Permita-me que discorde, routechecker.
Embora seja fácil concordar com os bons sentimentos e a moralidade fácil e cómoda do falecido (perdoe-me mais uma vez a franqueza) - cujo percurso profissional merceria um contraposto com as suas afirmações, julgo que tais raciocinios são prejudiciais para os indivíduos.
Repare ( e perdoem-me a linguagem simplista e rude)
1- O seu vizinho rouba (mas não é por isso que o vai fazer também);
2- O outro seu vizinho rouba;
3- O seu familiar rouba;
4- O funcionário que deveria combater o roubo rouba;
5- O Chefe que deve servir de referência rouba;
6- Os que roubam são louvados;
7- Os que roubam vão de férias para o estrangeiro...
Se o sistema consente com o roubo, porque não foi capaz de criar estruturas para o evitar para o bem de todos e em benefício exclusivo do indivíduo mais "atento às modas", não lhe parece que aquele que não se adapta ao ambiente é o mais fraco e que deve desaparecer?
Não estou aqui a defender o roubo (e se calhar até estou

) mas o que pretendo dizer é que a falha só existe quando há regra. E sem regra não há falha!
E uma sociedade eficiente precisa de regras impostas com a força e com a razão. Presentemente há pouca força e a pouca que há geralmente é aplicada sem ou com pouca razão.
O Prado Coelho e outros espertinhos são (eram) muito hábeis em diluir as responsabilidades de quem deve gerir a força e a razão. E em dar lições de moralidade a quem pouco pode efectivamente fazer.
Quem se acredita que teriamos um melhor governo se não nos furtássemos ao pagamento de impostos?
Quem acredita nisso?
A propósito deixo-vos um texto que julgo que vem a propósito (e que será alegadamente da autoria de um magistrado)
o fim do regime
Já lá vão uns anos Francis Fukyama escreveu um livro que o fez famoso, primeiro pelo arrojo do título, e da tese, e mais tarde, pelo ridículo. O livro chamava-se 'O fim da História', e proclamava a vitória absoluta e definitiva da civilização ocidental. O problema é que a história está longe de acabar. Atente-se em Portugal - com histórias atrás de histórias, muitas sem fim à vista - em que se assiste hoje, ao vivo e em directo, aquilo que mais não é que o fim, o último estertor, de uma espécie de regime. A prova provada que a História está muito longe de ter acabado.
Os sinais andam todos por aí, para quem os quiser ver. A objectividade é coisa que deixou de existir, a única exigência que se requer é a da fidelidade, e tudo - mesmo tudo - se tornou governamentalizado , e governamentalizável. Os factos esses não interessam - só o spin. Vivemos num país onde é possível aprovar um novo Código de Processo Penal, o qual contém uma alínea que de tão insidiosa, (quase) ninguém se recorda de a ter introduzido e - pasme-se de a ter lido. Nem quem o votou, nem quem o aprovou - em Belém. É a velha lei - as rolhas flutuam sempre, e há-as de todas as cores. É a lei... do silêncio em que tudo se arranja, em nome do sossego, de um favor, de uma promoção, ou da chantagem mais ou menos discreta. O medo - basta ver o episódio DREN - também conta.
Vivemos num País onde não é possível mais dissociar o Estado, um ente abstracto - em quem todos deviamos confiar - 'deles'. Já criticamos esta e aquela medida porque 'eles' - sejam quais forem não são de 'confiança'. Portugal agora está assim. Cerceia-se a liberdade básica à informação, ao mesmo tempo que se tenta entreter o bom 'povo' com a mais pura propaganda. Por estes dias até - pasme-se - a cartada nacionalista se agita - seja para proteger o Presidente da Comissão Europeia, seja naquela que é seguramente uma das mais bem montadas (e arriscada - e vamos ver se não também suicida - também) operações das últimas décadas, para salvaguardar o bom nome da nossa polícia, naturalmente a 'melhor' do mundo. Ao mesmo tempo, promovem-se 'reformas' - eufemismo que serve para justificar o controlo e governamentalização estrita de tudo e mais alguma coisa. Estava tudo tão mal, e estava, que tudo passa - porque afinal não poderá ficar pior. Pode, e vai ficar. Sobram, pesem os submarinos, no papel, os militares, que não por acaso, e para quem souber ler, sacaram a Cavaco o único veto realmente relevante que veio de Belém.
O drama disto disto é que a 'rapaziada', dos que nos governam, ao Noam Chomsky português, não percebem que (já) se está no domínio da insustentabilidade. O nacional-porreirismo, o deixa andar, que nos caracteriza permitiu a criação de uma sociedade por castas, onde uns podem podem opinar e mandar, quiçá ter acesso a informação privilegiada e outros não. A tese, e o esquema, tem barbas e nunca deu grandes resultados. Eles, os guardiões do templo, acham-se únicos e imprescindíveis. Mesmo quando arrufam entre si, não vislumbram, muito menos desejam, qualquer alternativa que não sejam eles próprios. Nos entretantos esperam que o povo cante e ria.
Só que, destruindo - por acção e omissão - toda e qualquer espécie de escape e de equilíbrio - através do próprio sistema - estão tão só e apenas a cavar não só a sua própria sepultura como também a do regime em que se inserem, já que impedem toda e qualquer capacidade deste se auto-regenerar por dentro.
E não, este não é uma prosa pessimista, antes pelo contrário. É, quanto muito, uma prosa levemente fatalista e resignada. Isto vai mesmo ficar muito pior, antes de haver uma réstia de esperança de poder ficar melhor. As coisas são o que são.
http://grandelojadoqueijolimiano.blogsp ... egime.html