Sabiam que as armaduras do Arsenal de Elvas, há umas boas décadas atrás, foram vendidas a um latoeiro que as transformou em tachos, panelas e fechaduras para portas? Há ainda portas em casas do Alentejo que o testemunham. Os espelhos das fechaduras são pedaços do que outrora defendia peitos e braços dos nossos antepassados. No exemplar, que anexo, encontramos a tampa de um tacho feito do centro de um peitoral milanés da segunda metade do século VXI, reconhecendo-se ainda gravados de origem. Muitas armaduras destas se perderam em terras longiquas, em batalha. Mas onde estão as que pro cá ficaram? Assim como todo o património histórico-militar (armamento, equipamento, fardamento, bandeiras, etc., etc.).
É fácil culpar o saque filipino, o terramoto, as invasões francesas, ets., mas a verdade histórica, que o tempo sempre vai descobrindo, é outra. Não foram só as intervenções estrangeiras e as castátrofes naturais que aniquilaram a existênca dos testemunhos do nosso passado.
Foi sobretudo a interpretação da palavra "velho". Na lingua inglesa, por exemplo, "old" significa, ao mesmo tempo, "velho", "idoso", e "merecedor de carinho e veneração". Na língua portuguesa a palavra "velho" significa "idoso" mas é interpretada, com excessiva frequência, no sentido de "não presta", "deita-se fora".
E assim deitou-se fora tudo o que se considerava "velho" e "obsoleto". Deitou-se fora grande parte do que nos poderia testemunhar a história do País. Olhar para o que resta duma bela armadura e pensar no ferro que cobria o peito onde batia o coração dum guerreiro do século XVI acabou por servir de tampa a um tacho, isto é um sério assunto para uma grande reflexão...
Drum Major[url=http://img571.imageshack.us/