A Cruz Vermelha alemã está empenhada numa corrida contra o tempo para encontrar o paradeiro de pais desconhecidos dos chamados "filhos de guerra". Após a II Guerra Mundial, calcula-se que mais de cem mil recém-nascidos vieram ao mundo filhos de mulheres alemãs e soldados aliados franceses, ingleses, belgas ou americanos, frutos de uma relação casual, muitas vezes em troca de comida, de romances passageiros ou até mesmo de casos de violação.Mas a maioria dos soldados abandonou a Europa e partiu para outros locais de conflito, e outros regressaram aos países de origem sem saber que tinham deixado descendentes. Confrontadas com o facto de estarem grávidas de soldados estrangeiros, as chamadas "amantes dos aliados", ou mesmo "amantes dos inimigos", ocultaram a paternidade aos filhos durante a vida inteira. Hoje, a maioria dos "fihos da guerra" está na idade da reforma, outros já a ultrapassaram, mas mesmo assim muitos não desistem de saber as suas origens ou se têm família do outro lado do Atlântico. Só que o tempo escasseia: afinal os soldados que passaram pela Alemanha após a guerra já ultrapassaram os 70 anos de idade e muitos devem ter morrido. A dificuldade das buscas"Há casos de sucesso, mas poucos, porque a maioria das pessoas não dispõe das informações de que precisamos, seja porque as mães lhes ocultaram a verdade, seja porque simplesmente não sabiam. Se alguém aparece a dizer que procura um pai negro do Arkansas de nome Johnny, com esses dados é totalmente impossível", explica ao DN Fischer, responsável pelo Departamento de Desaparecidos na sede da Cruz Vermelha em Berlim. Há pessoas que vivem obcecadas. É o caso de Herbert (nome fictício), 54 anos, que para além do táxi que conduz em Berlim como meio de sobrevivência dedica muito tempo à descoberta do paradeiro do pai, agarrado a lembranças e fotografias antigas. "Não é fácil aceitar quando não sabemos as nossas origens", afirma Fischer. Detectives e InternetA Internet tem sido um dos instrumentos de procura mais utilizados, mas sem os resultados desejados. Anúncios como: "Procura-se norte-americano de cabelo escuro, militar, que esteve em Schweinfurt, na Alemanha, em Fevereiro de 1952", é apenas um dos exemplos. Que quase sempre acabam em nada. Outro meio de procura é uma espécie de agências de detectives, como Searching For You ou Wiedersehen Macht Freunde (Reunião Traz Amizade), em Berlim, esta última especializada neste tipo de investigação levado a cabo por uma equipa de 14 pessoas que falam várias idiomas e cujos serviços chegam a atingir um máximo de 520 euros por processo. As outras fontes de pesquisa centram-se essencialmente em dois arquivos: um na cidade alemã de Fritzlar, no estado de Hessen, onde existe informação dos planos das tropas americanas estacionadas na Alemanha durante a Primavera de 1945; os outros ficheiros, muito solicitados pelos europeus, estão armazenados em St. Louis, no estado do Missuri, mas muita documentação ficou destruída em 1973 num incêndio - o que torna o caminho em busca das raízes ainda mais difícil de trilhar para alguns destes "filhos da guerra". As estatísticas oficiais dão conta de pelo menos 66 700 crianças que nasceram filhas de soldados aliados e de alemãs da parte ocidental. No Leste alemão o mesmo aconteceu, a partir do contacto com soldados russos.