Não pensei nisso!! É um excelente ponto, bem observado!! Embora considere que devemos ter capacidade para as armas ligeiras, também não acho que munições de artilharia fosse exequível, pelo menos a médio prazo, mas essa dos drones é um campo onde nós, em Portugal, podemos dar cartas e onde já temos alguma expertise. Para mais, pode criar cadeias de produção de valor acrescentado, coisa que temos extrema falta em Portugal.
Drones garantem recorde nas exportações para a Ucrânia
A portuguesa Tekever fabrica aeronaves não tripuladas nas Caldas da RainhaD.R.Portugal sempre foi um grande cliente dos cereais ucranianos. Agora tornou-se um fornecedor de drones a Kiev: só em 2023 foram €20 milhões, quase um terço do total exportado22 FEVEREIRO 2024
Pedro Carreira Garcia
Jornalista
As exportações de Portugal para a Ucrânia dispararam em 2023. Nunca antes fora alcançado um montante tão alto na venda de bens e serviços para o país do Leste europeu. Face a 2022, o ano do início da guerra, quase duplicaram em montante, alcançando valores superiores a €60 milhões. Esta evolução deveu-se exclusivamente a uma linha muito específica de equipamentos: a venda a Kiev de aeronaves não tripuladas, vulgo drones.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) consultados pelo Expresso, as empresas portuguesas venderam à Ucrânia, no ano passado, €20 milhões em drones, quase um terço do montante total de exportações do ano passado: €66 milhões.
Este foi o segundo ano consecutivo em que Portugal vendeu drones para a Ucrânia. Em 2022, o país já tinha exportado €4 milhões na categoria de aeronaves não tripuladas a clientes ucranianos. As exportações de bens aeronáuticos eram, antes do primeiro ano da guerra, residuais, incidindo apenas na venda de componentes e alcançando, pontualmente e no máximo, as dezenas de milhares de euros por ano.
Tekever confirma que tem colaborado com a Ucrânia desde a primavera de 2022Esta é uma mudança relevante, ainda que mal perturbe a extremamente desequilibrada balança comercial entre os dois países. As importações portuguesas da Ucrânia atingiram os €362 milhões em 2023, o máximo de sempre, na sua maioria cereais e sementes. Já nas exportações, até 2022, estas consistiam maioritariamente em cortiça e componentes eletrónicos, com o papel e pasta de papel e as bebidas a ganharem peso nos últimos anos. Até à chegada dos drones.
Os dados consultados pelo Expresso chegam a dar detalhes relativos ao tipo de drones vendidos à Ucrânia. Em 2022 venderam-se apenas equipamentos com peso máximo de descolagem (o peso definido pelo fabricante como limite para a descolagem do aparelho, tendo em conta os seus limites estruturais) entre os 150 e os 2000 quilos, correspondendo, grosso modo, a drones de média e grande dimensão, fabricados para uso militar, segundo a tabela classificativa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Em 2023 foram exportados outros modelos (nomeadamente com pesos máximos de descolagem entre os 7 e os 25 quilos e os 25 e os 150 quilos), mas os modelos de maior dimensão representaram a maioria do montante exportado, que foi à volta dos €7,5 milhões.
UMA ÚNICA EMPRESADe acordo com fontes ouvidas pelo Expresso, a esmagadora maioria destes montantes deverá ser atribuída à atividade da Tekever, empresa do sector aeronáutico, especializada em aparelhos voadores não tripulados. Fonte oficial da Tekever, contactada pelo Expresso, não quis fazer quaisquer comentários aos números.
“Por razões de segurança temos de ser muito criteriosos na informação que expomos ao mercado”, disse a Tekever, em resposta às questões colocadas pelo Expresso. No entanto, a empresa não esconde que a Ucrânia é um dos seus mercados. “A Tekever tem colaborado com as forças ucranianas desde a primavera de 2022, fornecendo tecnologia não tripulada, operada no terreno por diferentes forças ucranianas em missões de reconhecimento e vigilância de longo alcance”, afirma.
Drones garantem recorde nas exportações para a UcrâniaSegundo a fonte oficial da Tekever, Portugal está a exportar estes aparelhos para a Ucrânia através de “organizações governamentais e coligações internacionais, de que é exemplo o Fundo Internacional para a Ucrânia”, um fundo criado pelo Reino Unido, em parceria com outros países, que visa a aquisição de material militar para apoiar o esforço de guerra de Kiev.
A empresa diz que a atividade não termina no fabrico, estando a acompanhar o uso destes aparelhos no local. “Desde o início desta colaboração já realizámos e implementámos no terreno mais de 100 alterações, num esforço que envolve as nossas equipas de investigação e desenvolvimento, produto e operações e abrange um enorme espectro tecnológico”, explica a Tekever.
Os drones fabricados pela empresa sediada nas Caldas da Rainha servem principalmente para reconhecimento e vigilância, destacando-se o modelo AR5, o maior da gama da Tekever, já usado para o patrulhamento do Canal da Mancha pelo Reino Unido.
Segundo fonte ouvida pelo Expresso conhecedora do tema, o papel da Tekever no apoio à defesa ucraniana tem sido crescentemente valorizado no Ocidente. No último trimestre de 2023, representantes da Tekever acompanharam elementos do Governo português numa visita à Ucrânia. Também no final do ano passado, a Tekever esteve num encontro de indústrias de países aliados na sede da NATO, em Bruxelas, na qual se desafiaram os presentes a apresentar os seus contributos individuais para o esforço militar de Kiev, tendo sido a única empresa ibérica a ser convidada.
NÚMEROS66 milhões de euros foi quanto Portugal exportou para a Ucrânia em 2023, face a €34 milhões em 2022
20 milhões de euros foi o valor das exportações de drones para a Ucrânia no ano passado; em 2022 tinham sido €4 milhões
362 milhões de euros foi quanto Portugal importou da Ucrânia em 2023, um novo recorde, concentrado nas compras de cereais e sementes
https://expresso.pt/economia/2024-02-22-Drones-garantem-recorde-nas-exportacoes-para-a-Ucrania-d32d62bf