tomkat
«Talvez por estas e por outras é que o Soares diz que saber de econnomia não é importante, o que é preciso é saber de filosofia, de história e ter uma cultura transcendental, com se a minha carteira vivesse disso.»

Se calhar foi precisamente para não estar colado a um governo e a um partido que ele não foi, visto que a sua candidatura pretende ser apartidária.
Ainda ao tomkat
«Estes socialistas são uma maravilha.»
«Cada vez mais anedóticas algumas figuras (ou figurões) socialistas.»

Baptista Bastos
Ele é o mesmo de sempre
Os defensores de Cavaco Silva tentam inculcar-nos a ideia de que ele melhorou consideravelmente - e, hoje, é outro. Não é. A prova foi-nos dada pela entrevista de Constança Cunha e Sá na TVI.
A lógica de certas vidas políticas, assim como a lucidez racional e o realismo da prática, que transformam a experiência em consciência, permitem-nos chegar a algumas conclusões. Os defensores de Cavaco Silva tentam inculcar-nos a ideia de que ele melhorou consideravelmente - e, hoje, é outro. Não é. A prova foi-nos dada pela entrevista de Constança Cunha e Sá na TVI.
A genealogia do antigo primeiro-ministro foi, de novo, exposta: demasiado mecânica e excessivamente linear. Cavaco não está à vontade quando o contraditam. Vem à superfície o seu carácter autoritário, a marca indelével do magister dixit, que transporta consigo a verdade irretorquível, inadmitindo toda e qualquer diferença formal.
A jornalista da TVI não alterou a combatividade incisiva demonstrada com os outros candidatos. E Cavaco Silva, pouco dado a situações desta natureza, foi titubeante, embaraçou-se, a sua fisionomia traiu os tormentos que o inquietavam, e não conseguiu dizer senão castas banalidades.
Ele ainda não entendeu, e os seus conselheiros não o advertiram, que a democracia não se limita a uma teia de relações formais e de estruturas económicas mas, sobretudo, consubstancia-se em conteúdos culturais e políticos que nos relacionam uns com os outros. A entrevista foi penosa para ele e extremamente enfadonha para nós. Notou-se, pela crispação do rosto, pelo árduo movimento das mãos, pela secura da boca o infortúnio por que passava, ante a insistência de Constança Cunha e Sá no querer saber as opiniões, e no pretender desvendar as enormes contradições contidas no discurso do candidato.
A presença de Cavaco na TVI foi suficiente para assinalarmos nele um homem inseguro, cheio de fragilidades, temente talvez a Deus mas mais, muito mais, ao debate com os homens. Foi uma linguagem redonda e melancólica na qual, por vezes, aflorava a irritação e o desconforto. Nada de nada. E a obstinação dele, em afirmar a sua «independência», longe dos partidos, e, propositadamente, de característica «nacional», constituiu impressionante manifestação de hipocrisia. Assim como a imposição da ideia de que, com ele em Belém, o Governo seria outro, porventura melhor. Pequenos truques de efeitos perversos. O candidato sabe que a Constituição impõe limites à acção do Presidente; e, a não ser que provoque um golpe de Estado constitucional, nada poderá fazer que contrarie as disposições da Carta.
Mário Soares, imbatível na discussão pública, não perde um instante em que não persevere na ideia de o desafiar para o debate. Pode-se gostar ou não do seu estilo. Não se lhe pode negar o estofo do tribuno e a argúcia do político. Aprendeu que a História está sujeita a leis do acaso e a pretextos acidentais e desenvolve-se através de vias contraditórias e aleatórias. E sabe que, em diálogo, Cavaco chega a atingir uma debilidade e uma apoquentação assustadoras. É da associação dessas componentes emocionais, intelectuais e sociais; desse perigoso conjunto de ambiguidade ideológica com uma natureza articulada no conceito empírico - que nascem os mais tenazes autoritarismos.
Aliás, num artigo inserto no «Público» (3. Nov.º), Pacheco Pereira escreve: «Percebe-se medo, não de qualquer deriva presidencialista, mas de uma presidência forte». Isso mesmo. Uma «presidência forte» faz antever quê? O próprio conteúdo da expressão não permite outro significado, e aplica-se, por inteiro, à índole do homem que foi primeiro-ministro durante dez anos, a década perdida, a década mais taciturna da história da Segunda República, a década durante a qual o dinheiro de Bruxelas entrou de roldão - e foi malbaratado.
Já o escrevi, mas repito: Cavaco mete medo, mas Cavaco tem medo. Medo das palavras, medo das interpelações, medo das perguntas, medo do debate, medo do diálogo, medo das multidões, medo das mudanças. Sobretudo medo daqueles que podem comprovar as suas medíocres qualidades para desempenhar um cargo com tradições humanísticas, intelectuais, filosóficas e culturais. Ele é o mesmo de sempre. Nunca deixou de o ser, nunca se converteu num outro.
E Constança Cunha e Sá foi a medianeira dessa terrível demonstração.
APOSTILA - Dilecto: para ajudar a perceber o mundo em que vivemos sugiro-lhe um admirável estudo, editado pela Campo das Letras: «A Santa Aliança - Cinco Séculos de Espionagem do Vaticano», de Eric Frattini, jornalista peruano, que procedeu a uma minuciosa investigação sobre os caminhos secretos da Santa Sé. Elucidativo e perturbador, como todos os grandes livros.