Oficialmente tudo vai bem.O Governador do Banco de Espanha, Jaime Caruana, afirmou no passado dia 18 de Abril, que o crescimento económico de Espanha será apenas "ligeiramente inferior" ao registado em 2005, ano em que atingiu um ritmo 'record' de 3,4%, contra 1,3% para o conjunto da 'zona euro'.Os economistas da Fundação das Caixas de Poupança espanholas (FUNCAS) prevêem por seu lado um crescimento de 3,2% este ano.Numerosos peritos, porém, mostram-se menos optimistas e crêem que a economia espanhola, uma das melhores alunas na classe europeia hà vários anos, poderia conhecer importantes dissabores num prazo relativamente curto." É uma das economias mais dinâmicas, mas também das mais vulneráveis " declarou Bruno Cavalier, economista do Crédit Agricole.Vulnerável em particular, através do seu mercado imobiliário, à alta das taxas de juro.O dinamismo do sector de construção contribuiu largamente para o forte crescimento espanhol."A partir dos anos '90 os 'estaleiros' práticamente quadruplicaram em Espanha, enquanto pouco evoluiram nos outros países" notou Luca Silipo, economista da IXIS CIB.Esta actividade sustentada 'irrigou' o conjunto da economia, especialmente através do mercado de trabalho.Este sector veio a criar inúmeros postos de trabalho, com consequencias directas sobre a procura de alojamentos, aumento dos preços no imobiliário, uma valorização acrescida do património das famílias e reforço do poder de compra.Mas este 'círculo virtuoso' foi ele mesmo criado e baseado na baixa do custo de crédito " Entre 1992 e 2003 as taxas mínimas do juro hipotecáriobaixaram mais de 500%" sublinham os economistas do BNP Paribas.As famílias aproveitaram estas condições para se endividar massiçamente.No fim de 2005 o valor em curso do crédito à habitação, das famílias espanholas atingia 80% do seu rendimento bruto disponível, contra 48% em França e 23% em Itália."Contráriamente a outros países europeus, o essencial dos créditos (97,4% dos novos financiamentos autorizados em Novembro 2005) foi "contratado a taxa variàvel e o seu custo faz eco à evolução da política monetária europeia", sublinham ainda os peritos do BNP.Tornando-se esta mais restritiva, toda a estrutura espanhola de crescimento se encontra ameaçada.Silipo porém tem confiança, e faz notar que 'a situação financeira das familias mantém-se sã' 5% apenas seriam susceptíveis de apresentar problemas de reembolso.Segundo o economista da IXIS CIB, uma alta de 0,5% das taxas directoras do Banco Central Europeu poderia traduzir-se a curto prazo numa baixa de 2,6% do preço da habitação, que por sua vez teria um peso nominal de 0,9% no crescimento do PIB.Se a baixa no sector imobiliário apresenta um impacto económico limitado, não deverá porém evitar de salientar as fraquezas estruturais da economia espanhola, que comprometem o seu crescimento a longo prazo: insuficiência de pesquisa-desenvolvimento, mão de obra pouco qualificada e pouco produtiva, exportações anémicas " A economia espanhola sofre de um importante problema de competitividade " realçou Cavalier.Como prova o défice da Balança corrente espanhola que se deverá 'aprofundar' em cerca de 9% em 2006, um nível sem par entre os países industrializados e que conduziria o país directo para uma crise financeira... se a Espanha não fizesse parte da 'zona euro', que ela sim apresenta um saldo positivo nas suas contas exteriores, e que permite a Madrid ao mesmo tempo estar ao abrigo de uma tempestade monetária."A estratégia económica espanhola é má, não pode ou deve ser copiada, e é totalmente não cooperativa, mesmo se ela apresenta vantagens para a Espanha " resumiu o chefe economista Patrick Artus.