O processo que estudou a possibilidade de aquisição do navio francês da classe Foudre, começou há mais de dez anos e só foi completado em 2015 quando definitivamente se concluiu que não se compraria.
A verdade, é que os maiores e mais eficientes helicópteros da força aérea não podiam operar de forma eficiente a partir do navio.
Isto são os factos, o resto é pouco mais que treta...
Se Portugal tivesse comprado o LPD francês, não faltariam as criticas e o pessoal a "rasgar las vestiduras" e a chamar os oficiais da marinha de burros incompetentes, corruptos e tudo o mais, porque compraram um navio porta-helicópteros que não pode utilizar os helicópteros disponíveis.
Ou então teriamos que esperar dez anos até haver dinheiro para comprar outros helicópteros e deixar o navio a apodrecer no Alfeite.
Acho que era mais realista transferir o navio para a barragem de Castelo de Bode, para operar como base para helicópteros

O Siroco era uma compra de oportunidade, como seriam muitas outras ao longo dos tempos, e pegou-se num critério muito específico para negar esta possibilidade. No fim, sabemos que o principal motivo não era a incapacidade de operar os Merlin (que até os podia operar, não aguentava é caso um heli daquele peso se despenhasse contra o navio, ou algo parecido), mas sim o forte lobby de construir um LPD novo de raiz, e que ainda recentemente se fez sentir.
O Siroco conseguia operar sem Merlin, já que o Merlin seria apenas um meio aéreo, e em que se podiam usar os Lynx, e os Merlin em situações pontuais, podendo o navio desempenhar N outras funções.
Eu pessoalmente não concordo com a vinda do Siroco, porque se Marinha chegou a este estado (com navios sem manutenção durante 10 anos) sem um elefante branco daqueles, imagino como estaria a MGP se ele tivesse vindo. Se calhar tínhamos apenas as 2 BD e uma das VdG operacional, com as outras duas encostadas (como a VdG já está).
Pior disto tudo, é que a conversa do Siroco, serviu para empatar e adiar o MLU das VdG, tanto que na altura se equacionava fazer um MLU a sério a apenas 2, e modernizar 1 delas para um padrão mais reduzido, se viesse o dito navio. No fim, nem uma nem outra, e quase 10 anos depois, ainda se fala num MLU às ditas fragatas, em moldes ainda piores do que estava planeado na altura.
O problema da falta de dinheiro, resulta em compras pequenas e de ocasião, que resultam numa quantidade de linhas de abastecimento e manutenção, que dão sempre problemas.
Comprar um de cada, para termos de tudo, é uma opção muito muito má, num país em que parece que a expressão "economia de escala", parece querer dizer, utilizar a escada e não a escada rolante.
No caso da Marinha isso não se verifica. Não existe uma única classe, sem ser os navios escola, que tenha sido adquirido "um de cada".
Compras de ocasião fazem sentido, se permitirem resolver problemas por um custo de aquisição inferior. Comprar navios novos, de uma tipologia diferente dos já em uso, não vai permitir uniformizar nada, e o problema será o mesmo. Portugal nunca iria comprar uma classe de LPDs para ter "economia de escala".
Agora, o que podia ser feito era olhar a
alternativas ao LPD, mais pequenas e mais baratas. Falámos dos Crossover, que 3/4 deles podiam substituir as VdG e dar uma capacidade anfíbia interessante num navio de combate, podíamos falar, sem complicar a logística. Podíamos falar dos LST modernos, que com 100/120M oferecem uma solução barata para transporte de meios e para operações anfíbias de pequena envergadura. Podíamos falar outros conceitos "fora do normal" com os MPV 120, que oferecem inclusive capacidade de reabastecimento no mar, e portanto a MGP com 2/3 navios desses, teria preenchidas as necessidades de AOR + LPD com uma só classe (mais barata que os JSS modernos).
Se a Marinha quer realmente enveredar por drones, então é encostar qualquer ideia de LPD, e ambicionar por um LHD, nem que seja um Juan Carlos I mais pequeno, que permite a operação de drones a sério.
Não dá é para querer AORs + PNM + LPD.
Grosso modo, em termos de construção naval - e correndo os riscos da generalização - poderiamos dar o exemplo:
- O primeiro navio demora seis meses a construir e custa 80 milhões.
- O segundo navio demora três meses e custa 60 milhões
- O terceiro, constroi-se em um mês e custa 40 milhões
Se queremos construir navios em dois estaleiros, e queremos produzir apenas seis navios, a duplicação da estrutura, implica um custo total de 360 milhões em dez meses.
Se construirmos tudo em apenas um estaleiro, os seis navios ficam por 300 milhões em 13 meses.
30% mais tempo e 17% menos custo.
Quando os navios forem construidos, começamos a ter que pensar nos navios que vão ser construidos nos dois estaleiros, ou como é que nos vamos ver livres dos trabalhadores.
Seria o cúmulo da irracionalidade.
E a falta de racionalidade, as pequenas séries, as compras aos poucochinhos e um de cada, cada um para uma função, constituem realmente um problema, e é generalizado ...
Não existe duplicação de estrutura nenhuma, se os estaleiros já existirem, e continuarem em funcionamento após a conclusão dos NPOs. Existe sim a capacidade de 2 estaleiros nacionais de participar em projectos desta dimensão, sem estar dependente da disponibilidade do único estaleiro actual. A demora de construção entre, não depende só de quantos estaleiros produzem os navios, e de quão rápido o fazem, depende também da disponibilidade em carteira, face à existência de contratos com outros clientes.
Se tivesse havido essa capacidade e inteligência, então desde 2019 (LPM que já contempla os 6 actuais NPOs), tinha dado tempo para modernizar, expandir e formar pessoal do AA, para que este estaleiro fosse capaz de produzir metade dos NPOs. Depois da sua construção, ainda temos mais de meia Marinha com navios por substituir. Seja na construção de fragatas, sejam os NPC/LFC, seja a produção de futuros USVs de média/grande dimensão (só entre estes 3 tipos de navios, estaríamos a falar de umas 23-25 embarcações). Logo nem se coloca a questão de despedimentos, se as coisas forem feitas com pés e cabeça.
Como já vamos tarde para melhorar o Alfeite a tempo de construir NPOs, vamos para o plano B, que passa por modernizá-lo e expandi-lo, já a pensar na construção de patrulhas costeiros e fragatas (nem que neste último caso, se tenha que modernizar como deve ser as VdG para dar tempo ao AA).
Isto são medidas bem melhores, do que andar a produzir material irrelevante, em pequeníssimas séries, como o caso dos ST.