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Outras Temáticas de Defesa => Área Livre-Outras Temáticas de Defesa => Tópico iniciado por: Paisano em Agosto 09, 2004, 01:01:20 am
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Olá pessoal,
Quero pedir desculpas a todos os não botafoguenses deste Fórum, mas o meu Fogão comemora 100 anos no próximo dia 12, e postar aqui o texto abaixo foi a maneira que eu encontrei para homenageá-lo.
Tudo começou com Salomé
Roberto Porto
O que teria a ver a legendária e sensual Salomé com o Botafogo? Aparentemente nada. Mas recentes e aprofundados estudos perpetrados por alvinegros apaixonados reviraram Livros Sagrados e de História Geral e descobriram que sinais, obviamente premonitórios, da chegada do glorioso alvinegro da estrela solitária à face da Terra foram sentidos em tempos bíblicos e pós-bíblicos. O Botafogo seria, assim, um predestinado a conquistar a paixão de pelo menos 12 milhões de brasileiros.
Herodes Antipas, tetrarca (um dos quatro reis) da Galiléia, viajou a Roma por volta de 27 DC e lá, de maneira sórdida e insidiosa, seqüestrou Herodíades, mulher de seu irmão Herodes Felipe. Diga-se de passagem que Herodes Felipe também não era lá flor que se cheirasse, porque a bela Herodíades vinha a ser sua sobrinha. O fato é, porém, que quando Herodes Antipas retornou à Galiléia, levando a nova mulher e a enteada Salomé a tiracolo, rolou um grande barraco na província, com o povo escandalizado com o gesto. João Batista, que batizou Jesus Cristo nas águas do Rio Jordão, foi o primeiro a botar a boca no trombone.
O resultado foi péssimo para Herodes Antipas. O tetrarca mal podia se locomover pelas ruas, em companhia de Herodíades e Salomé, sem que o povo o vaiasse estrepitosamente. João Batista chefiava a oposição e não lhe dava trégua, alegando, não sem razão, que Herodes aviltara as leis de Moisés.
Resultado: sem alternativa, disposto a terminar com a grita geral, Herodes Antipas apelou para a velha solução e encarcerou João Batista. Mas a situação iria piorar. No aniversário de Herodes Antipas, Salomé deu um show sensual de dança, deixando os convivas com água na boca. E Herodes Antipas — que também já deveria estar de olho na enteada — disse à jovem que, tão espetacular havia sido a sua exibição que ela poderia pedir o que quisesse como prêmio. A loura Salomé, cabecinha oca, pouquíssimo intelectualizada, decidiu perguntar à mãe o que deveria ganhar. Cheia de ódio, Herodíades foi vingativa:
— Peça a cabeça de João Batista numa bandeja de prata...
Quinze séculos depois, ainda chocados com a macabra vingança, os portugueses, católicos por excelência, lançaram ao mar o poderosíssimo barco de guerra São João Batista. Na linguagem do gentio do cais lisboeta, o galeão ficou conhecido como O Botafogo. Originalmente, botafogo era o apelido dado ao artilheiro, que, de acordo com a história e a definição de Aurélio Buarque de Hollanda, ateava fogo às peças dos canhões das fortalezas terrestres e dos barcos de combate das marinhas de guerra. Mas isso estava prestes a mudar.
E assim São João Batista virou Botafogo
Portugal, uma das mais vitoriosas nações desbravadoras dos mares nunca dantes navegados, de acordo com o célebre poema de Luiz de Camões, passou a contar, então, no reinado de Dom João III, com o referido e impressionante São João Batista, dotado de nada menos do que 200 peças de artilharia. Tão poderoso e destruidor era o São João Batista, pois parecia deitar fogo pelas ventas, que os próprios nobres lusitanos passaram a chamá-lo de Botafogo. Portugal chegou a emprestá-lo à Espanha, a fim de reforçar a esquadra espanhola que combatia o pirata otomano Barba Roxa, em 1535.
Barba Roxa era mau e tinha nascido na ilha grega de Lesbos, onde o homossexualismo feminino era lugar-comum.
De nome de barco de guerra, Botafogo virou sobrenome de família. E ainda no século do descobrimento, João Pereira de Souza Botafogo veio dar com os costados no Brasil, como lugar-tenente do governador-geral Antônio Salema, encarregado da defesa do Rio de Janeiro. Tão bem se houve no cargo, numa cidade sempre cobiçada pelos franceses, que João Pereira de Souza Botafogo ganhou do rei uma extensa sesmaria na Enseada de Francisco Velho — mais tarde, Praia de Botafogo.
O local, porém, permaneceria inabitado por mais de 250 anos. A rigor, a conquista da sesmaria só teria início com a chegada da família real ao Brasil, no início do século XIX. Carlota Joaquina, mulher de Dom João VI, foi, com certeza, uma das primeiras moradoras do bairro.
Dona Chiquitota manda mudar o nome do Eletro
Na tarde de 12 de agosto de 1904, uma sexta-feira, Flávio da Silva Ramos e Emanoel de Almeida Sodré, livres das aulas no Colégio Alfredo Gomes, reuniram amigos e adeptos do novo esporte da bola e decidiram fundar o a princípio Eletro Club. Francisca Teixeira de Oliveira, conhecida como dona Chiquitota, avó de Flávio Ramos, detestou o nome escolhido a esmo, em razão de um talão de recibos de um extinto grêmio de pedestrianismo, e mudou o nome para Botafogo, a 18 de setembro. Os garotos aprovaram e o novo clube entrou para a história. Estava mais do que consagrado o histórico nome Botafogo.
Naquele já tão distante 12 de agosto, uma coincidência do destino teria lugar. O matutino "Correio da Manhã", numa pequena nota de pé de página, publicaria a seguinte notícia: "Ontem foi dado um aviso à Estação de Bombeiros da Rua Humaitá de que lavrava pavoroso incêndio na Rua General Severiano. Comparecendo ao local, os briosos soldados do fogo verificaram tratar-se de um rebate falso."
Hoje, cem anos depois, percebe-se que a notícia não era tão falsa assim. Certamente, como nos tempos bíblicos de São João Batista, tratava-se de uma premonição do que aconteceria anos depois. O clube que tornaria a rua tão famosa seria realmente o incendiário Botafogo. E o general Severiano da Fonseca — irmão do marechal Deodoro, o proclamador da República — também inscreveria, embora indiretamente, seu nome na história do futebol brasileiro e mundial. Afinal, o Botafogo foi apontado pela Fifa como um dos clubes do século XX.
Fonte: Jornal dos Sports
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Não conhecia essa do "S. João Baptista" e do Botafogo!
Obrigado Paisano!
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Parabéns ao Grande Botafogo.
O nosso Glorioso Benfica também fez este ano 100 anos.
Um abraço a todos os adeptos do Botafogo
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A lenda de Biriba
Roberto Porto
— Baduca, meu filho, venha cá...
— Pronto, seu Carlito... O que é que o senhor manda?
— Olha, Baduca: infelizmente você não vai poder embarcar...
— Por que, seu Carlito? Fiz alguma coisa de que o senhor não gostou?
— Não, Baduca. Até que você tem se comportado muito bem...
— Então, por que não posso viajar com o time?
— Lamento, Baduca. Lamento muito... Mas o Biriba vai a São Paulo no seu lugar...
— Mas, seu Carlito!!! O Biriba é um cachorro!!!
— É, meu filho, sei que o Biriba é um cachorro. Mas ele nos ajudou muito a conquistar o campeonato... Fica para outra vez, Baduca...
O diálogo, inusitado mas verdadeiro, ocorreu no saguão do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, mais precisamente no dia 16 de janeiro de 1949. Dele participaram Carlos Martins da Rocha, o Carlito Rocha (1894-1981), então presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, e o atacante Osvaldo Monteiro da Silva, o Baduca, que não chegou a tomar parte como titular do inesquecível Campeonato Carioca de 1948. Baduca, cabisbaixo, apertado num mal-ajambrado paletó e gravata, pegou um táxi e desapareceu.
A rigor, no entanto, não foi precisamente a mascote Biriba, supostamente um fox terrier, que tomou o lugar de Baduca no avião. Quem seguiu para São Paulo, a bordo do DC-3 da Panair do Brasil, foi o antigo zagueiro alvinegro Macaé, orgulhoso proprietário do cachorro. Protegido pelo todo-poderoso Carlito Rocha, Macaé sentou-se confortavelmente na poltrona reservada a Baduca e, com jeito, acomodou o Biriba no colo. Acostumado aos jogadores, Biriba teve comportamento irrepreensível durante o vôo. E bebeu suco de laranja e comeu biscoitos servidos pelas aeromoças da então mais famosa companhia aérea do país.
Em São Paulo, nas comemorações pelo título de 1948, o Botafogo enfrentou o Santos duas vezes, na Vila Belmiro, além de São Paulo e Corinthians, no Pacaembu.
Nílton Santos e Octávio Sérgio de Moraes, presentes à aventura acima relatada, continuam aí mesmo para confirmar a história. Nílton está com 79 anos e Octávio, um dos artilheiros do Carioca de 1948, fez 81. Infelizmente, o companheiro Geraldo Romualdo da Silva, do JORNAL DOS SPORTS, que acompanhou aquela delegação alvinegra, já não está entre nós.
Das tiras de quadrinhos para os estádios
Há várias explicações para a origem do nome da mais famosa mascote surgida até hoje no futebol brasileiro, no fim dos anos 40 e início da Era do Maracanã. Mas o mais provável é que Macaé, que encontrou o cachorro vagando nas proximidades da Rua Miguel Lemos, em Copacabana, tenha se baseado nas tiras de histórias em quadrinhos. Várias delas faziam sucesso com o público leitor, mas uma das mais lidas era sobre o casal Pafúncio e Marocas, de autoria do americano George McManus (1913-1954). Vez por outra, para azucrinar a boa vida de Pafúncio e justificar fatos injustificáveis em sua casa, surgia um bilhete misterioso: "Biriba esteve aqui."
A partir daí, o carioca passou a atribuir ao indecifrável Biriba de Pafúncio & Marocas tudo o que ocorria de estranho e inesperado na cidade. E foi esse nome que Macaé escolheu para o cachorro que adotou, passando a tratá-lo com o que havia de melhor — evidentemente, de acordo com suas minguadas posses.
Ex-zagueiro do clube e alvinegro de coração, a 25 de julho de 1948 Macaé decidiu assistir ao jogo Botafogo x Madureira, em General Severiano, em companhia do Biriba. O cachorro fez um tremendo sucesso na arquibancada do velho estádio, até porque Macaé chegou cedo, a ponto de testemunhar a goleada de 10 a 2 que os reservas aplicaram no Tricolor Suburbano. A festa ficou completa quando Biriba entrou em campo com a equipe titular, que goleou por 6 a 0. A partir daí, o supersticioso Carlito Rocha tomou-se de amores pelo cachorrinho e passou a exigir a presença dele, com Macaé, em todos os compromissos do clube da Estrela Solitária.
A 26 de setembro daquele ano, o primeiro incidente. A diretoria do Vasco decidiu proibir a presença de Biriba em São Januário. Não foi um ato arbitrário ou reacionário, como muita gente pensou. Os dirigentes cruzmaltinos queriam apenas evitar problemas com a arbitragem, entregue aos ingleses Ford, Barrick, Lowe e Dewine, além dos brasileiros Mário Vianna e Alberto da Gama Malcher. Carlito Rocha, porém, não aceitou a proibição. Entrou em São Januário de paletó e gravata com Biriba nos braços e foi claro diante do porteiro:
"Vocês podem barrar o Biriba, mas o presidente do Botafogo, não..."
A partir daí, Biriba reinou absoluto em todos os estádios do Rio, entrando em campo com a equipe titular e sempre que o jogo estava difícil. Os árbitros ingleses iam à loucura quando a mascote perseguia a bola, ameaçava abocanhar as pernas dos jogadores adversários e retardava o reinício das partidas.
Em 1954, a última aventura do cãozinho sortudo
O último e quase dramático episódio de 1948 ocorreu em dezembro, às vésperas da decisão do título, com o Vasco, que, no início do ano, no Chile, havia se sagrado campeão dos campeões sul-americanos. De repente, em General Severiano, correu a notícia de que torcedores cruzmaltinos, de maneira sorrateira, pretendiam envenenar Biriba. Carlito Rocha (foto) entrou em pânico. E a sua providência não poderia ter sido mais arbitrária: obrigou Macaé a se mudar para uma das torres do palacete de estilo mourisco da Wenceslau Braz, levando o Biriba. Mais: desconfiado ao extremo, segundo relatou o jornalista Sandro Moreyra, Carlito Rocha obrigou Macaé a provar a comida que era servida ao cachorro. Se veneno houvesse, Macaé morreria mas o Biriba estaria são e salvo.
A 12 de dezembro (reparem aí o cabalístico número na história do clube), em General Severiano, o Botafogo derrotou o Vasco por 3 a 1 e conquistou o título carioca — o único obtido no seu estádio. No ano seguinte, Biriba, além de posar ao lado dos jogadores alvinegros no Pacaembu, também esteve várias vezes no Maracanã e em São Januário, freqüentando assim os três maiores estádios brasileiros.
O último registro da presença do Biriba ocorre em 12 de agosto de 1954, numa foto ao lado dos remanescentes fundadores do clube — entre eles Flávio Ramos, Emmanoel Sodré e Augusto Paranhos Fontenele —, durante as comemorações do cinqüentenário do Botafogo. Há 50 anos.
A partir daí, o cachorro nas cores preta e branca não foi mais visto. Mas em todos os estádios do Rio e no Pacaembu deveria haver uma placa:
"Biriba esteve aqui."
Eu não creio em bruxas, mas que elas existem...
Mas fica aí a pergunta: terá sido Carlito Rocha o introdutor da superstição alvinegra? Todos os registros contidos no livro "O Futebol no Botafogo — 1904-1950", de Alceu Mendes de Oliveira Castro, indicam que sim. O calção branco foi adotado em 1948 (8 + 4 = 12) e o Botafogo passou a utilizá-lo seguidamente até 1956, quando Carlito, cismado, já na época de João Saldanha, decidiu retornar aos calções negros (oficiais, segundo o estatuto). E o Botafogo, de calções pretos, foi campeão de 1957 (cinco mais sete, 12).
A partir daí surge no cenário o roupeiro Aloísio, que obriga os jogadores a vestirem camisas de mangas compridas até o bicampeonato carioca sobre o Flamengo, por 3 a 0, no dia 15 de dezembro (olha o mês 12 aí).
O auge da superstição alvinegra acontece a 21 (12 ao contrário) de junho de 1989. Depois de 20 anos, o Botafogo torna a ser campeão, vencendo o Flamengo com um gol aos 12 minutos do segundo tempo. O placar do Maracanã marcava 21º de temperatura e Maurício, camisa 7, aproveitou o cruzamento de Mazolinha, o 14, para pôr a bola na rede rubro-negra. E 7 mais 14 dá 21 — ou seja, 12 ao contrário.
Será preciso mais? Será preciso falar nas meias cinzas, nas cortinas amarradas na sede de General Severiano? No terno marrom que Carlito Rocha usou durante todo o Carioca de 1948? Será ainda necessário dizer que o Botafogo recuperou General Severiano em 1993 (9 + 3 = 12)? Será que é importante dizer que o clube foi campeão da Copa Conmebol ainda em 93? E, por fim, será preciso dizer por que a Fifa incluiu o Botafogo entre os 12 maiores clubes do século 20?
Fonte: Jornal dos Sports
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(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.jsports.com.br%2Fimages%2F09082004%2Farquivo.jpg&hash=a861c2a503853972fb4cfaa8193d11cc)
Biriba e a equipe do Botafogo, campeã Carioca de 1948.
Fonte: Jornal dos Sports
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Parabéns pelos 100 anos!
E como vai o Botafogo nos últimos tempos ? Tenho seguido pouco o campeonato brasileiro...
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Olá Spectral,
Infelizmente no ano do centenário o Fogão não vai nada bem. Atualmente está ocupando a 21ª colocação no campeonato brasileiro, ou seja, se o campeonato terminasse hoje ele estaria rebaixado para a 2ª divisão. :sil: 
A crise financeira é muito grande e não há dinheiro para contratar jogadores de nível de seleção. O presidente Bebeto de Freitas tem tirado água de pedra para tentar pagar os salários do jogadores em dia e por isso não sobra nada para contratações.
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Honra lavada com sangue em 1909
Roberto Porto
Geralmente pela madrugada, viajo mentalmente através dos anos em busca de uma resposta para a insuspeitada dramaticidade do signo de Leão que rege a existência do Botafogo, surgido a 12 de agosto de 1904. A máquina do tempo instalada em meu cérebro me conduz então ao início do século 20, quando uma bala disparada pelo revólver do escritor Euclides da Cunha (1867-1909) foi se alojar no pescoço do zagueiro Dinorah Cândido de Assis (1890-1921), de apenas 20 anos, após um tiroteio do qual ele nem sequer tomou parte. O episódio, de grande repercussão, abalou o Rio de Janeiro.
Mas, afinal de contas, o que tem a ver o Botafogo com o escritor Euclides da Cunha, autor da monumental obra "Os Sertões" A princípio, nada, rigorosamente nada. Mas aqueles que conhecem a literatura e a história brasileiras sabem que houve um mortal e indireto elo entre Euclides da Cunha e Dinorah Cândido de Assis, campeão de 1910 e um dos responsáveis pelo apelido de Glorioso.
A história começou quando Dinorah e seu irmão mais velho, Dilermando, alugaram um quarto numa pensão na Rua Senador Vergueiro, no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio. Lá, Dilermando Cândido de Assis (1889-1952) conheceu Ana Sólon da Cunha, 33 anos, mulher do escritor. O doutor Euclides viajava muito e Ana, para cuidar dos filhos, não queria ficar sozinha. Apesar da diferença de idade para Dilermando, jovem de apenas 21 anos, Ana apaixonou-se e os dois iniciaram um romance supostamente secreto.
Os comentários chegaram aos ouvidos do escritor. Dilermando e Dinorah decidiram então deixar a pensão para viver numa casa modesta e distante. Mas na manhã chuvosa de domingo 15 de agosto de 1909 — há quase 95 anos — Euclides da Cunha, de volta ao Rio, tomou um trem em direção ao subúrbio de Piedade. Lá, perguntando aqui e ali, soube que Dilermando e Dinorah viviam na casa de número 214 da Estrada Real de Santa Cruz. Euclides da Cunha estava transtornado. Queria lavar com sangue a sua honra.
Por volta das 10 horas da manhã daquele longínquo domingo, Euclides da Cunha bateu à porta da casa e foi recebido por Dinorah. O escritor, então com 43 anos, foi claro em sua intenção:
— Diga a seu irmão que vim para matar ou morrer!
Ao perceber que Euclides invadira sua casa, Dilermando subiu rapidamente ao quarto para vestir a túnica do Exército. No momento em que, já armado, descia as escadas, Euclides da Cunha fez o primeiro disparo, acertando a virilha de Dilermando. Em seguida, atirou novamente no peito do homem que lhe roubara o amor da mulher.
Ao ver o irmão ferido, Dinorah tentou socorrê-lo mas acabou alvejado na nuca pelo terceiro tiro do escritor. Foi quando Dilermando, apesar de ferido, descarregou a arma sobre Euclides da Cunha, que, antes de morrer, ainda acertou um tiro de raspão no rival.
Naquele dia fatídico, o corpo de Euclides da Cunha foi recebido na Central do Brasil por Olavo Bilac, poeta que já se ligara ao Botafogo, além do jornalista Irineu Marinho, pai de Roberto Marinho, então apenas um menino de 5 anos, e do médico datiloscopista Félix Pacheco.
Dilermando escapou, apesar da gravidade dos ferimentos, o mesmo acontecendo com Dinorah, ambos atendidos pelo médico Capanema de Souza. Mas a bala alojada na nuca do jogador alvinegro só pôde ser removida em 1913. E ele, apesar de enfrentar o Fluminense ainda em 1909, e se sagrar campeão carioca de 1910, vestiu a camisa do Botafogo pela última vez a 25 de junho de 1911, não mais como zagueiro e sim como goleiro: já não tinha a agilidade necessária.
As seqüelas provocadas pela bala encravada numa vértebra cervical foram gradativamente prejudicando os movimentos do jovem jogador. E Dinorah, hemiplégico, impedido de jogar futebol e desesperançado, mudou-se para Porto Alegre. E na capital gaúcha cometeu suicídio, atirando-se no Rio Guaíba.
Aos 31 anos, o glorioso campeão de 1910 morreu afogado em 1921. Ana Sólon da Cunha e Dilermando morreram no Rio de Janeiro em 1951. Ela aos 74 anos, ele, aos 63.
Fonte: Jornal dos Sports
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O aniversário de cem anos do Botafogo é o tema do 'Fifa on this day' nesta quinta-feira:
http://www.fifa.com/modules/onthisday_p ... nguageId=S (http://www.fifa.com/modules/onthisday_popup/0,1429,S75201,00.html?eventid=75201&languageId=S)
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O clube de capa-e-espada*
Fonte: Jornal dos Sports - 18/08/1956
O único clube rapaz é o Botafogo. Explica-se: foi o único clube que nasceu rapaz. Os outros, pelo menos, procuraram nascer homens. Já o Botafogo teve a preocupação de ser o oposto do Fluminense, que era o homem-feito. O Fluminense foi um clube que não nasceu assim , de um repente. Com o time formado, com tudo o que seria ele, demorou um ano. Surgiu depois de muito estudado, de muito pensado. O Botafogo, pelo contrário, só precisou de uma apresentação ao Fluminense para virar clube. É um detalhe que não deve ser esquecido por quem tentar compreender o Botafogo. Os rapazes que não pensavam em formar clube algum foram levados ao campo do Fluminense para serem do Fluminense. Diante do Fluminense, eles se sentiram, logo e logo, Botafogo.
Não se tratava só dos bigodes dos jogadores do Fluminense. O Fluminense também tinha bigodes. Havia, entre os rapazes do Colégio Abílio e o Fluminense, uma distância de idade. Essa idade não se contava apenas pelos anos do Fluminense, dois, ou dos jogadores do Fluminense, alguns ainda rapazes. Era a concepção da vida, vamos dizer. Os rapazes do Fluminense tratavam logo de se adaptar, de usar bigodes imaginários. Os rapazes do Botafogo queriam também ser homens, mas continuando rapazes. Daí se sentirem quase imberbes diante dos homens-feitos do Fluminense. A reação deles, forte, e renovada sempre pela rivalidade que foi a primeira do futebol carioca, tornou-os mais rapazes ainda, marcou-os eternamente rapazes.
Pouco importava que um Flávio Ramos, com dezessete anos e o primeiro Presidente do Botafogo, se sentisse rapaz demais para ser presidente do mesmo Botafogo. O homem-feito, procurado e encontrado, que foi ser Presidente do Botafogo, não mudou o que já era imutável. Ser do Botafogo era ser rapaz. A gente vê velhos Botafoguenses, curvados pelos anos, e até estranha um pouco. Serão ainda Botafoguenses? Mexam com o Botafogo e verão. Os velhos endireitam logo a espinha, estufam o peito, reacendem a chama do olhar e estão prontos. E não é difícil mexer com o Botafogo. Não há clube de mais sensibilidade à flor da pele, com mais orgulho de Grande de Espanha que o Botafogo. Eis porque ele está sempre disposto a topar paradas, a se meter em encrencas, a arriscar até a própria vida por uma coisinha.
Nada que o atinja e mesmo que não o atinja, mas que ele julgue que foi para atingi-lo, é coisinha para ele. Ele devia ter nascido em outra época. É a única flor retardatária de capa-e-espada que surgiu depois dos 1900. Trata-se mais de um gascão, de um D'Artagnan, sempre pronto a desembainhar a espada. Ouve muito mais a voz do coração do que a da cabeça. Qual era o clube capaz de largar uma Liga, sem outra Liga para ir, por causa da suspensão de um jogador? Aconteceu isso em 1911, justamente no ano em que o Fluminense preferiu perder um time a deixar de ser o que era, isto é, o Fluminense (NR: O autor se refere à cisão tricolor que resultou no início do futebol no Flamengo). O Botafogo fez o contrário, para continuar mais Botafogo do que nunca.
O que o Fluminense fez, só o Fluminense faria. Mas também só o Botafogo arriscaria tudo por um jogador. Não se tratava da falta que esse jogador poderia fazer ao time, embora ele se chamasse Abelardo De Lamare. E aí temos uma amostra do d'artagnanismo do Botafogo. Um por todos e todos por um. Abelardo De Lamare era um deles, era eles também, era o Botafogo. Eles não se separavam, não se distinguiam, fundindo-se no Botafogo. Assim o bofetão de Abelardo De Lamare em Gabriel de Carvalho (NR: Botafogo 1 x 1 América, em 25/06/1911, no antigo campo de Voluntários da Pátria) não foi o bofetão de um jogador noutro jogador. Foi o bofetão de um clube. Todos assumiram a mesma responsabilidade e se recusaram a aceitar a punição de um só. O Campeão de 1910 abandonou o campeonato e ficou um ano jogando na pedreira.
E aquele gesto, que seria de indisciplina, serviu para mostrar um dos mais belos traços do Botafogo. Saindo da Liga o Botafogo podia perder todos os jogadores. Era o time Campeão de 1910, justamente o que tinha realizado uma revolução no futebol carioca. Até 1910, os jogadores usavam bigodes. Mesmo os jogadores sem bigodes eram como se os tivessem. O Botafogo foi campeão com um time rapaz, com um time que tinha vindo do Botafogo mirim, o Carioca, viveiro do "Glorioso". E aí os outros clubes trataram de fazer o mesmo. O futebol que, para se dar ao respeito, tinha de nascer homem-feito, já podia dar-se ao luxo de ser jovem, de ser rapaz. E esta foi uma obra do Botafogo.
Qual era o clube que não quereria os jogadores do Botafogo? O Botafogo, porém, não perdeu um jogador. Todos ficaram juntos jogando na pedreira, que era um campo do Morro da Viúva. Era o que se chamava de um campeonato de Liga barbante. Os jornais não tomavam conhecimento dele. Assim, os jogos se realizavam, por assim dizer, anonimamente. E lá estavam os craques Campeões de 1910, o Glorioso em carne e osso, jogando com os clubes da pedreira como se esse fossem Fluminenses. Com o mesmo entusiasmo, com a dedicação, com o mesmo Botafoguismo, palavra que significa o mesmo que quixotismo. Eram uns Dom-Quixotes os jogadores do Botafogo.
Ou eram simplesmente rapazes. Continuavam a ser rapazes, levados pelos impulsos generosos da mocidade. Cometiam erros: no erro e no acerto tinham o mesmo élan. Podiam reconhecer o erro, mas não voltavam atrás. Era o tal orgulho de Grande de Espanha, idêntico na riqueza e na pobreza. Como saíra sozinho de uma Liga, mais tarde seria o único a ficar com uma Liga em nome de um amadorismo que não existia. Por isso muita gente não entendeu o Botafogo. É que se queria julgar o Botafogo pelos padrões normais. Como se ele fosse um clube igual aos outros. Então o Botafogo não via que estava arriscando a própria vida?
O que decidiria qualquer outro clube a mudar de rumo tornou ainda mais irredutível o Botafogo. Para ele, era uma questão de honra e ninguém o podia demover. Ficou com trezentos sócios, e cada sócio que saía unia mais o Botafogo. É que ficavam e ficariam os verdadeiros Botafogo, os Botafogos para a vida e para a morte. Aí mesmo é que não acabavam com o Botafogo, com aquela legião de rapazes de todas as idades, alguns que tinham visto nascer o Clube, mas rapazes ainda e mais rapazes do que nunca, porque nem o rolar dos anos havia tirado deles o ardor da mocidade.
Bastaria, porém, conhecer as origens do Botafogo para compreendê-lo, admirá-lo, mesmo discordando dele. Realmente chega a comover um encontro assim com D'Artagnan no século XX. Não é possível, dirão uns, e eis o Botafogo. Ainda é um personagem de romance de capa-e-espada, com noções de honra dos velhos tempos, ofendendo-se por um nada. E se a gente quiser ir mais longe, deixar os Juizes da França e os Grandes de Espanha, pode chegar até as Cruzadas para descobrir Botafoguenses.
Noutros tempos, ele foi popular. Mas a popularidade, então, era o nome que se dava a um clube com centenas de sócios e alguns milhares de torcedores. O grande campo era o do Fluminense e lá cabiam, estourando, 5 mil pessoas. O Botafogo tem mais gente do que a gente pensa. Mas ser Botafogo é escolher um destino e dedicar-se a ele. Não se pode ser Botafogo como se é outro clube. É preciso ser de corpo e alma. E é preciso, antes de ser Botafogo, ser rapaz, mesmo velho. Ser um Dom Quixote, um D'Artagnan, um Grande de Espanha, embora sem sangue nobre e sem riqueza, um Grande de Espanha mesmo decaído e por isso mais Grande de Espanha.
*Mário Filho
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Opa,Paisano
O Botafogo é o clube de minha preferência por terras brasileiras.Sem dúvida um clube com muito carisma.Grande Botafogo.O clube da estrela solitária.
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.arquivodeclubes.com%2Frj%2Fbotafogo.jpg&hash=87d02910254383a93ca9ff137a2ba3dd)
Saudações botafoguenses,
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Credo, um tópico sobre os nacionais-madeirenses, que renasce das Cinzas!!!!!! c34x :wink:
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Ó Pzinho será que o FOGÃO é a gás ou elétrico?
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é a pedais :lol:
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Tópico sobre os nacionais-madeirenses é o :evil:
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Ó Pzinho será que o FOGÃO é a gás ou elétrico?
é a pedais :lol:
Pzito :domador:
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Ó Pzinho será que o FOGÃO é a gás ou elétrico?
é a pedais :lol:
Pzito :domador:
Será que é a tiazinha quem tem o chicote? Estará vestida de cabedal preto? Será caso para dizer :"quanto mais me bates mais gosto de ti"?
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Será que é a tiazinha quem tem o chicote? Estará vestida de cabedal preto? Será caso para dizer :"quanto mais me bates mais gosto de ti"? :twisted: 
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Olha a TIAZONA aí para você:
Grande Paisanão Fogão a gás nacional-madeirense. Não consigo ver a imagem da tiazona mas pelo endereço parece ser a tia gringa. Será que tem algo a ver com o ditado "já te dou o arroz"?
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Olha a TIAZONA aí para você:
Grande Paisanão Fogão a gás nacional-madeirense. Não consigo ver a imagem da tiazona mas pelo endereço parece ser a tia gringa. Será que tem algo a ver com o ditado "já te dou o arroz"? :?: :conf: :?:
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O Glorioso na reta de fazer 100 anos*
Fonte: http://www.fogaonet.com/blogs/robertopo ... -anos.aspx (http://www.fogaonet.com/blogs/robertoporto/post/2009/12/O-Glorioso-na-reta-de-fazer-100-anos.aspx)
Fundado a 12 de agosto de 1904, no Largo dos Leões, o Botafogo Footbal Club esperou 48 longos anos para se fundir com o Club de Regatas Botafogo, criado em primeiro de julho de 1894, na Praia de Botafogo. Segundo João Saldanha (1917-1990), essa demora de quase meio século perdurou porque o Regatas – proprietário da estrela solitária, que não é estrela e sim o planeta Vênus – estava repleto de tricolores. Por fim, a oito de dezembro de 1942, como o Regatas andava mal das pernas (ou dos remos) uniu-se ao Football, originando o Botafogo de Futebol e Regatas de hoje, que agora, em 2010, caminha para completar bem vividos (e sofridos) 68 anos de vida.
Mas e os 100 anos do apelido de O Glorioso, como surgiu?
Surgiu em 1910, quando o Botafogo Footbal Club cumpriu uma campanha excepcional no Campeonato Carioca, conquistando o título depois de golear o Fluminense por 6 a 1, a 25 de setembro daquele ano, faltando ainda uma partida a ser cumprida diante do Hadock Lobo, igualmente fuzilado por 11 a 0. O time campeão de 1910 – que recebeu o apelido de O Glorioso – está aí na foto que ilustra este blog: Coggin (os goleiros só usariam camisas diferentes a partir de 1912), Pullen e Dinorah de Assis; agachados, Rolando, Lulu e Lefèvre; e sentados, Emanoel, Abelardo, Décio, Mimi Sodré e Lauro, que tiveram 10 jogos, nove vitórias e uma única derrota.
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_gMs8rvtHNPA%2FSzjOgIXYglI%2FAAAAAAAAAUs%2Fa6Ex4srXIiQ%2Fs400%2FBFR%2BCAMPE%25C3%2583O%2BDE%2B1910%2BBLOG.JPG&hash=ec5c1a3d4c4d7f910cf76ff3b88631c7)
Mas fica a pergunta: quem apelidou o Botafogo de O Glorioso?
Para Alceu Mendes de Oliveira Castro, que escreveu a bíblia alvinegra ‘O futebol no Botafogo – 1904/1950’, foi a imprensa esportiva da época. Mas ele não cita um autor. O fato é que na década de 40, o compositor (torcedor do América) Lamartine Babo (1904-1963) incorporou o apelido Glorioso no que é hoje o hino oficial do clube – que me arrepia até hoje quando por acaso o ouço – e que a torcida canta nos jogos.
Mas o Botafogo é assim mesmo, cheio de idas e vindas, muitos erros e alguns acertos e até já freqüentou a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Vocês, que me acompanham neste blog alvinegro talvez não saibam, mas o Botafogo é tão imprevisível – e até chegado à loucuras – que, após a fusão e a adoção do mais belo escudo do mundo (eleito por diversas revistas internacionais) decidiu estrear as novas camisas (já com a estrela solitária) num simples treino coletivo no dia 19 de janeiro de 1943. Pode? Pode. No Botafogo tudo pode. Por isso, Augusto Frederico Schmidt disse a Santhiago Dantas (ambos alvinegros) que o Botafogo teria a vocação do erro.
João Saldanha era mais simples. Dizia que o Botafogo é um campo e duas balizas. Com toda a sua experiência no clube, será que João Sem Medo estava errado?
Vamos agora esperar que, neste ano de 2010 que está chegando, o departamento de marketing do clube faça uma grande promoção dos 100 anos do Glorioso. Mas, por favor, não confundam os 100 anos do Glorioso com a data de fundação do clube, que já ultrapassou em muito essa data, e que a 12 de agosto estará fechando 106 anos.
E tenham todos a mais absoluta e convicta das certezas de que João Saldanha, até morrer, sempre teve certa implicância com o Regatas, apesar da bela estrela solitária, do lindo escudo que foi originado da fusão e do belo nome Botafogo de Futebol e Regatas.
O motivo: já disse acima: ele achava que o Regatas estava cheio de tricolores. E chegava a citá-los, mas não estou autorizado a revelar aqui quem era ou não era torcedor do Fluminense. Que vocês, leitores, principalmente os veteranos, tentem descobrir quem era adepto do mais que famoso Pó de Arroz das Laranjeiras.
*Roberto Porto
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Botafogo festeja 100 anos da conquista do título carioca de 1910:
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crux credo :twisted:
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:crit: :crit:
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Lista completa de 53 clubes inspirados no Botafogo:
ARGENTINA
• Agrupacion Deportiva Botafogo de Rosario
BRASIL
Amapá
• Botafogo Futebol Clube
• Botafogo de Oiapoque
Bahia
• Botafogo Esporte Clube Ipiaú
• Botafogo Esporte Clube Jacobina
• Sport Club Botafogo
• Botafogo Esporte Clube Santo Amaro
• Botafogo de Aroeira Futebol Clube
Ceará
• Botafogo Foot-Ball Club
Distrito Federal
• Botafogo Sobradinho Futebol Clube
Espírito Santo
• Botafogo Futebol Clube de Jaguaré
• Botafogo Veneciano
Goiás
• Botafogo Futebol Clube
Maranhão
• Botafogo do Anil
• Botafogo de Imperatriz
Mato Grosso do Sul
• Botafogo de Aquidauana
Minas Gerais
• Botafogo Futebol Clube de Sabará
• Botafogo de Aimorés
Pará
• Botafogo Futebol Clube de Belém
Paraíba
• Botafogo Futebol Clube (Paraíba)
• Botafogo de Cajazeiras
Paraná
• Botafogo de Curitiba
• Clube Atlético Botafogo (Santiago)
Piauí
• Botafogo Esporte Clube
Rio de Janeiro[/u]
• Botafogo Futebol Clube (Macaé)
Rio Grande do Sul
• Botafogo Esporte Clube de Três de Maio
• Esporte Clube Botafogo de Fagundes Varela
• Esporte Clube Botafogo de Veranópolis
• Botafogo Atlético Clube de Jaquirana
• Botafogo Esporte Clube Nova Bréscia
• Futebol Clube Botafogo de Santo Cristo
• Esporte Clube Botafogo de Vanini
Rondônia
• Botafogo Futebol Clube
Santa Catarina
• Botafogo Atlético de Santa Catarina
• Botafogo Futebol Clube (Laguna)
• Botafogo de Xaxim
• Botafogo de Pomerode
• SER AUPE Botafogo
• Botafogo de Capivari de Baixo
São Paulo
• Botafogo Futebol Clube (Ribeirão Preto)
• Botafogo de Barra Bonita
• Esporte Clube Botafogo de Santos
• Associação Atlética Botafogo (São Paulo)
• Botafogo Futebol e Samba (Jaçanã)
• Botafogo de Catanduvas
• Grêmio Botafogo Futebol Clube de Guaianazes
CABO VERDE
• Botafogo Futebol Clube
CAMARÕES
• Botafogo de Buéa
PORTUGAL
• Botafogo Futebol Clube (Cordinhã)
• Sociedade Recreativa Unidos ao Botafogo
• Botafogo de Cabanas
• Botafogo de Coimbra
REPÚBLICA TCHECA
• Botafogo de Mladá Boleslav
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:List ... _e_Regatas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_clubes_inspirados_no_Botafogo_de_Futebol_e_Regatas)
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Botafogo - Campeão Carioca de 2010!!!
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:Amigos: :Amigos:
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Torcida do Botafogo reina em Conservatória (Valença, RJ):
http://riosulnet.globo.com/web/conteudo/5_270565.asp (http://riosulnet.globo.com/web/conteudo/5_270565.asp)
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(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg293.imageshack.us%2Fimg293%2F5838%2Ffogo106anos.jpg&hash=da94f8047d7e614307942f854291599a)
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De chorar de orgulho por ser Botafoguense...
Nenhuma outra torcida entende o que é ser Botafoguense...inexplicável o sentimento.
Flamenguista, Vascaíno e etc...eles são torcedores e se enxergam como torcedores...nós não, nós não somos torcedores, não nos sentimos torcedores. Nós nos sentimos botafoguenses, é algo maior...
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Título que deu apelido de Glorioso ao Botafogo faz cem anos
Fonte: http://www.lancenet.com.br/botafogo/not ... z-cem-anos (http://www.lancenet.com.br/botafogo/noticias/10-09-24/832668.stm?titulo-que-deu-apelido-de-glorioso-ao-botafogo-faz-cem-anos)
Estadual de 1910 é considerado como uma das maiores conquistas do clube
Há exatos cem anos, o Botafogo era o glorioso campeão carioca. Neste sábado, a conquista de 1910 completa data especial, inclusive lembrada no hino composto por Lamartine Babo. Porém a campanha triunfal começou quatro meses antes, e com derrota. Em 22 de maio, o Alvinegro foi até as Laranjeiras e perdeu por 4 a 1 para o América. Seria o último tropeço de um grupo marcado por um nome de êxito. Na sequência, nove vitórias, 66 gols pró e apenas nove sofridos. A taça foi matematicamente assegurada diante do Fluminense, em uma goleada de 6 a 1.
Chuva de bolas da rede, artilharia em números impressionantes. Aberlardo marcou 22 vezes e liderou a estatística. Inclusive, o atacante fez sete gols no massacre de 15 a 1 sobre o Riachuelo, pelo segundo turno. No primeiro, "só" havia sido 9 a 1. Sobre o regulamento, seis clubes estavam na disputa pelo Estadual, apenas o quinto de toda história. A meta era desbancar o Tricolor das Laranjeiras, campeão em todas as outras edições.
Na tarde de domingo, 25 de setembro, Botafogo e Fluminense duelaram no Estádio da Rua Voluntários da Pátria, casa alvinegra. Aos três minutos de jogo, Lauro passou para Aberlardo, que bateu na saída do goleiro Waterman. Até o intervalo foram mais dois de Aberlardo, primeiro jogador do clube convocado para a Seleção, ao lado de Rolando, que também estava em campo. O Flu até tentou reagir após tento contra de Lulu, mas Décio fez dois e Mimi também colaborou. Euforia para os 5 mil torcedores presentes, que invadiram o "match" para abraçar os jogadores.
CONFIRA A CAMPANHA DO CAMPEÃO DE 1910:
22/5 - América 4 x 1 Botafogo
5/6 - Botafogo 9 x 1 Riachuelo
26/6 - Fluminense 1 x 3 Botafogo
3/7 - Botafogo 7 x 0 Haddock Lobo
10/7 - Botafogo 6 x 0 Rio Cricket
7/8 - Rio Cricket 0 x 5 Botafogo
4/9 - Riachuelo 1 x 15 Botafogo
11/9 - Botafogo 3 x 1 América
25/9 - Botafogo 6 x 1 Fluminense
2/10 - Haddock Lobo 0 x 11 Botafogo
NÚMEROS:
10 jogos
9 vitórias
1 derrotas
66 gols pró
9 gols sofridos
JOGO DO TÍTULO:
BOTAFOGO 6 X 1 FLUMINENSE
Data: 25/9/1910
Local: Rua Voluntários da Pátria
Árbitro: Sir Hassell
Gols: Aberlardo (1-0), Aberlardo (2-0), Aberlardo (3-0), Lulu, contra (3-1), Décio (4-1), Mimi Sodré (5-1) e Décio (6-1)
BOTAFOGO: Coggin, Edgard Pullen e Dinorah; Rolando de Lamare, Lulu Rocha e Lefèvre; Emmanuel Sodré, Abelardo de Lamare, Décio Viccari, Mimi Sodré e Lauro Sodré.
FLUMINENSE: Waterman, Ernesto Paranhos e Félix Frias; Nery, Gallo e Mutzenbecher; Millar, Oswaldo Gomes, Cox, Gilbert Hime e Alberto Borgerth.
CLASSIFICAÇÃO:
1) Botafogo - 18 pontos
2) Fluminense - 15 pontos
3) América - 14 pontos
4) Riachuelo - 6 pontos
5) Rio Cricket - 5 pontos
6) Haddock Lobo - 2 pontos
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.lancenet.com.br%2Fresources%2F5505741.jpg&hash=7240f03a37ea663075cafacfd35608c9)
De pé: Coggin, Edgar Pullen e Dinorah. Ajoelhados: Rolando, Lulu e Lefèvre.
Sentados: Emmanuel, Decio, Abelardo, Mimi Sodré e Lauro.
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HSMW o que tu foste fazer, então misturaste um video com uns Sérvios no tópico sobre Glorioso Nacional da Madeira? A esta hora há um Brasileiro a sacar da naifa para recuparar a honra... :lol:
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Então não encontrava outro tópico sobre futebol....
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Bons animais para lavrar as minhas terras.
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s1x2x
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Esses adeptos do fogareiro de 4 bicos são uns hooligans!!!!
Carga policial neles!
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Fogareiro de 4 bicos é o cace#$&!!! :crit:
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:lol: :twisted: :lol:
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Nacional da Madeira é o cace#$&!!! :crit:
Portinhas :domador:
s1x2x s1x2x
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Eu amo você... :lol:
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Eu amo você... :lol:
Bourne, es usted? c34x
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Carlinhos de Oliveira: "A partir daquele dia o meu time seria o Botafogo"
Fonte: http://www.movimentocarlitorocha.com.br ... virou.html (http://www.movimentocarlitorocha.com.br/2011/08/como-carlinhos-de-oliveira-virou.html)
Hoje, no jornal carioca O Dia, o cartunista Jaguar relembra o cronista botafoguense José Carlos de Oliveira, o Carlinhos de Oliveira, considerado um dos maiores cronistas de nossa literatura, mas que anda esquecido; após ler Jaguar, lembrei de uma crônica de Carlinhos chamada "O torcedor", que disponibilizamos há alguns aqui no blog e reproduzo de novo, logo mais abaixo - nela, Carlinhos fala porque virou alvinegro:
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F1.bp.blogspot.com%2F-L4GdRGCNYiw%2FTkZ0GiTYxuI%2FAAAAAAAAAL8%2FKxGNrGZV-mc%2Fs1600%2Fcarlinhos%2Bde%2Boliveira%2Bem%2Bo%2Bdia.JPG&hash=1935dfb8d521aef42b9e2cad65d421e5)
O Torcedor:
Jogam Flamengo e Botafogo, e meu coração se divide. Como qualquer brasileiro, nasci Flamengo; mas, aos 18 anos, decido romper com todos os preconceitos, e mesmo com as crenças mais sensatas que vinha acumulando. Para começar tudo de novo. Resultado: fiquei sem um céu para onde ir depois da morte, e sem um time de futebol que me fizesse experimentar simbolicamente, nos fins de semana, as alternativas de vitória e derrota em que se resume a aventura humana. Uma tarde de domingo, jogavam Botafogo e Fluminense em partida final de campeonato. Toda a cidade estava no Maracanã. Andei pelas ruas desertas, indiferente à sorte do campeonato. Cheguei ao Metro Copacabana e entrei para ver um filme infantil. Lá dentro eram raros os adultos. Na saída, com o sol já se apagando, fui andando na direção do Roxy, e na minha frente ia uma família muito jovem: o marido com uns quarenta anos, a mulher grávida de seis meses.
O marido levava ao colo um menino pequeno, e a mulher conduzia pela mão dois outros meninos. Fui andando a pensar na alegria que eles teriam se dentro de três meses nascesse a primeira menina. Provavelmente iriam ter o quarto filho apenas para alegrar o homem, cujo sonho era ser pai de uma gentil criança do sexo feminino. A jovem senhora grávida era bela, de traços finos; usava sandálias sem alças e mostrava uns pés verdadeiramente sublimes. Íamos andando assim quando topamos com um cidadão que, encostado a uma árvore, ouvia um rádio de pilha. Ao vê-lo, o homem, a mulher e as crianças ficaram paralisados. O homem e a mulher se entreolharam em silêncio e ficaram ainda algum tempo indecisos. Depois, o homem, sempre com o filho caçula no colo, aproximou-se cautelosamente do cidadão que ouvia o rádio e falou:
- Por favor... Quanto foi o jogo?
- Seis a dois – disse o outro.
- Ah, seis a dois... Mas para quem?
- Para o Botafogo, naturalmente...
- Naturalmente! – exclamou então o pai de família, e a jovem senhora ficou com o rosto iluminado. Os dois meninos que iam a pé pularam de contentamento. O pai entregou à mulher o filho de colo, beijou-a na testa, deu adeus aos outros filhos e saiu correndo na direção de um táxi que passava. Entrou no táxi e seguiu para o Túnel Novo.
Fiquei curioso para saber o que se passara. Contemplei algum tempo a jovem mulher que seguia agora o seu caminho, com dois filhos pela mão, um terceiro no colo e um quarto na barriga. Adiantei-me e lhe disse:
- Queira desculpar, mas... Que foi que houve?
- O Botafogo venceu – disse ela – e ele foi para sede do clube comemorar.
- Mas – insisti -, se ele gosta tanto assim do Botafogo, por que diabo não foi ao Maracanã? Por que se meteu no cinema?
- Para evitar o enfarte! – disse ela, com simplicidade e também com uma espécie de triunfo na voz.
- Ah, sim... O Enfarte...
A mulher e os filhos seguiram caminho. Entrei num bar e pedi um cafezinho. A partir daquele dia o meu time seria o Botafogo.
(Crônica publicada no livro "Para gostar de ler", volume 7)
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E viva o Nacional da Madeira, mai nada!!! :twisted:
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Nacional da Madeira é o cace#$&!!! s1x2x :domador:
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Histórias Incríveis: tiro de Euclides da Cunha desgraçou jogador do Bota
Fonte: http://globoesporte.globo.com/bau-do-es ... -bota.html (http://globoesporte.globo.com/bau-do-esporte/noticia/2012/11/historias-incriveis-tiro-de-euclides-da-cunha-desgracou-jogador-do-bota.html) - Atualizado em 21/11/2012 - 09h48
Dinorah viu irmão matar escritor, levou tiro, seguiu jogando pelo Alvinegro e foi campeão antes de enlouquecer e se suicidar - miserável, inválido e louco
A sequência de acontecimentos atiça a incredulidade: jogador do Botafogo é baleado por Euclides da Cunha, participa da morte do escritor, enfrenta o Fluminense com uma bala cravada na espinha uma semana depois de levar o tiro, é campeão carioca no ano seguinte (enquanto perde parte dos movimentos do corpo), vai parar em um hospício, vira mendigo e suicida-se, miserável, inválido e louco, no Rio Guaíba, em Porto Alegre. De tão absurda, a história parece um roteiro ruim, uma tragédia grega, um causo qualquer. Não é. É incrível, mas absolutamente real - é a história de Dinorah, herói nos campos, vilão na sociedade, vítima em uma tragédia de sangue, amor, traição, literatura e até futebol.
Faz mais de um século. A morte de Euclides da Cunha, a cada punhado de anos, é recontada - ora pelo viés dele, ora com foco em sua esposa, Anna, ora concentrada em Dilermando, o amante dela. Dinorah é a vítima (quase) esquecida daquela manhã de domingo em que o autor de "Os Sertões" pegou um revólver para lavar sua honra. De 15 de agosto de 1909, quando foi baleado pelas costas, até 21 de novembro de 1921, quando cometeu suicídio, o zagueiro do Botafogo viveu uma decadência assombrosa. É uma maldade do destino: ele teve sua vida destruída pelas mesmas mãos que escreveram um dos principais livros da história brasileira.
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fs2.glbimg.com%2F2xwPd6Lz4QWlTnDsX-tZCkZPC0jxDMDmr06tvmMyDqpIoz-HdGixxa_8qOZvMp3w%2Fs.glbimg.com%2Fes%2Fge%2Ff%2Foriginal%2F2012%2F11%2F12%2F1910---de-pe-coggin--pullen-e-dinorah-ajoelhados-rolando-lulu-e-lefevre-sentados-emanuel-abelardo.-decio-mimi-sodre-e-lauro-rep.jpg&hash=56dc70f6cd017122f6492cd94e580713)
O Botafogo campeão de 1910, com Dinorah, já debilitado pelo tiro de Euclides da Cunha (Foto: Reprodução)
Abaixo, o leitor conhecerá a trajetória, da glória à desgraça, do jogador campeão carioca de 1910 - título que deu ao Botafogo a alcunha de Glorioso. O relato é baseado em reportagens de jornais durante mais de dez anos e em livros escritos sobre a "Tragédia da Piedade". Em meio a uma série de contradições e versões confusas, esta reportagem prefere se basear especialmente em "Matar para não morrer", da historiadora Mary del Priore, obra lançada em 2009 pela editora Objetiva.
A tragédia também foi encenada na televisão. Entre maio e junho de 1990, a TV Globo lançou uma série chamada "Desejo". Em 17 capítulos, a autora Gloria Perez e os diretores Wolf Maya e Denise Saraceni contaram a saga de traição e morte do escritor. Dinorah foi interpretado por Marcos Winter. Tarcísio Meira deu pele a Euclides da Cunha. Vera Fischer encarnou Anna, e Dilermando foi vivido por Guilherme Fontes. Marcelo Serrado, Marcos Palmeira e Vera Holtz também participaram da produção.
A preparação para a tragédia
Dilermando e Dinorah não deixavam olhares passarem despercebidos em idos da primeira década do século 20. Eram jovens, fortes - o primeiro de cabelos mais claros do que o segundo. Tinham características parecidas, como se um irmão fosse a sombra do outro: ambos viajados (do Rio Grande do Sul para São Paulo, de São Paulo para o Rio de Janeiro), ambos ligados à carreira militar, ambos atléticos. Os dois eram devotados aos esportes. Mas com aptidões diferentes. Dilermando era esgrimista dos bons. Dinorah preferia usar os pés. Jogava foot-ball, um sport que se espalhava pelos grounds (campos) cariocas e começava a se popularizar.
Era esguio. Alto, também conseguia ser veloz. Sua missão era desarmar os forwards (atacantes) adversários, mas se arriscava a ir ao ataque de vez em quando. Fazia seus golzinhos - foram nove em 26 jogos pelo Botafogo, seis deles na goleada de 13 a 0 sobre o Hadock Lobo. Tão logo chegou ao Rio, já com a vivência de ter atuado pelo Internacional-SP, foi defender as cores do América. Na zaga rubra, foi aliado de Belfort Duarte, símbolo de disciplina, defensor que tinha asco a faltas. Jogou dois anos lá. Em 1909, trocou de time. Resolveu defender o Botafogo, sem ter ideia da desgraça que o destino bordava para sua vida.
Dinorah vivia dias simples. Jogava bola e tinha aulas na Escola Naval. Mas seu irmão era mais inquieto. Com 17 anos, trocava olhares com uma mulher bem mais velha, de 33. Pior: casada. Pior ainda: casada com um dos brasileiros mais célebres na época. Qualquer possibilidade de envolvimento seria um escândalo, uma bomba-relógio. Não poderia acontecer. Mas aconteceu.
JOGOS PELO BOTAFOGO
09/05/1909 – 2 x 2 Fluminense
30/05/1909 – 24 x 0 Mangueira
13/06/1909 – 2 x 1 América
11/07/1909 – 13 x 0 Hadock Lobo
22/08/1909 – 1 x 2 Fluminense
12/09/1909 – 2 x 1 Cruzador Amethyst-ING
19/09/1909 – 4 x 3 Cruzador Amethyst-ING
26/09/1909 – 1 x 1 América
02/10/1909 – 2 x 1 A A Palmeiras
22/05/1910 – 1 x 4 América
05/06/1910 – 9 x 1 Riachuelo
26/06/1910 – 3 x 1 Fluminense
03/07/1910 – 7 x 0 Hadock Lobo
10/07/1910 – 6 x 0 Rio Cricket
17/07/1910 – 4 x 4 São Paulo Athletic
15/08/1910 – 7 x 2 A A Palmeiras
07/08/1910 – 5 x 0 Rio Cricket
04/09/1910 – 15 x 1 Riachuelo
25/09/1910 – 6 x 1 Fluminense
02/10/1910 – 11 x 0 Hadock Lobo
12/10/1910 – 2 x 1 Combinado Carioca
06/11/1910 – 4 x 4 Fluminense
13/11/1910 – 5 x 2 São Cristóvão
07/05/1911 – 1 x 2 São Paulo Athletic
14/05/1911 – 3 x 0 Rio Cricket
23/07/1911 - 3 x 4 Americano-S
Foi na Pensão Monat, no número 17 da Rua Senador Vergueiro, no bairro do Flamengo, que Dilermando e Anna começaram o romance proibido. Em 1904, Euclides partiu para uma expedição na Amazônia. Retornou apenas em 1906 - tarde demais para evitar um tórrido relacionamento entre sua esposa e aquele adolescente.
Anna foi morar naquela pensão para aplacar a solidão. Lá, viviam duas amigas de sua mãe, Angelica e Lucinda Ratto. Elas eram tias de Dilermando e Dinorah. Solteironas e futriqueiras, logo perceberam algo de estranho no ar. Em um piscar de olhos, a história se espalhou. E chegou aos ouvidos do escritor - que, inicialmente, não acreditou nos rumores.
Dinorah nada tinha a ver com a história. No auge do romance, estava em São Paulo, defendendo o Internacional. Não acumulava grandes preocupações. Pressão mesmo era Anna quem sofria. Para evitar maiores fuxicos, Dilermando se mudou. Mas os encontros prosseguiram. As suspeitas aumentaram. A situação começou a ficar incontrolável. O casamento virou um inferno.
Dilermando chegou a escrever uma carta para Euclides, alegando inocência. O escritor respondeu, dizendo a ele que se tranquilizasse: "Na sua idade nunca se é um homem baixo. Não creio que houvesse feito uma tal injustiça. A minha casa continua aberta aos que são justos e bons. Não poderá fechar-se para você."
Puro teatro. Anna estava grávida de Dilermando, e Euclides percebia a barriga crescendo. Em meio ao caos, Mauro nasceu prematuro - a mãe, em vão, tentara abortar, inclusive inserindo agulhas no corpo. A criança nasceu, mas morreu com oito dias de vida. Houve quem acusasse Euclides de matar o bebê, impedindo que a esposa o amamentasse.
Os protagonistas da história viviam o inferno. Euclides lidava com a traição; Anna carregava a fama de adúltera; Dilermando se equilibrava entre uma paixão proibida e a dor pela perda do filho. A situação foi amenizada em 1906, quando o militar foi convocado pelo Exército para retornar ao Sul. Mesmo assim, no ano seguinte, em visita ao Rio, ele reencontrou Anna. E a engravidou.
Nasceu Luiz, o Lulu. Era loiro, feito Dilermando, diferente dos filhos de Euclides - "uma espiga de milho em meio a um cafezal", como definia, ironicamente, o escritor. O filho bastardo não melhorou em nada o ambiente. E, em 1909, o triângulo amoroso chegou ao limite do insuportável, ficou a ponto de bala - de uma bala que arruinaria a vida de Dinorah, de volta ao Rio um ano antes.
Matar ou morrer
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fs2.glbimg.com%2F2Se_KRiWd82WNiHSm_0K5PhG8083Bg0Hh8znpBWWHcSHj5SvhNT1igfctoFGckkF%2Fs.glbimg.com%2Fes%2Fge%2Ff%2Foriginal%2F2012%2F11%2F12%2Fa-casa-da-piedade-dinorah-na-porta-rep.jpg&hash=5439d5d127629131e405c0d84027e750)
Dinorah na porta da casa onde ocorreu a tragédia
em 1909 (Foto: Reprodução)
No sábado, 14 de agosto de 1909, Dinorah recebeu um pedido de Anna e Dilermando: que fosse à Rua Nossa Senhora de Copacabana observar, escondido, o máximo possível do comportamento de Euclides. O jogador, que há pouco soubera do relacionamento, acatou a solicitação. Afinal, era grande o temor na pequena casa da Estrada Real de Santa Cruz, na Piedade, onde agora moravam os irmãos. Solon, filho de Anna com Euclides, ouvira o pai jurar vingança. A apreensão pesava sobre os amantes.
Dinorah pouco conseguiu escutar. Ao retornar para casa, teve que acalmar Solon, perturbado com todo o absurdo da situação - a mãe se relacionando com um rapaz pouco mais velho que ele, o pai prometendo matar os traidores. Eles jogaram uma partida de xadrez. Tranquilizaram-se. E foram dormir - para depois despertar no dia que mudaria suas vidas.
Chovia. Euclides da Cunha escolheu sua pior roupa naquela manhã de domingo: uma calça de casemira escura, uma ceroula branca de linho, uma camisa de linho branco e uma camisa interna de flanela. No bolso, posicionou um revólver Smith and Wesson. Carregado. Pegou o trem na estação central e rumou para o subúrbio. Como não sabia onde era a casa, pediu informações a vizinhos. Até que a encontrou.
A moradia de número 214 era simples - uma construção de um pavimento, com duas janelas de venezianas, um portão baixo na entrada e um jardim enfeitado por um mamoeiro. Por volta de 10h, Dinorah observava o movimento da rua quando percebeu a presença de Euclides da Cunha. Assustado, virou-se para dentro da casa e avisou que ali estava o escritor. Acharam que era brincadeira dele. Mal sabiam que era o extremo oposto disso.
Dilermando rumou para seu quarto. Foi colocar seu traje militar. Anna e Solon se esconderam. E Euclides disse a Dinorah que queria falar com o irmão dele. Adentrou o portão. Invadiu a casa. Gritou: "Vim para matar ou morrer!". E depois arrombou o dormitório principal com um chute na porta, seguido de dois tiros. Começava o derramamento de sangue.
Dinorah, para proteger o irmão, pulou em Euclides. Os dois se engalfinharam. O escritor disparou duas vezes na direção do jogador - um tiro pegou de raspão. O zagueiro se levantou e correu na direção de outro quarto, onde pretendia pegar uma arma. Não chegou lá. Levou um tiro pelas costas, abaixo da nuca. Desabou.
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"Revista da Semana" mostra foto do velório de Euclides da Cunha (Foto: Reprodução)
Mas Dilermando também tinha uma Smith and Wesson. E ela também estava carregada. Com Dinorah caído, seu irmão e o escritor passaram a trocar tiros. Dilermando foi atingido abaixo da garganta, acima do estômago e no tórax. Sobreviveu. Euclides foi baleado no ombro direito, no braço esquerdo e no lado direito do peito. O último tiro, de uma bala de 17 milímetros de comprimento por nove de largura, foi fatal. O autor de "Os Sertões" cambaleou até o jardim, onde caiu morto, abatido pelo amante de sua mulher. Em um último suspiro, deixou uma frase de efeito, em uma derradeiro gesto literário - mas cujo teor varia na descrição de cada jornal da época.
- Sofri muito... matei... morro... mas perdôo - segundo o "Jornal do Brasil".
- Odeio-te, mas te perdôo - de acordo com "O Paiz".
O início do fim
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Dinorah vive decadência: vira mendigo e vai parar
em hospícios (Foto: Reprodução)
Foi o fato do ano. Os jornais se esbaldaram com o escândalo. Inicialmente, para proteger a honra de Euclides, compraram a tese (elaborada pelos irmãos e por Anna) de que o escritor agira em um impulso paranoico, envolvido pelas fofocas de Angelica e Lucinda Ratto. Por poucos dias, Dilermando e Dinorah foram tratados como vítimas de um desvio mental do intelectual. Eram elogiados!
- Dinorah de Assis, de exemplar comportamento e maneiras distinctas, é considerado excellente sportman. Tem grande predilecção pelo foot-ball, como hontem dissemos, occupando saliente lugar no 1º "team" do Botafogo Football Club, à rua Conde de Irajá - escreveu o "Jornal do Brasil".
- Dinorah de Assis, além de ser um excellente moço, de comportamento exemplar, nas horas de lazer, era um dedicadíssimo sportman. O seu sport predilecto era o foot-ball. Devido ao seu conhecimento profundo desse jogo, tem uma collocação de responsabilidade no 1º team do Botafogo Foot-Ball-Club, à rua Conde de Irajá. Em todos os matches em que Dinorah tomava parte, quer aqui, quer em S. Paulo, destacava-se pelas suas excellentes qualidades de eximio foot-baller - derreteu-se o "Correio da Manhã".
Mas isso logo mudaria. Com o aprofundamento das investigações policiais, ficou evidente que Dilermando e Anna tinham mesmo um caso, que Euclides efetivamente foi traído - e que Dinorah foi cúmplice do romance. A postura da imprensa, da noite para o dia, mudou radicalmente. Os irmãos passaram a ser perseguidos. Viraram vilões. E Dinorah não colaborou para amenizar isso.
Ele passou cinco dias entre hospitais e delegacias. Tentou invadir o local do crime, já que estava sem casa, e foi prontamente criticado pelos jornais. No domingo, veio a rebeldia maior: resolveu que iria a campo pelo Botafogo contra o Fluminense.
Foi um choque para a sociedade. Parecia absurdo que aquele rapaz, envolvido na maior tragédia do ano, trocasse o luto pelos uniformes de jogo, pelas chuteiras, apenas uma semana depois do ocorrido. Mas ele não quis saber. Foi mesmo assim - e como atacante. Detalhe: seguia com a bala cravada em sua espinha!
O Fluminense jogava em casa, e sua torcida era maioria. Ver Dinorah com a camisa alvinegra acirrou a antipatia do público pelo adversário, conforme relatou na época o "Jornal do Brasil".
- Às 3.12, quando, precedidos do referee Sr Wood, entraram os dous teams para o ground, victoriaram-nos prolongadas palmas e vivas, sendo que bem se notava ser maior a sympathia pelo Fluminense, que augmentou ainda ao ver-se entre os forwards do Botafogo o Sr Dinorah de Assis, um dos tristes protagonistas da tragedia da Piedade - escreveu o jornal.
O Fluminense venceu por 2 a 1. Dinorah não fez gols. Teve uma chance, mas foi superado por Waterman, goleiro transformado em herói por impedir que um dos envolvidos na morte de Euclides da Cunha saísse vitorioso.
- Dinorah aproveitou entao um bom passe de Lulu e avançou para o goal adversario. As archibancadas emocionaram-se e gritaram de toda a parte, tal era a sympathia do Fluminense: "Waterman! Waterman!". Elle já estava no seu posto, sereno, fleugmático. Dinorah aproximou-se e shootou rasteiro: - Waterman pegou a bola, sob uma estrepitosa salva de palmas, bateu-a duas vezes e passou-a - descreveu o jornal.
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Enquanto Dilermando se recuperava dos tiros e enfrentava a fúria popular, Dinorah, também criticado, era vice-campeão carioca com o Botafogo. O futebol era presença sólida em sua vida. No ano seguinte, ele seguiria jogando. Mas começaria a perceber algo diferente. Ao contrário do que disseram os médicos, o tiro de Euclides da Cunha causara, sim, efeitos no corpo do zagueiro. Dinorah estava perdendo parte dos movimentos.
Motivo para largar os campos? Não tão cedo. Em 1910, ele participou ativamente do título estadual. Cada vez mais debilitado, fez gols nos massacres de 9 a 1 sobre o Riachuelo, em 5 de junho, e de 11 a 0 contra o Hadock Lobo, em 2 de outubro. Só não participou de uma partida na campanha de nove vitórias em dez jogos.
Veio 1911, e o corpo já não obedecia mais o jogador. Em 14 de maio, ele fez seu último jogo oficial, na vitória de 3 a 0 sobre o Rio Cricket. Também foi a campo em 23 de julho, em derrota de 4 a 3 para o Americano-SP em amistoso. Impossibilitado de correr, atuou como goleiro. E nunca mais vestiu alvinegro. Menos de dois anos depois da Tragédia da Piedade, o tiro de Euclides da Cunha encerrava a carreira de Dinorah. Mas o pior ainda estava por vir...
A miséria, a loucura e a morte
Enquanto isso, Dinorah despencava rumo à morte. O ex-zagueiro não conseguiu superar seus dramas. A invalidez impediu que jogasse futebol, e a antipatia da sociedade tornou a vida militar inviável. Ele ficou sem norte. Caiu em uma vida de bebedeiras. Contraiu sífilis. E passou a ter distúrbios mentais.
Em 1913, acompanhando o irmão em Minas Gerais, Dinorah foi parar em um hospício pela primeira vez. Foi nessa época que a bala disparada por Euclides da Cunha finalmente foi retirada de seu corpo.
Um ano depois, ele voltou ao Rio de Janeiro, e a situação só piorou. Fora de si, ele vagava pelas ruas. Dava pena. Em julho, entrou em um carro, uma espécie de táxi, e circulou pela cidade durante duas horas. Pediu que o motorista parasse na Praia de Botafogo, perto do clube. Com metade do corpo imóvel, se jogou na água. A tentativa de suicídio foi impedida por uma testemunha da cena.
- Paralytico de um lado, sem poder nadar, ia perecer, quando em seu auxílio correu o sr. Joaquim Alves Ferreira, empregado na Fundição Americana, que o salvou - descreveu o jornal "A Noite" em 6 de julho de 1914.
O drama de Dinorah comoveu parte da sociedade. Jornais pediram ajuda a ele. O Fluminense se solidarizou e sugeriu um jogo festivo. Em vão. O ex-zagueiro voltou a viver nas ruas. Companheiros dos tempos de América faziam o possível para que, escondido, ele passasse as noites sob as arquibancadas do estádio. Colegas da época de Botafogo abriam uma sala para ele no clube. Mas Dinorah não tinha cura: louco, paralítico e miserável, ele rumava para seu fim.
Em 1916, de volta a Porto Alegre, o campeão de seis anos antes teve outra tentativa de suicídio. Na Praça da Alfândega, no Centro da cidade, deu um tiro no peito. Novamente, não conseguiu dar fim à vida. Nos anos seguintes, reencontrou um pouco de paz ao voltar a viver com o irmão em Bagé, no interior gaúcho. Lá, segundo as memórias de Judith, filha de Anna e Dilermando, até tentou ensinar Lulu, seu sobrinho, a jogar futebol. Era uma cena comovente: de muletas, quase imóvel, brincava com uma bola - o objeto que tanto amava.
Mas os sinais de recuperação eram falsa esperança. Em 1921, novamente em Porto Alegre, a tragédia do ex-zagueiro encontrou seu ponto final.
Era domingo. Por volta de 17h, depois de conversar com conhecidos na Rua Barros Cassal, Dinorah rumou para o Rio Guaíba. E repetiu o que fizera no Rio de Janeiro. Na altura da Voluntários da Pátria, no trapiche da Companhia Becker, caiu para a morte. Foi visto por um policial, que logo iniciou a tentativa de encontrá-lo. Em vão. O corpo só foi achado uma hora depois, já sem vida.
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Jornal "Correio da Manhã" noticia o suicídio de
Dinorah em 1921 (Foto: Reprodução)
"Campeão desde 1910", como canta o hino
Foram muitas as vítimas daquela manhã de domingo em 1909. Euclides foi para matar e acabou morto. Dois de seus filhos, Solon e Quidinho, não suportaram os acontecimentos e, direta ou indiretamente, também morreram por causa daquela tragédia. Dilermando teve longa vida, casou-se duas vezes, colecionou filhos, mas sempre conviveu com a imagem de vilão, de assassino - até falecer em 1951, vítima de colapso cardíaco. Anna de Assis também tocou sua vida, conseguiu viver com o homem que amava, mas sempre com a fama de adúltera tatuada em sua testa. Também morreu em 1951, de câncer.
Mas a maior vítima talvez tenha sido justamente a mais involuntária. Dinorah não traiu ninguém, não tentou matar ninguém. Por crimes e pecados de outros, pagou com o corpo, com a mente e com a vida. Pior: corre o risco de cair no esquecimento, mesmo tendo conquistado, com uma bala cravada na espinha, um título tão representativo para o Botafogo - o clube "campeão desde 1910", como se orgulha a primeira estrofe de seu hino.
* Colaborou Eduardo Santos
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é engraçado ver o monólogo deste homem.
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Prezado typhonman,
Não é um monólogo, mas sim uma reverência ao time do qual sou torcedor.
Um abraço.
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(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Festatico.globoesporte.globo.com%2F2013%2F05%2F04%2FWallpaper_BOTAFOGO-ESCUDO_1920x1160.jpg&hash=d88c99b29a628c3e6c79193509e7bfe0)
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(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimguol.com%2Fblogdojuca%2F1%2Ffiles%2F2013%2F11%2FNilton-Santos-RIP.jpg&hash=08708d228233eb62987e3f5108ee1406)
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O time de Neném Prancha
Fonte: http://www.releituras.com/jsaldanha_nenem.asp (http://www.releituras.com/jsaldanha_nenem.asp)
João Saldanha*
Já faz muito tempo, acho que durante a guerra, os jogadores do Posto 4 FC, campeoníssimo da praia, dirigido pelo "Trenier" mais famoso da Costa do Atlântico, Neném Pé de Prancha, tinham resolvido dar uma festa de fim de ano, na garagem da casa de um tio do Renato Estelita. O Lá Vai Bola FC aderiu ao baile e compraram três barris de chope.
Eu não topei e disse na esquina do Café do Baltazar: "Não vou. Na festa do ano passado, na garagem do Pé de Chumbo, quebraram tudo e até hoje o clube não pagou a cristaleira da avó dele que estava guardada lá. Não vou mesmo. Chega de encrenca."
Meu irmão Aristides, o Hélio Caveira-de-Burro e o Orlando Cuíca me acompanharam na idéia de não ir ao baile e fomos tomar um chope, sossegados, num bar vazio, na esquina da Avenida Atlântica com Rua Constante Ramos. A noite estava boa e o papo também. Mais tarde, passou por ali o Jaime Botina e disse: "Caí fora do baile. Tem gente demais e muito nego bêbado. Vai dar galho." E eu emendei: "Não disse?"
Lá pelas duas horas da manhã, parou um táxi daqueles grandes e saltou o doutor A. Coruja, esfregando os óculos, nervoso. O doutor Coruja era um impetuoso lateral direito. Só dava bico na bola de borracha e Neném Prancha decretou: "Só joga se cortar as unhas. Uma bola está custando cinco pratas." Seu controle de bola não era dos melhores, mas quebrava o galho na lateral direita. O galho ou o ponta-esquerda adversário.
Mas chegou e foi falando incisivo: "Se vocês são machos e meus amigos, têm de ir lá comigo. Fui desacatado mas eram muitos." E foi logo dando ordens: "Entrem aqui no táxi e vamos lá."
Lá aonde?" disse o Hélio. Coruja explicou: "E na Rua Joaquim Silva. A mulher me desacatou, ofendeu minha mãe e não pude reagir porque ela estava com três caras na mesa. Vocês têm de ir comigo ou não são meus amigos." Repetiu isto umas cinco vezes e completou: "Como é, poetas? Vamos ou não vamos? Vocês agora deram para medrar?"
Eu cochichei para o Cuíca: "O Coruja está de porre. Não vou me meter nisto." O Cuíca respondeu: "Ele vai chatear a gente o ano inteiro por causa disso. O Coruja quando bebe é assim. Fica remoendo os troços. Olha, ele veio de lá até aqui e gastou meia hora. Para voltar, outra meia hora. Os caras já não estão mais lá, a pensão já deve estar fechada e a mulher dormindo com alguém." E virando-se para o doutor Coruja: "Tá bem, nós vamos, mas vem tomar um chopinho com a gente." Coruja topou e mandou o português do táxi esperar.
Tomamos o chope bem devagarinho e fomos, ainda devagar, para a Rua Joaquim Silva. O táxi "disse" que não esperava mais e foi embora. Subimos a escada de madeira, comprida e estreitinha, e demos numa sala de uns três metros por quatro, se tanto. Quatro mesinhas, só duas ocupadas por fregueses, e, nas outras, umas três mulheres com cara de sono. O diabo é que numa das mesas estava a tal mulher papeando com os três caras. Doutor Coruja partiu direto e foi dizendo: "Repete agora, sua vaca."
Os homens levantaram, o que estava mais perto levou um soco do doutor e o pau comeu solto. O lugar era apertado e eu me lembrei da cristaleira da avó do Renato. Um dos caras era uma parada, brigava bem. O garçom não parecia homem mas era e as mulheres fizeram uma gritaria dos diabos. As mesas e as cadeiras foram para o vinagre, um dos caras se mandou escada abaixo, quando alguém apagou a luz. Escutei a voz de Hélio Caveira-de-Burro, que era muito experiente: "Vamos dar o fora."
Saímos rápido e ainda levei com uns detritos atirados pelas mulheres da janela. Um guarda apitou e saímos pelas ruas da Lapa. Uns se mandaram pela Conde Laje e outros pela Glória. Eu fui parar no Passeio Público, arrumei um táxi e voltei para o ponto de saída. Quando cheguei, Orlando Cuíca já estava e disse: "O guarda começou a dar tiro e quase me pega. Tive sorte."
Depois chegaram Hélio e meu irmão, que vieram noutro táxi. Hélio falou: "O grande era uma parada. Mas peguei ele bem com a perna da cadeira. Senão a gente não ganhava." Meu irmão estava com a camisa rasgada e disse que foi a mulher que se atracou nele. "Não bati mas tive de dar uma 'banda' nela. Juntou pé com cabeça. Depois que Hélio dominou o grandalhão, foi barbada. Dei uma no de terno marrom que ele se mandou pela escada." E eu disse: "Ficou tudo quebrado e a mulher que o Coruja bateu não levantou, mas eu não vi sangue."
E ficamos relaxando um pouco quando chegou um táxi e o doutor Coruja saltou esfregando os óculos com um lanho no rosto. Hélio perguntou: "Como é doutor, se machucou?" "Nada, um arranhãozinho à toa." E prosseguiu: "Puxa, agora estou satisfeito. Há mais de três meses que eu estava para ir a esta forra."
"O quê?" — berramos em coro — "O negócio foi há três meses!?" E Coruja explicou, calmamente: "Foi sim e eu não bati nela porque estava acompanhada." Então meu irmão perguntou: "Quer dizer que os caras que apanharam não eram os mesmos?" Coruja respondeu: "Claro que não, meus poetas, mas o que tem isto demais?"
Nesta altura, o sol já estava aparecendo lá na Ponta do Boi, iluminando o primeiro dia do ano e desejando boas entradas para a excelentíssima senhora mãe do doutor A. Coruja.
*João Saldanha era gaúcho e nasceu em 1917 na cidade de Alegrete. Jornalista combativo, treinador, apaixonado pelo futebol, conseguiu unir o Brasil — então politicamente dividido — em 1969, por ocasião das eliminatórias para aquela que seria a Copa do tricampeonato no México. De temperamento difícil, extremamente corajoso, fez muitos inimigos na vida. Mas todos admiravam aquele homem (ainda que muitas vezes não o perdoando pelas aventuras que dizia — e acreditava — ter vivido) que assistiu a todas as Copas do Mundo de futebol; que, como jornalista, cobriu a guerra da Coréia; que desembarcou na Normandia com Montgomery e que fez a grande marcha com Mao Tse-Tung. Faleceu no dia 12 de julho de 1990, durante a Copa do Mundo. O texto acima consta do livro "Nelson Rodrigues e João Saldanha - a crônica e o futebol", compilado por Ivan Candido Proença, - Rio de Janeiro - Educom - 1976, pág. 96-98, e extraído do livro "As cem melhores crônicas brasileiras", Editora Objetiva - Rio de Janeiro - 2007 - pág. 206, organização e introdução de Joaquim Ferreira dos Santos.
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(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F4.bp.blogspot.com%2F-1meww0AS6Fc%2FU5uTCVwNDnI%2FAAAAAAAAevs%2F0wYcL3ZFsb4%2Fs1600%2FAnti-racismo.jpg&hash=367c195a7a7d27fceb5be17b79dc908f)
Fonte: http://mundobotafogo.blogspot.com.br/ (http://mundobotafogo.blogspot.com.br/)
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Como vêm não são apenas os três grandes a terem adeptos nas ex-colónias, até o Nacional da Madeira consegue essa proeza! :toto: :palmas:
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Nacional da Madeira é o cace#$&!!! :crit: s1x2x