Especialista Português defende que Fukushima "não será" igual a Chernobyl
A passagem do acidente nuclear no Japão para o nível de gravidade máxima deveu-se a uma reavaliação e não ao agravar da situação, que está longe de ser semelhante à de Chernobyl, defendeu esta terça-feira o presidente do Instituto Nuclear.
Segundo Júlio Montalvão e Silva, presidente do Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN), o que aconteceu foi que as autoridades fizeram «uma reavaliação de valores obtidos anteriormente, o que não significa que nestas últimas horas se tenha agravado a situação».
O Japão elevou hoje de 5 para 7 o nível do acidente nuclear de Fukushima, colocando-o no grau de gravidade máxima, idêntico ao da catástrofe de Chernobyl, na Ucrânia.
«Estamos perante o grau mais alto, mas esse grau 7 é dez vezes menor, em termos de valores que foram utilizados, do que Chernobyl, portanto há uma diferença muito grande na avaliação dos riscos radiológicos», explicou.
Em Chernobyl houve um «lançamento para a alta atmosfera de grandes quantidades de elementos radioactivos e aqui isso não aconteceu», explicou, acrescentando que no acidente de Fukushima a maior parte dos níveis elevados de radioactividade estão concentrados localmente.
«Os riscos são locais, nos quilómetros à volta da zona em que ocorreu o acidente. É preciso ter cuidados especiais até que o problema esteja resolvido totalmente, que está em vias de o ser», salientou.
O presidente do ITN lembrou ainda que no caso de Chernobyl houve dispersão de produtos radioactivos, «a darem a volta ao mundo» e a serem depositados em vários países, entre eles, Portugal.
«Estamos a falar de níveis muitíssimo mais baixos e sem a dispersão dos elementos radioactivos. Não tem nada que se pareça com Chernobyl», salientou.
Em termos de contenção de danos, o responsável referiu que as pessoas foram retiradas da zona e que as análises feitas em permanência permitem monitorizar os níveis de radioactividade nos alimentos e na água.
Essas informações são obtidas a partir da Agência Internacional de Energia Atómica e das agências de segurança e protecção radiológica nuclear japonesas.
«Houve análises da cadeia alimentar no dia 11 de Abril, e da carne, fruta e legumes analisados nenhuma revelou estar afectado. Na água de consumo doméstico, de 28 de Março a 4 Abril, não se detectaram níveis de radioactividade nas três fontes de abastecimento de Tóquio», adiantou.
Relativamente a Portugal, Júlio Montalvão e Silva afirmou que o ITN publica diariamente as tabelas de valores medidos na zona.
«Desde início, os valores foram sempre extremamente baixos, mas as últimas leituras não foram sequer detectáveis», disse, sublinhando que os sistemas de análises e os detectores utilizados são extremamente sensíveis e permitem encontrar mesmo níveis muito baixos.
A Escala Internacional Nuclear e Radiológica (INES, na sigla em inglês) foi adoptada em 1990 pela Agência Internacional de Energia Atómica Nuclear com o objectivo de proporcionar uma informação mais imediata em caso de acidentes nucleares.
O nível zero da escala corresponde à ausência de anomalia, enquanto o nível 7, o mais elevado, traduz um acidente de gravidade, como o registado em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
Lusa