Contributo de Portugal passa por garantir que Atlântico “continua a ser um lago da NATO” — CEMA
O Chefe do Estado-Maior da Armada considera que o contributo de Portugal para a Aliança passa por garantir que o Oceano Atlântico "continua a ser um lago da NATO", nomeadamente no combate a submarinos "de outras potências"
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https://visao.sapo.pt/atualidade/politica/2022-06-25-contributo-de-portugal-passa-por-garantir-que-atlantico-continua-a-ser-um-lago-da-nato-cema/m entrevista à agência Lusa, a propósito da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os oceanos, que se realiza em Lisboa, entre 27 de junho e 01 de julho, o almirante Gouveia e Melo começou por desvalorizar o impacto no calendário da recente recusa do Tribunal de Contas ao visto prévio ao contrato entre o Governo e a IdD-Portugal Defence para a gestão do programa de aquisição de seis navios de patrulha oceânicos.
“Em termos de longo prazo vai afetar pouco. No curto prazo pode ter um atraso de dois a três meses no projeto mas que depois pode ser recuperado. Convém é que as coisas arranquem bem e o Estado tem que encontrar a melhor maneira de fazer esse investimento. O investimento já foi decidido que vai ser feito, portanto, a Marinha não está ansiosa relativamente a isso porque é uma questão de tempo”, respondeu.
Este tipo de plataformas, explicou, é importante para Portugal devido ao “grande espaço para vigiar e controlar” que o país tem, sendo que atualmente a Marinha tem poucos navios oceânicos e dois deles “têm que ser abatidos”.
“Por outro lado, dentro do conceito NATO, porque nós também somos militares, o nosso grande papel é garantir que o Atlântico continua a ser um lago da NATO, no que respeita ao movimento estratégico de apoio entre as duas partes do oceano, quer da Europa aos EUA, quer dos EUA à Europa”, salientou.
Segundo o almirante Gouveia e Melo, a Aliança Atlântica tem superioridade no que toca a navios de superfície e aeronaves mas é importante desenvolver a capacidade antissubmarina.
“Pela sua capacidade de operarem de forma discreta e não serem detetados, submarinos de outras potências podem vir a ocupar o Atlântico norte e impedir esses movimentos logísticos. Portanto, o grande contributo que Portugal tem, com os Açores, com a Madeira, com a sua posição, é combater e estar preparado para ajudar no combate aos submarinos”, afirmou.
Questionado sobre o que espera ao nível das verbas para a Defesa no próximo Orçamento do Estado, tendo em conta a guerra na Ucrânia e os compromissos internacionais, nomeadamente com a NATO, Gouveia e Melo espera apenas que Portugal seja “coerente entre o que são as suas estratégias” e os recursos atribuídos para as cumprir.
“Se o Estado português definir estratégias muito ambiciosas e depois não atribuir os recursos, claro que isso terá impacto nas próprias estratégias. Se definir estratégias adequadas aos recursos que tem, nós conseguimos cumprir”, disse.
Realçando que “o mar é a última fronteira” e “tem sido usado essencialmente como elemento de trânsito”, Gouveia e Melo acredita, no entanto, que “com as primeiras plataformas petrolíferas e outros desenvolvimentos que estão a aparecer e que a tecnologia permite” será possível ter seres humanos a viver de forma permanente no mar.
“Tenho a certeza absoluta que neste século vamos ter colónias de mar, seres humanos a viver permanentemente no mar, cidades no mar, o que vai mudar a geografia humana, o que vai mudar as relações humanas”, sustentou.
Neste contexto, “Portugal sendo um pequeno país no sudoeste do continente europeu, afastado dos principais centros económicos e industriais, numa Europa que se está a estender a leste, tem que olhar para o seu enquadramento estratégico e perceber qual é o seu papel no mundo e como pode prosperar nesse enquadramento geográfico e histórico”.
“Temos que nos preocupar com o Atlântico. Ligando-nos à principal potência marítima neste momento que é os Estados Unidos da América, mas também ao Brasil, países de expressão portuguesa em África, mas essencialmente ligando a uma economia baseada no mar”, disse.
Interrogado sobre se a Armada tem meios para conseguir cumprir os seus compromissos internacionais com a Aliança no contexto atual, Gouveia e Melo respondeu que a Marinha nunca falhou “o cardápio de necessidades da NATO” e está “a fazer tudo para nao falhar eventuais necessidades mais urgentes ou mais prementes no futuro”.
“Claro que nada é perfeito, os recursos sao sempre escassos (…) a nossa obrigaçao é com os recursos que temos, ser o mais eficientes possível”, disse.
A Conferência das Nações Unidas sobre os oceanos vai realizar-se em Lisboa, com o apoio dos governos de Portugal e do Quénia, e contará com a presença de chefes de Estado e de governo de todos os continentes.
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