Eu não defendo a não existência de aeronaves de combate, apenas que para a nossa realidade, gastar 5.5 mil milhões num avião que pode estar obsoleto quando chegar e que nem sequer sabemos se podemos utilizar e onde, é suicidio.
Eu estou a pensar em termos de defesa integrada da Europa e não em termos de defesa das nossa ZEE, que é demasiado grande para a nossa capacidade financeira.
Nós não temos nenhum tipo de sistemas de mísseis para defesa anti-aérea. Não temos baterias moveis de misseis anti-navio com base em terra, não temos nada disso e tudo isso reduziria a possibilidade de sucesso de uma força inimiga.
Sem apoio adicional de outros países, nunca teremos capacidade para defender sozinhos essa área do Atlantico. Não há volta a dar à questão.
Portugal tem duas hipóteses:
Ou o país tem relevância em alguma coisa e cria alguma capacidade militar de relevância minima para poder servir a defesa colectiva da Europa, aceitando que tem que ter setores em que vai depender de outros.
Ou então cria nucleozinhos pequeninos com um pouquinho de tudo, dando a impressão de que pode fazer tudo sozinho e será irrelevante em absolutamente tudo o que disser respeito à Europa e não vai contar para nada em lado nenhum.
A opção é simples ...
Existem países mais pequenos e/ou mais pobres que nós, capazes de edificar uma capacidade defensiva interessante. Esta retórica de que é impossível para nós fazermos, é completamente descabida. Basta atingir os 2% do PIB anualmente em Defesa, e é possível ter muito boas capacidades, principalmente se reedificarmos uma indústria de defesa minimamente credível.
Existem meios que permitem atingir um patamar militar interessante, com
relativamente pouco investimento. O F-35 é um desses meios, pois apresenta custos unitários idênticos a qualquer caça de geração 4.5 novo, com vantagens claras em termos tecnológicos e enquanto multiplicador de força.
Umas FA com 5/6 fragatas, 4 SSK, 24 F-35, UCAVs/Loyal Wingman e 4/5 P-8, juntamente com baterias AA decentes, não tinham relevância? Estamos a enganar quem? O investimento parece muito, mas só é muito porque nós empurrámos a maioria destes programas para a década de 30, ao invés de os espalhar no tempo.
O avião planeado a ficar em serviço até 2088 vai ficar obsoleto quando chegar a Portugal
E só em Portugal é sabemos isto, os 20 que o compraram coitados, não têm noção
Obviamente que não vai ficar obsoleto. Antes do F-35 ficar obsoleto "por causa dos drones" e outras coisas todas, N outros sistemas ficarão obsoletos. Pensar num pseudo-risco de obsolescência do F-35, mas ignorar o risco, bem mais realista, que diversos tipos de meios terrestres enfrentam (nomeadamente artilharia), é no mínimo cómico.
O risco de se gastar muito dinheiro num sistema, é adjacente a qualquer meio militar. Compete-nos a nós tentar depois usá-lo da melhor maneira. Basta ver os nossos F-16. Israel usou F-16 com mísseis balísticos (duas tecnologias velhas e "obsoletas" para alguns) para atacar alvos no Irão, com um bom grau de sucesso. O Irão usou centenas de drones (a tecnologia de ponta e disruptiva) e a sua taxa de sucesso foi patética, tendo que recorrer aos velhos mísseis balísticos para ter alguma coisa parecida com sucesso.
O tema "obsolescência" tem que ser sempre tratado com cuidado, pois não há armas milagrosas.
Não diria obsoletas.
Diria antes que, tal como mencionas, há que repensar o papel de certas plataformas em determinados cenários.
Há que aceitar que a realidade do combate contemporâneo é muito diferente do que era há uns 25/30 anos e, no caso em concreto desta guerra na Ucrânia, perceber que tem especificidades muito próprias. E lições generalistas que até um cego consegue ver.
Há que... evoluir, algo que já se sabia que ia ter que acontecer mais tarde ou mais cedo. Uma das ilações da guerra, é que sem verdadeira capacidade de supressão de defesas AA adversárias, tudo fica mais complicado. Milhões de drones empregues, e mesmo assim não há meio de nenhum dos lados conseguir anular a capacidade AA adversária. É muita fruta, e estamos a falar de uma fase em que nenhum país está verdadeiramente preparado para enfrentar a dita ameaça. Quando cada vez mais países estiverem preparados para ela, como será?
Em contraste, os F-35 "obsoletos", juntamente com F-16 "obsoletos", com armamento "obsoleto" tipo mísseis de cruzeiro, balísticos e anti-radiação, mais bombas planadoras, teriam um impacto muito maior na supressão de defesas AA do adversário.
No conflito da Ucrania, estamos a ver o desaparecimento dos tanques ou de formações compactas de tanques, estamos a ver novas realidades no campo de batalha.
Normal. O mesmo aconteceria num conflito em que um país atingisse superioridade aérea, o outro deixaria de poder usar divisões blindadas com total liberdade. A diferença, é que os drones oferecem uma alternativa para ameaçar tanques, num contexto em que nenhum dos lados consegue a dita superioridade aérea.
A solução não é acabar com os blindados, e malta que vá a pé, a solução é reforçar a componente AA/C-UAS, para aumentar a sobrevivabilidade das forças em terra.
Estamos a ver um país sem navios a colocar fora de acção uma marinha de guerra de primeiro nível.
Num contexto muito particular, não esquecer. Fazê-lo num mar fechado é muito diferente de o fazer num oceano. E a Marinha russa, como sabemos, não é propriamente a melhor preparada para enfrentar ameaças modernas. As defesas aéreas ucranianas tiveram um papel crucial nisto, pois impedem que a aviação russa consiga localizar e retaliar contra os lançadores de mísseis e locais de lançamento de drones aquáticos.
Estamos a ver a guerra no ar a ser disputada por mísseis, misseis anti-míssil, drones e misseis e sistemas anti-drone.
E por aviões que lançam mísseis, que interceptam mísseis, que interceptam drones... Agora imaginem um país com acesso a um caça furtivo, e sem restrições no armamento a que tem acesso.
Se a FAP tivesse hoje F35, plenamente operacionais, mandava-os para participar numa força de manutenção de paz na Ukrânia?
Quantos?
Seria para operarem em Beast Mode como aqui se diz?
Mandava mais depressa STs.
Isso é fazer futurologia ...
Se a FAP tivesse F-35 provavelmente estariam nos Estados Bálticos, em vez dos F-16A
Os Super Tucano nunca teriam qualquer papel nesse tipo de cenário, a não ser que fosse para os russos fazerem tiro ao alvo.
No BAP, deveriam estar nos Estados Bálticos em tempo de paz. Em tempo de guerra, não faz sentido ter caças de 5ª geração tão perto da linha da frente, ficando ao alcance de tudo o que é artilharia, bombas planadoras, mísseis de cruzeiro, balísticos e drones.
O mais provável era serem colocados na Polónia, Alemanha, Roménia, etc, usando a distância para sua protecção.
Os ST são, claro, uma absurdidade para um TO daqueles. Mais depressa utilizariam helicópteros armados/de ataque, que podem operar a partir de um qualquer descampado, ou UCAVs pequenos, tipo Bayraktar, que só precisam de uma pequena estrada para aterrar e descolar, e são mais fáceis de esconder numa garagem qualquer.
Pois ... O problema é que neste momento tudo está em causa. E de todas as possíveis compras, aquela que aparenta ter mais buracos na argumentação em sua defesa é exatamente o F-35.
De todas as possíveis compras, é de longe a que tem argumentação mais favorável, face aos ganhos estratégicos que oferece. A única questão é somente o custo.
Consigo pensar em N sistemas que estão planeados/foram adquiridos que têm muito menos relevância: ST, AORs (para uma Marinha sem escoltas), possível LPD, PNM, bolas de golfe, etc.
Relativamente ao F-35, repito o que já digo há algum tempo.
Por um preço similar, prefiro os nossos F-16 com upgrade para block 70/72 E com misseis/munição moderna e em quantidade suficiente. Se é para comprar só o airframe do F-35 mais vale estar quieto.
Pelos aclamados 5500M, para o número de aeronaves tipicamente apontado, a compra já incluiria algum armamento.
De qualquer das formas, nós precisamos de adquirir armamento rapidamente, não esperar 10 anos até que viesse o primeiro F-35 para o fazer. Ao comprar armamento com antecedência (que já devia estar a ser feito), que seja compatível tanto para F-16 como F-35, deixa de haver a questão de "F-35 desarmados".
Neste momento, o que temos que fazer, independentemente do debate do F-35,
é modernizar os F-16 PA I, e adquirir o armamento necessário para os manter relevantes e eficazes enquanto os utilizarmos. Isto devia começar já este ano, com o reforço dos stocks de armamento já existente, mas também a compra de armamento novo, incluindo tipos de armamento que seriam novidade para nós.
O resto do debate, serve para encher chouriços e desviar as atenções daquilo que importa a nível da operacionalidade a curto prazo.