NEM TODOS OS MARXISTAS SÃO IBERISTAS ! OLHEM ESTES !

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NEM TODOS OS MARXISTAS SÃO IBERISTAS ! OLHEM ESTES !
« em: Setembro 26, 2007, 11:21:57 am »
NEM TODOS OS MARXISTAS SÃO IBERISTAS ! OLHEM ESTES !

 REVISTA "TABU", supl. Grat. do SOL, 15-Setembro-2007 (um escritor...)
 Parte da Entrevista do Escritor Comunista (anti-"saramaguista") Urbano Tavares Rodrigues (83 anos, mais de 40 livros publicados)  
     (...)
    P-Está desiludido com o panorama actual?
    Urbano Tavares Rodrigues-Muito. A França tem um aventureiro, ainda por cima capaz de grandes brutalidades e repressão. O Sócrates é contra eleições. Queria a aprovação do Tratado Europeu na Assembleia da República.
    P-Tem um novo livro para ser lançado em Outubro, os Cadernos Secretos do Prior do Crato.
    Urbano Tavares Rodrigues-É uma grande figura dos finais do século XVI, quando Portugal vivia uma crise económica tão grande como a que vive hoje e, ao mesmo tempo, vivia o descalabro causado pela derrota de Alcácer-Quibir. O Prior do Crato, que era filho bastardo do Príncipe D. Luís, concorreu a rei de Portugal e travou com as tropas de Filipe II a Batalha de Alcântara, de que não se fala mas que é das mais heróicas. A cavalaria de Alcácer-Quibir que restava bate-se heroicamente e leva os castelhanos para trás, um exército fabuloso que tinha entrado pelo Alentejo e por Cascais. Acabam por perder, esmagados pelo número e pelas circunstâncias. Mas a vida dele é uma batalha que trava sem cessar. Tem um certo paralelo com o que se passa hoje, em que Portugal está a tornar-se espanhol. O Prior do Crato acusava justamente os traidores de se estarem a vender a Castela. Ele tem todas as dimensões. Era para ser religioso mas recusa jurar castidade, por isso entra em grandes probl
emas com a Igreja. Ao mesmo tempo é um diplomata e acaba por viver na corte de Henrique III em França, onde os seus partidários vão ainda vê-lo. E há ainda a sua complicadíssima vida erótica. Ele fez uma grande quantidade de filhos e só uma vez viveu com uma rapariga. Ao mesmo tempo tinha remorsos. Quando fazia mal a uma mulher e sentia que a tinha prejudicado, ficava com um peso na consciência. Era um herói patriótico, um herói democrático, "homo eroticus" e "homo religiosus".
   P-Então NÃO CONCORDA com José Saramago em relação a Espanha.
   Urbano Tavares Rodrigues-Sem prejuízo da nossa amizade, DISCORDO TOTALMENTE. Tenho um sentimento profundamente português, e se escolhi o Prior do Crato é porque ele é um dos meus heróis da História portuguesa. Defendeu sempre a Independência, nas circunstâncias mais difíceis.
   (...)

DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 26-Agosto-2007 (um comunista de grande "peso" anti-iberista: URBANO TAVARES RODRIGUES)
 (NOTA;: numerei artificialmente as respostas; atenção às número 1, 2, 14, e 15, onde é afirmDO UM CLARO PATRIOTISMO, e mesmo uma demarcação de Saramago)

Entrevista a Urbano Tavares Rodrigues (escritor): "O comunismo da União Soviética nunca mais regressará"
Entrevista a Urbano Tavares Rodrigues (escritor): "O comunismo da União Soviética nunca mais regressará"
 



ISABEL LUCAS
PAULO SPRANGER (imagem)    
 
Vai sair em Outubro um romance seu sobre D. António, prior do Crato, um homem que foi rei dois dias e lutou para manter a coroa portuguesa independente de Castela. O livro sai pouco depois de outro escritor, seu camarada de partido, o PCP, ter declarado que Portugal e Espanha vão ser, mais cedo ou mais tarde, um único país. Partilha esta ideia com José Saramago?

 1 - Não. Não concordo de maneira nenhuma. Há muito que o meu herói era o prior do Crato e também tenho simpatia por Aljubarrota. Tenho um grande apreço pela cultura espanhola, mas não aceito a invasão espanhola. Não aceito ver Portugal transformado numa região de Espanha.

Em Ao Contrário das Ondas (Dom Quixote, 2006) traça um retrato negro do País. O que pensa do momento que Portugal atravessa actualmente?

 2- Olho para Portugal com tristeza. O capitalismo neoliberal está a ser aplicado com características autoritárias pelo Governo que se diz socialista e que não tem nada uma política socialista. Tudo isso me entristece profundamente.

Este ano comemoram-se os 80 anos da Revolução Russa. Que sentido faz ser comunista hoje?

 3 - Ser comunista é, antes de mais, apreciar e admirar a atitude do Partido Comunista, a que pertenço em Portugal: defender os direitos dos trabalhadores até ao limite do possível. Essa é a missão de um partido comunista neste momento.

Continua a definir-se como um comunista?

 4 - Sim, continuo a definir-me como um homem comunista, mas não sei o que o futuro me reserva, que tipo de democracias haverá. O capitalismo neoliberal irá explodir, porque cada vez há mais bolsas de miséria, formas diversas de escravatura e há pessoas de direita que começam a sentir, com um desejo reformista, que isto possa transformar-se...

No seu entender, em quê?

 5 - Pois, não é a minha ideia. Mas não é possível fazer voltar a social-democracia.

E é possível fazer regressar o comunismo?

O comunismo da União Soviética nunca mais regressará.

Que comunismo então?

 6 - Terá de ser qualquer coisa nova. Não sou futurólogo, mas penso que haverá caminhos diversos, consoante os continentes, as condições e a vontade dos próprios povos; consoante as suas experiências. Quando falo em democracias, não falo em falsas democracias, como acho que neste momento é a nossa, mas numa democracia, por exemplo, como a que foi praticada em Porto Alegre quando houve a união do PT e do Partido Comunista dos Trabalhadores. Era uma experiência nova de democracia socialista.

É um modelo, para si?

 7 - Foi uma hipótese. Há muitas hipóteses. Não sei como vão surgir. Mas penso absolutamente que vão surgir. Há muito descontentamento.

A sua obra literária foi prejudicada pelo facto de sempre ter manifestado abertamente a sua ideologia, de ser um comunista?

 8 - Sim. Durante muito tempo o meu nome foi afastado dos meios de comunicação, até que a idade, o prestígio, o facto de nós deixarmos de ser perigosos... Tudo isso fez com que me dessem atenção.

Já não é um homem perigoso?

 9 - Os comunistas não são considerados, neste momento, homens perigosos.

Apesar da luta política, sempre disse que o amor foi o seu grande tema...

 10 - De facto. Os meus grandes temas foram o amor, a morte e o tempo.

Como é que o homem Urbano Tavares Rodrigues lida com cada um desses temas?

 11 - O tempo é o grande inimigo. Corrompe os sentimentos, degrada-os, especialmente o amor. O tempo faz apodrecer o amor. Mas o tempo também traz sabedoria, um conhecimento cada vez mais aprofundado dos seres humanos e das té-cnicas literárias, das formas de contar, o virtuosismo da narração.

E a relação com a morte, ou com o tempo que dura a vida?

 12 - Estamos sempre morrendo, mas, a certa altura, há uma revolta contra essa sombra... Normalmente na adolescência, quando a existência parece prometer-nos tudo. O Albert Camus dá muito bem isso na obra dele; esse sentimento de que a vida nos promete tudo e o que nos dá realmente é a condenação à morte. Depois, há uma aceitação progressiva e que leva a olhar a morte com serenidade.

Tem medo de não ter tempo para fazer tudo o que lhe apetece, ou isso não o angustia?

 13 - Não me angustia, embora gostasse de deixar cá fora mais coisas. O que me angustia mais é deixar a minha mulher e os meus filhos, que precisam de mim. Tanto o António Urbano como a Isabel precisam do apoio material que lhes dou.

Para já, vai sair com um novo romance sobre o seu herói, Os Cadernos Secretos do Prior do Crato. O que tem este homem de tão especial para lhe chamar herói?

 14 - Um patriota que num país vendido a Castela levanta um exército popular, pega no que resta da cavalaria de Alcácer Quibir, um exército vestido e armado à pressa que, mesmo assim, obriga os castelhanos a recuar. Mais tarde, a força numérica impõe-se e é uma derrota. Ele é um homem de múltiplas dimensões. É uma figura apaixonante. E este é o meu romance de que mais gosto. O prior do Crato é um homem erótico que teve muitas mulheres, dez filhos. É um homem religioso, que mantém sempre um diálogo com Deus, embora aos 16 anos ele tenha recusado as ordens de castidade. É também um intelectual. Fui escrevendo, escrevendo e vi surgir ali a História de Portugal, até a história da Europa, e vendo aparecer esta figura fantástica em todas as dimensões. Ele é o patriota puro, que se opõe à traição e que é ferido por um português traidor. É um homem também religioso no sentido da paixão quase panteística pela terra. Quanto terminei e reli as provas achei que tinha conseguido escrever











 um grande romance e um romance em que, neste momento em que há novamente uma invasão de Castela, sobretudo económica .

Acha que há paralelismo entre os dois momentos da História?

 15 - É evidente. Portugal está numa decadência extrema. Perdemos o orgulho, o sentimento patriótico. O prior do Crato levanta tudo isso.

Revê-se nesse homem?

 16 - O meu irmão Miguel [Urbano Rodrigues], quando leu o livro, disse-me: "Este é um grande livro, mas este prior do Crato tem muito de Urbano Tavares Rodrigues."

Porquê?

 17 - Tive sempre qualquer coisa de cavaleiro andante, desde a adolescência. Antes de tomar o rumo, de querer transformar o mundo e transformar a vida e pôr a minha acção ao serviço disso, tive quase o amor do risco pelo risco. Era um homem de aventura em todos os sentidos, do acto gratuito, quase quixotesco. Há muita coisa que conduz ao grande perdedor.

Considera-se um grande perdedor?

 18 - Eu fui um grande perdedor. Em muitas coisas. Fui preso, fui torturado...

É como perdedor que se vê hoje?

 19 - (Silêncio) Sou alguém com uma obra que fica depois de mim.

Falava dos remorsos que o prior do Crato teve em relação a certas mulheres. Esse remorso também existe em si?

 20 - Sim. Sim. A minha relação com o sexo feminino limita-se hoje à milha mulher (risos). Mas eu olho e olhei sempre com encantamento para a mulher. A mulher como amiga, como namorada, como amante. A mulher foi sempre, para mim, uma forma de compreender melhor o mundo, de ir às raízes da vida. A experiência da mulher é, para mim, uma experiência erótica ou foi muito uma experiência erótica, mas algumas vezes pensei que estava a usar mulheres um pouco como instrumentos.

Instrumentos de quê?

 21 - A sugar tudo o que elas me podiam trazer de compreensão mais ampla do mundo.

Foi egoísta?

 22 - Sim, fui e acusei-me disso a mim próprio. Mas, por outro lado, desculpava-me. Era a altura do make love not war. Havia uma grande liberdade e nem sempre era eu que me aproximava das mulheres. Eram elas que se aproximavam de mim também.

E era difícil resistir?

 23 - Era. (risos)

Lembra-se de todas as mulheres que passaram pela sua vida?

 24 - Não, não me lembro. (Silêncio) Às vezes penso nisso. É a memória. Não me lembro de coisas muito fugazes. Às mais importantes, com quem tive um envolvimento afectivo e erótico, não se pode fugir. Nem com a memória. |

Os últimos dois anos foram especialmente ricos para si. Traduziu Decameron, escreveu um romance, lançou as suas obras completas, teve um filho e vem aí outro romance...

 25 - Exacto, mas em relação ao filho passamos ao de cima que não gosto de sensacionalismo. Isso é uma coisa que atrai muito as revistas de moda... Mas adoro o menino. É um encantamento.

É verdade que já quase não sai de casa?

 26 - Por causa destes andares. São dois, quase três.

Nem para férias?

 27 - Pensei nisso por causa deles. Tinha pensado ir para o pé do mar...

Nadava todos os dias...

 28 - Sim, gostava imenso de nadar, mas agora não posso por causa da insuficiência cardíaca que me detectaram. Nadei toda a vida.

O que planeia ainda escrever?

 29 - Tenho um livro de contos pronto. Não sei quando será publicado. Chama-se A Última Colina e uma coisa que se chama O Cornetim Encarnado, onde tenho reflexões, bocados de diário, poemas, pequenos contos, memórias até. Está para aí.

Não vai publicar?

 30 - Não sei.

O que ocupa mais espaço nessas memórias?

 31 - O lembrar-me... Por exemplo, uma evocação dos meus encontros com Vinícius de Moraes. Eu era professor na Sorbonne, muito jovem, e encarregado de curso, e o Vinícius era secretário da embaixada. Comecei a falar com ele numa festa de Carnaval em que ele esteve a tocar violão. Lembro-me de amigos que tive e evoluíram diferentemente na vida e foram figuras marcantes na minha obra. Estão no princípio e, quem souber ler, vê que continuam lá. Albert Camus, Jean-Paul Sartre, André Malraux. Fui amigo do Camus, conheci um pouco Sartre, dei-me com ele, estivemos juntos num congresso para a liberdade da cultura em Florença. Com o Malraux dei-me pouco mas é como se me tivesse dado sempre. Livros como A Esperança ou A Condição Humana marcaram para sempre a minha personalidade e a minha obra

O que lê, agora?

 32 - Continuo a ler muito. Li recentemente um livro muito interessante que recomendo, do Santiago Gamboa, A Síndrome de Ulisses

A sua escrita tem um sítio...

 33 - O Alentejo, Lisboa, Paris...

Mantém uma rotina diária de escrita?

 34 - Não consigo. Escrevo de vez em quando num caderno.

Escreve nesta secretária?

 35 - Muitas vezes. Mas não tenho sítio fixo. Quando a luz é boa venho para aqui, outras vezes escrevo lá dentro... Temos um living e tenho lá o meu cantinho com o candeeiro.

É um homem de hábitos?

 36 - Nunca fui um homem de hábitos. Agora tenho alguns. Deve ser por estar em casa. |
 
 
 
 
Entrevista a Urbano Tavares Rodrigues (escritor): "O comunismo da União Soviética nunca mais regressará"
 

 "Alentejo Popular" (jornal progressista), 26-Julho de 2007
 EM FOCO
O INDIVIDUALISMO SARAMAGUIANO
Luciano Caetano da Rosa (candidato CDU pela Europa)
Professor Universitário (Berlim, Românicas); Director adjunto do «Alentejo Popular»  


   Os portugueses foram mais uma vez surpreendidos por José Saramago. A dar crédito a certas sondagens, uns 28% terão, todavia, visto o seu «espanholismo» confirmado, ainda que ao retardador, pelo Prémio Nobel da Literatura. Os 72% restantes, se andarem com atenção, terão sentido assuas recentes declarações como um balde de água fria, num misto de espante e cepticismo.
   Sinto a «boutade» de José Saramago como um péssimo juízo. Deriva provavelmente de uma subjectividade adquirida em cerca de década e meia via casamento e residência em Espanha. Ele é uma excepção neste caso: tem tido bom vento e bom casamento. Ainda bem para ele! E, claro, tem direito a aventar as hipóteses que entender, ainda as mais estapafúrdias. Qualquer pessoa tem direito de opinião. Até aí, tudo bem.
   Agora, os indivíduos têm responsabilidades conforme o que são publicamente. No caso de José Saramago, atribuímos-lhe responsabilidades linguísticas, culturais, e patrióticas.
   Não foi como escritor espanhol que ganhou o Prémio Nobel, mas sim como cultivador da «última flor do Lácio». Nemé fundamentalmente à cultura dos povos de espanha que foi haurir substância para as suas fábulas literárias. Quer dizer, Saramago só pode ser o talentoso escritor ou tornar-se Saramago pelo facto de existir um país que dá pelo nome de Portugal e pela língua do povo desse país. A sua unoversalidade real só existe porque parte destas realidades concretas que são a terra natal e o vernáculo. E se Saramago for suficientemente humilde, do que já duvido um pouco, verificará por certo que é infinita a sua dívida para com o país e o povo que lhe deu o ser, e isto apesar de todos os descontos derivados das décadas de ditadura em que ele, juntamente com outros milhões de portugueses, foi obrigado a viver e a sofrer de modo vário.
   Como militante comunista, sabe muito bem que aderiu a um Partido que se caracteriza, entre outros pontos, pelo seu patriotismo e pelo seu internacionalismo. Mas no caso vertente, o iberismo saramaguiano não pode ser visto nunca como forma de internacionalismo, pois esse iberismo seria fatal para a existência da língua e da cultura portuguesas. Temos exemplos históricos de que assim seria. Hoje, os povos de Espanha já têm o Direito (não o dever) de aprender as suas línguas vernaculares, mas quanto ao espanhol ou castelhano, aí já têm o dever de aprendê-lo. Será o espanhol uma língua superior às outras? Em quê?
   Os povos de língua catalã (Catalunha/Pincipat; Valência e Ilhas Baleares) só há poucas décadas se começaram a remoças na sua língua e cultura, tendo estas sido relegadas para o esquecimento a partir do século XVIII e proibidas durante o fascismo franquista. O renascimento catalanista só aconteceu pelo facto de os povos de língua catalã e a burguesia catalã, assim como uma economia forte da região, terem tido a força suficiente para o impor.
   O galego sobrevive numa variante oficial da Xunta de Galicia (castrapo) cujas formas estão inquinadas pela morfologia castelhana, enquanto as formas normais da sua evolução histórica se vêem preteridas a fim de supostamente evitar o «perigo reintegracionista» de demasiada aproximação lusista. Começa logo pelo nome da terra, Galicia como em espanhol, em vez de Galiza. Ora bastaria o ditongo «ei» em galego, como em português (por exemplo, na palavra «ribeiro») para afastar o galego do castelhano infinitamente, por mais aproximações oficiais que se tentem por via da política de Madrid (e da Xunta, sua correia de transmissão) e não da linguística.
   Também os bascos se viram proibidos em sua própria casa de falar asua língua que se situa provavelmente entre as línguas mais antigas do planeta Terra e os desejos de independência deste povo continuam na ordem do dia da agenda política espanhola e internacional.
   O próprio domínio filipino nos séculos XVI-XVII deu sinais bastantes de que seria um perigo mortal para a «portuguesa língua» se tal ocupação se tivesse perpetuado até hoje. Ora a língua de Luís Vaz de Camões continua sendo mais forte do que a própria fronteira terrestre e política pelas duradouras marcas identitárias que veicula.
   E é bom não esquecer que a fronteira político-terrestre continua em aberto e por definir, pela imperiosa razão de que Espanha usurpou os territórios da alentejana Olivença há 200 anos, se comprometeu a restituí-los e até hoje ainda não cumpriu tal promessa. Para a causa de Olivença, o protagonismo leviano de Saramago é péssimo.
   Como comunista que sou e que ele é, acho que o camarada José Saramago está a ser muito individualista. Não seria melhor ter discutido a sua opinião no organismo de que faz parte, se é que ainda milita a este nível? E só depois publicitar o que bem entender, de acordo com o seu inalienável direito de livre expressão?
   A sua opinião surge numa altura em que se conhecem melhor as regiões autónomas de Espanha e respectivo rendimento per capita. Sabe-se, por outro lado, como em Portugal o nosso aparelho produtivo tem sido sistematicamente destruído pela burguesia nacional aliada à burguesia internacional, nomeadamente espanhola, desde a venda de empresas até à venda de milhares de hectares de terras, como as propriedades situadas no regolfo de Alqueva, alienadas pela parasitária burguesia latifundiária. Ora, na opinião e análise folclórica de Saramago, eu francamente não descortino nenhuma marca de classe. Envia, contudo, uma mensagem desmoralizante para muitos, sobretudo para os que se batem e debatem diariamente com dificuldades no país que amam.
   É um facto que a região de Madrid tem um rendimento per capita que já ronda os 26 mil euros e que a média portuguesa é de 13 mil e tal, abaixo da grega e até de alguns países recém-entrados na UE. E até é verdade que a média da região espanhola mais pobre (Extremadura) é igual ou suoerior à portuguesa. E daí? Vamo-nos suicidar por isso? Não será antes uma razão adicional para se trabalhar melhor, estudar mais, votar de forma diferente para possibilitar políticas diversas que levem a um modelo de desenvolvimento mais correcto, mais consentâneo e adaptado às nossas potencialidades? As posições do capital espanhol em Portugal já não terão a ver só com o chamado investimento estrangeiro, mas antes com uma séria ameaça dos desígnios da dareita espanhola para quem Portugal sempre foi uma espécie de «pedra no sapato» que incomoda, uma completa aberração sem o mínimo direito de existir ou então «es el brazo que le arrancaron a España» e que a Espanha gostaria agora de reimplantar
 no seu corpo mutilado. Esquecem-se de passagem de um pormenor deveras importante: é que Portugal existe uns séculos bem antes da Espanha unificada dos reis católicos. Mas é verdade, Zé Saramago, que os capitais espanhóis já controlam muitos sectores estratégicos da economia portuguesa (banca, comunicação social...). Pensarás tu, porém, que provavelmente ainda é pouco ? Que chegará a hora de termos de baixar ainda mais os braços? Que, como afirmas, «Portugal acabará por integrar-se na Espanha»? Mau profeta pareces ser tanto pela má profecia que acabas de debitar como sobretudo pelo facto de desvalorizares ao extremo ou desprezares, na tua soberba, a vontade dos trabalhadores portugueses e do povo português (repara que não falei da burguesia portuguesa, essa sempre uma provável aliada da direita espanhola), os quais saberão na hora certa dar a resposta conveniente aos que, como tu, José Saramago, nunca disseram uma palavrinha sequer contra:
   a) a - como todas as outras - anacrónica e parasitária monarquia espanhola;
   b) contra a direita espanhola cavernícola e belicista (Aznar e outros);
   c) contra os franquistas instalados em postos de poder importantes e cumulados de prebendas por toda a Espanha.
   Por este andar, o nosso homem de Azinhaga ainda há-de ver-se qualquer dia coroado de duque ou de conde ou de marquês de não sei o quê por Don (Juan) Carlos de Bourbon!
   Desta pequena tribuna te significo (?) solenemente, camarada José Saramago, que sejas mais prudente nesta fase da tua existência, desejando-te naturalmente que sejas o mais feliz possível pela vida fora. Nestes como noutros assuntos, a primeira questão nem sequer é saber quanto se ganha aqui ou ali, mas o fim da exploração e a justiça social! Por aqui é que devemos dirigir os nossos passos, as nossas lutas. E não cedermos, com complexos de inferioridade, ou trairmos, levados por imagens supostamente fortes ou de prestígio. Devemos ambicionar um grande desenvolvimento económico em ampla liberdade, com justiça social e bem-estar para todos no seio da nossa cultura em movimento, num ambiente ecológico preservado e com uma globalização diferente que induza vantagens para todos os povos.
   Imagine-se que eu não queria ser filho dos meus pais por eles serem pobres, mais pobres do que os pais ricos de vizinhos meus. Seria, por certo, uma atitude feíssima de minha parte, eu seria um verdadeiro renegado emocional e desleal perante quem mais me ama.
   Quanto a integração, já basta a europeia que pagamos caro todos os dias, até com gravíssimas cedências na soberania nacional. Com a anexação por parte de Espanha (de outra coisa nunca se poderia falar ou será Saramago assim tão ingénuop?), estaríamos votados ao desaparecimento por via da descaracterização crescente e permanente, após quase nove séculos de existência.
   A liberdade de expressão tem muito valor, José Saramago, é verdade, mas também tem os seus limites, sobretudo quando se torna irresponsável, caramba...
   O patriotismo e o internacionalismo devem enriquecer-se dialeticamente e nunca levar, por um mau entendimento, à dissolução dos povos. Um iberismo de qualidade diversa do proposto só poderia eventualmente ter algum futuro num quadro de construção do socialismo na Península Ibérica e nunca nos actuais tempos selvagens do neo-liberalismo.


 Jornal "Alentejo Popular"(influência Comunista), 26-Julho-2007
Jornal "Alentejo Popular"(influência Comunista), 26-Julho-2007
   JOSÉ SARAMAGO, O IBERISMO E AS FARC
    «Lamentamos que um escritor tão talentoso tenha proferido declarações que projectam dele uma imagem incompatível com a grandeza da sua obra e idéias que defendeu desde a juventude»
Os editores,
José Paulo Gascão
Miguel Urbano Rodrigues
Rui Namorado Rosa

(Grande fotografia de José Saramago)
   
   Sobre recentes declarações de José Saramago, o sítio web «odiario.info» divulgou uma nota editorial, intitulada «O inflamado hispanismo de Saramago e a sua condenaºão de uma guerrilha heróica», que reproduzimos na íntegra.
   O «Diário de Notícias», de Lisboa, e «El Tiempo», de Bogotá, publicaram quase simultaneamente entrevistas com José Saramago, que foram recebidas com espanto e motivaram justas críticas em Portugal e na América Latina.
   Na primeira (15.07.07) retoma a esfarrapada bandeira do iberismo para afirmar que Portugal desaparecerá como Estado nação. Ainda que não se assumindo como profeta, afirma que Portugal acabará por se integrar na Espanha. Ao ser-lhe perguntado se «seria, então, mais uma província da Espanha», respondeu: «Seria isso. Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, a Mancha, e tínhamos Portugal. Provavelmente (Espanha) teria de mudar de noma e passar-se a chamar Ibéria».
   Na mesma entrevista informa que já não comemora o 25 de Abril e esclarece que se sentiria «irresponsável ao celebrar qualquer coisa de que não possa ver nenhum sinal, porque tudo que me trouxe desapareceu».
   Discorrendo sobre outros temas, declarou que Durão Barroso «não tem feito mau lugar» como Presidente da Comissão Europeia e identifica em José Sócrates uma «incógnita», uma pessoa que não é capaz de entender.
   Na entrevista concedida a «El Tiempo» (16.07.07) - o grande diário de Bogotá, identificado com a oligarquia colombiana e o imperialismo norte-americano - desfere um ataque devastador contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular. O título é expressivo do conteúdo: «A Guerrilha Colombiana é um exército de bandidos e narcotraficantes», diz José Saramago.
   O repórter quis saber o que o escritor pensa da «política do Presidente Uribe perante a guerrilha».
   Cabe recordar que Uribe, um político neofascista, o «melhor amigo» de George Bush na América Latina, foi o criador dos bandos paramilitares em Medellín, quando gavernador de Antioquia, época em que mantinha íntimas relações com os cartéis da droga. Ao visitar a Assembleia do Conselho da Europa foi vaiado.
   Saramago respondeu:«Não há muita diferença entre a gestão do presidente Uribe e a gestão de outros presidentes anteriores».
   Quando o entrevistador, um anticomunista  primário,lhe perguntou se ainda é comunista, definiu-se como comunista, mas sublinhou que «ser comunista é um estado de espírito». Na sua opinião, da Revolução de Outubro também nada de positivo sobrou porque «no caso da União Soviética se inventou um capitalismo de estado».
   Pela gravidade das afirmações feitas em ambas as entrevistas comentá-las exigiria um espaço não disponível numa nota editorial.
   Chamamos somente a atenção para duas questões.
   1. Ao formular o desejo de ver Portugal transformado em mais uma região da Espanha, Saramago traz à memória o discurso dos nobres portugueses que em 1640 optaram por El Rei de Castela, opondo-se à Restauração, prólogo de uma luta pela independência que iria durar 28 anos.
   2. Ao identificar no «horrfor da guerrilha» o grande problema da Colômbia, reduzindo a um «exército de bandidos» a mais heróica guerrilha do continente americano, Saramago coloca-se nas antípodas de dezenas de prestigiados personalidades da «intelligentsia» da América Latina, que proclamam publicamente a sua solidariedade com os comandantes Rodrigo Granada e Simón Trinidad, sequestrados à ordem de Uribe e identificam no comandante Manuel Marulanda, comandante-chefe da organização revolucionária, um herói das Américas.
   Consideramos, entretanto, um dever cívico lamentar que um escritor tão talentoso, merecidamente distinguido com o Nobel de Literatura, tenha proferido declarações que projectam dele, no Inverno da vida, uma imagem incompatível com a grandeza da sua obra e idéias que defendeu desde a juventude.
   Os editores,
José Paulo Gascão
Miguel Urbano Rodrigues
Rui Namorado Rosa
 

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JLRC

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« Responder #1 em: Setembro 26, 2007, 01:56:12 pm »
Mas desde quando é que os Marxistas são iberistas?   :shock:
 

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Luso

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« Responder #2 em: Setembro 26, 2007, 02:40:49 pm »
Os marxistas são internacionalistas. Portanto a mim tanto me faz que sejam iberistas ou outra coisa qualquer. Isso implica a rejeição de pátria. Se não concordarem talvez devessem ler as respectivas cartilhas/bíblias/livros sagrados.

Todos os comunistas são por definição traidores. Se não o sabem é porque foram enganados. Se foram enganados então escolham outra coisa.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...