Os amigos de Moscovo nas estações de televisão
Há três comentadores que se destacam pelo enviesamento pró Irão, Rússia e China: o general Carlos Branco, o general Agostinho Costa e o professor Tiago André Lopes.
21 ago. 2024, 00:18
Desde a invasão da Ucrânia, a União Europeia proibiu os meios de comunicação russos, incluindo RT, Sputnik, RIA Novosti, Voice of Europe, de publicar ou transmitir dentro do espaço comunitário. Todavia isso não impediu que os artigos de “opinião” e “notícias” veiculados por esses órgãos de propaganda de Moscovo, circulassem, traduzidos ou adaptados, em inúmeros sites disponíveis à distância de um click, ou em espaços mediáticos mais sérios, por indivíduos e organizações de algum modo ligados à Rússia, por simpatia ideológica, por hostilidade partilhada para com o Ocidente, ou por outras razões mais prosaicas ligadas ao auri sacra fames de todos os tempos e lugares.
As narrativas russas assim despejadas sobre os cidadãos de outros países, procuram criar desconfianças sobre a informação aberta das democracias, exacerbar divisões e, no caso das guerras em curso, desacreditar a Ucrânia, a OTAN, os EUA, as democracias, e amplificar as vozes que, por esta ou aquela razão, se opõem à ajuda à Ucrânia e ao apoio à OTAN.
Sobre o que se passa no Médio Oriente e na Ucrânia, a CNN Portugal e a SIC Notícias dão tempo de antena a vários especialistas militares, de relações internacionais, estratégia, história, etc.
Embora, como seres humanos, todos tenham as suas próprias visões do mundo e isso acabe por ficar mais ou menos patente nas análises que fazem, a maioria procura equilibrar os comentários, evitando passar mensagens e narrativas tendenciosas.
Há, porém, três que marcam a diferença. Não pelo brilhantismo das intervenções, muito menos pelo equilíbrio, mas exactamente pelo oposto: aquilo que parecer ser o descarado enviesamento em favor dos inimigos das democracias, como o Irão, Rússia, China, e outros.
Trata-se do general Carlos Branco, do general Agostinho Costa e do professor Tiago André Lopes.
Os estilos são diferentes, uns mais sibilinos que outros, mas todos eles convergem na notória hostilidade ao Ocidente, particularmente aos EUA e a Israel, que apenas lhes suscitam críticas, adjectivos tremendos, condenações, reprovações, sarcasmos e ironias
E, por simetria, todos, quando chamados a comentar, introduzem, com mais ou menos subtileza, expressões de compreensão, simpatia e até admiração pelos inimigos deste mesmo Ocidente, do qual, no fim de tudo, fazem parte.
Nesse aspecto nada diferem do sectarismo do PCP e de outros grupos e partidos que parecem nadar no mesmo caldo.
Se o fazem por ideologia, por ressentimento ou por outras razões quaisquer, é algo que está aberto à investigação de quem o quiser fazer, mas o facto de serem abertamente tendenciosos, é iniludível.
Se parece pato, soa como um pato, age como um pato….é pato!
Os exemplos disso são abundantes, basta ler ou ouvir as suas intervenções mediáticas para imediatamente descobrir o gato mal escondido, com o rabo ostensivamente de fora.
Por exemplo, sobre a recente incursão de forças ucranianas na região russa de Kursk, o general Branco, em 08 de Agosto, dois dias depois de a operação começar, não hesitou em classificá-la como “kamikaze”, dizendo que a Ucrânia estava a “rapar o tacho” e a jogar a última cartada. A táctica aqui é a do sarcasmo e da desacreditação.
russa, segundo a qual tudo isto era um engodo dos russos, uma maskirovka. Que ele não compartilhava, fez questão de ressalvar, depois de a ter lançado para a mesa, como aquele comensal que entra no restaurante e pergunta em voz alta se desta vez a sopa não tem moscas. E citou a TASS, claro, essa credível agência de “notícias” que, em tandem com a PRAVDA, fazia as delícias dos crentes, nos saudosos tempos soviéticos.
Apocalíptico, garantiu mesmo que a Ucrânia sacrificou território no Donbass para ter “momentos tik-tok”, como precisou em 15 de Agosto, também na CNN. Descredibilizar, fazer sarcasmo, desvalorizar, são técnicas consagradas da propaganda russa, e o general Branco parece saber bem disso desde os seus tempos áureos na União dos Estudantes Comunistas.
Porquê? Porque, nas palavras do general, os ucranianos “ainda têm alguma iniciativa”, apesar de ele mesmo, do alto da sua qualidade de “especialista” ter, duas semanas antes, garantido que não, adiantando mesmo que estavam a ser “apanhados à mão”. Já as pontes não tinham qualquer importância estratégica, afiançou. De que estratégia fala o general, só ele saberá.
Onde o general claramente se indignou foi quando referiu, com firmeza, as notícias (de quem?), de que as forças ucranianas estavam a levar civis russos para a Ucrânia. Era algo da “maior gravidade” e uma clara “violação do Direito Internacional”, comentou.
O que não se entende, é onde andou a indignação do “especialista militar”, ao longo destes anos de guerra, nos quais a Rússia não fez outra coisa senão violar todas as normas do Direito Internacional, a começar pela invasão de um país soberano, passando pela decapitação de prisioneiros, tortura de militares e civis, limpeza étnica, ataques a hospitais, sequestro de crianças, massacres e outras malfeitorias.
Por que razão os jornalistas da CNN Portugal e da SIC Notícias não questionam as proclamações destes “especialistas” e lhes permitem pontificar sem contraditório?
https://observador.pt/opiniao/os-amigos-de-moscovo-nas-estacoes-de-televisao/