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Forças Armadas e Sistemas de Armas => Exércitos/Sistemas de Armas => Tópico iniciado por: Nuno Bento em Março 02, 2007, 02:05:48 am

Título: Reserva do Exercito
Enviado por: Nuno Bento em Março 02, 2007, 02:05:48 am
Gostava saber caros forista o que pensam da ideia de criar por exemplo uma unidade de reserva para  quem tiver na disponibilidade poder treinar aos fins de semana e por exemplo nas ferias.

Essa unidade ja teria algum treino e rotina pelo que em caso de um conflito generalizado poderia ser empregue com muito mais rapidez do que uma mobilizacão geral.

Penso que é esse o conceito da Guarda nacional nos Estados unidos.

Aguardo os vossos comentarios
Título:
Enviado por: Yosy em Março 02, 2007, 08:06:02 pm
Isso já não existe - a Reserva Territorial?
Título:
Enviado por: dremanu em Março 02, 2007, 09:25:58 pm
Este assunto já aqui foi debatido:

http://www.forumdefesa.com/forum/viewtopic.php?t=263 (http://www.forumdefesa.com/forum/viewtopic.php?t=263)

Eu sou 100% a favor de criar uma "Reserva Territorial", e acho que deveria ser feito para todos os ramos das FA. É muito dificil, e na verdade desnecessário, para um país do tamanho de Portugal manter um exército grande. É(na minha opinião) mais prático procurar encontrar um balanço entre manter um exército professional, e um semi-professional.

Eu só vejo benefícios na criação de uma "Reserva Territorial".
Título:
Enviado por: Nuno Bento em Março 03, 2007, 02:21:04 am
Citação de: "Yosy"
Isso já não existe - a Reserva Territorial?


Eu referia-me a uma reserva que tivesse exercicios e treinos periodicos.
Título:
Enviado por: pablinho em Março 05, 2007, 05:36:09 pm
¿como la española?
Título:
Enviado por: Bravo Two Zero em Março 05, 2007, 05:39:31 pm
Citação de: "pablinho"
¿como la española?


Não sabia que Espanha tinha uma "Reserva Territorial" com exercícios e treinos periódicos............
Género Guarda Nacional nos EUA ?????
Título:
Enviado por: pablinho em Março 06, 2007, 06:37:24 pm
A grandes rasgos a  reserva voluntaria de España ven sendo así:
Ten como funcion aproveitar os coñecementos civís para o exercito.
Desta forma un medico presenta o seu titulo, esta 15 dias de entramento xeral, e 15 dias especifico, nese momento adquere o rango de oficial alferez.
Cobrando certo soldo o reservista ponse a disposicion do estado, mentres non estea activado é un civil mais, pero cando o activan pasa a ser un militar de pleno dereito.
Asi dependendo do teu titulo podes ser oficial ou suboficial.
Para aquelas persoas que non teñan titulo pero unha vocacion militar tamen poden ser reservistas voluntarios pero entraran como tropa.
Todos os reservistas unha vez activados poden ser trasladados,  ou incluso ser enviados a outros paises.
A reserva está funcionando bastante ben, ten moi poucos anos e xa conta con mais de 6000 voluntarios.
Creo que ven sendo unha cousa asi.
Que alguen me corrixa se me expliquei mal. :wink:
Saludos

PD: creo que solen activarse polo menos unha vez a o ano, ainda que non é obligatorio, durante ese tempo soen entrenar e facer algunha que outra mision.

Consultade esta paxina paramais informacion http://www.ejercito.mde.es/personal/reservistas.html (http://www.ejercito.mde.es/personal/reservistas.html)
Título:
Enviado por: typhonman em Março 06, 2007, 10:29:36 pm
Quase todos os paises europeus tem um corpo de reservistas com algum treino periodico...Mais uma vez Portugal fica atras..
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 06, 2007, 11:05:41 pm
Quais?
Título:
Enviado por: Nuno Bento em Março 06, 2007, 11:16:11 pm
Pois eu não sabia que a Espanha o tinha eu referia me a uma reserva (voluntaria) com treinos periodicos
Título:
Enviado por: pablinho em Março 07, 2007, 03:30:09 pm
Citar
Pois eu não sabia que a Espanha o tinha eu referia me a uma reserva (voluntaria) com treinos periodicos

e que foi creada recentemente, pero está a funcionar bastante ben como xa dixen.
¿A que vos referides con "reserva territorial"?
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 07, 2007, 03:43:53 pm
São os homens de nacionalidade Portuguesa que vão à inspecção militar e são declarados aptos. Como não se dão como voluntários para as Forças Armadas Portuguesas, passam à reserva territorial. Em caso de guerra são automáticamente chamados para receberem instrução militar e só depois irem para a frente de guerra. Ou seja, entre serem chamados e estarem prontos para combaterem passava pelo menos 6 meses... :cry:
Título:
Enviado por: pablinho em Março 07, 2007, 04:58:16 pm
CAbe aclarar que en España existe a reserva voluntaria e a reserva activa.
A reserva activa é aquela a que van os suboficiales e oficiales cando alcanzan certa edad. Estan xubilados, pero a disposicion do exercito en caso de necesidad.
Citar
entre serem chamados e estarem prontos para combaterem passava pelo menos 6 meses...

6 meses?  :?
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 07, 2007, 05:06:38 pm
É o tempo de formação: recruta e especialidade. E eu não estou a contar com a instrução complementar, senão passava para mais uns meses.
Título:
Enviado por: Lancero em Março 07, 2007, 05:23:39 pm
O Regimento de Comandos convocou em Outubro de 1975 duas companhias (militares na disponibilidade) que estavam prontas um mês depois (25 Novembro).
Mas isso eram outros tempos.
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 07, 2007, 05:51:58 pm
E eram militares na disponibilidade. Os Páras foram reduzidos aos graduados que não foram em cantigas da extrema-esquerda e foram esses militares juntamente com outros Páras que entretanto já tinham passado à disponiblidade que refizeram o Regimento de Caçadores Páraquedista. Em pouco tempo não só tinham o regimento em condições como alargaram a unidade para a Brigada Ligeira Páraquedista. Algo do género seria fácil, mas acho que é sempre preferivel ter unidades de reservistas já devidamente enquadradas e equipadas, do que fazer tudo às pressas.
Título:
Enviado por: pablinho em Março 16, 2007, 06:58:03 pm
Pues a mi seis meses me parecen una barbaridad, para cuando estean listos la guerra ya habrá acabado... En España creo que es inmediato, en cuanto te activan ya estas preparado ¿Alguien me lo podría confirmar?
Título:
Enviado por: markseia em Março 17, 2007, 12:33:09 am
Ora aqui está + um tópico muito interessante..
Na minha opinião seria optimo que se convocassem ex-militares para fazerem uma reciclagem em certas alturas. Penso que principalmente os oriundos das tropas especiais (nao julgem que só o digo por ser Comando), precisamente pelo grau de dificuldade dessas especialidades e pela tecnicidade que cada uma tem. O exercito gasta milhares de contos em cada curso quer seja Comando, OE Para ou Fz e cada ex-militar destas tropas deveria receber formação pelas novas tecnicas, armas ou tecnologias que os mesmos vao adoptando. Não estou a ver o exercito chamar um ex-militar que no seu tempo até foi padeiro ou mecânico, para agora vir fazer uma reciclagem na Manutenção Militar!! chamariam logo um ex-militar que exercece essa profissão na vida civil, Agora como tropa especial a conversa tem obrigatoriamente de ser outra.
Por outro lado temos que ver.. para quê chamar este pessoal??
Não vejo uma unica razão, na actualidade que justifique tal acontecimento.
Até porque se poêm inumeras perguntas de indule finaceira e de acção de comando.
Porquê?? Qual a missão?? Onde?? Quem paga?? Quem manda?? com que equipamento?? etc...
Sim já se fez isso!! poderiam voltar a faze-lo, mas duvido que se nao fosse legislado como obrigação, muito poucos apareciam.
Eu próprio ainda sou desse tempo!! não foi assimhá tanto tempo a ultima vez.. +ou- em 1995/96, e digo-vos que aquilo deu barraca.. mandaram vir pessoal sem um estudo prévio, da situação profissional de cada um e depois tiveram que assumir o pagamento dessas semanas tal e qual o vencimento auferido por cada um dos presentes no seu local de trabalho!!
Chamaram até um que era soldador numa plataforma petrolifera nas arábias e exigio nessas duas semanas 600contos, que era quanto ganhava na altura(dizia ele..) mais o guito das viagens.
Quantos de vós neste momento deixariam o vosso emprego para irem brincar á tropa??
Eu concordo que deveria haver uma reserva operacional de certas especialidades e que as mesmas fossem convocadas de tempos a tempos, mas neste momento isso só acontece com exercitos profissionais e aqui está o centro da questão!! Para isso acontecer deveria-mos  ter muito antes, tambem um exercito profissional..
e depois a grande questão é: Há GUITO??
Título:
Enviado por: pablinho em Março 17, 2007, 12:02:09 pm
Pois eu opino que non deberia facer falla ser militar para ingresar na reserva, despois de todo un medico civio tamen cura a un militar, con que se lle de un pouco de instruccion deberia chegar...
¿En Portugal tedes reserva activa?
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 17, 2007, 12:29:18 pm
Não.
Já tivemos no passado, mas neste momento não temos.
Título:
Enviado por: pablinho em Março 17, 2007, 02:09:11 pm
Citar
Não.
Já tivemos no passado, mas neste momento não temos.

Pero esa non era a territorial  :wink:
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 17, 2007, 02:12:18 pm
Epá eu não sei como se chamava essa reserva.  :?
Como eu já disse antes, eram antigos Pára-quedistas, que eram chamados para fazerem exercicios militares no seio do CTP. Se tu estás a perguntar se temos uma reserva como há em Espanha, a resposta é não.
Título:
Enviado por: pablinho em Março 17, 2007, 04:57:13 pm
Vamos a ver en España cando un oficial ou suboficial se xuvila durante uns anos está a disposicion do ministerio ¿En Portugal non é asi?
Título:
Enviado por: Lancero em Março 17, 2007, 05:09:17 pm
Citação de: "pablinho"
Vamos a ver en España cando un oficial ou suboficial se xuvila durante uns anos está a disposicion do ministerio ¿En Portugal non é asi?


Não. Em Portugal fica à disposição das Forças Armadas e do País.  :wink:
Título:
Enviado por: Duarte em Março 17, 2007, 05:28:45 pm
Citação de: "Cabeça de Martelo"
Epá eu não sei como se chamava essa reserva.  :?
Como eu já disse antes, eram antigos Pára-quedistas, que eram chamados para fazerem exercicios militares no seio do CTP. Se tu estás a perguntar se temos uma reserva como há em Espanha, a resposta é não.


Se bem me lembro, normalmente o CTP convocava uma companhia de Paras na disponibilidade para os exercícios Jupiter.
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 17, 2007, 05:53:02 pm
Exacto!  :wink:
Título:
Enviado por: pablinho em Março 17, 2007, 08:49:41 pm
Citar
Não. Em Portugal fica à disposição das Forças Armadas e do País

Jeje, pois a iso me referia con reserva activa.
Logo esta a reserva voluntaria como xa sabedes xa é outro asunto...
Título:
Enviado por: joaosilvadelemos em Março 20, 2007, 01:20:59 am
Caros foristas:

A questão é interessante e trata-se de um tema que despertou muita controvérsia em Portugal no início dos anos 90. Isto aconteceu porque havia duas correntes completamente distintas:
A que preconizava que o SEN (Serviço Efectivo Normal) era fundamental para que se mantivesse, na disponibilidade, um contingente que fosse rapidamente reintegrado nas fileiras em caso de necessidade;
A que preconizava que o SEN era coisa do passado, representava um enorme rombo no equilíbrio económico precário do país e nos tempos que corriam era duvidosa a sua utilidade.

Sem entrar em campos políticos (pois todos estes argumentos foram esgrimidos na esfera política) vou tentar expor o meu ponto de vista, que, refiro desde já,  não é a favor de nenhum modelo específico. Antes reconhece que ambos têm vantagens e desvantagens.

Ao longo da história o Exército Português sofreu influências de vários estados estrangeiros, assumindo formas organizacionais e de combater que pareceram adequadas aos tempos que se viviam, mas que não representavam necessariamente as formas mais adequadas nos tempos seguintes. A esse respeito só podemos invocar a falta de visão em profundidade dos chefes ou líderes, tanto políticos, como militares, que desde sempre se preocuparam mais em resolver os seus problemas a curto prazo do que em embarcar em projectos que, pela sua dimensão e duração no tempo, tivessem de ser continuados por outros.

Assim, quando no Séc. XVIII o conde de Lippe (alemão) reorganizou o Exército Português, fê-lo do modo que conhecia, adaptado ao centro da Europa. Criou um exército de modelo "continental". Neste modelo, de uma forma sucinta, em tempo de paz o exército permanece com os quadros necessários para garantir a instrução e a manutenção das instalações e equipamentos, e está preparado para "encher" de reservistas em caso de emergência. Curiosamente, cerca de 40 anos depois, por alturas das invasões francesas, tínhamos um exército desadequado, uma estrutura tão pesada de recrutar, de equipar e tão mal enquadrada pelos oficiais portugueses que foi um desastre. Excluindo o General Silveira a norte do Douro (bem documentado no livro do Gen Azeredo, reeditado recentemente), que comandava sobretudo irregulares, a tropa regular teve de ser reestruturada, treinada e equipada à maneira britânica, por Beresford. Teve também de ser enquadrada por oficiais britânicos, comandantes de batalhão e de companhia (o próprio comandante do exército anglo-luso foi Wellington). Neste início do Séc. XIX, Beresford transformou o Exército Português num intermédio entre o Britânico, eminentemente expedicionário (com batalhões de linha e de caçadores), e um exército continental (com batalhões de depósito - as milícias). Durante todo o século XIX  vivemos esse misto: o receio de uma invasão por terra criava a necessidade de ter uma reserva numerosa, que pudesse ser mobilizada e acorrer às fronteiras, ao mesmo tempo que o Império Colonial justificava que se possuissem unidades permanentes facilmente projectáveis para as Índias, Timor, África, etc.. Para fazer face a esta situação, optou-se, em muitos casos, mais uma vez por um sistema misto: eram enviados os quadros para o ultramar e a tropa era de recrutamento nativo à excepção das unidades de intervenção, que essas sim, eram completamente constituidas por nacionais especializados e eram mobilizados como "expedicionários" - recordemos Mouzinho de Albuquerque e a sua força ou os destacamentos de fuzileiros navais do início do século nos principais portos do Império. Voltando ainda ao modelo continental, a própria CP debate-se ainda hoje com um problema criado em meados do Séc. XIX - todo o sistema de linhas foi pensado não de uma forma comercial, mas de uma forma estratégica, ou seja, as ligações foram feitas para colocar, via férrea, a tropa rapidamente junto das fronteiras do que servir as populações. É por esta razão que há tantas estações de caminho de ferro que distam mais de dez Km das localidades que servem e, ao mesmo tempo, linhas como a do Tua, do Tâmega, do Corgo, etc., acabaram por ser desactivadas nos troços da raia pela escassa população que serviam (não eram rentáveis).

Já no Séc. XX, em 1916, foi necessário levantar e enviar um Corpo Expedicionário para a Flandres e, nessa altura, a capacidade imediata de o fazer era praticamente nula. Os meses de treino e investimento intensivo no polígono de Tancos criaram um Corpo deficientemente treinado, preparado e equipado, que teve de complementar a sua formação já no Teatro de Operações ou em Inglaterra. Ao mesmo tempo, o sistema logístico que o devia apoiar era inexistente.

Esta ordem de coisas manteve-se quase sempre durante o Séc. XX. Com a guerra do Ultramar vimo-nos obrigados a levantar Batalhões que faziam comissões de 2 anos e depois eram desmobilizados,sendo substituídos por outros.

Destes dois séculos que resumi nos parágrafos anteriores, fica a seguinte ideia:
- Apesar da área geográfica ocupada por Portugal e Colónias justificar um modelo de força "expedicionário", o receio de uma invasão por terra, aliado a um conjunto enorme de outros factores, fez com que nunca fosse abandonado em portugal o conceito de "exército continental".

Chegou agora a altura de dar uma vista de olhos rápida a estes dois modelos. Como já tenho vindo a referir neste texto, não estou preocupado  em ser rigoroso tecnicamente, antes tenho estado a escrever ao "correr da pena", sem me preocupar em consultar nenhuma fonte.

Um Exército Continental pode caracterizar-se pela capacidade de mobilização de um grande efectivo que, como de deve calcular, seria muito dispendioso manter em permanência nas fileiras por duas razões:
- Porque o Exército (o Estado) se veria obrigado a dispender uma fortuna para os vencimentos, alimentação, alojamento, treino, etc., etc..
- Porque um número elevado de militares ao serviço, retira ao Estado um número elevado de homens da cadeia económica, uma vez que não estão a desempenhar todos os ofícios ou mesteres que estariam se não estivessem ao serviço. Neste particular resta-me ainda referir que é errado pensar que os SEN não custavam muito dinheiro ao Estado pelo facto de não receberem um vencimento e sim uma "compensação financeira" irrisória. Ideia muito errada. Ao receberem "6 contos de reis por mês" nos anos 80, não só não estavam a contribuir para a cadeia económica por não estarem a desempenhar outros ofícios ou profissões, como também nem sequer faziam parte dela porque não tinham poder de compra e não contribuiam para o crescimento da economia;
Vemos então que o Exército Continental é obrigado a viver nos tempos de paz com um pequeno efectivo, muitas vezes de "pirâmide invertida", que só assume o seu formato verdadeiro quando "cheio" com os reservistas que está preparado para receber. Como desvantagens técnicas temos:
- O treino não é contínuo, ou seja, dá-se instrução, a tropa serve algum tempo e depois passa à reserva, pelo que é sempre necessário fazer uma reciclagem aquando da mobilização;
- O treino não pode ser muito especializado ou profundo tecnicamente, porque seria muito dispendioso investir em alguém que depois passa à disponibilidade sem sequer haver a certeza de um dia ser necessário;
- O núcelo especializado e permanente também não tem muitas hipóteses de atingir uma grande performance técnica uma vez que não dispõe do pessoal necessário para um treino realista e, quando dispõe, nunca é por tempo suficiente que lhe permita aperfeiçoar o conjunto;

Em suma: o Exército continental caracteriza-se por um núcleo mais ou menos permanente e especializado, complementado por um grosso de fraca qualidade técnica. A fraca qualidade técnica da tropa também não induz a que os quadros sejam bons tecnicamente (não há quem os induza a isso).

O Exército expedicionário, de que o britânico é o exemplo de topo (desde o Séc. XIII que nenhuma potência estrangeira entra na ilha) caracteriza-se por:
- Ter um menor efectivo;
- Ter um conjunto de militares altamente especializados que compensam o seu menor número, com a efcácia fornecida pela sua qualidade técnica;
- Ter um sistema logístico preparado para apoiar verdadeiramente, esteja onde estiver a força;
- Necessitar de um apoio forte para a sua projecção, ou seja, uma Marinha que seja capaz de o fazer e que seja em segurança (tem que ter o domínio do mar e, hoje em dia, do ar). Este meio de projecção é também o meio de extracção - um exército expedicionário, quando não há reservas ou estas são poucas, não se pode sempenhar decisivamente. Se perder, tudo cai. Por isso deve procurar o combate só em situações de vantagem ou em áreas que lhe permitam uma fácil extracção em caso de desvantagem (veja-se a Corunha na Guerra Peninsular, ou Dunquerque);

Podemos então concluir que Portugal, apesar do seu Império Ultramarino, optou desde sempre por um forte modelo "continental", pontuado pela existência de forças de pequeno efectivo de carácter expedicionário, que se destinavam quase exclusivamente a pacificar tribos rebeldes. Este conceito perdurou até aos anos 90, como já foi dito.

Em meados dos anos 80, depois de arrefecerem os ânimos do 25 de Abril, as Forças Armadas subordinaram-se, por lei, de novo ao Estado. Nessa mesma altura, a missão das FA que era, até então, centrada na defesa da integridade territorial, passou a ser dual: Defender a Integridade do TErritório e Honrar os Compromissos Internacionais, na certeza assumida de que somos insuficientes para defender o nosso território em caso de agressão, necessitando, portanto, de aliados. Desta forma, por lei, passou "tecnicamente" a ter o mesmo valor defender o Portugal geográfico ou participar numa missão de uma das organizações de Defesa Comum a que pertencemos (eu escrevi "tecnicamente", não entrei propositadamente em campos de ordem moral ou patriótica). Isto passa-se deste modo porque há a certeza assumida de que só contribuindo para as Organizações Internacionais podemos garantir o apoio necessário dos países aliados, mesmo militar, em caso de ameaça ao nosso território.

Cerca de 10 anos mais tarde, já nos anos 90, começam as missões humanitárias de de observação, em África nomeadamente, com as Companhias Logísticas em Angola e com outras missões de observação, de elementos isolados. Em 1996, com a intervenção na Bósnia, é aberto caminho para este tipo de Operações com forças constiuídas de combate e não somente de apoio logístico. Seguiu-se-lhe a projecção para o Kosovo, Timor, Afeganistão, Iraque (GNR) e Líbano.

Este novo quadro criou, definitivamente, a necessidade de reestruturar por completo a força para que pudesse respinder a estas solicitações. O Exército tem que ser facilmente projectável, por "módulos" ou partes que se podem combinar entre si para melhor corresponderem a esta ou aquela missão. Num quadro destes, o SEN foi adquirindo uma posição cada vez mais de segundo plano até que acabou por cair definitivamente, por presão política e outras, em 2004. Desta forma, todos os militares que estão nas fileiras são profissionais (mesmo as praças contratadas que só podem permanencer por 6 anos).

Acontece que, por lei, a reserva territorial ainda existe (e existirá, se nada mudar, até que os últimos militares do SEN de 2004 atinjam os 35 anos de idade). Mas depois, daqui a cerca de 15 anos ficaremos sem esse recurso. Perante esta situação podemos colocar várias perguntas e são estas perguntas que me levam de novo ao tema inicial e fio condutor deste tema do fórum:

1ª questão: justifica-se ou não ter uma reserva?
Em primeiro lugar, penso que devem considerar-se vazios os argumentos de que outros países as têm. Isto porque são as realidades geoestratégicas e políticas que definem essa necessidade e cada país vive uma realidade diferente e que, ainda por cima, muda com o tempo. Por isso, neste campo, os outros países ser-nos-ão úteis neste campo caso a decisão seja a de ter uma reserva, pela simples razão de que os que as têm possuem modelos nos quais nos podemos basear para criar a nossa;

2ª questão: que recursos temos, se necessitarmos de mais forças numa situação de emergência ?
Em primeiro lugar, desde que a situação não seja de conflito generalizado que traga problemas nas suas próprias casas aos estados membros da NATO, há um conjunto de aliados que terá de nos prestar apoio, que pode até nem ser necessariamente de combate, mas pode ser de serviços e de meios de combate de que não dispomos (garantir-nos superioridade aérea ou naval, etc.);
Em segundo lugar, temos uma força militar de segurança que passa por lei, em Estado de Emergência ou de Sítio a estar sob o comando directo do Presidente da República, tal como as Forças Armadas. Trata-se da GNR. Pela sua condição de miltares (e formação) encontram-se aptos a combater e a fazer um serviço que libertaria com facilidade o Exército para outras tarefas: a Segurança de Pontos Sensíveis do Território (como entrais eléctricas, portos, etc.), e a Segurança da Área da Retaguarda em geral;
Em terceiro lugar ( e apesar de se ter perdido um pouco nos últimos anos) conservamos ainda alguma capacidade de passar à resistência activa em caso de ocupação do Território. Esta capacidade é conferida pelo Curso de Operações Irregulares, ministrado até há alguns anos atrás a todos os oficiais e sargentos do Quadro Permanente e de há uns tempos a esta parte somente a alguns. No entanto não é de descartar este factor;
Em quarto lugar, temos uma capacidade limitada, mas de considerar, de dar alguma "profundidade" ao nosso território exíguo se contarmos com as ilhas e com a possibilidade de estados aliados (não servem só para vir ajudar com forças) nos permitirem manobrar ou operar a partir dos seus territórios.


3ª questão: há possibilidade de ter uma reserva sem grandes custos e que seja eficaz?
Neste caso já a situação seria vantajosa em todas ou quase todas as vertentes. Se não implicasse grandes custos, na dúvida, seria de criar e manter uma reserva. Creio que isso pode ser operacionalizado sem grande dificuldade se pensarmos que a reserva passa a ser constiuída pelos militares que estiveram nas fileiras a contrato e depois passaram à disponibilidade. Se alargarmos a idade da reserva dos 35 para os 40 anos e forem criadas condições legais para pagar um "subsídio de reserva" durante o serviço, e proteger os profissionais em caso de mobilização (não perderem o direito ao emprego, etc.), podemos contar com uma reserva válida. Alargar para os 40 anos não me parece problema, porque, na generalidade as pessoas continuam válidas e de saúde e, por outro lado, dado tratarem-se de elementos que já foram militares por um período mais ou menos longo, com um tipo de formação técnica já algo profunda, compensam a menor capacidade física com a maior capacidade de trabalho qualificado.

Para finalizar, devo dizer que me deu um prazer enorme falar do que acabei de escrever e agradeço desde já a atenção dos que me leram até este ponto. Como disse anteriormente, foi "ao correr da pena".
Agora sim, vamos à conclusão:
A necessidade de uma reserva para Portugal, nos moldes em que foi colocada a questão neste fórum, não deve ser encarada como um "capricho" de quem se interessa pelos assuntos militares e achava "giro" que houvesse uma milícia ou algo do género. Também não deve ser tomada como uma necessiade só porque o é noutros países. Por outro lado não deve ser abandonada a ideia de reserva, especialmente se for possível gerar uma a baixo custo e com algum grau de especialização. Os conflitos de hoje em dia (não quer dizer que não mude por completo daqui a uma ou dias décadas) caracterizam-se por não causarem atrição suficiente para provocar enormes "rombos" em baixas que justifiquem a presença imediata de unidades de reserva. Felizmente também têm estado a ocorrer longe da "nossa porta" territorial, embora mesmo aqui ao lado se considerarmos as organizaões a que pertencemos (UE, NATO, etc.). Por conseguinte, enquanto trabalharmos como "expedicionários" nas Operações de Apoio à Paz e formos tendo forças em Território Nacional para render as que estão nas missões, em paralelo com o facto de não estramos a ter uma ameaça directa, uma reserva não é pertinente, especialmente se implicar custos elevados. Apsera de tudo isto, a única verdade é que a verdade de hoje pode não ser a de amanhã. Há que estar atento e reequacionar a postura sempre que necessário.

JCL
Título:
Enviado por: p_shadow em Março 20, 2007, 03:33:22 am
Excelente post, caro Lemos.


Cumptos
Título:
Enviado por: Yosy em Março 20, 2007, 10:30:28 pm
Sém duvida um grande post joaosilvadelemos

 :Palmas:
Título:
Enviado por: Raven em Março 20, 2007, 11:34:47 pm
Citação de: "Cabeça de Martelo"
É o tempo de formação: recruta e especialidade. E eu não estou a contar com a instrução complementar, senão passava para mais uns meses.


depende da especialidade... 6 meses foi o meu tempo todo de SMO na altura
2 meses foram a minha instrução básica e quando digo básica é mesmo básica...e a "especialidade" de condutor...se é que se pode chamar a isto especialidade...

honestamente para o que eu estava há espera e para o meu desejo que era seguir carreira militar a FAP deixou-me a mim pessoalmente muito a desejar, até estava entusiasmado e tudo, mas depois "espetam" comigo num RI8 em que a instrução básica foi do mais básico que existe e pode haver...disparei ao todo 30 tiros....15 de munição reduzida e 15 de munição real... e ainda tivemos que apanhar as capsulas e traze-las para o quartel e entregá-las no quarteleiro...
Adorei realmente os 6 meses em que lá estive, mas em vez de me cativar ainda mais só fez o contrário.
Os salários eram baixos, as perspectivas de futuro poucas, os contractos eram no máximo de 6 ou 8 anos já não me recordo bem e quando me colocaram na EPAM o CFO não me deixaram fazer porque já não havia vagas...que por acaso estavam todos preenchidas graças ao factor C.
mas enfim...
ou estas forças armadas levam uma volta e daquelas grandes de não deixar pedra sobre pedra ou então de que vale andarmos a comprar equipamentos,armamento etc se depois pessoal não há?