OPA da SONAE sobre a PT - Opinião de José M. Brandão Brito

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Marauder

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OPA da SONAE sobre a PT - Opinião de José M. Brandão Brito
« em: Fevereiro 26, 2006, 09:06:39 pm »
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Sonae versus Portugal Telecom
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A actualidade nacional tem vindo a ser dominada por dois episódios de natureza diferente, é certo, mas de grande importância no quadro das nossas sociedades democráticas: a questão dos cartoons de Maomé, que se prende sobretudo com a liberdade de imprensa, e a forma como pode ser usada, e a OPA da Sonae lançada sobre a Portugal Telecom.
A actualidade nacional tem vindo a ser dominada por dois episódios de natureza diferente, é certo, mas de grande importância no quadro das nossas sociedades democráticas: a questão dos cartoons de Maomé, que se prende sobretudo com a liberdade de imprensa, e a forma como pode ser usada, e a OPA da Sonae lançada sobre a Portugal Telecom.

Vou, obviamente, escrever sobre este segundo tema, embora queira deixar expresso que à liberdade, direito fundador da nossa democracia, nada justifica a imposição de limites: já tivemos, num passado não muito longínquo, a experiência de como a prudência e as piedosas intenções conduziram a intoleráveis restrições. O que tem de haver são mecanismos legais que permitam julgar os crimes que se pratiquem à sombra dessa liberdade.

Quanto à OPA vou tratar o tema focando meia dúzia de ideias que me parecem fundamentais:

1. Na medida em que o sistema em que vivemos se fundamenta em algumas regras simples e em princípios como o da confiança, do optimismo e da previsibilidade, o eng. Belmiro de Azevedo e o Grupo Sonae deram um sinal claro de confiança na evolução recente da economia portuguesa, mostrando que se está a querer iniciar um novo ciclo.

2. Há algum tempo que os analistas, e designadamente um dos chamados accionistas de referência da PT, o BES pela voz do seu presidente Ricardo Salgado, assinalavam a vulnerabilidade do grupo em relação a uma OPA que a maioria pensava poder vir a ser desencadeada do exterior. A principal ameaça, dizia-se, provinha da espanhola Telefonica, parceiro estratégico da PT mas potencial compradora. Por razões que conhecemos, o sempre invocado acordo político estabelecido entre os governos, impediria que tal viesse a acontecer; a esta limitação acresceria o facto da companhia espanhola ainda estar ainda a digerir a recente compra da operadora móvel inglesa O2.

3. Dito isto, e considerando que grande parte desses analistas e observadores valorizam positivamente a tomada de posição da SONAE, sou de opinião que a OPA abriu um precedente que pode ser perigosos para a PT e se pode revelar uma caixa de Pandora: todos sabemos como a coisa começou mas não sabemos que voltas e consequências irá ter. Para já, e na prática, a paralisia da nossa maior empresa e um longo período de expectativa até que o mercado e os principais protagonistas acertem as suas estratégias face ao novo quadro entretanto estabelecido.

4. A PT que hoje conhecemos é uma das mais antigas estruturas empresariais sedeadas no nosso País, cuja origem remonta a 1856 quando foi instituída a Direcção Geral dos Telégrafos do Reino. A maior empresa portuguesa da actualidade ilustra exemplarmente o que pode ser a evolução de uma empresa ao longo dos tempos e o trabalho que dá construir um gigante empresarial (à nossa escala, claro): a situação a que hoje se chegou é fruto de um longo percurso que, através de transformações, fusões, absorções, compras e alienações de entidades públicas e privadas, de capitais nacionais e estrangeiros, conduziu à estrutura actualmente existente, sendo que neste percurso se foram cruzando, a partir da segunda metade do século XX, os CTT, a Anglo Portuguese Telephone, os Telefones de Lisboa e Porto, a Companhia Portuguesa de Rádio Marconi...

5. Também por tudo isto, a PT constitui, sem margem para dúvida, um dos grandes centros de decisão estratégica, daqueles sobre os quais se têm assinado manifestos reclamando a sua manutenção em mãos nacionais. Mais, a PT não pode ser vista como uma mera fonte de retorno accionista e de mais-valias efémeras. Sabendo-se que a Sonae representa, em termos de capitalização bolsista cerca de um quarto da PT, e considerando as operações financeiras que a Sonae será forçada a fazer, é legítimo questionar se a prazo tal objectivo será sustentável.

6. A PT vale como um todo. Por isso discordo do seu desmembramento e da sua divisão. Por isso discordo do que me parece ser a posição da SONAE de vender as participações não maioritárias da PT: precisamente as que lhe dão uma dimensão multinacional. A intenção de proceder à venda dessas participações (que aliás já foram anunciadas), vão enfraquecer a empresa que daí resultar na medida em que significam sempre, qualquer que seja a perspectiva, destruição de valor.

7. Não duvido da genuinidade do passo dado pelos patrões da Sonae: defendem os seus interesses e estão certamente convencidos que, do mesmo golpe, favorecem o País. Mas não deixo de pensar que se Belmiro de Azevedo quiser verdadeiramente prestar um grande serviço ao País, em vez de tentar comprar uma empresa já existente, podia criar algo de verdadeiramente novo aplicando as suas disponibilidades e o seu talento, investindo em novas actividades produtivas, sobretudo na área dos bens transaccionáveis, por forma a melhorar a nossa competitividade global.

Assim, de uma penada, não só dava um eloquente exemplo de empreendedor como contrariava a recaída que se vem sentindo em alguns dos grandes empresários portugueses que é a de se estarem a refugiar no sector financeiro e no imobiliário geralmente por trás do biombo dos de grandes empreendimentos turísticos.

Professor Catedrático de ISEG/UTL
 


de:
http://www.negocios.pt/default.asp?SqlP ... tId=272123

   Tive que meter aqui esta opinião, de talvez o melhor professor que tive na universidade. Concordo claramente com a sua opinião e seus receios!!!

  Cumprimentos
« Última modificação: Fevereiro 26, 2006, 10:10:27 pm por Marauder »
 

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PereiraMarques

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« Responder #1 em: Fevereiro 26, 2006, 09:13:02 pm »
O Professor Brandão de Brito não é João, mas sim José :wink:

Cumprimentos
B. Pereira Marques
 

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Marauder

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« Responder #2 em: Fevereiro 26, 2006, 10:12:08 pm »
Verdade, erro corrigido ( a verdade é que eu só conhecia pelo ultimo nome, Brandão de Brito e pela foto que me parecia 1 cara familiar  8) )