Nacionalismo japonês une China e Coréia do Sul
11 milhões de chineses assinam contra a candidatura do Japão a ingressar no Conselho de Segurança da ONU
Da sucursal de Pequim
Milhões de chineses assinaram uma petição contra a aspiração do Japão a ocupar um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Em uma iniciativa inédita, apoiada por três grandes portais da Internet chinesa, mais de 11 milhões de cidadãos já assinaram. A petição será entregue à embaixada japonesa em Pequim, ao governo chinês e à ONU, declarou o diretor do portal sina.com, Chen Tong.
Na China, o sentimento antijaponês é forte, especialmente entre a juventude, e muito mais radical e extremo que a linha moderada do governo. Embora se diga que as autoridades chinesas utilizam esse sentimento em nome da "consolidação nacional", seu verdadeiro promotor é a atitude do Japão.
O crescente militarismo e nacionalismo do governo japonês inclui uma reivindicação do passado imperial, que nos anos 30 e 40 custou a vida de 20 milhões a 30 milhões de chineses, segundo estimativas.
Desde 2000, o primeiro-ministro Koizumi visita periodicamente o santuário de Yasukuni, onde estão enterrados seis criminosos de guerra que foram enforcados pelos aliados depois da Segunda Guerra Mundial, entre eles o general Tojo --algo que o imperador nunca fez.
O governo japonês promove uma nova redação dos livros de texto que suaviza ou omite os crimes de guerra japoneses. Na nova versão se diz, por exemplo, que durante a ocupação "o Japão ajudou a modernizar a Coréia", e omitem-se fatos como o de que os coreanos foram obrigados a adotar nomes japoneses, foram mobilizados contra sua vontade e entre 100 mil e 200 mil mulheres, na maioria coreanas e chinesas, foram transformadas em escravas sexuais pelo exército ocupante japonês a partir de 1937.
Em novembro, a Suprema Corte japonesa recusou um pedido com 13 anos de história apresentado por um grupo de escravas sexuais sul-coreanas. Em 18 de março aconteceu o mesmo no caso apresentado por duas anciãs chinesas.
Nakayama Nariaki, ministro da Educação japonês, comentou a sentença de novembro dizendo: "Está bem, não devemos nos concentrar excessivamente no negativo".
Nesse contexto, os coreanos explodiram quando no dia 16 uma assembléia provincial decidiu instaurar o "dia de Takeshima". Takeshima é o nome de ilhotas vulcânicas controladas pela Coréia do Sul e disputadas por Tóquio. "Uma nação que não sabe assumir seu passado não tem direito a uma posição de liderança na ONU", salienta o editorial de um semanário de Seul.
Em 23 de março, em uma mensagem à nação, o presidente sul-coreano, Roh Moo Hyun, anunciou uma "dura guerra diplomática" contra o Japão nos organismos internacionais, pelo que considera ultrajes repetidos. "Esses atos não são obra de um grupo de ultranacionalistas insensatos; eles têm o apoio do governo", disse.
"Não podemos continuar presenciando o Japão justificar sua história de agressão ou de ocupação, e sua intenção de conseguir novamente a hegemonia, porque se trata de um assunto que determinará o futuro da península coreana e da Ásia norte-oriental", disse Roh.
Poucos dias depois, soube-se que a Coréia do Sul pensa em batizar um dos novos destróieres invisíveis de sua marinha com o nome de um herói nacional ligado à soberania das ilhas Tokdo (Takeshima em japonês), que o Japão disputa.
O mais significativo é que tudo isso afeta igualmente a Coréia e a China, e une suas opiniões públicas num momento em que as alianças da região estão se movendo e quando o tradicional eixo da Guerra Fria formado por Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul está se rompendo na Coréia.
A China também tem um pleito insular com o Japão, sobre as ilhas Diaoyu (Senkaku em japonês), situadas a sudeste de Okinawa, e Pequim diz que a melhora das relações depende de o Japão assumir sua história na Ásia, como fez a Alemanha na Europa.
Economicamente, o Japão depende mais da China que vice-versa. Por outro lado, a China já é o maior parceiro comercial da Coréia do Sul, enquanto esta quer se transformar no maior investidor estrangeiro na China nos próximos anos.
A crise comum de relações com o Japão contribui para a aproximação dos dois países, o que preocupa o governo Bush, cada vez mais hostil com o independente presidente sul-coreano.
"Alguns se perguntam se a subida de tom nessa obscura disputa territorial transformada em cruzada presidencial não poderia fazer parte de uma política para afastar a Coréia do Sul da aliança militar com o Japão e os Estados Unidos", salientou ontem o "Asian Wall Street Journal".