Pensa assim: quem é que vai para os Comandos? A maioria atualmente é recrutada junto da favelandia que se encontra na periferia do Regimento, não são meninos de Cascais, são na sua indivíduos provenientes da pobreza e já habituados a viver junto do crime onde este é a norma, num país com mão leve sobre o delinquente, com baixos níveis de estudo. Ora já vão com visão distorcida da sociedade, levam uma injecção de agressividade inerente às funções e voltam às suas casas. Quando o tempo de serviço termina que lhes resta? Não podem simplesmente desligar a ficha da agressividade ou esperar que de um momento para o outro queiram estudar se nunca estudaram e a vida lhes corre bem junto do crime.
Achas mesmo que esta gente vai querer ter um trabalho numa caixa de supermercado a ser explorado ou sentado num escritório? Logicamente vai usar as suas capacidades naquilo que sabe, ora concorre às policias e com sorte até assenta ora mete-se na segurança ilegal. Um número não determinado deles que não se comenta publicamente vai para mercenário cometer crimes contra a humanidade, mas como é tabu não se fala.
Tem que se meter uma coisa na cabeça: quem vai para uma tropa especial tem que fazer parte de um quadro de praças e ir subindo ou transferido para unidades diferentes à medida que vai envelhecendo e acalmando. O subir não significa que seja por anos de serviço, deve haver uma seleção, mas sobretudo oportunidade de quem entrou por baixo começar por ter direito a submeter-se a provas para subir na vida. Para muitos destes a entrada numa força militar era a escapatória ao estilo de vida que tinham, infelizmente tornou-se numa melhoria das suas skills no mundo do crime.
Não foram os gangues que se infiltraram nas forças armadas, foram as forças armadas que deixaram de ter controlo de qualidade em nome de manter quintais.
Não discordo do que estás a dizer no geral, tirando um ponto e, tal como dizes no final, as FA deixaram de controlar quem aparece para entrar.
No meu curso CFG-FZ havia de tudo vindo dos locais mais manhosos do nosso Portugal da altura. Manhosos e fura-vidas vindos do Casal Ventoso (quando aquilo era um gueto com a malta esticada na colina toda mamada), Pedreira do Húngaros, Musgueira, Bairro do Cerco, Boavista, etc, etc, mais alguns "campónios vindos da terrinha", esses endurecidos pelo trabalho logo desde a escola primária.
O que se passava era que numa selecção de cerca de 40 voluntários por dia durante quase um mês no CRA, ficamos seleccionados cerca de 400 para a Curso (dos 40 que foram a testes comigo entramos 3) e depois durante a recruta e curso fomos sendo seleccionados até acabarmos cerca de 110.
Essa selecção durante o Curso não tinha a ver só com as capacidades físicas ou aptidões militares em si. Tinha bastante a ver com aquilo que cada um era na realidade e posso afirmar que a maioria dos que foram excluídos durante a formação foi justamente por falta de "perfil" para se tornarem Fuzileiros, apesar de terem bons desempenhos nas provas físicas, exames escritos ou nos diversos exercícios de mato.
Não só havia um criteriosa selecção antes de entrares, como durante a formação a selecção era apertada. Instructores eram todos homens batidos, com grande experiencia que topavam à légua uma "má rês", tratando logo ali de a correr para fora. Claro que passava um ou outro mas era residual e creio que nas outras forças especiais não era diferente.
A esmagadora maioria cumpriu o seu serviço e foi à sua vida, são soldadores, mergulhadores, padeiros, condutores, professores, etc. Uns montaram empresas e são, hoje em dia pessoas de carreira consolidada. Uns poucos caíram em vidas mais complicadas, fruto de diversos factores e um ou outro tem problemas com a justiça mas nada fora do normal de uma amostra da sociedade.
O que verifiquei nos meus últimos anos no activo foi uma degradação enorme nos padrões de selecção, na qualidade da massa humana que terminava os cursos e, para mim o pior de tudo e a mãe de toda a jorda que agora esta a acontecer, um colapso da disciplina. Simplesmente a estrutura de comando deixou de se ralar, passou a ser permitido comportamento que nem numa empresa civil é tolerado. Os "meninos" não podem ser admoestados porque senão vão-se embora e não renovam os contractos....... Quando se quebra a disciplina férrea, quebra-se tudo e as FA e FS passaram a ser depósito de pessoal que pouco mais é que falhados na vida civil.
Não considero é que seja necessário um quadro para a malta das FE. Simplesmente não há estrutura para acomodar isso nem sequer estou a ver algum exército que o faça. Haver que possa ficar no quadro por reconhecidas competências e valor, de acordo, agora quadro para FE's só porque é FE?......