Será que sou a única pessoa aqui a fazer a distinção entre nacionalismo e patriotismo?
Nacionalismo=mau
Patriotismo=bom
YOSY -> A questão é bastante mais complexa que isso.
As Nações normalmente respeitam a um povo. Ou seja, uma nação é normalmente delimitada pelo lugar em que um determinado grupo de pessoas, que se definem e distinguem por caracteristicas diversas, desde étnicas, religiosas, linguisticas e até (pode parecer ridiculo) culinarias.
Portanto, o Nacionalismo, é a defesa, promoção ou imposição da maneira de ser e de ver o mundo e a sociedade, por parte dessa nação.
Com a renascença (no caso da França) e especialmente com as unificações europeias, desde a Espanha no século XVIII até à Alemanha no século XX, criou-se a ideia de Pátria. A Pátria, ao contrário da nação, não é delimitada pelo lugar onde está um povo, mas sim pelas fronteiras politicas de um Estado. Esse “Estado” pode ser multi-nacional. Qualquer dos grandes países da Europa, a Polónia, Alemanha, Itália, Espanha, França e Reino Unido, são misturas de vários povos (Nações), aos quais se deu um Estado.
A esse Estado, chamou-se “Pátria”. A Pátria, é um conceito geográfico e não étnico, e por isso ouvimos falar de “Mãe Pátria”, “Terra Mãe” e por aí fora. Ou seja, deixou de ser tão importante o povo, para passar a dar-se importância à terra que o Estado ocupa.
As ditaduras, como a Nazi e a Fascista na Alemanha na Italia e em Espanha, apelavam ao nacionalismo, (Partido Nacional Socialista na Alemanha ou “Bando Nacional” como se auto-intitulavam os nazistas em Espanha) mas na realidade, aquilo a que apelavam era para um sentido patriótico. Nenhum destes países foi alguma vez uma Nação, porque uma Nação não pode incluir outras. O conceito de Nação é “exclusivo”. A Nação existe exactamente porque se pode distinguir, e a sua mistura com outras nações, implicaria a perda das características que caracterizam uma Nação, seja ela qual for.
Portanto, todos os maiores países da Europa, são Pátrias constituídas por Nações.
O que é que Portugal tem a ver com isto tudo?Muito.
Porque Portugal, como outras nações mais pequenas, está numa situação diferente. A Nação, já existia muito antes da existência de Portugal como Estado. No entanto, com a criação do Estado, deu-se forma à Nação (embora muitos achem que a Nação não esteve completa em 1143). Mas a Nação foi criada e cedo delimitou as suas fronteiras, pelo que, embora o conceito de Estado e de Pátria que lhe está agregado, só tenha aparecido séculos mais tarde, a verdade é que a Nação Portuguesa era já a Pátria Portuguesa.
Portanto, o conceito de Nação e de Pátria em Portugal, confundem-se, porque os limites territoriais do Estado que gere a Pátria, são os mesmos que correspondem ao lugar que delimita um povo e a Nação que esse povo constitui, ou seja a Nação Portuguesa, corresponde à Pátria Portuguesa.
Logo de aqui se extrapola, que num Estado-Nação, Pátria e Nação são a mesma coisa, e que portanto, não é possível separar Patriotismo de Nacionalismo.
O “Amor pela Pátria” será o “Amor” pela terra que é a que nos pertence e à qual pertencemos, e o “Amor pela Nação” será pelo povo e pelas suas características, raízes, língua, costumes e tradições.
Desde 25 de Abril de 1974, e decorrendo da ligação e colagem que o anterior regime fez ao “Amor à Pátria” estes conceitos passaram a ter uma conotação negativa, e muitos políticos continuam a ter medo de apelar ao patriotismo ou ao nacionalismo com medo de colagens negativas.
A razão tem a ver com o facto de, até 1974, Portugal ser uma Pátria para muita gente que não fazia parte da “Nação Portuguesa”, como era o caso das então Províncias Ultramarinas. Em alguns lugares de África e em Timor, havia um incipiente Patriotismo, em que, os nacionais das nações Africanas e de Timor, se consideravam parte da Pátria Portuguesa, embora não fizessem parte da Nação Portuguesa.
Ao mesmo tempo, os movimentos de extremistas, colam-se aos conceitos de patriotismo e nacionalismo, acabando por prejudicar esses mesmos conceitos.
Acabamos todos reféns quer das acções dos governos anteriores ao 25 de Abril, quer dos movimentos extremistas, que a única coisa que fazem é prejudicar a imagem do Nacionalismo, que deve por natureza ser saudável, porque é necessário para garantir a nossa sobrevivência como Nação e naturalmente como Estado.
Cumprimentos