Caro Ferrol, não me foi possível apresentar a minha visão sobre os seus ultimos comentários, mas aqui vão.
Relativamente ás questões levantadas pelo Ferrol no que diz respeito á forma de interpretar um texto ou uma posição, naturalmente tenho que aceitar que não estando em Portugal, não terá (eventualmente) uma noçao mais exacta de toda a realidade.
Quando um cidadão português profere discursos, que quando vistos num contexto histórico, não podem ser considerados nada mais que “disparates”, exactamente porque vão contra a realidade histórica, então eu hei de fazer o quê?
Faz-me lembrar aquela afirmação de que os Portugueses só têm pré-conceitos relativamente aos espanhois por causa das elites que são anti-espanholas.
Esta tese é consideráda válida por alguns circulos em Espanha. No entanto, o simples estudo superficial da nossa História demonstra EXACTAMENTE o CONTRÁRIO. Foram sempre as elites que foram pró castelhanas/espanholas.
Se me aparece um senhor Vasconcelos a dizer coisas como estas, baseando as suas afirmações e as conclusões que tira, em factos que propositadamente distorce, então tenho que concluir que as conclusões do texto, estarão INEVITAVELMENTE erradas, porque contraríam a realidade factual conhecida.
Isto, naturalmente não implica que quem refere o texto produzido, tenha a obrigação de o entender no seu conjunto.
Um aparte no que respeita á questão aérea:
O espaço aéreo português é enorme. Não inclui apenas Portugal-continental, mas também uma parte muito considerável do Atlântico e vai mesmo até sul, até á Madeira e próximo das Canárias. Faz fronteira com o espaço aéreo controlado desde MAdrid e com o espaço aéreo controlado desde Nova Iorque.
O céu-único é uma ideia interessante, para o centro da Europa, onde os países são pequenos e com espaços aéreos minusculos, como por exemplo o espaço aéreo da Holanda, da Belgica, Suiça etc...
Comparado com o espaço aéreo Portugues, caro Ferrol, o espaço aéreo de países como a França, a Alemanha ou a Italia, é minusculo.
Portanto o problema da criação do single-sky faz sentido onde o espaço é minimo, mas não faz sentido, em Portugal onde o espaço é enorme.
Portanto quando a comissária dos transportes. Sra. Loyola de Palacio, que por uma incrível coincidência é Espanhola, advoga tão insistentemente o Céu Único, é de estranhar que uma das propostas em cima da mesa, tenha sido, exactamente que na região Atlântica (quer dizer, praticamente os milhões de Km. Quadrados sob responsabilidade portuguesa) deve haver um concurso internacional para determinar quem é que o vai gerir.
Ora entre as empresas espanholas e as portuguesas quem é que acha que tem mais capacidade de negociar?
Comparativamente com o espaço aéreo português, o espanhol é uma catástrofe. Toda a gente se queixa de que os controladores espanhois falam um inglês horrivel, dificilmente compreensivel. Os aviões entram com atrasos no espaço espanhol e saem ainda mais atrasados.
Em contrapartida, chegaram a ser apresentados relatórios para provar que o Céu único europeu também faz sentido na região portuguesa, porque um avião vindo de Frankfurt também chega atrasado a Lisboa.
Por aqui tudo, bem, portanto o Céu Único, viria melhorar os serviços.
Mas a realidade é que os aviões que saem do espaço aéreo portugues em 97% dos casos, saem com atrasos devido ao facto de já terem entrado atrasados.
Ou seja, apenas 3% dos atrasos se devem aos controladores portugueses.
Esta realidade é pura e simplesmente esquecida. A Sra. De Palacio defendeu férreamente os interesses do seu próprio país (que no caso são absolutamente contrários aos interesses portugueses) contrariamente ao mandato que tem, pois pagam-lhe para ser comissária europeia e não espanhola.
O pior de tudo, é que tal situação acabaría não só por dar a Espanha o controlo do espaço aéreo português - lucrativo e organizado - mas inevitavelmente transformaría uma coisa que funciona bem em algo que funciona mal. Ou seja, ainda por cima este Europeismo e Iberismo só serve para perder dinheiro.
= = =
Os caso do MIBEL, por exemplo, também lhe podería referir que está a atingir as raias do ridiculo, porque o MIBEL implica que uma empresa autorizada pela autoridade reguladora de um país, será reconhecida pela autoridade reguladora do outro, e a primeira coisa que a autoridade reguladora espanhola fez, foi emitir comunicados a colocar tudo em pratos limpos a dizer que uma empresa para operar em espanha continua a ter que ter uma aprovação da respectiva autoridade espanhola.
É a triste e eterna situação histórica nas relações ibéricas. Para Espanha é como se os os acordos assinados com Portugal, fossem apenas papeis, com contratos para violar na primeira oportunidade.
Conforme o tempo vai passando, o céu vai ficando mais escuro e a boca mais amarga...
A desproporção da troca ibéricas é enorme e caro Ferrol, você não pode comparar a disparidade entre Portugal e a Espanha com a que existe em relação á Espanha e á Alemanha.
Em primeiro lugar a Espanha não tem fronteiras com a Alemanha e em segundo lugar a Alemanha nunca teve intenções de anexar a Espanha e tranforma-la em mais um “Lander”. Se algum destes pressupostos fosse real, já teríamos movimentações anti-germânicas em Espanha.
Não podemos justificar tudo com o europeismo. Portugal entrou na Europa, sem raciocinar e sem pensar no que é que isso representaría para a nossa independência politica face á Europa e face a Espanha.
O problema existe e não adianta esquecê-lo e justificá-lo com a Europa, porque a Europa não justifica tudo. Antes de ser europeu, eu sou português, e mesmo que um dia fosse europeu – por mim falo – eu nunca sería espanhol, por muito que possa admirar muitas das conquistas recentes da Espanha.
No link que você refere do jornal “el mundo” encontra-se esta pérola: “
Si se hubiera concretado en 2002, el mercado ibérico hubiera desplazado del cuarto puesto a Italia en el ranking de productores de electricidad de la Unión Europa, por detrás de Alemania, Francia y Gran Bretaña.”
O mercado ibérico, ou dos países ibéricos existe desde que há energia na peninsula, mas estes senhores ficam deliciados por terem um mercado, controlado por Madrid (por supuesto) que consegue estar entre os grandes.
O de sempre... (sem comentários) :roll:
No entanto confesso que “El Mundo” e “ABC” são para mim, jornais “Persona non grata” porque os considero intrinsecamente anti-portugueses (mais o ABC que o El Mundo)
No entanto, não acredito que estejamos a falar da mesma decadência ...
No entanto, não posso deixar de dizer, que há vantagens nas relações com Espanha. Eu acredito na concorrência e há situações onde ela é bem vinda. Há muitos casos de empresas portuguesas que tratam mal os seus clientes. Há muito incompetente que muitas vezes merece ser substituido por um concorrente (seja Espanhol ou outro).
Eu acredito em cooperação na luta contra o terrorismo, ou na cooperaçãom, mesmo a nível militar com a Espanha, no que respeita á defesa das aguas e do direito de as utilizar livremente.
Acredito que haverá em Espanha (cá estamos para ver) gente que mais tarde ou mais cêdo vai entender que, por razões históricas, não se pode tratar Portugal, nem como uma autonomia espanhola, nem como outro país da Europa.
Talvez isso venha a acontecer.
Afinal, a esperança é a última a morrer, mas até lá, é nossa obrigação estar alerta, e rejeitar Iberismos, que não passam de versões modernas da eterna tentação hegemónica de Castela sobre a peninsula ibérica.
Cumprimentos
PS:
Relativamente ás questões que se prendem com a politica interna, entretanto levantadas e sobre a questão do voto (sem politiquices partidárias), responderei / comentarei noutro lado.