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D. Afonso henriques - Abertura do tumulo

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desvendar a lenda

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SSK

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desvendar a lenda
« em: Maio 18, 2007, 07:30:18 pm »
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Afonso Henriques: não abrir túmulo é má decisão
2007/05/18 | 16:57
Decisão da ministra é «um caso de pensamento retrógado», acusa o catedrático Carlos Fiolhais
 
MAIS:
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O catedrático Carlos Fiolhais criticou esta sexta-feira a decisão da ministra da Cultura de impedir a abertura do túmulo de D. Afonso Henriques para fins científicos, considerando que «se perde uma oportunidade excelente de juntar a Ciência à História».

«É uma má decisão. A ministra da Cultura tinha uma oportunidade excelente de juntar a Ciência à Cultura, neste caso à História, e pôs de lado a Ciência. A Ciência é vítima do processo», disse o físico à agência Lusa, observando que, ao interditar-se o sarcófago do primeiro rei de Portugal à investigação, se está a adoptar «uma posição anti-científica».

A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, impediu a abertura do túmulo do rei fundador da nacionalidade, concordando com um parecer do conselho consultivo do Instituto Português do Património Arquitectónico que considerava não estarem suficientemente acauteladas as questões de salvaguarda patrimonial.

«É um estudo científico sério, como se faz nos países mais desenvolvidos, em que se ia ao encontro do nosso passado com as técnicas mais modernas. Era para valorizar a memória do nosso primeiro rei», frisou o professor do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Ao comentar a decisão da ministra, Carlos Fiolhais classificou- a ainda como «um caso de pensamento retrógrado», considerando que «saber mais e saber a verdade é positivo e valoriza. Saber menos ou ignorar é negativo e é sempre menosprezar».



FICO UM POUCO DIVIDIDO  :conf:  :!:
"Ele é invisível, livre de movimentos, de construção simples e barato. poderoso elemento de defesa, perigosíssimo para o adversário e seguro para quem dele se servir"
1º Ten Fontes Pereira de Melo
 

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Yosy

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« Responder #1 em: Maio 18, 2007, 07:46:15 pm »
Devia-se abrir. Acabem lá com estas mariquices romanticas.
 

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JoseMFernandes

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« Responder #2 em: Maio 18, 2007, 07:51:50 pm »
Jornal PUBLICO - 18/5/2007:

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Afonso Henriques ambicioso, diplomata, coléricoTexto de Teresa Firmino


Era um soldado astuto, que conquistou Santarém com a ajuda de um pequeno grupo de homens, um político inteligente, que soube negociar com a alta nobreza nortenha, e um aventureiro insubmisso, que só muito tarde casou com D. Mafalda de Sabóia. Diz-se que bateu na mãe, mas isso é pura lenda.
D. Afonso Henriques nasceu em 1109 (em Guimarães ou, mais provavelmente, em Viseu); morreu em Dezembro de 1185, em Coimbra. Pelo meio, nasceu um país, um pouco por acaso.
Era o historiador Luís Krus, discípulo do medievalista José Mattoso, quem ia escrever esta biografia para a editora Círculo de Leitores. Mas morreu em 2005 e Mattoso herdou a tarefa. "D. Afonso Henriques", com mais de 300 páginas, junta-se a outras obras suas de prestígio, como "A Identificação de um País - Ensaio sobre as Origens de Portugal, 1096-1325" e os oito volumes da "História de Portugal", que dirigiu e de cujos dois primeiros volumes foi co-autor.
Mattoso tem 74 anos. Foi monge beneditino durante 20, até que em 1970 lhe foi concedida, a seu pedido, a dispensa dos votos. Doutorado na Universidade de Lovaina, na Bélgica, presidiu ao Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, de 1996 a 1998. Foi o primeiro galardoado com o Prémio Pessoa, em 1987, e acaba de receber o Prémio Troféu Latino 2007, atribuído pela União Latina, organização internacional de 37 países, pela sua contribuição na difusão da latinidade. Aposentado desde 1998 da Universidade Nova de Lisboa, continua a orientar teses de doutoramento.

Como explica que, até agora, ninguém tenha escrito uma biografia científica do primeiro rei de Portugal?

A matéria para fazer uma biografia é muito escassa. São duas ou três informações, que se resumem a poucas páginas, na historiografia narrativa. Aproveitar a documentação avulsa para completar a biografia requer bastante investigação, comparações minuciosas, identificação das personagens que figuram nos documentos. Praticamente ninguém o tentou, até à publicação de um livro do professor Freitas do Amaral, que não é propriamente uma biografia científica. Herculano escreveu a história do reinado de D. Afonso Henriques. Na sua "História de Portugal", o texto está de tal maneira centrado na pessoa do rei que se pode aproximar da biografia. Agora, o Círculo de Leitores começou a publicar as biografias dos reis de Portugal. Não era pensável D. Afonso Henriques ficar de fora.

A biografia "D. Afonso Henriques", de Freitas do Amaral, de 1999, não é científica porquê?

Porque usa indiscriminadamente as fontes narrativas, partindo do princípio que são verídicas. Ora, tirando os "Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses", redigidos pouco depois da morte do rei, todas as outras foram escritas a partir do princípio do século XIV, ou mesmo no século XV e no século XVI (como a "Crónica de 1419" e a "Crónica" de Duarte Galvão), por autores que tinham uma concepção da história totalmente diferente da nossa. Estas fontes, como os próprios "Anais", têm de se submeter a um trabalho crítico cuidadoso. A obra de Freitas do Amaral é uma tentativa de interpretação da figura histórica de Afonso Henriques a partir de bases inconsistentes.

Afonso Henriques não é suficientemente interessante para já ter uma biografia publicada?

É interessante, porque há episódios do género lendário para os quais era preciso encontrar consistência histórica, sem cair na justificação da lenda. A investigação portuguesa é que não estava muito virada para aquela época. Considerou-se sempre um desafio difícil. Tem de se conhecer bem a época, o sentido dos episódios narrativos das crónicas e conjugar isso com informações verídicas situadas no tempo e espaço, que se encontram noutros documentos da altura.

A que lendas se refere?

A mais conhecida é o milagre de Ourique. Outra é a maldição de D. Teresa, que se verifica com o infortúnio de Badajoz [em 1169, em que D. Afonso Henriques terá partido uma perna e acabou preso por Fernando II de Leão]. Uma das versões diz que foi a maldição de D. Teresa que provocou o desastre de Badajoz, por ter sido presa e posta a ferros pelo filho [depois da batalha de São Mamede, perto de Guimarães, em 1128, em que lutou contra as tropas da mãe]. Não é nada provável que tivesse sido, porque, pouco depois da batalha de São Mamede, D. Teresa e Fernão Peres de Trava [o galego com quem ela casou] vão para a Galiza calmamente. No ano seguinte, pouco tempo depois da morte de D. Teresa, Fernão Peres de Trava regressa, está na corte de D. Afonso Henriques. Parece que tudo se passava sem problemas entre ele e Afonso Henriques. Não vejo por que havia de ter prendido a mãe. A ideia de que bateu na mãe é apenas uma forma moderna e vulgar da lenda de que a pôs a ferros.

E o que diz a lenda de Ourique?

Nunca me interessou muito a lenda de Ourique em si porque, desde a publicação, em 1957, de um magistral artigo de Lindley Cintra acerca da sua formação e evolução até à "Crónica de 1419", se tornou evidente que a versão mais difundida aparece só em 1419. As primeiras notícias acerca da batalha são muito sucintas, mas no fim do reinado já era considerada uma estrondosa vitória sobre um grande exército comandado por cinco reis mouros. Nos textos do século XIV, associa-se a batalha à forma do escudo régio, ao mesmo tempo escudo nacional, e aparece a interpretação das cinco quinas como representando as chagas de Cristo. O milagre propriamente dito, isto é, a aparição de Cristo na Cruz para prometer a Afonso Henriques a vitória sobre os mouros, na manhã da batalha, aparece só na "Crónica de 1419".

Como era D. Afonso Henriques enquanto homem?

Algumas narrativas relativamente próximas dão a ideia de um homem colérico, violento, mas, ao mesmo tempo, capaz de se dominar, conciliador, astuto e muito persistente e ambicioso.

Que episódios mostram esse rei colérico e astuto?

O comportamento colérico deduz-se da maneira como reagiu à excomunhão que o cardeal romano lançou sobre o reino por causa da escolha do "bispo negro" como bispo de Coimbra ["negro", porque D. Martinho Soleima era moçárabe]. [Este episódio é relatado] num texto tardio [século XIV], de carácter "popular", cujos pormenores não se devem tomar demasiado a sério, mas que deve ter uma origem factual, isto é, deve referir um conflito do rei com o cardeal Jacinto numa das suas viagens a Portugal, talvez a primeira, em 1154. As ameaças do rei são também referidas por uma crónica inglesa do fim do século XII.
A astúcia revela-se na conquista de Santarém, de madrugada, com um pequeno grupo de homens, que treparam às muralhas sem serem vistos pelos guardas e talvez com apoio de alguém da cidade; e também na relação com Afonso VII, visto que o nosso rei preferiu acordos ambíguos a confrontações decisivas, e, sem negar directamente a homenagem a Afonso VII, se tornou vassalo do papa.

Era diplomata também?

Soube obter a colaboração de magnatas da corte que não gostavam dele. A diplomacia aparece na maneira como conseguiu o apoio dos cruzados ingleses, flamengos e alemães na conquista de Lisboa, apesar das suas rivalidades e falta de coordenação, e ainda nos acordos com os cruzados acerca do saque da cidade.

Inteligente?

A inteligência deduz-se da maneira como lidou com as famílias da alta nobreza nortenha: concedeu-lhes cargos honoríficos na corte, mas apoiou-se em nobres de menor categoria e mais submissos. No aproveitamento militar dos cavaleiros vilãos e de nobres de segunda categoria para as expedições de conquista. Na escolha de colaboradores de grande valor, como o arcebispo de Braga D. João Peculiar, um incansável negociador dos seus interesses junto do papado. Na consolidação dos territórios conquistados por meio da concessão de grandes domínios aos cónegos de Santa Cruz de Coimbra e aos Cistercienses, que se ocuparam do repovoamento, e de terras mais próximas das zonas de combate aos Templários e aos freires de Évora (futura ordem de Avis), que construíram fortificações e organizaram a defesa militar.

Era um militar excelente?
Sim, mas não era um general de exército com milhares de homens. É provável que tivesse um escol de cavaleiros fiéis, uma espécie de bando. Foi com a ajuda desse grupo relativamente pequeno que conquistou Santarém. Lisboa foi diferente, porque houve os cruzados, mas também não devia ter um exército grande.

Sabia ler?

Não há certeza de que soubesse ler e escrever. Mas parece-me provável que não soubesse.

Na sua interpretação, ele revoltou-se contra a mãe porquê?

A mãe achava que tinha direito a uma parte dos reinos que devia herdar de D. Afonso VI de Leão e Castela. Toda a vida andou a tentar ver reconhecido esse direito. Certamente, Afonso Henriques também achava que tinha direitos como a mãe. Depois de ter subido ao trono, Afonso VII exigiu homenagem dos barões portucalenses e cerca Guimarães [em 1127], onde estava Afonso Henriques. Na minha opinião, Afonso Henriques presta de facto homenagem a Afonso VII. Para não ter de prestar essa homenagem, D. Teresa ficou no Sul, em Viseu ou Coimbra. Ela não cede à pressão de Afonso VII para o reconhecer como sucessor de todos os estados de Afonso VI.
Ao mesmo tempo, ele encontrou uma relação tal com os senhores do Norte que se convenceu de que tinha de tomar as coisas em mãos e ser ele a governar. Reclamou à mãe que o reconhecesse como herdeiro e começasse a governar o condado Portucalense. Nessa altura, muita gente achava que as mulheres não deviam governar. Se calhar os barões portucalenses também achavam que D. Teresa não devia governar. Ainda por cima ela adoptou a estratégia de atribuir o poder a Fernão Peres de Trava, que era um intruso. Os barões portucalenses já tinham abandonado a corte e estavam numa revolta aberta ou semiaberta com D. Teresa. Afonso Henriques acaba por se pôr do lado deles. Há um encontro entre a decisão dele e a desses barões, um movimento colectivo.

Foi essa visão colectiva que desembocou na criação de um país, com uma identidade?

Não. Essa é a interpretação de Alexandre Herculano, que transpõe para o passado as ideias românticas de um movimento colectivo e da alma nacional. Mas em Portugal isso não tem sentido: havia uns senhores poderosos que não estavam de acordo com D. Teresa e encontraram aquela solução para se livrarem de Fernão Peres de Trava. D. Afonso Henriques queria ser independente, não ter de prestar homenagem a nenhum poder superior e queria provavelmente a divisão de estados de Afonso VII. Mas percebeu cedo, numa prova de perspicácia política e realismo, que se ficasse em Guimarães ficaria refém da nobreza do Norte. Seria apenas um "primus inter pares". Foi-se fixar em Coimbra e aí pôde constituir um exército, fazer incursões de fronteira, dirigir a luta contra o Islão em direcção ao Sul e não depender economicamente, nem do ponto de vista hierárquico, dos senhores. Foi essa perspicácia política que manteve até ao fim do reinado.

Já havia aí um projecto de país?

Aí já havia um projecto, não digo nacional, porque não se pode dizer que haja um antecedente da nação, no sentido popular. Mas era um reino independente, uma entidade política não sujeita a outra entidade política superior, que era o reino de Leão e Castela.

Havia alguma unidade que nos tornasse diferentes?

Isso são especulações nacionalistas. Ele era uma pessoa muito ambiciosa. Tendo a entidade política que se tornou independente poucos recursos, consegue dominar mesmo assim. Se compararmos Portugal com Aragão ou Castela, estas são entidades poderosas, ricas, com consistência para constituir um país independente. D. Afonso Henriques conquista a independência à custa desta persistência, desta teimosia em ser independente. Se calhar era lógico que não o tivesse conseguido e Portugal fosse um dos estados de Espanha.

Portugal deve muito a esse homem?

Há os partidários da união ibérica, que acham que a culpa de sermos um país com poucos recursos, com pouca capacidade de renovação, arrastado por outros países da Europa, se deve à exiguidade do espaço nacional. Nesse sentido, ele pode ser o responsável pela independência pelo que ela tem de positivo, mas também pelo que tem de negativo.

Aos 37 anos, D. Afonso Henriques era solteiro. Interpreta este facto dizendo que era por ele ser um aventureiro insubmisso.

Provavelmente, era suficientemente ambicioso para querer um casamento a um nível mais alto e não se contentava com uma noiva do condado Portucalense. Procura alguém fora das cortes senhoriais e talvez não fosse fácil encontrá-la na Península Ibérica, porque os outros reis não achavam que ele tivesse categoria suficiente e que o poder que tinha adquirido fosse estável ou prestigiante.

Que data considera decisiva, em que possamos dizer que foi o início do país?

O regresso de D. Afonso Henriques de Ourique foi um momento interessante. No regresso dessa incursão no Sul, com os despojos que trouxe, deve ter tido um cortejo triunfal, a que a população assistiu. Isso deve ter criado uma espécie de euforia colectiva e de persuasão de que tínhamos um futuro à frente.

E o reconhecimento externo, quando chegou?

Não muito depois, em 1143, com o encontro de D. Afonso Henriques em Zamora com D. Afonso VII. Deve ter havido um tratado, mas não há o texto. Foi um acordo na presença do cardeal Guido, de Roma. Ele prestou vassalagem ao papa.

Aí, indubitavelmente começámos como país?

Sim, é o reconhecimento da autoridade de D. Afonso Henriques por Afonso VII.

Quando D. Afonso Henriques morreu, o mito já era maior do que o homem e era venerado.

O mito existia e até se percebe quem o constrói. São os cónegos regrantes de Santa Cruz de Coimbra, com a crónica que escreveram na altura da morte de D. Afonso Henriques [os "Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses"]. E com o epitáfio: comparam-no a Alexandre, o Grande, e Júlio César.


"Análise antropológica seria de grande interesse histórico"

José Mattoso integra a equipa da antropóloga Eugénia Cunha, da Universidade de Coimbra, que quer abrir o túmulo do primeiro rei de Portugal. A ideia é fazer uma série de estudos, desde ter a primeira imagem do rosto do rei até saber as suas maleitas. Mas o conselho consultivo do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar) recusou, em Março, o pedido da equipa, dizendo que a operação comportaria riscos para a estabilidade do próprio túmulo.

Só há pouco tempo tive conhecimento exacto das razões invocadas pelo conselho consultivo para desaconselhar, por agora, a abertura do túmulo e a investigação antropológica das ossadas. Recorri ao dr. Cláudio Torres [arqueólogo, membro do conselho] para saber das suas razões. A principal é que a técnica de identificação do ADN não está ainda suficientemente desenvolvida para se garantirem os resultados, sobretudo quando os despojos foram manipulados mais do que uma vez, como é o caso de Afonso Henriques. Como a técnica actual implica a destruição dos fragmentos retirados para exame, poder-se-ia não descobrir nada de interesse e, pior, comprometer definitivamente aquilo que se pretende averiguar. Não devemos precipitar as coisas, e esperar que os progressos da técnica permitam proceder a um exame com mais probabilidades de êxito. Se é assim - a última palavra pertence aos antropólogos especializados neste tipo de análise -, não posso deixar de concordar. Mas continuo a achar que a análise antropológica seria de grande interesse histórico.

Como é que o estudo dos ossos de D. Afonso Henriques pode aprofundar os conhecimentos sobre o rei?

Viria acrescentar peças que não são secundárias. A primeira é saber se era aquele gigante que diz a crónica de Santa Cruz, com dez palmos de altura [uns dois metros].
A outra peça é se partiu uma perna e que impossibilidade física isso lhe dava. Há uma variante nas razões que levaram D. Afonso Henriques a não andar mais a cavalo. Segundo uma crónica, tinha jurado ao rei D. Fernando II de Leão que, enquanto não pudesse andar a cavalo, adiaria a homenagem que lhe prestaria. Era uma astúcia para não prestar homenagem. Noutra versão, era uma incapacidade física que não lhe permitia comandar as tropas e combater.
A antropologia física também pode dar respostas sobre alguma doença especial, uma vez que morreu relativamente velho para a época [76 anos].
Por causa de alguns sectores monárquicos, que acharam que era uma profanação examinar o túmulo e as ossadas do rei, lembrei-me de uma coisa: fazer-se um exame antropológico de uma personagem daquela época, que era absolutamente real, é um contraponto interessante à dimensão mítica que adquire por ter sido o fundador, pelo facto de lhe ser atribuída uma visão de Jesus Cristo na batalha de Ourique, pelo facto de ser esse herói com dimensões supra-humanas. Afinal de contas, essas amplificações da personagem repousam sobre qualquer coisa real. O estudo antropológico ajuda a dar consistência à personagem histórica. É interessante mostrar a relação entre a personagem histórica e a efabulação lendária.

Talvez o estatuto de ter sido grande não seja tanto físico...

Esse "grande" é uma transcrição textual dos "Anais de D. Afonso", de Santa Cruz de Coimbra. Dizem que é grande como um gigante. Mas está num contexto tal que não temos a certeza se é um qualificativo simbólico ou metafórico ou real. Quem examinou os relatos da abertura do túmulo de D. Afonso Henriques no tempo de D. Manuel I [em 1515] e de D. Miguel [em 1832] toma-os como reais. Mas também podiam ter sido influenciados por uma tradição que não queriam pôr em causa.

Ter uma imagem do rosto seria mais do que uma curiosidade?

Sempre que há um prémio Nobel, um autor que tem grande sucesso, um atleta, precisamos de ver o retrato dele. Parece que temos percepção da pessoa através do rosto, portanto termos um retrato funciona como suporte da nossa relação com a personagem.
A relação que os portugueses teriam com D. Afonso Henriques seria mais consistente do que a que resulta da imagem que têm habitualmente, que é a estátua de Soares dos Reis, em Guimarães. Embora se utilize o tipo de armadura e armamento da época, dá uma imagem que se calhar não tem nada a ver com a fisionomia. O que vemos não é D. Afonso Henriques, é um rei, e um rei tem de ter uma coroa, barbas, uma espada. A personagem histórica é oculta pela mitificação posterior, que estabelece um ecrã entre nós e a personagem. Esse ecrã foi construído por categorias mentais muito diferentes, conforme as épocas e a mentalidade de quem traça o retrato.
 

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papatango

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« Responder #3 em: Maio 18, 2007, 08:36:28 pm »
Eu ainda não entendi o que é que querem fazer com a ossada, ou com o que resta dela, que possa ajudar  a História.

Querem levantar o esqueleto para saber se D. Afonso Henriques era feio ?  :shock:
Querem ver se o homen era bom diplomata, e se tinha mau génio analisando ADN com quase 900 anos ?  :shock:

Se houver alguma coisa que faça sentido escarafunchando as ossadas do dito, então que se abra o túmulo. Caso contrário, se é apenas para ver se era bonito ou feio ou coxo, deixem-no estar enterrado...
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
Contra a Estupidez, não temos defesa
https://shorturl.at/bdusk
 

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Luso

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« Responder #4 em: Maio 18, 2007, 09:01:23 pm »
Também estou um pouco dividido entre a ciência e quê... a ética?
A ausência do "sagrado" não nos empurra para a animalidade e para um materialismo que tantos males causou no século passado?
Não se está sempre a andar do oito para o oitenta?
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...