio da Investigação criminal estamos limitados a inquéritos e crimes cuja moldura penal não exceda os 5 anos de prisão – isto dito de uma forma simplificada. Dai para cima existe a PJ que corresponde de certa forma ao vosso Serious Organized Crime Agency (acho que é esta a designação). Esta força, que só admite pessoas com formação escolar superior, praticamente só investiga e depende do ministério da justiça enquanto a generalidade das outras forças policiais dependem do ministério da administração interna.
Na “minha” polícia, a PSP, temos um limite de horas de trabalho como referencia, são 36. Mas atenção, é apenas uma referência; todavia em circunstâncias normais são respeitadas. Quando esse limite é ultrapassado, e é-o frequentemente, somos compensados com dias de folga. Não recebemos pelas horas extraordinárias.
Os horários variam muito de serviço para serviço. O pessoal da patrulha faz turnos de 6 horas, aqui tens um exemplo:
19h00/01h00
19h00/01h00
13h00/19h00
13h00/19h00
07h00/13h00
07h00/13h00
01h00/07h00
01h00/07h00
Folga,
Folga,
19h00/01h00
e continua …
O vencimento de um jovem agente acabadinho de sair da escola é de pouco mais de mil euros (limpos).
Para progredir na carreira aqui é mais complicado.
Actualmente um agente não pode passar da classe de subchefes (sargentos) sem frequentar a escola superior da policia. Portanto só pode chegar à classe de oficiais se fizer um curso de 5 anos. Até há poucos anos atrás não era necessário, havia uma organização de carreiras idêntica à vossa (em que um sargent podia concorrer a inspector e fazia apenas um curso com a duração de um ano lectivo – isso acabou. Mas está muito mal, não concordo, mas isso poderemos falar noutra ocasião).
Quanto ao facto de vocês serem muito soft comparativamente connosco é mais mito que outra coisa. Não acho que vocês sejam tão “meiguinhos” como por aqui algumas pessoas pensam e nós estamos muito mais condicionados no uso da força do que visto daí possa parecer.
Uma enorme diferença: um inglês em Portugal nao pode ser policia; só cidadãos nacionais.
Um abraço,