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Publico
Dezenas de Milhares nas Ruas de Roma para Assinalar o "Dia B"
Por PEDRO CALDEIRA RODRIGUES
Sábado, 05 de Junho de 2004
Dezenas de milhares de pessoas, sob a vigilância atenta das forças policiais, desfilaram ontem pelas ruas de Roma em protesto contra a visita do Presidente dos Estados Unidos, que ontem iniciou na capital italiana um difícil desafio diplomático na Europa.
Como geralmente sucede nestas ocasiões, a polémica relacionada com a deslocação do chefe da Casa Branca também se estendeu ao número de participantes na manifestação, registada nas vésperas das celebrações dos 60 anos do dia D, o desembarque aliado na Normandia em 1944.
Aliás, a iniciativa decorreu sob o signo do "Dia B": "Bush, não obrigado" e "Bush vai para casa" foram algumas das frases que obtiveram mais eco entre os participantes. A polícia referiu-se inicialmente a sete mil pessoas, depois admitiu 25 mil, enquanto os organizadores asseguraram que entre 150 mil e 200 mil desceram às ruas, revelou a BBC.
"Não à guerra, não a Bush" foi outra das palavras de ordem mais escutadas no desfile, enquadrado por forças policiais fortemente equipadas e que se iniciou ao início da tarde, após um apelo da esquerda moderada e radical, de sindicatos e de diversas associações não-governamentais.
Os relatos referem-se a uma manifestação calma apesar de ser perceptível um clima de tensão, atribuído às declarações emitidas na véspera pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que admitiu a ocorrência de actos de violência. Acabaram por ser registadas algumas escaramuças protagonizadas por jovens com a face coberta, que atiraram garrafas e pedras em direcção aos contingentes policias ou contra edifícios governamentais, enquanto tentavam ser controlados pelos serviços de ordem da manifestação. O tráfico rodoviário também foi bloqueado pelos participantes em diversos pontos da cidade.
"Estou aqui para apoiar a resistência palestiniana e iraquiana contra a opressão americana", referiu uma jovem manifestante, escutada por um repórter da AFP. "A Itália segue os Estados Unidos como um cachorro e come agora sozinha na tigela que a Espanha entretanto abandonou", sugeriu outro jovem, numa referência ao apoio do actual Governo de direita italiano à política da administração Bush.
A Itália possui um contingente militar estacionado no Sul do Iraque, enquanto três civis italianos permanecem desde há algumas semanas na posse dos seus captores. Um italiano foi já executado como represália pelo envolvimento de Roma no conflito, e o grupo que detém estes três homens ameaçou executá-los caso os italianos não protestassem nas ruas contra o Presidente norte-americano e o Governo de Berlusconi.
Roma esteve na primeira linha das manifestações mundiais contra a invasão e ocupação militar do Iraque, com três milhões de manifestantes em 15 de Fevereiro de 2003 e mais de 500 mil em 20 de Março passado.
O sermão de João Paulo II
Logo após a sua chegada pela manhã, e protegido por um excepcional dispositivo de segurança, George W, Bush dirigiu-se ao Vaticano para um encontro com o Papa João Paulo II, que lhe fez um verdadeiro "sermão" sobre a questão do Iraque.
O chefe da Casa Branca foi assim confrontado com o pedido de uma "rápida normalização do Iraque com a participação activa da comunidade internacional e em particular das Nações Unidas".
O Sumo Pontífice, apesar de muito debilitado, reafirmou desta forma as teses do Vaticano, que denunciou desde o início a invasão e ocupação militar anglo-americana do Iraque. "Na ausência de semelhante compromisso, nem a guerra nem o terrorismo poderão ser vencidos", prosseguiu o Papa, que também evocou a necessidade de "relançar a esperança de paz na Terra Santa".
De forma implícita, João Paulo II também condenou perante Bush as torturas infligidas a prisioneiros iraquianos pelos militares norte-americanos, quando recordou "a divulgação dos acontecimentos deploráveis destas últimas semanas e que perturbaram a consciência cívica e religiosa de todos".
O terceiro encontro entre o chefe da Igreja católica e o dirigente norte-americano, que se fez acompanhar pela sua mulher Laura, ficou assinalado por um pequeno incidente: Bush chegou atrasado 15 minutos, mas não há registos de ter sido repreendido por esta falta.
O Presidente dos EUA, de religião protestante, está em campanha para a sua reeleição num país que inclui 60 milhões de católicos. O líder da hiperpotência norte-americana, garantiu a AFP, optou mesmo por alterar a sua agenda para poder encontrar o Sumo Pontífice, que parte para a Suiça este fim-de-semana.