Nuno Rogeiro in JNhttp://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx? ... %20RogeiroEx-peõesA seguir a cada guerra - fria, quente, morna - são despedidos milhares de espiões. Dado que, na maior parte dos países, estas mulheres e homens são funcionário públicos, o problema da sua redundância, inutilidade ou preço excessivo, entronca-se na questão maior dos défices e das poupanças. No Reino Unido, por exemplo, há dezenas de ex-funcionários do MI5 (SS) e do MI6 (SIS), que tiveram de passar a ganhar a vida como consultores, assessores, pequenos empresários. Na África do Sul, o fim da guerra em Angola arruinou muitas agências semiprivadas de "intelligence". Em Israel, na Rússia, na China, a "sociedade civil" está cheia de profissionais de segurança do Estado, que recomeçaram a existência no sector privado.
O que se diz para os serviços secretos pode afirmar-se para as forças armadas e para as polícias. O apaziguamento internacional, a resolução pacífica, ou negociada, dos conflitos, a ultrapassagem de tensões e desequilíbrios internos, tornam muitos guardiães profissionais em pesos desproporcionais.
Nas "secretas", que correspondem a uma visão - aliás adequada - da realidade, baseada no antagonismo de interesses de estados e blocos, o drama é maior, depois do fim do monopólio estatal da informação, e da eclosão tecnológica e cibernauta. A sua actividade, fora dos casos extremos de actividades clandestinas, acaba por ter rivais privados, das agências de detectives aos jornalistas, dos gabinetes de análise aos organismos de investigação criminal.
Por outro lado, há a questão da "produtividade". Se os serviços secretos se baseiam, exclusivamente, na análise da informação "aberta", e se mesmo assim confundem interpretação operacional com repetição narrativa, servem de pouco aos governos.
E se compensam esse défice com informações - também abertas - de fora, ou se equilibram a insuficiência analítica com excessos especulativos, tornam-se também inúteis.
É por isso que tais serviços, quando atingem maturidade, identidade e utilidade, precisam de meios humanos - externos e internos - no terreno, e de meios técnicos capazes de ultrapassar os limites humanos.
Quando o dinheiro acaba, e os serviços ficam sem essas delegações, agências ou operacionais, ou economizam noutro pessoal, ou perdem o sentido.
Daí às demissões vai um passo lógico.
Mas convém evitar o histerismo.