Creio que vem a propósito dos tempos que correm...
"Comecei a ver sob outra luz as opiniões liberais desses periódicos. O tom de distinção das réplicas aos ataques, assim como o seu completo silêncio em certos assuntos, revelavam-se agora
como truques inteligentes e vis."
(...)
Dificilmente eu podia compreender como homens que, tomados isoladamente, possuem visão racional das coisas, perdem-na de repente, logo que se põem em contato com as massa. Era
motivo para duvidar de seus propósitos. Quando, depois de discussões que duravam horas inteiras, eu me tinha convencido de haver afinal esclarecido um erro e já exultava com a vitória, acontecia que, com pesar meu, no dia seguinte, tinha de recomeçar o trabalho, pois tudo tinha sido debalde. Como um pêndulo em movimento, que sempre volta para as mesmas posições, assim acontecia com os erros combatidos, cuja reaparição era sempre fatal.
Assim pude compreender:
1.° que eles não estavam satisfeitos com a sorte que tão áspera lhes era;
2.° que odiavam os empregadores que lhes pareciam os responsáveis por essa situação;
3.° que injuriavam as autoridades que lhes pareciam indiferentes ante a sua deplorável situação;
4.° que faziam demonstrações nas ruas sobre a questão dos preços dos gêneros de primeira necessidade.
Tudo isso podia-se ainda compreender, pondo-se a razão de lado. O que, porém, era incompreensível era o ódio sem limites à sua própria nação, o achincalhamento das suas grandezas, a profanação da sua história, o enlameamento dos seus grandes homens.
Essa revolta contra a sua própria espécie, contra a sua própria casa, contra o seu próprio torrão natal, era sem sentido, inconcebível e contra a natureza.
Durante dias, no máximo semanas, conseguia-se livrá-los desse erro. Quando, mais tarde, encontrávamos o pretenso convertido, já os antigos erros de novo se haviam apoderado de seu
espírito. A monstruosidade tinha tomado posse de sua vítima.
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