Otelo Saraiva de Carvalho? Um miserável terroristaDevo começar este artigo fazendo um conjunto de declarações de intenção.
Em primeiro lugar, por princípio e educação, começo por clarificar que considero que o momento da partida física de alguém nunca é o momento para ajustes de contas com o finado e com o passado.
Mas dizer isto, também não significa que entenda que lá porque uma pessoa morre, deva mudar a minha opinião sobre essa mesma pessoa, apenas e só, porque morreu.
Pelo contrário, acho que as tentativas de branquear na morte, alguém que foi um escroque em vida, é um exercício que nem o falecido admitiria se cá estivesse para assistir.
Eu próprio, no dia em que morrer, dispenso que só por ter morrido, quem não tenha gostado de mim em vida opte por santificar-me na morte.
Pela simples razão que a segunda é o derradeiro estágio da primeira e nunca o reset para aquilo que durante ela, aconteceu.
Otelo Saraiva de Carvalho foi, política e militarmente, um escroque.
Mas é impossível falar de Otelo sem falar no 25 de abril, desde logo pelo romantismo que em torno da sua pessoa é insistentemente alimentado, considerando-se o homem um grande vulto do momento.
Sejamos honestos: Otelo foi apenas um oportunista. Nada mais.
O 25 de abril foi apenas um desfecho natural do curso da História previamente anunciado.
Otelo tirou disso, partido. Apenas e tão só. Cavalgou a onda e serviu-se dela para benefício próprio. Se não tivesse havido o 25 de abril, teria havido, mais cedo ou mais tarde, outro qualquer 25 de abril.
E Otelos haveria sempre muitos. Basta surgir o momento certo para eles aparecerem.
O que não faz sentido é vangloriar um homem que em vida foi sempre um miserável.
No dia em que todos são com ele tão simpáticos, porque não falam da influência tribal que Otelo teve nas bárbaras ocupações da Reforma Agrária?
Porque não falam no papel preponderante que teve no “Gonçalvismo” que foi talvez dos governos provisórios, aquele que mais mentecaptos teve nas suas fileiras?
Porque não contam aos mais novos, o que foi e fez o COPCON, conjunto de forças militares afectas ao então fortíssimo e canibal Partido Comunista Português, estrutura a dada altura chefiada pelo próprio Otelo?
Porque ninguém fala do que na sua liderança aconteceu em Portugal durante o PREC?
E o processo das FP25? Porque ninguém lembra que Otelo Saraiva de Carvalho se viu a braços com a justiça por ter estado envolvido nesta célula terrorista que entre 1980 e 1987 terá pelo menos sido responsável pela morte de 17 pessoas, a tiro e à bomba?
Já se esqueceram que em 1986 este homem foi condenado a 15 anos de prisão por associação terrorista?
Mais, já se esqueceram a forma como em 1991 foi indultado e em 2004, amnistiado?
É que sabem? Um indulto pode ser a clemência do poder público e uma amnistia um perdão governamental ou político.
Mas nem um nem outro alteram as causas e fundo de uma condenação. Apenas a extinguem. Pelo puro arbítrio de uma decisão política que em muitos casos nem precisa de especial fundamentação.
É bom não confundir as coisas.
Para todos efeitos, Otelo Saraiva de Carvalho foi um terrorista.
E era apenas como terrorista que deveria ser hoje lembrado.
Não como um grande militar, que nunca foi, não como um importante político, que não era, e nunca como um exemplo de homem, circunstância que manifestamente em nada, alguma vez lhe assentou bem.
Termino com um episódio histórico.
Na década de 70, já depois da revolução de abril, Otelo deslocou-se à Suécia a convite do primeiro-ministro social-democrata, Olof Palme.
Na sua presença, Palme terá questionado Otelo sobre as intenções da revolução portuguesa. Tanto quanto se sabe Otelo ter-lhe-á respondido que seria “acabar com os ricos”. Palme respondeu-lhe que isso era curioso porque na Suécia andavam há 20 anos a tentar acabar com os pobres.
Penso que este episódio chega…
Rodrigo Alves Taxa
Assessor Jurídico do Gabinete Parlamentar do Partido Político Chega
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