Portugal nas Vésperas de uma Crise Social

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Portugal nas Vésperas de uma Crise Social
« em: Fevereiro 22, 2008, 07:55:06 am »
O Estado e os políticos são os principais visados
SEDES alerta para crise social de contornos difíceis de prever

21.02.2008 - 23h00 Luciano Alvarez

Sente-se em Portugal “um mal estar difuso”, que “alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional”. Este mal-estar e a “degradação da confiança, a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado, têm como consequência inevitável o seu bloqueamento”. Este é um dos muitos alertas lançados pela Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) - uma das mais antigas e conceituadas associações cívicas de Portugal –, num documento hoje concluido e dirigido ao país.

Para a SEDES se essa espiral descendente continuar, “emergirá, mais cedo ou mais tarde, uma crise social de contornos difíceis de prever”.

Esta tomada de posição é uma reflexão sobre o momento que Portugal vive, com a associação a manifestar o seu dever de ética e responsabilidade para intervir e chamar a atenção “para os sinais de degradação da qualidade de vida cívica”. Principais visados: o Estado, em geral, e os partidos políticos, em particular.

E para este “difuso mal estar”, frase que o pilar de todo o documento, a SEDES centra-se em algumas questões: degradação da confiança no sistema político; sinais de crise nos valores, comunicação social e justiça; criminalidade, insegurança e os exageros cometidos pelo estado.

http://ultimahora.publico.clix.pt/notic ... idCanal=12
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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ricardonunes

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« Responder #1 em: Fevereiro 22, 2008, 09:55:51 am »
Isso passa quando chegar a altura das eleições :roll:
Potius mori quam foedari
 

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« Responder #2 em: Fevereiro 22, 2008, 10:32:20 am »
SEDES alerta para «crise social de contornos difíceis de prever»

A Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) alertou quinta-feira para um «mal-estar» na sociedade portuguesa que, a manter-se, poderá originar uma «crise social de contornos difíceis de prever».

Em comunicado divulgado no seu portal, a SEDES sustenta que «sente-se hoje na sociedade portuguesa um mal-estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional».

Esse «mal-estar» deve-se a «sinais de degradação da qualidade cívica», como a «degradação da confiança dos cidadãos nos representantes partidários», a «combinação de alguma comunicação social sensacionalista com uma Justiça ineficaz» e o aumento da «criminalidade violenta» e do «sentimento de insegurança entre os cidadãos».

A SEDES adverte que, a manter-se o «mal-estar e a degradação da confiança (...), emergirá, mais ou cedo ou mais tarde, uma crise social de contornos difíceis de prever».
Por isso, a associação apela à intervenção da sociedade civil mas sobretudo do Presidente da República e dos partidos políticos com representação parlamentar.

O comunicado é assinado pelo conselho coordenador, do qual fazem parte Vítor Bento, que o preside, Alves Monteiro, Luís Barata, Campos e Cunha, Ferreira do Amaral, Henrique Neto, Ribeiro Mendes, Paulo Sande e Amílcar Theias.

Criada em 1970, a SEDES é uma estrutura que tem como preocupação reflectir sobre a situação económico-social do país.

No comunicado, a associação manifesta a sua preocupação com «o afunilamento da qualidade dos partidos», devido à «dificuldade em atraírem e reterem os cidadãos mais qualificados» e a «critérios de selecção cada vez mais favoráveis à gestão de interesses».

A SEDES critica igualmente a «tentacular expansão da influência partidária na ocupação do Estado e na articulação com interesses da economia privada».

Para a estrutura, a «combinação» entre uma «comunicação social sensacionalista» e uma «Justiça ineficaz» traduz-se num «estado de suspeição generalizada sobre a classe política», que leva ao afastamento de «muitas pessoas sérias e competentes da política, empobrecendo-a».
A «banalização da suspeita» nos media e a «incapacidade» da Justiça em «condenar os culpados (e ilibar os inocentes)» favorecem os «mal-intencionados», o que conduz à «desacreditação do sistema político», reforça a SEDES.

A associação considera que o Estado «tem uma presença asfixiante sobre toda a sociedade»: deixa cada vez menos espaço «verdadeiramente livre para a iniciativa privada» e «demite-se, muitas vezes, do seu dever de isenta regulação, para desenvolver duvidosas articulações com interesses privados».

Referindo-se à criminalidade, o comunicado aponta a falta de «uma acção consistente - da prevenção, investigação e da Justiça - para transmitir a desejada tranquilidade» e uma «espécie de fundamentalismo ultra-zeloso, sem sentido de proporcionalidade ou bom-senso» do Estado.

«Calculem-se as vítimas da última década originadas por problemas relacionados com bolas de Berlim, colheres de pau ou similares e os decorrentes da criminalidade violenta ou da circulação rodioviária e confronte-se com o zelo que o Estado visivelmente lhes dedicou», sublinhou a SEDES, responsabilizando os legisladores portugueses, que «transcrevem para o direito português, mecânica e por vezes levianamente, as directivas» europeias.

Para a «regeneração» da sociedade portuguesa, a associação advoga que os partidos políticos devem «abrir-se à sociedade, promover princípios éticos de decência (...) e desenvolver processos de selecção que permitam atrair competências e afastar oportunismos».

Diário Digital / Lusa
22-02-2008 1:17:00
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
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lurker

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« Responder #3 em: Fevereiro 22, 2008, 12:19:56 pm »
Escrevem muito mas não dizem nada.
E ideias concretas?

Por exemplo, que parte do orçamento da ASAE (~21 M EUR) é que estes senhores gostariam de alocar à PSP/GNR (~750 + 550 M EUR) para combater a criminalidade? E quais seriam os efeitos práticos na sociedade?
 

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Lancero

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« Responder #4 em: Fevereiro 22, 2008, 04:24:45 pm »
Citação de: "P44"
O comunicado é assinado pelo conselho coordenador, do qual fazem parte Vítor Bento, que o preside, Alves Monteiro, Luís Barata, Campos e Cunha, Ferreira do Amaral, Henrique Neto, Ribeiro Mendes, Paulo Sande e Amílcar Theias.


(fracos) Aspirantes a Elite num país que não a tem.
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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Miguel Sá

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« Responder #5 em: Fevereiro 22, 2008, 08:52:06 pm »
Fraco rei faz fraca a Forte Gente

Décadas e décadas de dirigentes decadentes, de aprendizes de líderes, de serviçais de outros senhores, de gente longe da sua gente.....

Grande novidade, e agora?

Que alternatIvas? Como pôr os Portugueses a servir Portugal e Portugal a servir os Portugueses?
 

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typhonman

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« Responder #6 em: Fevereiro 23, 2008, 02:11:25 am »
Alternativas? Mais futebol nos 3 canais, para animar a malta :wink:
 

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Lusitanus

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« Responder #7 em: Fevereiro 23, 2008, 07:54:02 am »
Citação de: "Typhonman"
Alternativas? Mais futebol nos 3 canais, para animar a malta :wink:


e telenovelas para fazer sonhar aquelas vidas de luxo.
"Cumpriu-se o mar e o império se desfez
Senhor, falta cumprir-se Portugal"
 

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« Responder #8 em: Fevereiro 23, 2008, 11:06:23 am »
e floribelas descascadas na FHM
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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« Responder #9 em: Fevereiro 29, 2008, 01:16:42 pm »
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Economia
Economia do País, finanças familiares e desemprego desanimam
Confiança dos portugueses no mínimo de quase 5 anos
2008/02/29   10:18Paula Gonçalves Martins

Apesar de tudo, acreditam que vão poupar mais no futuro
A confiança dos consumidores voltou a cair em Fevereiro, de acordo com os inquéritos de conjuntura às empresas, divulgado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística. O indicador prolongou a tendência negativa iniciada em finais de 2006, registando o valor mínimo desde Junho de 2003.

À semelhança do sucedido no mês anterior, todas as componentes do indicador contribuíram para a deterioração do índice, à excepção das expectativas de poupança.

As perspectivas de evolução da situação económica do país apresentaram o contributo negativo mais expressivo pelo quinto mês consecutivo, prolongando a trajectória descendente anterior e atingindo o mínimo desde Junho de 2003.

Já as expectativas sobre a evolução da situação financeira do agregado familiar atingiram em Fevereiro o mínimo histórico para a série iniciada em Junho de 1986.

Também as perspectivas sobre a evolução do desemprego têm vindo a agravar-se continuamente desde Julho, registando o valor mais desfavorável desde Abril de 2006.

Apesar de todo este pessimismo, os portugueses acreditam que vão poupar mais. As expectativas de poupança recuperaram nos dois primeiros meses do ano, afastando-se do mínimo histórico registado no final de 2007.

Também de sublinhar são as opiniões sobre a compra de bens duradouros no momento actual, que se deterioraram em Fevereiro, reaproximando-se do mínimo histórico registado em Novembro, enquanto que as perspectivas de compra de bens duradouros nos próximos doze meses estabilizaram, interrompendo o movimento ascendente iniciado em Setembro.


http://www.agenciafinanceira.iol.pt/not ... iv_id=1730
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« Responder #10 em: Março 01, 2008, 11:41:12 am »
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Tudo no ME, nada fora do ME, nada contra o ME!

Isto existia na Itália Fascista e na Alemanha Nazi. No Estado Novo, também se verificava, embora mais discretamente.

No Portugal Socratino recuperaram-se as velhas práticas que se pensavas antigualhas da memória.
Mas não há motivo para que nos espantemos. As graves deficiências de carácter do engenheiro projectista e da sua sinistra ministra da deseducação não auguravam nada de diferente.

Tudo, pois, como seria expectável. Resta-nos verberar a omissão cúmplice da principal figura do Estado português, a quem Sócrates tanto deve, seja no modo como subiu ao poder, seja na maneira como nele se mantém: o Presidente da República, que se nada fizer acabará visto como o Patrono desta intolerável conspurcação do Estado de Direito Democrático.








Avaliação de desempenho
Críticas a Governo podem valer ponto negativo na ficha dos professores - BE


Por Ioli Campos


Os professores podem ser penalizados por críticas à orientação do governo? Esta foi uma das questões colocadas a Sócrates pelo deputado Francisco Louçã, no debate desta sexta-feira no Parlamento. Veja aqui o documento na base dessa polémica.


A dúvida foi suscitada pela interpretação que o agrupamento de escolas, Correia de Mateus, em Leiria, fez de um dos indicadores da proposta de avaliação de desempenho dos professores.

Este refere: «Verbaliza a sua insatisfação/satisfação face a mudanças ocorridas no Sistema Educativo/na Escola através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares».

Sócrates disse que não respondia por um caso concreto, mostrando-se surpreendido, e acusou Louçã de o ter ido buscar para denegrir a imagem do Governo. Reafirmou ainda que a «nada é mais importante para combater o insucesso escolar» do que a avaliação de desempenho.

SOL (29/2/2008)




http://socratinice.blogspot.com/2008/02 ... -e-na.html
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dinis manuel

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« Responder #11 em: Abril 12, 2008, 04:55:42 pm »
Que o país está mal todos nós sabemos, que é necessário erguer a moral, todos nós sabemos, mas digam sim as soluções!

Os problemas estão detectados, agora faltam as soluções!


No fundo eu não desanimo muito sabem porquê??
Porque eu olho para todo o mundo e vejo desgraças ainda maiores, tudo em alvoroço, logo considero que apesar da crise de valores e económica ainda estou num cantinho sagrado!



ainda hoje vi no telejornal que a tão admirada Espanha está com uma inflação de mais ou meos 4,7%!!!   e então???  ainda nos acham mt mal??? Nuestros hermanos já estão a entar em pânico geral!


Há que erguer a cabeça e sorrir mesmo que estejamos com a merda até ao pescoço!
Há que erguer a moral dos lusos pois se sobrevivemos 900 anos de contrariedades, não é uma porcaria de uma crise económica que nos faz cair!


bem haja
ser Portugues não é uma raça,é uma virtude
 

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Luso

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« Responder #12 em: Maio 20, 2008, 10:48:46 pm »
Acabo de ler um texto interessante que gostaria de partilhar convosco...


Democracia Sem Mediocridade

Gosto muito de ver que Pacheco Pereira voltou à carga contra o Regime. Mais uma vez lhe noto a fragilidade dos intelectuais. Sem fonte donde partam os seus valores, sem um elemento que lhe sirva de princípio, a sua crítica será sempre um estranho arrazoado. Quer maior liberdade, mas não quer uma sociedade em que o disparate seja permitido. Quer um regime de voto popular, mas não quer que o soberano seja comprado pelos que precisam do seu apoio. Quer sociedade civil, mas não aceita que a sociedade civil contemporânea faça a divulgação daquilo que esta mais preza, a irrelevância.

Pacheco Pereira vive numa utopia do século XIX, que não se realizou nem realizará. Uma sociedade em que a democracia serviria para elevar o povo à nobreza. Uma sociedade sustentada por visões privadas (para assegurar a liberdade individual), mas em que o valor da verdade comunitária e da elevação não seria questionado. Uma sociedade sem hierarquias de valores, mas onde ninguém se entrega à auto-gratificação mais abjecta, ou à transgressão da justiça para auto-satisfação.
De toda essa parafernália ideológica oitocentista, nada saiu de jeito. As populações estão cada vez mais embrutecidas, mas agora com muitos electrodomésticos e com formação profissional. Isso já se sabia em 1974, como agora. Não adianta simular candura.

Eu acho que o povo faz bem em embrutecer. Dá me gozo ver a geração de Pacheco Pereira, a de meus pais, assumir todos os seus erros. Encho-me de riso ao ver que os libertadores angolanos e combatentes anti-colonialistas, agora são “ladrões” e “cleptocratas”, divirto-me ao ver uma escola em que os “conhecimentos” são substituídos pela “inclusão”, entretenho-me a contar os articulistas que se elevaram contra o Estado Novo ou fugiram para França e que agora vêm falar de critérios públicos para a comunicação social. A nossa sociedade é um bom passatempo e um estudo de caso notável de riqueza material e pobreza de espírito. Já se pode falar em declínio, como no resto da Europa.

Do Fátima, futebol e fado, passámos a uma tríade bem pior: futebol, Big Brother e bens de consumo. Resta perguntar a Pacheco Pereira e aos outros que nos puseram nesta, como é que podemos sair daqui.
Etiquetas: Modernidade


posted by O Corcunda at 15:21


http://lusavoz.blogspot.com/2008/05/dem ... _2692.html
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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legionario

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« Responder #13 em: Maio 23, 2008, 02:00:14 pm »
se calhar até é bom que isto caia mesmo na m...., pelo menos o suficiente para fazer reagir os nossos "jovens turcos"...

Quem é que dizia isto :  - " a violencia é a parteira que fara sair do ventre duma velha sociedade, uma nova sociedade "  ?  Renego o autor mas reconheço que nisto tem tido razao !

acho que esta cada vez mais na altura de alguem bater com o punho na mesa e dizer : basta.
"De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens"
António Ferreira Gomes, bispo
 

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« Responder #14 em: Maio 25, 2008, 12:46:46 pm »
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Estará por aí a nascer um caudilho
 
 
 


Paulo , Baldaia, Director , da TSF

Pobre país que se habitua a viver com as estatísticas que o mostram campeão das desigualdades. E pouco importa ser o primeiro na União Europeia, ou ultrapassar os norte-americanos, bem mais importante é saber que não sabemos fazer o caminho para inverter a situação.

E este pobre país nem pode queixar-se, apenas, do Poder Executivo e do Poder Legislativo. A desigualdade não se resolve por decreto. Somos nós todos, cidadãos de meia-tijela, que aceitamos viver assim. Há cinco séculos demos novos mundos ao Mundo, saindo de barco à procura do desconhecido, mas hoje não somos sequer capazes de dar a nós próprios a vontade de ter novas ideias. Ideias que façam a diferença, que nos transformem em gente mais justa e mais solidária. Queremos ser ricos e ponto final.

Precisamos de políticos com coragem e sabedoria para propor um outro modelo de sociedade aos portugueses. Um modelo onde ninguém tenha de deixar de sonhar em ser rico, onde ninguém seja impedido de lá chegar com trabalho, com mérito ou com sorte, mas em que não aceitemos que alguém viva sem nada tendo nós muito de sobra.

Cada vez mais, a inteligência colectiva de uma sociedade revela-se na forma como distribui a sua riqueza e não na capacidade de a fazer crescer. Até porque a riqueza bem distribuída potencia a criação de mais riqueza. É assim e não ao contrário, como nos têm dito os centralistas do regime de há muitos anos para cá.

A globalização teve o grande mérito de dar a centenas de milhões de seres humanos a capacidade de consumir, mas neste modelo de sociedade que se espalha pelo Mundo fica mais difícil ser pobre. O dinheiro circula hoje com mais facilidade, mas os direitos não são para todos.

A crise, que é financeira e nasceu na América, não afecta os que mais têm. Lá, como cá, são os pobres quem já não tem dinheiro para pagar as favas. Falhada a ideia de criar estados socialistas, caído o muro de Berlim, os socialismos mais democráticos aproximaram-se do Centro. E aproximaram-se de tal forma que se confundem muitas vezes com os partidos de Direita. Não é uma coisa portuguesa, é do mundo ocidental, muito à imagem do Tio Sam em que os republicanos são de Direita e os democratas são um pouquinho menos.

É a Esquerda que tem de procurar novas soluções. Se isso não acontecer, vão crescer os populismos e não estaremos muito longe de viver as tragédias dos sul-americanos que, fartos da realidade, acreditam em todo o tipo de promessas.

Quantos mais são os deserdados do regime, maiores são as possibilidades de Portugal ser governado um dia por um caudilho tipo Hugo Chávez. Num país de corporações e de egoísmos, basta que alguém prometa tudo a toda a gente.

Paulo Baldaia escreve no JN, semanalmente, aos sábados  

http://jn.sapo.pt/2008/05/24/opiniao/es ... dilho.html
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