Se alguém conseguir esclarecer qual o ponto em que estamos com respeito à contratação de meios aéreos para combate a incêndios, depois de ler a resolução do Conselho de Ministros 192/2017….
https://dre.pt/pesquisa/-/search/114380263/details/maximized?print_preview=print-previewÉ que quanto mais leio, mais confuso fico…
Afinal, em que é que ficamos?
1 - Estava previsto contractar 50 meios aéreos de combate a incêndios. Desses, apenas 10 tinham sido contractados até ao mês de Março. Do que tem sido noticiado nos últimos dias, os restantes 40 meios (previstos e não contractados), vão sê-lo, com um custo de cerca de 49 milhões de Euros, mas com menos horas de vôo incluídas no contracto. Se é assim:
- Qual é o custo final total de contratação da totalidade dos meios aéreos previstos?
- Qual a quantidade final que estará disponível? Que tipos de meios vão estar disponíveis (são o anunciados 38 helicópteros ligeiros, 6 aviões anfíbios médios, 4 aviões anfíbios pesados e 2 aviões de comando e controlo)?
- Desses, que meios (quantidade e tipo), vão estar disponíveis ao longo de todo o ano?
2 – Os meios próprios do Estado acrescem aos meios acima descritos (6 Kamov e 7 Ecureil)?
3 – Qual é a situação operacional dos Kamov? E dos Ecureil, já agora?
4 – Os tais 60 milhões não estavam previstos como verba plurianual?
5 – Se se trata de uma verba plurianual, e prevendo-se, de acordo com a resolução acima do conselho de ministros, uma redução significativa da mesma já para 2020, tal significa que existe por parte do Estado a intenção objectiva de compra de meios aéreos nos dois próximos anos? Ou estará o Estado a ver se “empurra com a barriga” este assunto para a frente, na esperança de que, entretanto, São Pedro vá ajudando?
Depois de tudo o que se passou no ano passado, este assunto deveria estar a ser tratado pelo Estado “com pinças”, e não de uma forma que, no mínimo, se pode classificar de muito pouco transparente.
Já agora, os meus 50 cêntimos para a discussão dos meios aéreos de combate a incêndios…
O valor médio de aquisição de um helicóptero ligeiro AW 109 bimotor novo anda à volta dos 5 milhões de € a unidade. O que quer dizer que com cerca de 100 milhões de Euros se conseguiriam adquirir 20. Já agora, e de acordo com o site Business Jet Traveler (
www.bjtonline.com), o valor médio anual de custo fixo de operação da aeronave, com uma estimativa de utilização da mesma em 381 horas de vôo / ano, é de cerca de 396 mil USD (ou seja, 320 mil Euros, o que dá um custo fixo médio por hora de vôo de cerca de 840 €).
Com os tais 20 helicópteros ligeiros conseguir-se-ia, entre outras coisas: resolver de uma vez por todas a (também) vergonhosa história do concurso de contratação de meios aéreos para o INEM e colocar lá 4 destes helicópteros ligeiros em permanência; dar formação em aeronaves de asa rotativa aos pilotos militares de todos os ramos; apoiar as autoridades policiais; combater fogos florestais; apoiar o protecção civil noutras missões de interesse público; executar outras missões militares (como por exemplo, o transporte aéreo táctico).
No capitulo dos helicópteros médios, temos no mercado aquele que considero ser a melhor opção em termos de versatilidade, o Bell 412 EP, que custa novo cerca de 11 M USD, ou seja, cerca de 9 M € a unidade. Alternativamente, um Sikorsky S70 (bastante utilizado no combate a fogos florestais nos EUA), custa novo cerca de 13 M USD a unidade (10,5 M €). Com cerca de 100 milhões de Euros poder-se-ia dispor de 10 helicópteros médios novos, que permitiriam: ter 1 unidade sediada na Madeira para evacuação médica, combate a fogos florestais, apoio a operações policiais, e outros missões de interesse público; ter 1 unidade sediada em Ovar para SAR; ter 2 unidades ao serviço do INEM (com maior capacidade de transporte, autonomia e raio de acção do que os AW109), uma baseada no Porto e outra em Lisboa; ter as restantes unidades disponíveis para combate a fogos florestais e outras missões de interesse público.
Ainda de acordo com dados publicados pela Business Jet Traveler, são os seguintes os custos fixos de operação de cada uma das referidas aeronaves: cerca de 503.000 USD / ano (407.000 €), para o Bell 412, com base em 391 horas de vôo anuais (cerca de 1.041 € por hora de vôo), e de 620.000 USD (502.000 €), para o S-70, baseados em 357 horas de vôo anuais (com um custo fixo por hora de vôo de cerca de 1.410 €).
Para as funções de vigilância, coordenação de meios, comando e controle, 4 King Air 350 (novos custam entre os 5 e os 6 milhões de € a unidade). Para além das missões atrás referidas, serviriam também para dar formação a pilotos numa fase de transição das aeronaves mono para as plurimotores, para calibração de equipamentos e para o transporte de órgãos ou evacuação médica urgente em distâncias que um helicóptero não pode cobrir. O custo de aquisição da referida frota de 4 aeronaves seria algo a custar, no limite, cerca de 25 M €. Já agora, o custo de operação fixo estimado por aeronave, com base em 409 horas de vôo anuais, é de cerca de 355.000 USD (à volta de 288 .000 €).
Ou seja: com um investimento de aquisição de 215 a 230 M €, e um custo de operação fixo de 13 a 14 M € anuais, conseguir-se-ia dispor de uma frota de 34 aeronaves que permitiriam:
- Resolver a maior parte das necessidades do País em matéria de aeronaves de combate a fogos florestais
- Resolver a totalidade das necessidades do País em matéria de aeronaves de suporte ao Serviço Nacional de Saúde e à emergência médica
- Resolver a totalidade das necessidades do País em termos de formação complementar de pilotos militares em aeronaves de asa rotativa e em aeronaves plurimotores
- Resolver a totalidade das necessidades do País no que respeita à existência de aeronaves para suporte de outras actividades de protecção civil
- Resolver a totalidade das necessidades do País em matéria de suporte aéreo a operações policiais
E se algum dia a Viking Air decidir reabrir a linha de produção e puser no mercado o sucessor do CL 415, acho que deveríamos estar entre os primeiros países a fazer uma encomenda firme de 3 a 4 aeronaves.
Cumprimentos,