Como um pedreiro português iniciou a revolta dos "coletes amarelos"As manifestações dos "Coletes Amarelos" que estão a rebentar por toda a França preenchem por estes dias a atualidade internacional.
Mas, apesar do mediatismo, exponenciado pela dimensão e violência associadas aos protestos, o movimento criado por automobilistas, operários e agricultores já tem alguns meses. E, no início, teve um empurrãozinho português.
Chama-se Leandro António Nogueira, é pedreiro e ajudou a dinamizar o movimento dos "Coletes amarelos", ao criar o grupo de Facebook "Vous en avez marre? C'est maintenant" ("Está farto? Agora é que é", em português). É um dos primeiros grupos de revolta espontânea que se foram multiplicando em nome de uma reivindicação comum que se somou a outras.
Em janeiro, quando o grupo foi criado, a razão do descontentamento era a diminuição do limite de velocidade nas estradas nacionais, de 90 para 80 quilómetros por hora, que viria a entrar em vigor em julho. Há três semanas, os protestos, que já existiam, ganharam força com o novo imposto sobre os combustíveis que o Governo francês queria impor em janeiro, para financiar a luta contra emissões poluentes, e que, entretanto, se viu obrigado a anular. E agora que o Executivo francês retrocedeu, a luta é contra o empobrecimento e contra as reformas educativas, que levaram três mil estudantes para as ruas de Marselha e Nice. Nada parece desmobilizar os franceses.
O grupo de Leandro, que conta atualmente com 68.775 membros, foi iniciado a 12 de janeiro, com o propósito específico de mobilizar cidadãos contra medidas do Governo francês. "Este grupo pretende manifestar o seu descontentamento perante os governantes e as suas políticas. Sem violência, sem ódio e respeitando cada um. Sejam solidários!!!", apresentava-se, pacificamente, ao mundo virtual. Mais tarde, o emigrante português criou mais grupos, relativos a departamentos franceses específicos, adianta o jornal online "Paris Dépêches".
Segundo a mesma publicação, Leandro Nogueira, que o JN tentou contactar, foi detido no início do ano, tendo sido posteriormente libertado. Reside no departamento francês de Dordogne, na região de Aquitânia, sul de França, e, diz a informação disponível no seu Facebook, que é natural da Póvoa de Varzim.
Quatro pessoas morreram e centenas ficaram feridas desde o início das manifestações em massa, em 17 de novembro. A violência dos protestos tem obrigado a Polícia a atacar os manifestantes com gás lacrimogéneo.
Para a próxima semana, está prevista uma manifestação de agricultores, exigindo a implementação da Lei de Alimentos, que visa regular os preços mínimos e limitar as promoções nos supermercados. As medidas deveriam ter sido apresentadas na quarta-feira, mas foram adiadas para o início de 2019 por causa de "outros assuntos de atualidade", nomeadamente as ações dos "coletes amarelos", justificou o ministro da Agricultura, Didier Guillaume, na quarta-feira.
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