Exército português está prestes a atingir o maior aumento de militares da última décadaJoão Guerreiro Rodrigues
Hoje às 07:00

O Exército português está a conquistar a Geração Z e, com isso, a inverter uma década de "queda livre" no número de militares, estando prestes a adicionar o equivalente a "mais um batalhão" aos seus quadros este ano
O Exército português está a reverter a tendência de perda do número de militares que atingia as Forças Armadas há quase uma década. Em 2024, o Exército já tinha conseguido uma "inflexão na curva" de efetivos que permitiu "estancar" a perda de militares, mas, este ano, com base nos números atuais, projeta-se um crescimento entre 500 a 700 novos militares.
"Em 2024 conseguimos fazer uma inflexão da queda [do número de militares]. Hoje posso dizer, com alguma satisfação, que estamos a crescer. Se nos correr como está a correr, chegamos ao final do ano com o equivalente a um batalhão", revela o major-general Dias Martins, chefe da Direção de Recursos Humanos do Exército, em declarações exclusivas à CNN Portugal.
O objetivo final para 2025 é conseguir atingir entre 13.300 e 13.500 militares no ativo. A concretização desta meta marcará um dos maiores aumentos registados na última década, invertendo uma tendência que se arrastava há mais de dez anos. Atualmente, o Exército conta com 12.593 efetivos, dos quais 1.729 são civis, um número abaixo do mínimo definido pelo decreto-lei que estabelece que os três ramos das Forças Armadas devem ter um contingente de 32 mil militares para garantir a "capacidade operacional exigida".
Desde 2013 que o número de militares do Exército estava "em queda livre", de acordo com o major-general Dias Martins. A gravidade desta queda de efetivos é ilustrada por dados internos do Exército: o contingente de praças (soldados e cabos) desceu de 11.651 em 2007 para atingir o seu ponto mais baixo em 2024, com apenas 3.953 efetivos. A única exceção é o ano de 2020, em que a pandemia de covid-19 levou ao congelamento de contratos e evitou que centenas de militares saíssem. Só que em 2025, com meio ano decorrido, a tendência foi invertida, com o número de praças a subir para 4.124 a 31 de julho de 2025, mostrando que o Exército conseguiu inverter a curva.
Os militares atribuem a reversão deste cenário a uma profunda mudança de paradigma. A instituição apostou numa nova estratégia que combina um recrutamento mais adaptado à Geração Z, com uma comunicação mais focada nas redes sociais. Ao mesmo tempo, os militares estão a abrir mais ciclos de recrutamento, para assegurar que os jovens não desistem do Exército enquanto esperam por uma vaga. Este ano, o Exército prepara-se para fazer sete períodos de recrutamento, um número muito superior ao dos outros ramos das Forças Armadas.
O major-general Dias Martins destaca também as medidas tomadas para assegurar que os militares permanecem nos quadros do Exército, particularmente a criação do Quadro Permanente de Praças, que permite aos jovens soldados e cabos terem uma carreira estável e permanente, tal como os oficiais e sargentos. O Exército está a abrir 110 vagas por ano, com aproximadamente 700 militares a candidatar-se.A maioria das candidaturas reflete a densidade populacional das regiões, com a Região de Lisboa e Vale do Tejo (34%) e a Região do Norte (33%) a liderarem a contagem. A Região do Centro contribui com 15% das candidaturas, seguida pela Região do Alentejo (6%), Açores (5%), Madeira (4%) e Algarve (3%). A instituição tem adaptado as suas estratégias para captar este público, apostando no chamado "recrutamento local", que permite aos jovens serem colocados mais perto de casa.
Apesar do sucesso, o Exército não se compromete com prazos para atingir as metas a longo prazo, mas admite que alcançar os 16 mil militares é um objetivo "meritório" e "enquadrado" com o decreto-lei que estabelece o número de efetivos das Forças Armadas em 32 mil militares. A instituição continua a trabalhar para rejuvenescer os seus quadros, com a abertura de concursos para recrutar civis para áreas administrativas e técnicas.
Além disso, o Exército está a investir na modernização das infraestruturas para melhorar as condições de vida dos seus militares. A instituição está a executar seis projetos com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), num total de 31 milhões de euros.
O projeto de maior destaque, com mais de 23 milhões de euros aprovados, visa a reabilitação de 427 Unidades de Alojamento Urgente e Temporário. Este esforço é uma resposta direta à visão de modernização do Exército, que visa substituir o conceito de "casernas" por quartos com menos camas e melhores condições, refere o major-general Dias Martins."Hoje os nossos militares já não vivem em casernas, amontoados. Isso não se compadece com esta geração. E isso obriga-nos a ter quartos e não casernas. Mais condições nos quartos e menos gente por instalação", explica o major-general.
A reversão da tendência de perda de militares coincide com um aumento da despesa em Defesa em Portugal. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, assumiu o compromisso de gastar mais de 2% do PIB até ao final deste ano, com um aumento que "rondará os mil milhões de euros". Este "incremento" vai ser direcionado para a compra de equipamento, investigação e salários das Forças Armadas.
Apesar de o major-general Dias Martins não ter abordado diretamente a questão dos salários, a inversão na tendência de efetivos acontece num momento de grande valorização financeira para a profissão militar.
O salário médio líquido dos profissionais das Forças Armadas registou um aumento pronunciado de 19%, ou 286 euros por mês, no último ano, alcançando os 1.802 euros. Este valor é significativamente superior à média nacional, que subiu apenas 7%. Nos últimos dois anos, o aumento salarial para os militares chegou a 40%.https://cnnportugal.iol.pt/militares/exercito/exercito-portugues-esta-prestes-a-atingir-o-maior-aumento-de-militares-da-ultima-decada/20250828/68aec8d4d34ef72ee449d4da