Risco de intensificação da guerra "é elevado", alerta ONU
A conclusão foi apresentada no 13.º relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos sobre a situação nas zonas do leste da Ucrânia, controladas por grupos armados pró-russos.
No período entre 16 de novembro e 15 de dezembro passados foram observadas "contínuas violações do cessar-fogo", de acordo com a missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), citada no relatório.
O texto denuncia "confrontos e tiroteios que aumentaram em alguns pontos, especialmente junto às cidades de Donetsk e Gorlivka, e em outras localidades mais pequenas como Kominternov, Shyrokyn e Zaitsev".
O governo ucraniano continua sem ter um efetivo controlo sobre a maioria das áreas fronteiriças com a Rússia das regiões de Lugansk e Donetsk "o que facilita o tráfico de munições, armas e combatentes a partir da Federação Russa até aos territórios controlados pelos grupos armados". "O risco de que o conflito volte a intensificar-se mantém-se elevado", sublinha o relatório.
No texto indica-se que as armas ligeiras são predominantes no território e as mais usadas nos vários incidentes, mas a missão da OSCE denuncia "a contínua presença de armamento pesado, tanques e sistemas de artilharia dos dois lados".
"Apesar do uso esporádico, os contínuos incidentes de bombardeamentos indiscriminados e a presença de minas antipessoais e outras munições de guerra expõem os civis à contínua ameaça da morte ou de serem feridos", sublinha.
O relatório denuncia ainda que as forças ucranianas estão cada vez mais próximas de zonas residenciais, e os grupos rebeldes completamente misturados com o tecido social existente "o que põe em grave perigo a população".
Durante o período analisado foram contadas 78 vítimas civis relacionadas com a guerra: 21 pessoas (13 mulheres e oito homens) morreram e 57 ficaram feridas (41 homens, oito mulheres, seis rapazes e duas raparigas).
Em conferência de imprensa, Gianni Magazzeni, diretor para a Europa do Alto Comissariado, afirmou que até 01 de março o número total de vítimas desde o início do conflito, em meados de abril de 2014, eleva-se a 30.272, das quais 9.187 mortos e 21.085 feridos.
Além do risco de serem atingidos pelos tanques, os três milhões de pessoas que vivem nas zonas de guerra não podem usufruir dos direitos humanos básicos, apesar da ajuda esporádica que recebem das agências humanitárias, de comboios enviados pela Rússia ou das ações do governo ucraniano.
"Esta ajuda é insuficiente para responder às necessidades de 2,7 milhões de civis que vivem no território sob controlo dos grupos armados e particularmente para as 800 mil pessoas que vivem na proximidade da linha da frente, especialmente vulneráveis", disse.
O relatório denuncia "a ausência de lei e ordem" nos territórios controlados pelos grupos rebeldes, com permanentes acusações de homicídios, detenções arbitrárias e secretas, tortura e maus tratos.
O Alto Comissariado também registou o mesmo tipo de abusos cometidos por funcionários da segurança ucraniana.
"Peço às autoridades ucranianas para que investiguem urgentemente e de forma imparcial todas e cada uma das violações registadas", afirmou, em comunicado, o alto comissário para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al Hussein.
"A determinação da responsabilidade é essencial para levar justiça às vítimas (...) mas é também uma importante forma de dissuadir as autoridades de cometerem mais violações", concluiu.
Lusa