EDP investe 115 milhões €€€ nas eólicas do mar
Após anos de testes, a EDP criou um consórcio com a Mitsubishi, Repsol, Egie, Marubeni e Chyoda para investir 115 milhões de euros na primeira plataforma de energia eólica flutuante em Portugal.
A EDP vai avançar em força para a energia eólica em alto mar aproveitando diversos anos de teste e de preparação do projeto Windfloat, uma estreia tecnológica a nível mundial. “Particularmente, confesso que não pensava que as coisas corressem tão bem e, por isso, estamos agora a passar da fase pré-comercial para a fase operacional e comercial”, confessa Luís Manuel, administrador da EDP Inovação, em declarações ao Jornal Económico.
Portanto, na semana em que a empresa liderada por António Mexia lançou na bolsa portuguesa uma OPA – Oferta Pública de Aquisição sobre a participada EDP Renováveis percebe-se por aqui que o setror das energias renováveis vai ser um foco crescente de atenção e de atuação da empresa nio futuro.
“Estamos a lançar um projeto de energia eólica offshore com capacidade para 25 MW, para durar 25 anos. Esta fase visa demonstrar comercialmente que a tecnologia tem sentido”, revela Luís Manuel. Em teste, este moinho flutuante tinha uma capacidade de dois MW. Nesta fase, a EDP criou um consórcio com a Repsol, Mitsubishi, Chyoda (outra empresa japonesa) e o agrupamento Trust Energy, formado pela Engie (antiga GDF) e Marubeni (mais uma empresa nipónica, especializada em contratos EPC – contratos de engenharia, procurement e construção).
Este consórcio, designado Wind Plus, já foi constituído em 2009 e cada um dos anteriores participantes detém 20%. “Trata-se de um project finance que representa um investimento de 115 milhões de euros. Além da demonstração comercial, tivemos que resolver a questão do financiamento do projecto e de saber como se financia um projecto offshore”, adianta Luís Manuel.
Segundo este responsável, “o projeto está a ser financiado por uma comunidade muito alargada de investidores mas também pela comunidade bancária”. Para Luís Manuel, “quando estiver em funcionamento, em princípio em 2019, será relevante para a comunidade local de Viana do Castelo, ajudando o consumo local com a qualidade do recurso energético eólico”.
Segundo resolução do Conselho de Ministros, vai ser construído pela REN um cabo de alimentação e distribuição de energia entre a plataforma da Wind Plus e a cidade de Viana do Castelo. Existem fundos comunitários disponíveis para este tipo de projetos, pelo que esta iniciativa não constitui qualquer risco para o Estado, que também está a trabalhar no desenvolvimento deste setor, defende o administrador da EDP Inovação. “Este é um projeto notável numa área em que podemos passar a ter liderança mundial”, acredita Luís Manuel, assegurando que a única tecnologia semelhante existente nos mercados internacionais tem desvantagens.
“Está com isto a criar-se um cluster. Tem havido uma ligação em série entre o meio académico e científico nacional e o meio empresarial. No caso, a Principal Power, uma empresa norte-americana que trabalha no solar e no offshore eólico, com maior potencial em águas profundas. E a A. Silva Matos [agora ASM], que passou a ser uma empresa especializada em enrolar aço para este tipo de infraestruturas e pode aproveitar este know-how nos mercados externos de agora em diante”, sublinha o administrador da EDP Inovação.
Luís Manuel anuncia também que a EDP tem já “um segundo projeto em fase pré-comercial a avançar em França, no Mediterrâneo, na região de Perpignan, que deverá arrancar em 2020”. Neste caso, trata-se de um consórcio entre a EDP e a Engie, também para uma capacidade prevista de 25 MW.
Cerca de 11 anos depois de ter iniciado os testes para a produção de energia eólica em plataformas flutuantes, a EDP está agora a avançar no terreno e, além de Portugal e de França, existem outros mercados potenciais interessados em implantar este tipo de plataforma eólicas offshore, como os Estados Unidos, Japão e outros países asiáticos, de onde poderão surgir novidades em breve.
O teste-piloto da energia eólica oceânica, designada Windfloat e desenvolvida pela EDP, decorreu na costa portuguesa ao largo da Póvoa de Varzim. Durante 2008 e 2009, a EDP foi desenvolvendo a tecnologia do projeto por fases e procedeu à due dilligence, com as respectivas análises técnicas ao conceito e laboratoriais. A Principal Power apoiou a EDP no desenvolvimento desta tecnologia, o que permitiu construir um protótipo à escala real.
“Lançámos a execução desse projeto-piloto numa zona de teste adequada, na Aguçadoura, Póvoa de Varzim, onde utilizámos um cabo submarino já existente com capacidade até quatro MW e atraímos para este projeto empresas como a Repsol, A. Silva Matos [agora designada ASM], Portugal Ventures e Vestas. No acumulado, até ao final do teste-piloto, em janeiro de 2016, a Windfloat produziu 17 GW de energia, o que daria para alimentar o consumo anual de cinco a seis mil clientes domésticos ou cerca de 1.200 habitações por ano. Concluímos o projeto de demonstração em julho ou agosto do ano passado”, explica Luís Manuel.
Luís Manuel explica que a opção por uma estrutura flutuante foi tomada em 2008 e que se escolheu uma localização ao largo de Viana do Castelo por ser a mais benéfica em termos de capacidade de energias eólica.
“Optámos por ser uma estrutura offshore por ser compatível com outras actividades como o turismo, uma vez que a estrutura tem de ficar a cerca de 12 quilómetros da costa, sem impacto visual. Há sempre aqui um paralelo com a experiência da indústria petrolífera. Mas com um cuidado maior: como não jorram milhões de euros por dia, “na energia eólica temos de apontar para patamares muitíssimo mais eficientes no controlo de custos das plataformas”.
Por isso, a tecnologia Windfloat é compatível com a Vestas e com a Siemens, alguns dos maiores produtores mundiais de turbinas eólicas. Segundo Luís Manuel, a estrutura tem muita estabilidade, mesmo em situações de ondas de 20 metros, beneficiando de uma tecnologia em que circula água entre cada uma das três colunas em que assenta a plataforma, com o objectivo de equilibrar a estrutura em relação ao vento e ao mar.
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