Entrevista com António Borges

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Jorge Pereira

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« Responder #15 em: Março 06, 2008, 11:20:15 pm »
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Se há coisa que se pede a um líder da Oposição é que esteja pronto a governar em qualquer momento.


O PSD de Luís Filipe Menezes não pára de nos surpreender.
Desta vez, Menezes fez o favor de nos informar de que ainda não está preparado para governar o país. Diz que vai estar, um dia destes, mas, aparentemente, não sabe quando.
Segundo ele, Portugal vive mesmo um paradoxo: é que Sócrates já não devia governar, mas o PSD ainda não está pronto para o substituir. Segundo o líder do PSD, Portugal vive, assim, mergulhado numa espécie de vazio - um paradoxo, diz ele – que Menezes promete preencher um dia destes.

Se foi a agência de comunicação por si contratada que o aconselhou a ir por aqui, Luís Filipe Menezes deve estar preocupado porque dizer pior era difícil.
Se há coisa que se pede a um líder da Oposição é que esteja pronto a governar em qualquer momento.
Se o Governo cair, é para ele que o Presidente da República olhará em busca de alternativas.
Imagine-se o que seria num cenário destes – nunca de afastar – Menezes virar-se para Cavaco e dizer-lhe: “ainda não estou preparado”.

O paradoxo é esse: quem não está preparado para ser candidato a Primeiro-ministro nunca deveria ter aceite liderar o PSD.

Ângela Silva

( http://www.rr.pt ). © 1997 - 2006 - Rádio Renascença Lda.
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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Luso

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« Responder #16 em: Março 07, 2008, 10:08:13 am »
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O paradoxo é esse: quem não está preparado para ser candidato a Primeiro-ministro nunca deveria ter aceite liderar o PSD.( http://www.rr.pt ). © 1997 - 2006 - Rádio Renascença Lda.


Em cheio. Quem se apresenta?
Rui Rio?
Quem?
Quem?
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Jorge Pereira

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« Responder #17 em: Março 15, 2008, 09:57:42 pm »
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O cerco aperta-se

1. Luís Filipe Menezes tem razão. O líder do PSD explica o clima de guerrilha interna do seu partido com a súbita percepção de que pode ser possível ganhar as eleições legislativas de 2009. As sondagens mais recentes mostram o PSD a descer, mas também que o capital do PS e de José Sócrates se esfarela rapidamente. As manifestações na rua, verdadeiras apesar do carácter muitas vezes corporativo, constituem mais um poderoso sinal de fragilidade do poder socialista. Não foram apenas os 100 mil professores e a sua "Marcha da Indignação". Convém lembrar os 50 mil manifestantes que o PCP juntou uma semana antes, quase sem que se desse conta, ou as 200 mil pessoas com que a CGTP surpreendeu os líderes europeus durante a cimeira em que acertaram o Tratado de Lisboa.


2. Luís Filipe Menezes não tem razão. Não é apenas "borbulhagem". A oposição interna não desistirá. Não será de repente, será por desgaste. Alguém presume que Rui Rio não tenha pesado cada palavra quando se referiu a hipotéticas lavagens de dinheiro? Os críticos serão de facto uma dúzia, como conta Menezes. Acontece que são a dúzia que conta junto da opinião pública e publicada além de Rui Rio, José Pedro Aguiar Branco, Manuela Ferreira Leite, Nuno Morais Sarmento, José Luís Arnaut, Miguel Relvas, António Capucho, António Borges. Gente que consegue cobertura televisiva se acaso lhes apetecer falar. Gente capaz de influenciar, mais tarde ou mais cedo, o militante de base, com quotas pagas em dinheiro ou em cheque. É verdade que Menezes é o líder de uma equipa eficaz no controlo do aparelho partidário. É verdade que percorre as secções de todo o país, num incansável trabalho de formiga. O militante de base gosta disso. Mas gosta ainda mais da perspectiva de obter a sua parcela de poder. Se se convencer que há alguém melhor colocado para garantir o seu quinhão, não hesitará em trocar de líder.  

Fonte

Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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« Responder #18 em: Março 15, 2008, 10:40:32 pm »
Vi a reportagem da SIC sobre Menezes.

1.º Menezes tem uma mulher jeitosa;

2.º Menezes gosta de mostrar as suas fragilidades emocionais. Não gosto disso num Chefe. Um Chefe não fala de si ou pelo menos não se deve expor em demasia, como Menezes o fez. Não quero saber de Menezes humano, quero saber de Menezes Chefe de Governo;

3.º O Menezes frágil, que se diz magoado por críticas feitas por quem não o conhece, assume-se como putativo primeiro-ministro numa revira-volta de auto-confiança que se pretende ousada mas que apenas demonstra falsidade, pose e superficialidade ao "assegurar" que em 2009 vai estar a viver em S. Bento. Um Chefe não insulta a inteligência dos outros, fazendo-se passar por Zandinga, nem passa uma ideia de facilitismo de favas contadas, ou seja, de pura e simples gabarolice;

4.º Pelo exposto atrás e pela manifesta falta de capacidade de coordenação, mas sobretudo por falta de genuíno interesse por este País, Menezes, um sabidola, um mero soba local, não serve para o governo da Nação;

5.º Menezes tem uma mulher jeitosa.
« Última modificação: Março 15, 2008, 11:05:18 pm por Luso »
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PereiraMarques

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« Responder #19 em: Março 15, 2008, 10:50:57 pm »
Citação de: "Luso"
quero saber de Menezes Chefe de Estado


Vai tirar o lugar ao Cavaco :mrgreen:
 

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« Responder #20 em: Março 15, 2008, 11:03:52 pm »
Citação de: "PereiraMarques"
Citação de: "Luso"
quero saber de Menezes Chefe de Estado

Vai tirar o lugar ao Cavaco :mrgreen:


Tem razão, Pereira "Echelon" Marques!
Chefe de Governo. :wink:
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Miguel

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« Responder #21 em: Março 16, 2008, 09:48:36 am »
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5.º Menezes tem uma mulher jeitosa.
_________________


 :wink:

As mulheres jeitosas utilizam a sua beleza para envenenar o homen e domina-lo.

Mesmo na biblia foi Eva que levou o homen ao pecado c34x
 

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P44

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« Responder #22 em: Março 17, 2008, 08:53:50 am »
Não gosto do PSD , mas tenho de admitir que me entristece ver este "partido" entregue a tal criatura.


O Sócrates deve andar feliz da vida, o Menezes fez com que o PSD só olhe para dentro, discutem-se questões de "lana-caprina", projectos para o País nada.

Se o Sócrates conseguir nova maioria absoluta (bate na madeira-3-vezes...) o grande responsável será Men-enzes!!!!

 :mrgreen:
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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Jorge Pereira

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« Responder #23 em: Março 30, 2008, 03:12:37 pm »
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Entrevista
António Borges: Crise financeira não vai provocar recessão, apenas abrandamento
30.03.2008 - 00h01  Cristina Ferreira


António Borges tem “esperança” que a actual crise não resulte em recessão e, se admite erros no recurso aos novos instrumentos de gestão financeira, recusa um cenário de maior regulamentação. Até agora, a crise tem provado que os europeus estão a gerir melhor os danos do que os americanos.

PRIMEIRO BLOCO – POLÍTICA NACIONAL

Que comentário faz à descida do IVA?
É um gesto essencialmente político. Seria melhor esperar por uma consolidação orçamental mais sólida e permanente e, a seguir, pensar numa reforma fiscal profunda e inteligente.

Não defende sequer uma descida do IRC?
Não é essencial. Não temos uma taxa de IRC muito alta. E só paga IRC quem tem lucros; ora o grande problema de muitas empresas é a sobrevivência. Pelo contrário, há um conjunto de encargos de natureza fiscal que são muito mais pesados e que prejudicam mais o funcionamento da actividade económica. O que se tem feito em relação à cobrança de IVA e aos atrasos nos reembolsos penaliza mais as empresas...

Não é, então, de todo favorável a uma maior descida de impostos neste momento?
Temos no conjunto uma carga fiscal pesada. O IRS é elevado, depois as contribuições para Segurança Social também... Mas não estamos é em altura de os baixar. Seria um crime baixar impostos antes de consolidar as contas públicas.

O Governo diz que acabou a crise orçamental?
Parece-me claramente prematuro dizer-se que o problema orçamental desapareceu em Portugal.

Como vê, então, o facto de o défice orçamental ter descido para 2,6 por cento do PIB?
A redução do défice deve-se a medidas reais e a outras que são fictícias ou extraordinárias, como o atraso nos pagamentos ou na devolução de impostos, a desorçamentação, etc. Não sou contra a utilização de medidas extraordinárias ou de impacto apenas temporário para a redução do défice e o cumprimento dos objectivos que assumimos, mas temos de ter consciência do que estamos a fazer e do significado real dos resultados que obtemos.

A consolidação orçamental feita já é suficiente para ultrapassar o abrandamento económico?
O abrandamento é sempre negativo para as contas públicas. A problemática das contas públicas é a seguinte: por um lado houve um aumento da carga fiscal substancial, por outro, há uma contenção significativa da despesa (e eu tiro o chapéu ao Governo) sobretudo naquilo que se chama investimento público e que em Portugal inclui muito dinheiro esbanjado. Continua a haver muito desperdício, mas é menor do que o que havia. Infelizmente, naquilo que se chama a reforma da Administração Pública, e que permitiria que as funções do Estado fossem exercidas com mais eficiência, ainda se está muito no princípio, o que faz com que os resultados sejam limitados. Por isso, a melhoria do défice não é verdadeiramente estrutural, não está consolidada. Não estamos ainda em altura de baixar os braços e muito menos de avançar para uma política expansionista.
Mas os defensores da redução de impostos alegam que esta medida permite relançar a actividade económica.
Estou em total desacordo.

Mesmo em relação à redução de IRS?
Sim. Essa é uma tese keynesiana que defende que para estimular a economia é preciso estimular a despesa. E dar mais dinheiro aos consumidores para gastarem mais, como se faz nos EUA. Em Portugal temos um problema de despesa, estamos a gastar demais. Não existe poupança no País, temos um défice externo enorme. Essa solução é um contra-senso. Temos é que recuperar a competitividade para tornar a economia mais produtiva e poder criar rendimento, e isso não se consegue sem alterar a nossa competitividade.

Como avalia o programa de investimento público anunciado pelo Governo?
Tenho chamado à atenção para o carácter extremamente negativo desse tipo de investimento. Estamos a entrar numa fase de grande investimento público, em auto-estradas, novos aeroportos, TGV, etc. E o facto de estes projectos serem em grande parte financiados pelo sector privado não altera nada a situação, trata-se sempre de um grande aumento da despesa pública. E não estamos em situação financeira, nem o Estado, nem o País no seu conjunto, para embarcar neste tipo de investimento. Estas obras não ajudam nada a resolver o nosso problema essencial que é o da competitividade. E acabam por prejudicar o crescimento.

O Governo deveria antes estimular pequenos projectos que permitissem reanimar o sector das PME que é a base da nossa economia?
Na realidade a questão central é saber o que se passa com o grosso da actividade económica. Temos alguns sectores que estão muito bem, e empresas que estão muitíssimo prósperas. Mas o grosso da economia, e em particular as PME, estão com enormes dificuldades. Temos este contraste dramático entre umas e outras. E a política económica seguida por este governo tem agravado este problema, pois toda ela é orientada para os grandes projectos, para as empresas de grande dimensão, quando, de facto, o problema não está aí. Era necessária uma orientação radicalmente oposta, muito mais orientada para a energia empreendedora que existe claramente no país. Uma política que permitisse lançar projectos novos, com inovação, com nova tecnologia, coisas que estão ao nosso alcance e que não estão a ser feitas. Porque existe um condicionamento forte sobre a iniciativa privada, que é depois levantado pelo Governo com os chamados grandes projectos. O Estado cria um ambiente repressivo e depois levanta as restrições em projectos que escolhe: estamos perante uma política orientada pelo Estado naquilo que lhe interessa e que é de apoio aos grandes projectos – que passam muito bem sem esse apoio –, e que deixa para trás o grosso da economia que vive uma crise de sobrevivência.

E as elevadas taxas de desemprego, não o preocupam?
Muitíssimo, mas são o reflexo da não realização do potencial de crescimento.
A actual reforma da Administração Pública vai no sentido correcto ao criar uma bolsa de mobilidade...
Vai... mas é insuficiente. E esse é o grande desapontamento em relação a este governo, que possui condições únicas para governar, mas está a demorar tanto tempo e a apresentar resultados tão limitados que as pessoas têm o direito de se questionar. Porque o grande projecto que era necessário por de pé era encontrar um novo modelo de gestão da Administração Pública. O actual modelo é o mesmo desde o dr. Salazar, o que se faz são pequenos ajustes. E está muito distante do que observamos por toda a Europa: como é que se tomam as decisões, que recursos têm os responsáveis ao seu dispor, quais as regras de execução orçamental, o que se passa quando os serviços conseguem poupar dinheiro, que incentivos têm os responsáveis quando poupam?

Vê-se a contestação nas ruas por causa da saúde, da educação. Portugal é reformável ao nível da população?
É. Aquilo a que assistimos nas ruas é de relativa pequena escala. É só olhar para o que se passa em França. Mas não se podem fazer reformas sem gerar oposição e é preciso manter uma linha de conduta. A maneira de lidar com o problema é que deveria ser outra: mais competência na forma de executar as políticas e mais pedagogia para explicar as soluções. E é aí que não há razão para estarmos surpreendidos. Há muita coisa que não foi bem pensada e o governo acaba por recuar, mantendo total ausência de diálogo.

Em síntese: como economista o que faria de diferente, ou de semelhante do Governo?
A política económica teria de ser radicalmente diferente, não apostando em grandes projectos, muitos deles de fachada, e que apoiam empresas que não necessitam do Governo para vingar, e, por outro lado, libertando o potencial criador e empreendedor da economia portuguesa, que é extraordinário. E no que respeita ao papel do Estado, reduzir a ênfase nas infra-estruturas. Mais infra-estruturas em Portugal não só já não fazem falta como acabam por prejudicar o resto da economia, pois impedem a libertação de recursos para áreas mais necessitadas. Por outro lado, apostar com toda a força na reforma da Administração Pública. Não faz sentido ter as melhores auto-estradas da Europa, como temos indiscutivelmente, e depois os tribunais não funcionarem e continuarem a viver no século XIX, pela forma e metodologia com que trabalham. E, por último, abrir o País ao exterior e apostar muito na competitividade da economia, que é o factor central, sem o qual não se resolve mais problema nenhum.


SEGUNDO BLOCO - CRISE FINANCEIRA

Portugal e a Europa podem escapar a uma recessão face à actual crise internacional?
Estou muito mais optimista do que a generalidade dos comentadores. Mas não vamos escapar sem consequências. Haverá um abrandamento da actividade económica, mas espero que não seja muito substancial e as últimas indicações são positivas.

Teremos desaceleração, sem recessão?
É a minha esperança.

Não concorda com Miguel Cadilhe que defende que já estamos em recessão?
Não. Miguel Cadilhe tem uma posição muito especial que é a de que o Estado deve intervir sistematicamente na área fiscal e orçamental para estimular a economia. Posição que já se provou não dá resultado. Ele justifica essa posição com uma possível recessão em Portugal. Mas estamos muito longe disso. De qualquer modo é uma política muito desestabilizadora.

Os bancos europeus estão menos expostos do que os norte-americanos à crise financeira?
Não. Os bancos europeus estão mais expostos mas têm uma atitude perante esta crise muito mais serena, mais prudente e cautelosa do que os americanos. Os bancos americanos estão sob um escrutínio mais intenso da imprensa e estão mais naquela perspectiva: "temos aqui problemas dramáticos, vamos resolvê-los. Anunciamos umas perdas gigantescas e recomeçamos do zero." A forma como a crise tem sido gerida tem agravado a situação. Na Europa há mais cautela na comunicação, há mais cooperação com as autoridades e um esforço conjunto. E isso tem permitido que na Europa o problema não atinja a gravidade que tem nos EUA. O ponto mais interessante desta crise é que mostra que o sistema europeu de bancos centrais e de reguladores e supervisores é muito mais sólido do que o americano.

A desregulação bancária foi longe de mais?
De maneira nenhuma.

E a inovação financeira?
Pelo contrário. A inovação financeira foi das coisas mais importantes que aconteceram nos últimos anos e sem a qual nunca teríamos tido o crescimento económico que tivemos. O ponto é que quando há uma grande vaga de inovação, há sempre excessos.

E agora ninguém sabe onde está o risco...
Mas isso nunca se soube. Quando vai depositar o seu dinheiro no banco sabe o que é que a instituição vai fazer com ele? Não sabe. Onde é que o risco acaba? Não sabe. E no entanto deposita lá o seu dinheiro tranquilamente. Há aqui um elemento central que é a confiança que tem sempre que haver, desde as instituições mais simples às mais complexas. E essa confiança desapareceu. Por isso estamos numa situação de pânico total que é a única explicação dos problemas. Há aqui um paralelo muito interessante com a década de 30, quando os bancos faliam aos milhares, porque não havia confiança e as pessoas retiravam os seus depósitos. Hoje não são os bancos que vão à falência porque há os seguros de depósito, senão também iam. Há uma preferência dos investidores em retirar o seu dinheiro por falta de confiança. Quando isso acontece o sistema financeiro não tem sobrevivência possível. Mesmo bancos extraordinariamente sólidos, com activos belíssimos, não conseguem satisfazer as necessidades de liquidez dos seus clientes.

Mas a inovação foi então longe de mais...
Sim, foi. Isto é um paralelo exacto com o que passou em 1999/2000 com aquela bolha da tecnologia, da internet. Foi-se claramente longe de mais e depois corrigiu-se tudo e recomeçou o crescimento económico. Agora também se foi longe de mais na inovação financeira, aprendeu-se muito e se voltássemos atrás não faríamos algumas coisas. Mas tenho grande esperança que o grosso dessa inovação financeira se mantenha, porque ela permitiu um óptimo crescimento económico.

Alan Greenspan diz que esta é a crise mais grave desde a Segunda Guerra. Concorda?
Não sou um grande fã de Greenspan. E ele tem grandes responsabilidades nesta situação. Esteve muitos anos à frente da Reserva Federal e esteve directamente ligado em todos os casos a uma resposta excessiva por parte das autoridades americanas aos problemas da economia. Ou porque a crise era profunda demais e se praticava uma política demasiado expansionista, o que depois dava mau resultado. Ou porque se contrariava o crescimento de forma também excessiva. Ele e a Reserva Federal foram, ao longo destes últimos 20 anos, factores muito importantes de instabilidade. Em 1987 foi assim, em 1998 foi assim, e agora voltou a ser assim.

Essa não é uma opinião pacífica. Há quem veja nele o principal artífice do mais longo período de expansão económica dos Estados Unidos.
Sim. Mago foi a palavra que se usou. A verdade é que presidiu a um período de grande volatilidade da economia americana, de grande instabilidade monetária e de facto com consequências que estamos agora a observar. Na Europa, de quem os americanos fazem muita troça porque dizem que aqui nunca se passa nada de importante e que é o continente mais aborrecido do mundo, a verdade é que é essa estabilidade monetária, que vem da tradição alemã, que tem permitido muito mais tranquilidade na forma como a economia se organiza. A economia europeia não tem o dinamismo que tem a americana, mas, por outras razões, que não têm nada a ver com política monetária. Têm a ver com o empreendedorismo, a inovação, o risco, etc.

Concorda então com a forma como o BCE está a responder a esta crise?
O BCE é o grande vencedor destas dificuldades. Quer em relação ao Banco de Inglaterra, quer em relação à Reserva Federal. O BCE aparece muitíssimo mais sólido, tranquilo, capaz, competente, acabando por ter mais influência. Daí a força do euro. O euro aparece hoje como uma moeda que toda a gente quer ter, o que tem levado a uma subida excessiva da sua cotação. Há uma mudança muito grande na forma como os investidores mundiais olham para a competência de cada um dos responsáveis da política monetária.

A subida do euro face ao dólar ajuda a economia americana.
A crise americana, a haver, será de curtíssima duração. Há um sector que está em situação dramática, que é o da habitação e construção. Mas tudo o resto da economia está bastante bem. As empresas estão com bons resultados e balanços sólidos, as exportações estão a subir rapidamente. A melhor prova disto está no preço do petróleo e de outras matérias-primas. Se estivéssemos à beira de uma recessão tão profunda não estariam a subir tanto.

Mas há uma grande incerteza.
Há de facto uma grande incerteza e elementos de grande irracionalidade cujas consequências ninguém consegue prever. Esse é que é o aspecto perturbador. Porque o resto da economia estaria num processo de ajustamento. Convém olhar para trás e ver como isto tudo começou. Os EUA constatam que estão com um crescimento excessivo e a Reserva Federal começa a subir as taxas de juro. E fá-lo brutalmente, muitíssimo em pouco tempo. Não admira que agora haja um abrandamento da actividade económica. Ninguém pode ficar surpreendido. O facto de isto passar pelo sector financeiro e por uma crise financeira é que surpreendeu toda a gente. Mas a ligação entre as decisões de política monetária e o abrandamento que estamos agora a verificar foi deliberada. As consequências no futuro é que são mais difíceis de prever. Como estamos em ano eleitoral nos EUA, há um dramatismo e uma resposta excessiva das autoridades, quer monetárias quer orçamentais, com um pacote de medidas que vão criar problemas sérios. Estão claramente a ir longe de mais.


TERCEIRO BLOCO - PSD

Como avalia o papel da oposição em relação ao Governo?
A oposição não existe e está completamente descredibilizada. O PSD atravessa uma fase muito má, que não é de agora e não podemos ter grandes expectativas de que haja uma oposição séria nos próximos tempos.

Não está disponível para avançar para a liderança do PSD, ou para ajudar a encontrar uma alternativa à actual direcção?
Há muito que estou disponível para colaborar e fazer o que estiver ao meu alcance para ajudar a encontrar uma alternativa credível à actual direcção. Uma vez que deixei a Goldman Sachs (GS) tenho mais tempo e menos conflitos de interesses para o fazer. O ponto central é saber o que é uma alternativa credível? E de facto, por enquanto, os meus únicos projectos passam por colaborar a um nível mais amplo e mais suprapartidário no debate de ideias e na apresentação de propostas, numa discussão do que são os problemas do País, tendo em conta o que hoje observamos na vida partidária e que não atrai ninguém.

Como é que viu o facto de Marques Mendes ter sido penalizado pelas bases do partido?
O dr. Marques Mendes é uma pessoa estimável e que, em determinada altura, apresentou boas ideias, como a de moralizar a política em certos aspectos concretos. Mas o seu grande problema foi a extraordinária ineficácia para atingir os objectivos que se tinha proposto e ainda o de não conseguir travar esta deriva que existe em Portugal, e sobretudo nos partidos, no sentido do populismo e de que vale tudo desde que se consigam os objectivos.

Como é que caracteriza a liderança de Luís Filipe Menezes?
É um erro, um lapso do PSD. E julgo que não vai durar.

Mas foi uma escolha das bases?
Mas não havia escolha, havia uma vontade de sancionar Marques Mendes. Há aqui um aspecto muito importante: o eleitorado português é um eleitorado que respeito muitíssimo, quer a nível partidário, quer nacional, porque as pessoas são exigentes. E sancionam o mau desempenho. Já se viu em muitas eleições a nível nacional e partidárias. E as pessoas estavam insatisfeitas com Marques Mendes. Ele foi demasiado imprudente pela maneira como lançou a campanha eleitoral em pleno Verão e depois do desastre da Câmara de Lisboa. Os eleitores do PSD não gostaram e também não tinham muitas escolhas. É muito importante perceber porque é que não tinham outras escolhas. E acabou-se nesta solução, de que toda a gente hoje se dá conta que é um erro. A grande questão é saber o que vem a seguir. E saber como é que dentro dos partidos se condicionam as possibilidades de aparecerem candidatos interessantes que constituam de facto uma alternativa.

A mudança de regras no PSD vai limitar as possibilidades de escolha para a liderança?
Não são só as regras. É um grande conjunto de factores que tornam limitadas as escolhas: sejam as regras, sejam as tradições, sejam as formas como se controlam as instâncias e os recursos do partido. E não é só no PSD. Tudo isto acaba por condicionar de uma forma deplorável aquelas que podem ser as opções... Sabemos que o ano passado Aguiar Branco esteve muito interessado em candidatar-se à liderança do PSD, ele tem um verdadeiro sentido da responsabilidade, e não conseguiu. E não conseguiu porque os obstáculos eram tais e as impossibilidades de montar uma alternativa num curto espaço de tempo eram de tal forma gritantes que não conseguiu avançar.

Como é que o PSD sai desta encruzilhada?
Vai sair. O PSD é um partido que já passou por várias fases críticas e mantém-se como o partido crucial do centro direita em Portugal e há-de ultrapassar esta crise. Mas só a ultrapassa quando houver uma equipa completamente nova, uma maneira de fazer politica completamente nova e quando aparecer uma vaga de fundo que permita mudar.

E é possível que surja até 2009?
O tempo é cada vez mais curto, mas não perderia as esperanças. Hoje no PSD há um combate entre aqueles que acham que é necessário mudar a forma como se faz politica no PSD e aqueles cujo objectivo é ganhar a pouca parcela de poder que o PSD ainda pode aspirar ganhar no curto prazo.

A actual direcção?
Não é da direcção, é do aparelho do partido. São aqueles que só pensam como é que eu vou manter este lugar de vereador, este lugar de deputado. E para estes não é o país que interessa, não é a forma de fazer política, não é a qualidade da democracia. O que interesse é o resultado, por mais pequeno que seja, mas que está ao seu alcance. E esses têm medo de arriscar o resultado embarcando em objectivos mais ambiciosos. Por isso não é evidente que se consiga mudar até 2009.

Qual o contributo que estaria disponível para a dar ao PSD?
Com esta direcção, nenhum. Se aparecer uma alternativa credível, todos.

Mas pode ser essa alternativa?
Não. Primeiro, ninguém faz nada sozinho, é preciso muita gente, e muita gente muito boa. E depois, são precisas condições muito diferentes das actuais, não só de sucesso eleitoral, mas sobretudo de uma nova forma de fazer política. Ainda não estamos lá. Não vale a pena entrar em combates, dos quais o resultado não pode ser senão medíocre e limitado.

Mas não é essa forma de pensar que leva a que as más lideranças se arrastem nos partidos?
Porque é que temos de esperar? Porque esse momento só aparece quando surgir um conjunto de circunstâncias que leve muita gente boa a mobilizar-se no sentido que interessa ao País.

Corre-se o risco de, mais dia, menos dia, surgir um mensalão à portuguesa?
Não. Em Portugal há problemas sérios de ultrapassagem das regras legais e éticas a muitos níveis da economia e da sociedade. Mas não sei se alguma vez se conseguirão detectar e levar perante a justiça. É uma questão complicadíssima e não sei se estamos em condições de lidar com ela. Precisamente porque um dos problemas mais difíceis com que nos deparamos em Portugal, porventura o pior de todos, é a Justiça. A ineficácia da justiça e a sua eventual falta de independência. Esta impunidade generalizada que se vive no país é porventura o nosso problema mais preocupante.

As estratégias dos Governos têm sido concebidas tendo em conta os interesses meramente partidários e não os do País? Existe um assalto organizado do poder político às empresas?
Sempre houve. Esse é um dos aspectos mais tristes da forma de olhar os assuntos em Portugal. É que todos os Governos olharam para a sua missão como, em grande parte, passando pelo controlo de grandes interesses económicos ou pelo menos, pela colisão com grandes interesses económicos no sentido de, por essa via, atingirem os seus objectivos, sejam eles quais forem. Alguns governos foram mais longe do que outros nesta matéria e este, em particular, tem sido de uma eficácia extraordinária a atingir os seus objectivos de controlo.

Consegue identificar alguns casos?
Quando isto se passa com empresas públicas, embora não seja desejável, não é surpresa. Mas quando se passa com empresas em que a maioria do capital está em mãos privadas mas em que o Estado tem uma posição, constatamos que o controlo que o Estado exerce é decisivo e tem vindo a aumentar substancialmente. Este Governo tem uma perícia e habilidade extraordinárias em garantir o controlo dessas empresas de uma forma que aparece como sendo por iniciativa dos accionistas privados.

Está-se a referir ao BCP?
Estou a referir-me a muitos casos. E o BCP não é caso único. Note que este problema não se verifica apenas em Portugal. Existe, por exemplo em Itália. Agora é pena que Portugal esteja a seguir os piores exemplos e de países que têm o pior desempenho. Em Portugal, ou por incapacidade ou por incompetência, os empresários e os accionistas privados acabam por se deixar com muita facilidade absorver pelo poder político.

Há receio por parte dos privados de que se não acompanharem o Governo poderem ser penalizadas?
Há de facto em Portugal uma dependência enorme do Governo em termos económicos. O Governo tem a possibilidade por muitos mecanismos de intervenção que tem ao seu dispor, e que pode utilizar, de ter grande impacto na rentabilidade das empresas privadas, nomeadamente das grandes, nomeadamente das sujeitas a regulação. E ninguém tem dúvidas que o Governo exerce e exerce de forma muito deliberada esse poder no sentido de discriminar umas das outras. Basta ver como certos empresários mais independentes, como Belmiro de Azevedo, são discriminados sistematicamente. E não há dúvida que outros empresários, e dos mais bem-sucedidos – e não precisamos de citar nomes – são aqueles que melhor têm conseguido que o Governo intervenha a seu favor em questões absolutamente decisivas na afectação dos recursos em Portugal.


QUARTO BLOCO – MANUEL PINHO

É verdade que, pelo facto de trabalhar na GS, o Governo, por indicação do ministro da Economia, Manuel Pinho, penalizou o banco em Portugal?
Não foi por eu lá estar, mas por eu ter uma intervenção política relativamente activa.

Pode concretizar?
Os factos são o que são. Em 2005, fui ao Congresso do PSD e apresentei uma moção onde me disponibilizei para ajudar o PSD a ter uma oposição mais activa em relação ao Governo. O congresso teve lugar no fim-de-semana e na segunda-feira, logo de manhã, fui chamado ao gabinete do ministro Manuel Pinho que me comunicou que todos os contratos com a Goldman Sachs estavam cancelados a partir daquele momento.

O ministro fê-lo pessoalmente?
Exactamente.

É uma declaração grave.
O Governo tem sempre a opção de cancelar os contratos quando quiser.

Qual foi a explicação dada?
De que queriam renovar as equipas que trabalhavam para o Governo.

Quais eram os montantes dos contratos?
Eram contratos importantes que vinham detrás e que tinham sido celebrados, nomeadamente, para ajudar à reestruturação do sector energético. Os contratos viriam a ser retomados por outros bancos de investimento. Normalmente até teríamos em termos contratuais uma série de direitos que foram rapidamente postos de lado.

Como é que se sentiu na GS? Como tendo sido a causa da perda do negócio?
Claramente.

Alguém lhe chamou a atenção?
Não. Julgo que há uma consciência nos bancos de investimento internacionais de que quando se trabalha para Governos se correm riscos políticos.

Foi o único sinal de retaliação do Governo?
Há cerca de dois anos atrás, quando houve a mudança de presidência na EDP, uma empresa que eu conhecia bem, numa intervenção pública manifestei a minha oposição à maneira como as coisas foram conduzidas. Nessa altura houve da parte do Governo uma intervenção absolutamente extraordinária porque exigia uma apresentação de um pedido de desculpa pelas minhas palavras, com a implicitação evidente de que, caso contrário, nunca mais haveria trabalho para a GS em Portugal. Aliás, como nunca mais houve.

Nem do Estado directamente, nem das empresas?
Das empresas privadas sem ligações ao Estado, tivemos sempre trabalho, mas não tivemos de empresas com presença estatal, mesmo minoritária, ou com golden shares.

O que é que se passou quando, no governo de Santana Lopes, foi convidado para ficar à frente da CGD e depois deixaram cair o convite?
Essa é uma questão diferente e não teve nada a ver com a GS. Não tenho uma explicação exacta do que se passou, apenas conjecturas. Foi-me feito um convite que depois foi retirado.

É verdade que já tinha comunicado na GS que ia sair?
Sim já tinha informado a GS que estava interessado em voltar para Portugal e que eventualmente sairia.


QUINTO BLOCO - ENSINO

Na sua qualidade de professor como é que avaliou a manifestação dos professores do passado dia 8, que foi espontânea e ultrapassou os partidos e os sindicatos? Muitos dos manifestantes nem punham em causa a avaliação. A sua indignação tinha mais a ver com a forma como a descredibilização das suas funções. É um sinal positivo?
É um sinal muito negativo. Num país civilizado esta situação tinha-se resolvido de forma mais construtiva. Não é pela manifestação de 100 mil pessoas contra o Governo que o problema se resolve. A probabilidade de sair um resultado bom é muito limitada. Como é que se resolve um problema destes? Com uma outra abordagem.
A educação é um problema gravíssimo em Portugal e os indicadores não deixam qualquer margem de dúvidas nesta matéria. Não é uma questão de recursos, pois gastamos imenso dinheiro mal gasto. Há uma responsabilidade do Ministério da Educação, ao longo de muitos anos. E ao mesmo tempo os agentes educativos, que são os professores, não podem dizer que não têm nada a ver com o problema. Eles têm que se responsabilizar pelo problema, mas têm que fazer parte da solução. Se não conseguirmos que os professores trabalhem bem, não vamos nunca conseguir que haja boa educação em Portugal. Tem que existir aqui um esforço mais construtivo. Não se pode nunca é ceder a resistências corporativas, que é o grande problema português. Mas neste momento já se ultrapassou muito essa fase, parece-me a mim.

Como é que o país se pode organizar para trazer para cá os melhores portugueses que estão no estrangeiro?
Apostando no nosso indiscutível potencial. Vivemos neste pessimismo e fatalismo que é completamente inapropriado. Nós temos um potencial extraordinário de realização empresarial, económico, cultural, científico. Não sabemos é aproveitá-lo. Ou por outra: fazemos tudo para que ele não se possa realizar. E as pessoas vão procurar a sua vida lá fora, onde singram como umas estrelas. Os obstáculos cá são gravíssimos. A grande responsabilidade de tudo isto encontra-se também nas empresas, mas sobretudo no governo.


SEXTO BLOCO – BCP/CGD

Como vê os problemas do BCP que escaparam aos supervisores de forma atempada?
O que me preocupa mais como espectador atento, mas distante, é que o BCP era um projecto simbólico, de grande inovação e grande impacto da iniciativa privada e afinal veio a revelar-se que a iniciativa privada não teve sequer condições ou capacidade para manter o controlo do banco e resolver os seus problemas. O sinal que isto dá de fraqueza da iniciativa privada é talvez o aspecto mais preocupante e que mais decepcionado me deixa. Tenho muita pena que os accionistas portugueses privados não tenham sido capazes de resolver o problema.
Depois, o caso do BCP mostra a importância do governo das empresas, do corporate governance. Mesmo as empresas supostamente mais bem geridas, com gestores com mais autoridade e mais prestígio precisam que haja responsabilização perante os accionistas. Quando isso falha, os problemas surgem.
Há ainda por parte da opinião pública algumas dúvidas legítimas quanto à actuação dos supervisores. Não deram por nada? Não sabiam de nada quanto muitos destes problemas são tão antigos? Em Portugal há uma tradição, que acho infeliz, de excessivo respeito perante as grandes empresas, sobretudo aquelas que têm uma reputação de grande êxito.

Excessivo respeito também por parte dos supervisores?
Sim, sim, claramente.

O Banco de Portugal não tem uma actuação tão firme como devia ter em relação aos grandes bancos?
Não vou criticar o Banco de Portugal porque estive lá três anos e tenho grande respeito pela instituição. Mas mesmo quando lá estive dei-me conta que o banco tinha altos e baixos, vivia entre períodos em que tinha grande autoridade, grande capacidade de intervenção, distanciamento muito forte em relação às instituições supervisionadas e uma chamada à pedra constante. E noutros períodos estas questões eram descuradas.

E estamos em que fase dessas?
Não posso comentar porque agora já não acompanho. Quando lá estive (1990 a 1993) registaram-se conflitos muito sérios e muito graves com certos bancos e o BdP teve uma actuação da qual ainda hoje me orgulho. A equipa, a que pertencia, deixava muito claro quem é que mandava no sistema financeiro português.

Como se pode avaliar o facto de o BdP ter actuado de forma tão diferente perante dois problemas semelhantes, como foram o de Tavares Moreira, ex-presidente da Caixa de Crédito Agrícola, e o do BCP?
Não vou poder responder. Sou muito amigo de Tavares Moreira, por quem tenho respeito e consideração pessoal pela sua seriedade e integridade. Depois o assunto está em justiça neste momento. A única coisa que posso dizer é que foi uma extraordinária surpresa quando soube da sanção aplicada a Tavares Moreira [inibição de exercer funções na banco durante sete anos] a qual continua a ser incompreensível.

A intervenção das autoridades no BCP, com a transferência de administradores da CGD para a instituição financeira, determinou o seu desfecho?
É evidente que sim. Se o BdP não tivesse tido a intervenção que teve, Filipe Pinhal estaria hoje provavelmente a dirigir o BCP.

E isso era bom ou mau?
Não vou fazer comentários.

É legítima aquela intervenção do BdP?
O BdP entendeu que devia intervir. Noutros países muito provavelmente as autoridades monetárias teriam intervindo muito mais cedo. A intervenção não surpreendeu ninguém e cada um tirará daí as ilações que entender.

E sobre o método? É lícito que o supervisor chame apenas os maiores accionistas, diferenciando a informação que dá a estes e a todos os outros? Não devia ter apenas chamado a administração?
É uma matéria muito delicada. De facto é preciso tratar de forma igual todos os accionistas e há bancos centrais que têm uma preocupação imensa com isso. Mas quando se está em situação de crise é diferente. Teria sido preferível que a intervenção se tivesse dado noutros moldes para não haver nenhum sentimento de privilégio para ninguém e que desse confiança a todos os investidores, o que é muito importante. Provavelmente, com a situação de crise, não houve outra forma de intervir.

Considera normal que três administradores de um banco passem directamente para o seu concorrente mais directo, como aconteceu entre a CGD e o BCP?
É de facto muito raro. Nem me ocorre outro caso assim tão extremo como este. O que se verificou é que, sendo a solução do BCP altamente patrocinada pelo governo, não admira que se tenha ido buscar gestores de uma instituição pública para tomar conta de uma outra. Mas dentro de um conceito em que não se trata de instituições privadas em concorrência uma com a outra. Trata-se de uma que tem que se preocupar com o interesse público, que é a CGD.

Mas aí não é o próprio interesse público que fica em causa?
Em Portugal nunca se deu a devida importância à concorrência. Há muito mais preocupação em concertar uma solução, seja ela qual for, do que em permitir que a solução resulte da concorrência aberta e da sobrevivência dos melhores. A opinião pública aceita, o que é uma pena, porque lá se resolveu o problema e pronto. Eu teria permitido uma solução de mercado, uma solução da qual resultasse alguém tomar conta do BCP. Aliás, essa solução esteve em cima da mesa com a oferta do BPI.

A CGD deve ser privatizada?
Sou a favor da privatização. Não me parece indispensável que o Estado tenha a propriedade do maior banco de todos. Mas não acho que seja um problema grave. Temos tantos outros problemas e tantas outras privatizações a fazer... O que era preciso era que a Caixa funcionasse com independência dos poderes políticos. Nesse aspecto deu-se um passo interessante ao escolher um presidente que não é da cor política do Governo. O que é realmente importante é que a CGD tenha um comportamento independente, orientado por critérios de eficiência económica e que seja exemplar na forma como actua. Aí é que está o interesse público. Já houve períodos, num passado não muito distante, em que houve as maiores controvérsias pela forma como a CGD estava a intervir porque havia suspeitas de que não estava a ser totalmente isenta, com desacordos entre administradores e problemas que não prestigiam a instituição.

Como vê a crescente tomada de posições angolanas e chinesas em empresas portuguesas?
Isso está a passar-se em todo o mundo por parte de países que estão cheios de dinheiro, por uma razão ou por outra. O que me preocupa é que em Portugal se abra a porta a esse tipo de intervenções pela nossa própria debilidade. Quando investem para serem mais um parceiro num conjunto que está forte e sólido, tudo bem. Quando aparecem como solução de recurso perante as nossas dificuldades e debilidades é preocupante. A nossa dependência de financiamento externo acaba por pôr as empresas e os activos portugueses à mercê de quem os quiser comprar.

O que é que vai fazer agora profissionalmente?
Vou voltar a dar aulas na Católica, vou trabalhar como consultor numa série de projectos, vou continuar como administrador de algumas empresas no estrangeiro e em Portugal e vou também colaborar num projecto na área política, supra-partidária, que é lançar uma actividade de reflexão e intervenção mas muito mais ao nível dos grandes problemas de fundo do país e na forma como podem ser ultrapassados. Mas ainda não posso revelar detalhes. Daqui a algumas semanas saberão.

Fonte

Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






Cumprimentos
 

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Lusitanus

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(sem assunto)
« Responder #24 em: Março 30, 2008, 07:37:38 pm »
Citação de: "P44"
Não gosto do PSD , mas tenho de admitir que me entristece ver este "partido" entregue a tal criatura.


O Sócrates deve andar feliz da vida, o Menezes fez com que o PSD só olhe para dentro, discutem-se questões de "lana-caprina", projectos para o País nada.

Se o Sócrates conseguir nova maioria absoluta (bate na madeira-3-vezes...) o grande responsável será Men-enzes!!!!

 :mrgreen:


Realmente não é mau pensado.
Onde é que estão as mulheres da politica para primeira-ministras??? nunca aparecem e depois queixam se de que são discriminadas.

Já agora pk é que um lider de um partido tem que ser obrigatoriamente um PM e depois um PR?? pk?
"Cumpriu-se o mar e o império se desfez
Senhor, falta cumprir-se Portugal"